31 agosto 2014

PEGANDO A NOVA ONDA DE TOFFLER

© Alessandro Loiola





De acordo com o escritor futurista Alvin Toffler, a humanidade passou por 3 grandes ondas em sua história. A Primeira Onda, a revolução da agricultura, teve início há cerca de 10.000 anos em algum lugar da Síria e Palestina, e rapidamente se espalhou para Índia, China, Europa, África e Américas.

A Segunda Onda consistiu na revolução industrial dos Séculos XVIII e XIX, e a Terceira Onda é a atual, onde o conhecimento passou a ser a principal forma de capital. Apesar de tanto se falar nesta bendita Terceira Onda ou Era da Informação, o que vemos na prática é uma persistência dos hábitos da revolução industrial. Avançamos em conceitos, mas não na atitude.

Apesar do maremoto previsto por Toffler, trazemos encharcado na pele um oceano com mais de 300.000 anos de genes predatórios. Nossos antepassados saíram das sombras escassas das savanas para se tornar uma das raças mais mortíferas que a natureza poderia produzir. Matamos e comemos de tudo. Atravessamos continentes e vencemos tempestades em busca de comida e progresso.

Assim, depois de tantos séculos e ondas revolucionárias, aportamos nos dias de hoje como um tigre de dente de sabre ilhado em frente a uma tela de computador, repetindo textos monótonos para outros tigres também entediados com tamanha falta de caça. No que isso poderia resultar?

A agressividade hereditária passou a ser drenada para seus colegas de trabalho, para sua família, para o seu próprio organismo. “Pega ela, predador!”, gritam seus genes. E você se espalha no sofá da sala sintonizando a decisão do campeonato estadual. “Arrebenta, tigresa!”, diz a supra-renal, e você vai abater qualquer coisa hipercalórica na geladeira.

Nadando contra a correnteza do que você realmente é e sempre foi, seu sistema cardiovascular entope. O sistema imunológico falha. Os nervos entram em colapso.

Sem um escape para descarregar a adrenalina evolucionária que por tantas gerações salvou a pele de nossos ancestrais, os hormônios da agressividade sedimentam em um ciclo interminável de dores musculares, estafa e depressão. Este mesmo ciclo foi tema de uma interessante pesquisa publicada no BioMed Central Family Practice. No estudo, os pesquisadores observaram que 80,4% das pessoas com dores recorrentes inexplicáveis sofrem de ansiedade e depressão. Neste caso, depressão e ansiedade são a causa direta – e não uma consequência – das dores.

Afinal, em plena Era da Informação do Século XXI, onde descarregar civilizadamente a selvageria que insiste em sobreviver dentro de nós? A resposta não poderia ser mais fácil: na onda da atividade física.

O grande problema da atividade física está aí - no fato dela ser fácil. É fácil levantar do sofá e sair para uma volta a pé ou de bicicleta. É fácil ir até a academia e matricular-se para uma musculação. É fácil fazer. E tudo que é fácil de fazer, é fácil de NÃO fazer. Então 95% das pessoas terminam NÃO fazendo. E se estrepam.

Uma diretriz recente do American College of Sports Medicine recomenda aos médicos que prescrevam exercícios aos seus pacientes. Além de reduzir os sintomas de ansiedade e depressão, a atividade física eleva a auto-estima, melhora o padrão de sono e lhe dá mais energia para o dia a dia.

Entretanto, antes de sair correndo para se automedicar com sua própria receita de exercícios, considere as seguintes recomendações:

1) Converse com seu médico. Os remédios que você toma podem afetar seu desempenho durante o exercício: antipsicóticos podem causar desidratação e problemas na coordenação motora. Antidepressivos podem resultar em fadiga, vertigens e ganho de peso. E conte (sempre que po$$ível) com o apoio de um Fisioterapeuta ou professor de Educação Física.

2) Procure atividades que você gosta e que possam ser realizadas de modo regular (pelo menos 4 ou mais vezes por semana). Escolha ambientes familiares e confortáveis, evitando situações que possam aumentar sua ansiedade.

3) Se o seu condicionamento físico não está lá essas coisas, inicie com sessões aeróbicas curtas (mesmo que seja algo como 5-10 minutos de esteira), e aumente gradualmente .

4) Faça musculação pelo menos duas vezes por semana.

5) Ioga e Tai Chi são particularmente eficazes para reduzir a ansiedade e melhorar seu nível de relaxamento. Não hesite em experimentá-las!

30 agosto 2014

COMO EVITAR OS VENDEDORES DE FUMAÇA?

© Alessandro Loiola






Quando um certo alguém disse que “existe um limite para tudo, menos para a estupidez humana”, acertou na mosca. Pode ter sido Einstein, Sartre, Schoppenhauer, Tiririca, sei lá. Certamente vou receber um email dizendo de quem é esta máxima, mas que a mosca levou um peteleco no meio da testa, ah levou.

Como não é possível deixar a estupidez humana de lado (teríamos que alugar um planeta inteiro só para isso), vamos esquecê-la por alguns instantes e nos concentrar na primeira parte da frase. “Existe um limite para tudo”.

Existe um limite para o seu esforço, um limite para seus amigos, amores, vitórias e derrotas basicamente porque existe um limite para sua quantidade de dias. Apesar disso não ser novidade, conheço poucas pessoas que aprenderam a dimensionar esta verdade no tira-colo do cotidiano.

Quer um exemplo cinematográfico da nossa falta de visão? No filme Homem de Ferro, o personagem Tony Stark se vê preso em uma caverna nas montanhas nos confins do Afeganistão (hum... “confins do Afeganistão” não é uma redundância?), coagido a construir um míssil para os rebeldes com a promessa de ser libertado em seguida.

- Haja o que houver – ele diz para si mesmo -, de qualquer forma, fazendo ou não o míssil, estarei morto em uma semana.
- Então – diz seu companheiro de cela -, ESTA é uma semana muito importante para você, não?

A tragédia e a beleza de tudo se esconde no limite.

Transformando a teoria em prática, suponhamos que você seja capaz de ler um livro a cada 2 meses. Da alfabetização até estar com Alzheimer e não conseguir lembrar onde diabos colocou o livro (“hein, eu estava lendo um??”), vamos dizer que tenham se passado cerca de 80 anos. Isso daria um total de 480 obras. Sua capacidade de leitura ao longo da vida se restringirá a uma pilha de 480 títulos. Beeem menos do que o mercado editorial brasileiro lança em 1 ano.

Daí a importância do que você lê. CADA obra é importante, porque seu número de livros será limitado pelos seus dias. Em A Filosofia Da Ciência, Rubem Alves comenta muito apropriadamente que o refinamento do pensamento depende da riqueza de vocabulário. Quem lê mais ganha mais palavras para ter mais idéias e raciocinar melhor. A inteligência é mais um produto de hábitos que uma benção divina.

Talvez nenhum outro livro tenha mudado tanto minha visão da medicina quanto O Físico, de Noah Gordon. O título original, The Physician, teria sido melhor traduzido para O Médico, mas tudo bem. Não é por causa de uma ervilha amassada que vou jogar todo o risoto fora.

No Físico, o vendedor ambulante Barber se desloca de uma cidade a outra comercializando seu Tônico Universal, uma bebida doce, com leve teor alcoólico, específico para o tratamento de todas as doenças – como o próprio nome sugere.

Em um de seus acessos de sinceridade, Barber comenta com seu aprendiz, o jovem Rob Cole:
- Quando eu morrer e estiver na fila na frente do portão, São Pedro vai perguntar, "Como você ganhou a vida?" "Eu era fazendeiro", dirá um homem, ou, "Eu fazia sapatos de couro." Mas eu responderei: "Fumum vendit".

Eu vendia fumaça.

O Físico se passa na Idade Média. É triste perceber que não mudamos muito desde então. O que chamamos de desenvolvimento ou progresso não passa de mais do de sempre. A despeito do maior acesso ao conhecimento, as pessoas ainda insistem em basear suas decisões em mitos, dogmas e desinformação. Ninguém quer pensar. Todo mundo está inebriado em um torpor de fumaça ignorante com cheiro de pão e circo.

Inserida neste cenário, a medicina está se tornando uma neblina que mais confunde que ilumina. Acompanhando o restante da sociedade, nós médicos vamos perdendo (ou já perdemos?) o rumo e, ao invés de acumular sabedoria para oferecer ao próximo bússulas para dias melhores, estamos nos tornando especialistas na arte de vender fumaça. Exames caros, procedimentos sofisticados, nenhuma empatia.

Também, de que adianta? Quantas vezes seu médico tentou lhe convencer de exercícios físicos, largar o cigarro, diminuir a bebida, combater o sobrepeso, manter a pressão e o diabetes sob controle, melhorar o sono, reduzir o estresse...? E quantas vezes você REALMENTE ouviu, refletiu e mudou?
Vendedores de fumaça existirão enquanto existirem compradores de fumaça.

A única saída que vejo para esse problema está na LEITURA. Assim como você planeja sua carreira, seu salário, seu guarda-roupa e o menu da semana, seria maravilhoso programar sua leitura para este mês e ano. Quais obras deseja ler? Uma rápida pesquisa na Internet pode lhe fornecer um cardápio saboroso de idéias.

Você é o que come. Mas se tornará aquilo que LÊ. Se você consegue ler apenas um livro por ano, então, como diria Tony Stark, esse será um livro muito importante, não? Escolha-o com cuidado. Leia-o com atenção. Ou continue cego para o mundo à sua volta, sorvendo goles generosos de tônico universal enquanto espera pelo próximo vendedor de fumaça.

29 agosto 2014

Vai uma aspirina aí?

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Há algum tempo sou fã da aspirina. Substância danada de versátil. Na época da residência já tinha notícias de que ela, além de proteger contra doenças cardiovasculares e suas complicações, talvez oferecesse também proteção contra o câncer.

Demorou, mas finalmente os especialistas declararam sem meias palavras que os benefícios da aspirina na prevenção de certos tumores malignos existem e são maiores que os riscos de tomar o remédio. Esta conclusão fui publicada online no Annals of Oncology no começo de Agosto/2014.

O estudo mostrou que se todas as pessoas entre 50 e 65 anos de idade começassem a tomar uma aspirina diariamente durante pelo menos 10 anos, veríamos uma redução de 9% no número de neoplasias, derrames e infartos entre os homensm, e de cerca de 7% entre as mulheres. O número total de mortes também seria reduzido em 4% durante um periodo de 20 anos.

Os tumores mais afetados são os cânceres no intestino grosso, no esôfago, no estômago, nas mamas, na próstata e nos pulmões. Os benefícios começam a aparecer após 3 anos de uso, e o risco de morte começa a cair após 5 anos. Doses de 75 a 100 mg diárias já são suficientes para provocar esse efeito.

Depois da cessação do tabagismo e do controle da obesidade, tomar uma dose de ácido acetil salicílico diariamente é a coisa mais importante que você pode fazer para diminuir suas chances de ter um câncer.

Vai uma aspirina aí?

COMO ANDA O SEU CAFÉ DA MANHÃ?

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A mesma natureza que nos tornou animais diurnos também nos brindou com duas características peculiares: somos homeotérmicos e onívoros. Em outras palavras, (1) somos capazes de manter a temperatura corporal interna relativamente constante e (2) devoramos qualquer coisa. Reunidos, estes aspectos da natureza do Homo sapiens tornaram a primeira refeição do dia extremamente importante.

Por sermos diurnos, passamos todo o período da noite dormindo. E enquanto dormimos no lado mais frio e escuro do planeta, a atividade muscular diminui, a taxa de metabolismo basal se reduz, e temos todos os ingredientes necessários para uma hipotermia. Mas você não entra em hipotermia. Lembre-se: você é homeotérmico.

Para manter a temperatura estável e permitir que as reações químicas continuem ocorrendo normalmente durante seu sono, uma área do tamanho de uma ervilha localizada dentro do cérebro, chamada Hipotálamo, sua a camisa. Ele rala e rola a noite toda, comandando o termostato e o sistema endócrino através da hipófise. É preciso manter as caldeiras acesas – ainda que isto custe muita, mas muita energia.

Com o raiar do sol, as pálpebras são iluminadas, desencadeando uma cadeia hormonal que bloqueia o hormônio melatonina, acordando o cérebro. Enquanto você espreguiça, os auxiliares de almoxarifado no encéfalo vão conferir estrago. Durante o jejum da noite, seu cérebro consumiu algo como 20% de toda a energia queimada pelo corpo. As reservas estão baixas e é preciso encher as prateleiras para que sua máquina diurna homeotérmica continue funcionando.

E é aí que entra nosso lado onívoro. Como um adolescente do sexo masculino no cio, o intestino vem preparado para comer praticamente qualquer coisa. Isto nos dá uma vantagem competitiva para o desjejum, mas é preciso que o desjejum seja feito com um mínimo de decência.

O café da manhã – ainda que ele não inclua propriamente um pouco de café – deve ocorrer até 2h após a saída da cama. Se você funciona em horário comercial, isso significa que café da manhã deve ser consumido até por volta das 9-10h da manhã.

Entretanto, algumas pessoas costumam pular este pequeno detalhe alimentar por dois motivos: por pressa ou porque querem emagrecer. Nenhuma das duas razões é boa o suficiente.

Pular o café da manhã para perder peso é uma tolice: a falta de combustível leva o sujeito a beliscar mais no restante do dia, ingerindo calorias em excesso. Não é à toa que a maioria das pessoas com este hábito sofre com o sobrepeso.

E dizer que não tem tempo para tomar o café é outra estupidez sem tamanho. Você é onívoro, lembra? Poderia comer qualquer coisa de desejejum. Não precisa ser uma gazela de Thomson cozida inteira em molho macrobiótico. Não. Duas fatias de pão integral, uma fruta e um copo de leite ou iogurte são uma alternativa honesta.

Estudos mostram que crianças que tomam seu desjejum corretamente rendem mais na escola – isso significa economia com recuperações. Imagine: um pequeno investimento em bananas e você não gastará com aulas de reforço.

O mesmo raciocínio vale para o seu trabalho. Um bom café da manhã dá aquele grau que você precisava para chegar ao serviço vestindo um sorriso simpático, leve e satisfeito, ao invés de ostentar aquelas sobrancelhas pesadas de hipoglicemia matinal.

Menosprezando o café da manhã, o cansaço irá lhe cobrir aos poucos como uma nuvem vulcânica, e o cérebro sairá em uma missão suicida em busca de açúcar para aguentar as pontas até o almoço. Mas estas pequenas doses de açúcar irão apenas postergar o inevitável: na hora do almoço, faminto, possuído por um espírito glutão, você fará todas as piores escolhas possíveis para sua saúde. Tudo porque não alimentou corretamente seu cérebro quando deveria.

Ok. Então você se convenceu e a partir deste instante vai começar a tomar regularmente seu café da manhã. Ótimo, meus parabéns. Aproveite para anotar 3 dicas de ouro para tornar seu desjejum realmente energizante:

- Ponha proteína para dentro. Um ovo cozido 2-3 vezes por semana é uma boa dica. E você pode cozinhar o ovo na noite anterior, deixando-o à sua espera na geladeira para quando acordar.

- Coma frutas. Elas são fáceis de encontrar, saborosas e não mordem.

- Procure não comer todos os doces da casa! Algumas caixas de cereais são apenas açúcar refinado crocante com cheiro de vitaminas. Fuja disso. O excesso de açúcar pela manhã pode acentuar o sono, ao invés de eliminá-lo. Além do que, mulheres que ingerem excesso de açúcar pela manhã tendem a queimar menos gordura ao longo do restante do dia.

Faça suas escolhas de modo inteligente: tenha um bom apetite e viva com saúde!

PELE JOVEM SEM CIRURGIA

© Dr. Alessandro Loiola
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Recentemente, foi realizado no Rio de Janeiro o V Congresso Mundial de Medicina Estética. Na esteira deste mega-evento, aconteceram simultaneamente o VI Congresso Brasileiro e VII Simpósio Internacional de Medicina Antienvelhecimento, o VII Fórum de Envelhecimento Cutâneo e um curioso III Simpósio Internacional de Estética Genital Masculina e Feminina. O que foi mostrado neste último encontro, é melhor não falar na frente das crianças.

Este assunto (antienvelhecimento, entenda aí) sempre me interessou. Não tenho aspirações à imortalidade, mas confesso que uma das coisas que planejo fazer antes de morrer é ficar bem, mas beeem velhinho. Nada de coleção de carros na garagem ou latifúndios de terrenos em condomínios fechados. Minha ambição é acumular anos de vida. Se possível, com alguma qualidade.

Porém, em uma súbita inversão de valores, muitas almas que vagam do outro lado da porta do consultório acham que a qualidade deve começar por fora. E marcam consulta e sentam na cadeira dia após dia em busca de esclarecimentos sobre como deixar a casca mais jovem enquanto o conteúdo vai perdendo a validade.

A preocupação em contornar ou esconder os sinais do envelhecimento há muito se tornou uma tônica em nossa sociedade. Como nem todo mundo está disposto a pagar o preço de um bisturi por isso, os procedimentos cosméticos sem cortes ou cirurgias vêm se tornando mais populares a cada dia. Apenas nos EUA, cerca de 10 milhões de procedimentos deste tipo são realizados a cada ano.

Para você ficar por dentro da moda, listei os 5 tratamentos cosméticos mais populares da atualidade, reconhecidos e aprovados por várias especialidades médicas:

BOTOX

Campeão de popularidade, o Botox consiste na aplicação de pequenas quantidades de Toxina Botulínica tipo A diretamente no músculo localizado abaixo da ruga.

A toxina se liga às terminações nervosas e impede a contração do músculo, criando uma superfície lisa onde antes havia uma ruga. O Botox é especialmente eficaz na parte superior do rosto (p.ex.: testa ou entre os olhos).

Uma seção de aplicações dura 30 minutos e os resultados surgem após 1-4 semanas. Os principais efeitos colaterais incluem dor de cabeça, náuseas, inflamação, edema e dor no local das injeções.

PEELING QUÍMICO

Neste procedimento, são empregadas substâncias para “descascar” as camadas danificadas da pele, eliminando rugas e outras linhas de superfície. O Peeling Químico pode ser utilizado para amenizar rugas de expressão, corrigir cicatrizes de acne e alterações locais na pigmentação, além de melhorar a textura da pele.

PREENCHIMENTO DE RUGAS COM SUBSTÂNCIAS SINTÉTICAS

Costuma ser utilizado na parte inferior da face, principalmente nas rugas localizadas no lábio superior e nas pregas entre o nariz e a boca. Os resultados podem ser observados cerca de 10-30 minutos após a aplicação, e duram 3 a 9 meses.

MICRODERMOABRASÃO

Como se sua pele fosse um legítimo jeans stone-washed, este tratamento aplica um equipamento de sucção a vácuo associado a microcristais químicos que remove a camada de células mais superficiais da pele, eliminando linhas de expressão ultrafinas e melhorando o tônus e a cor da pele. Uma aplicação dura apenas cerca de 30 minutos. São necessárias várias sessões ao longo de várias semanas até que os resultados finais sejam visíveis.

REMOÇÃO DE PÊLOS COM LASER

Ajuda a melhorar a aparência e a autoconfiança. As áreas mais comumente tratadas são a face, o lábio superior, o pescoço, as bochechas, as mamas, as axilas, as costas, a parte anterior do abdome, as pernas e as áreas próximas às marcas do biquíni.

Uma vez que os pêlos crescem em ciclos, apenas uma parte deles estará no estágio ótimo para remoção em um determinado momento. Podem ser necessárias 4-8 sessões em intervalos de 4 semanas para eliminar todos os pêlos de uma região, além de algumas visitas rápidas de retoque, mais tarde.

Cada sessão pode durar de 10 minutos a algumas horas, dependendo da quantidade de pêlos e da extensão da área tratada. Os efeitos colaterais – mínimos, dizem os especialistas - incluem irritação da área tratada e uma certa dor no bolso.

28 agosto 2014

VOCÊ SABE LIDAR COM O ESTRESSE?

© Dr. Alessandro Loiola
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Se a vida fosse um filme de faroeste, o Estresse seria aquele vilão que trama contra o mocinho, enviando pistoleiros terríveis para acabar com ele. Alguma coisa como Kid Saúde encontra Jack Hipertensão, Frank Angina e Mary Obesidade ao pôr-do-Sol em Old Diabetes Creek.

Após um duelo intenso, Kid Saúde e seu fiel ajudante, o cherokee Bom-Senso Thomas, eliminam os bandidos, mas Kid sai ferido com duas safenas e uma mamária. Enquanto nosso herói se recupera, o ardiloso Farmer Stress já planeja seu próximo ataque e envia um telégrafo para a cidade fronteiriça de Sexual Disfunction. Manda chamar Impotência Joe, mal-feitor especialista em golpes baixos...  e a história segue.

Assim como no filme, você deve prestar atenção para a trama por detrás da trama. Insônia, problemas de peso, ansiedade, hipertensão e tantos outros males muitas vezes são conseqüência, e não causa, dos seus problemas. São sementes plantadas por você mesmo – e inadvertidamente, o que é pior. Ao comprar mal o que a vida lhe oferece, você termina recebendo como troco tudo aquilo que não precisava.

É óbvio que para certas situações são necessários remédios mais fortes que simples boa-fé e confiança no destino. Você possui o dom da inteligência, utilize-o a seu favor: não é possível eliminar completamente o Estresse, até porque um pouco de estresse é importante para preservar sua vida. Mas eu disse “um pouco”. Não se lambuze com ele dos pés a cabeça todos os dias.

Você não pode controlar todas as situações que a vida lhe coloca no caminho. O que você PODE e DEVE fazer é controlar a maneira como seu corpo responde a estes desafios. Se por acaso estiver sentindo dificuldade em lidar com a vida nervosa deste novo século, tente empregar as dicas a seguir:

DURMA
Ah, dormir... Por mais improdutivo e contraditório que possa parecer, dormir ajuda a resolver problemas. Isso porque seu cérebro não pára e, após uma boa noite de sono, aquilo que parecia insolúvel no dia anterior, subitamente se torna um problema simples.

Durante o sono, seu cérebro relaxou, liberou boas quantidades de transmissores químicos, brincou de procurar novas conexões neuronais, e voila!, em uma delas estava aquela solução que você tanto procurava! Nunca subestime o poder de gerenciamento que uma rápida soneca é capaz de oferecer.

(E agora você tem uma ótima desculpa para dormir um pouco no horário de serviço. Tá vendo como este grupo de discussão pode ser útil?)

ALIMENTE-SE DIREITO
Você sabe que os alimentos podem modificar seu humor. Por exemplo: depois daquela discussão, a pior coisa que você pode fazer é sair para um cafezinho. O café é um estimulante do sistema nervoso e tudo que ele irá fazer será aumentar seu nível de irritação – dando mais combustível para outra meia hora de bate-boca.

O mesmo vale para a quantidade de lixo que lhe oferecem com o nome de “lanche rápido”. Não pule refeições e procure manter uma rotina alimentar baseada em frutas, vegetais, legumes e carnes brancas.

PRATIQUE EXERCÍCIOS REGULARMENTE
Pode parecer repetitivo, mas os problemas não são assim também? Eles podem mudar de roupa, mas quase sempre apresentam aquele conteúdo música-pop (“um-pouco-mais-do-mesmo-de-sempre”).

Falar que exercícios fazem bem para a saúde é redundante, mas nunca é demais. Exercitar-se melhora sua saúde física e mental, estimulando a liberação de hormônios benéficos como Serotonina e Endorfinas. Agora levante dessa cadeira e leia o restante desta crônica correndo em círculos pela sala.

TENHA AMIGOS
Você já foi em uma piscina? Para manter a higiene da água, são adicionadas boas quantidades de cloro. Se o cloro for insuficiente, a água se torna contaminante. Se for colocado em excesso, a água se torna irritante. O segredo é manter o pH da água da piscina dentro do aceitável. Em alguns casos, para equilibrar o pH são utilizadas Soluções Tampões.

Pois bem: os amigos são as soluções tampões que a vida lhe oferece para neutralizar a acidez do dia-a-dia. Você quer eliminar seus problemas esterilizando tudo com o cloro da sua eficiência? Tudo bem. Mas procure tamponar esta solução com alguns bons amigos, só para se certificar de que a água continuará agradável.

TENHA HOBBIES
Um Hobby é aquilo que promove distração de sua atividade profissional habitual, tira sua atenção do estresse e lhe coloca relaxadamente focado no momento. Não, assistir televisão comendo pipoca não pode ser classificado como Hobby. Desenhar, pintar, praticar jardinagem, marcenaria, ou tocar algum instrumento musical são bons exemplos.

MIME-SE
Sim, mime-se. Namore com seu corpo e lhe dê presentes. Você guardou tanto para aquele carro, porque  não faz o mesmo esforço para presentear-se com uma viagem ou cinco dias em um SPA?

AFIE SUA MENTE
Uma situação estressante não é uma ameaça, mas um desafio para o seu raciocínio. Quanto mais afiado for seu cérebro, mais facilmente ele encontrará uma saída. Leia, faça palavras-cruzadas, monte quebra-cabeças, jogue dama, xadrez ou memória com seus filhos (ou sobrinhos, ou vizinhos, etc).

O cérebro é o músculo mais especializado do corpo. Não deixe que ele atrofie por falta de estímulo.

CABEÇA ERGUIDA SEMPRE
Caiu? Levante. Errou? Peça desculpas e siga em frente. Olhe atentamente: o mundo está sob seus pés, não sobre seus ombros.

COLOQUE SUAS EMOÇÕES NA LINHA DE MONTAGEM
Lembra tudo aquilo que deu errado na última viagem? Pois é exatamente o que faz todos rirem na mesa quando você conta. Se é engraçado agora, porque não pôde ser engraçado antes? Porque você provavelmente não havia processado ainda suas emoções como se fossem produtos em uma linha de montagem.

Ao sentir uma emoção forte que poderá repercutir sobre você de modo negativo, procure guardá-la para si por alguns segundos, minutos, horas ou mesmo dias, até conseguir fazer uma análise mais racional do que está acontecendo. Um modo bastante prático de fazer isto é mantendo alguma espécie de diário, onde você pode registrar seu método e analisar os progressos. Lembre-se: exteriorizar suas emoções não significa despejá-las sobre a primeira criatura que vir, feito uma caçamba de concreto reforçado.

ACREDITE EM ALGO
A ciência comprova: pessoas “espirituais” tendem a ser mais saudáveis que pessoas “não-espirituais”. A prece e a meditação são ferramentas úteis para aliviar o estresse, e nos dão uma consciência mais serena sobre quem somos, quais são os nossos limites e o que realmente vale alguma coisa nessa vida.

RECEITA ANALFAMÉDICA

© Alessandro Loiola





Compreender os mecanismos que nos levam a adoecer é o primeiro passo para tratar a doença em si – afinal, a prevenção ainda é o melhor remédio. Quando tropeçamos no desafio deste primeiro passo, só nos resta dar o segundo: procurar auxílio e tomar os remédios prescritos pelo médico. E aqui reside uma armadilha sutil.

Não vivemos em um mercado de trabalho capitalista: vivemos em um mercado “canibalista”. E entre garfos e facas, encontrar um profissional em quem confiar pode ser razoavelmente difícil. Encontrar um profissional em quem confiar e que tenha uma receita legível, então, pode ser quase como ganhar sozinho na mega-sena.

Pensando melhor, ganhar na mega-sena não é tão difícil assim...

O fato é que a má-caligrafia dos médicos é legendária, quase um fato inexorável da natureza. “O céu é azul, a água é molhada e a letra do meu médico... virshi!, nem te conto!”. Depois de anos de estudos, alguns médicos ainda não conseguiram alfabetizar sua letra e continuam emitindo receitas Analfamédicas – aqueles papéis contendo algo que deveria ser uma receita, mas guardam uma semelhança muito grande com registros psicográficos de uma crise convulsiva.

Talvez estes médicos possuam algum tipo de distúrbio de condução cerebral que faz com que a letra saia sempre no alfabeto cuneiforme. Ou queiram se comunicar com os farmacêuticos através de códigos, movimentando uma seita conspiratória de bilhões de dólares para construir bases nucleares na Amazônia e roubar os rins de adolescentes indefesos... Qualquer que seja o motivo alucinógeno, é possível calcular intuitivamente (ou seja: chutar) que mais ou menos 85% das receitas médicas são quase incompreensíveis para os não-iniciados. Os 15% restantes são incompreensíveis até para arqueólogos experientes.

E aqui vai a boa notícia do dia: você não precisa enfrentar nada disso. Não precisa e não deve!

Em 1995, nos EUA, o texano Ramon Vasquez faleceu vitimado por um infarto cardíaco aos 42 anos de idade. A família imediatamente processou seu cardiologista, Dr. Ramachandra Kolluru. O motivo: devido à receita analfamédica do Dr. Kolluru, Ramon havia passado duas semanas utilizando doses elevadas de Plendil (um remédio contra hipertensão arterial) quando, na verdade, deveria estar tomando Isordil (um medicamento que promove dilatação das artérias coronárias, diminuindo o risco de infarto cardíaco). Em 1999, o veredito: Dr. Kolluru foi condenado a pagar uma indenização de módicos US$ 225.000 à família do falecido. O farmacêutico responsável pela entrega equivocada do remédio foi multado em outros US$225.000. E esta ação entrou para a história como a primeira condenação de um médico nos EUA por negligência devido à má-caligrafia.

De acordo com o Federal Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos responsável pela fiscalização dos remédios naquele país, 1,3 milhão de americanos são prejudicados a cada ano em decorrência de erros tais como tomar doses incorretas ou fazer uso do medicamento errado. Um estudo publicado no renomado jornal médico The Lancet estimou que, entre 1983 e 1992, o número de mortes causadas por erros deste tipo aumentou 250%, ultrapassando 7.000 casos por ano.

Existem várias soluções para o problema da má-caligrafia dos médicos: datilografar prescrições, utilizar um computador com impressora, comprar um daqueles cadernos com linhas azuis e fazer aulas de reforço no pré-primário ou, simplesmente, caprichar um pouco mais na qualidade da letra.

O Conselho Federal de Medicina do Brasil considera a má-caligrafia anti-ética e um exemplo de má-prática médica que deve ser coibida a todo custo (Código de Ética Médica, resolução n 1246/88, artigo 39). Você tem o DIREITO de receber uma receita legível e, caso o médico se recuse a escrever de modo compreensível, pode ser denunciado e até mesmo penalizado pelo Conselho Regional de Medicina do seu estado.

A partir de hoje, diga “sim” à sua saúde e NÃO à receita analfamédica.

27 agosto 2014

O Médico, o Monstro e a World Wide Web

© Dr. Alessandro Loiola
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Que a Internet é um meio de expressão sem precedentes, não é novidade alguma. Mas o que tem assombrado até aos internautas mais experientes é a epidemia de websites voltados para a saúde: estima-se que existam hoje mais de 40 mil deles e dezenas surgem a cada dia, manifestando a intensa demanda por este tipo de informação.

Por um lado, a proliferação de páginas sobre saúde marca o processo de democratização do conhecimento médico, mas isto também se traduz em conseqüências menos encantadoras. O médico e o monstro podem estar apenas a um clique de distância, e os websites de saúde podem facilmente transformar o amável Dr. Jekill em um terrível Mr. Hide. Isto porque uma parte considerável da informação disponível está errada ou é enganosa, expondo você a danos perigosos e potencialmente irreparáveis.

Entendendo as regras

Existe um princípio de ouro na Web: qualquer um pode publicar qualquer coisa, bastando para tanto um computador pessoal e acesso à rede. Porém, enquanto que as mídias convencionais (jornais, revistas, programas de rádio ou televisão, etc) deixam um registro físico, o conteúdo da Internet é volátil: ele está aqui hoje e pode simplesmente desaparecer no éter amanhã. O grande problema deixou de ser “encontrar a informação desejada”, e passou a ser como avaliar a credibilidade de um documento obtido via Internet.

Não existe uma legislação específica para as informações disponíveis na rede. A própria dinâmica sem fronteiras da Internet torna as medidas legais sem sentido ou lentas demais. A solução mais eficaz até o momento tem sido a auto-regulamentação: desde os anos 90 existem vários códigos de honra para informação em saúde na Internet. O mais famoso deles foi criado pela Health On Net Fundation em 1996 e se chama HON Code.

Apesar de ser uma iniciativa louvável, o HON Code possui um grande problema: ele não verifica a qualidade da informação. O HON Code determina o nível de confiabilidade através de padrões éticos, tentando garantir um certo rigor científico na elaboração do material publicado. Isso significa que nem todo site com o selo do HON Code possui informações necessariamente corretas ou verídicas. Em contrapartida, nem todo site honesto possui o selo do HON Code.

Então como sobreviver em meio a este caos? Como saber o que é informação confiável ou não? Bom, para evitar enganos, eu recomendo que você aplique por conta própria 04 critérios bem simples para avaliar a qualidade do que está lendo: Autoridade, Transparência, Atualidade e Desconfiança. Cole estes critérios ao lado do seu computador, consultando-os sempre que tiver alguma dúvida sobre se o que está lendo possui alguma validade ou não.

CRITÉRIO 1: AUTORIDADE.
A orientação médica ou de saúde contida no site é dada por um profissional da área ou você está lendo sobre Hipertensão Arterial na visão de um Ufologista de Rondônia? É possível identificar o autor do texto e checar suas credenciais? A informação possui referências claras às fontes consultadas (p.ex.: links para textos científicos, documentos do Ministério da Saúde ou páginas de centros universitários na Internet)?

Quando der de cara com alguma informação de importância para você, procure sempre a fonte daquela informação. Sites criados por grandes centros médicos, organizações científicas, universidades e agências governamentais são os mais seguros. Muito cuidado com sites estritamente comerciais ou baseados em testemunhos de pessoas que procuram empurrar um único ponto de vista ou vendem curas milagrosas. O maior milagre do Universo está entre as suas orelhas e se chama Inteligência, lembre-se sempre disso.

CRITÉRIO 2: TRANSPARÊNCIA.
A informação deve estar publicada de modo claro, oferecendo endereços de contato para quem desejar orientação ou ajuda adicional. O site também deve ser bastante claro quanto à presença de patrocínio: qualquer apoio financeiro, comercial ou não, deve ser identificado.

Por exemplo: se você está lendo sobre Constipação Intestinal em um site patrocinado por um fabricante de laxantes, as informações ali contidas certamente tenderão a favorecer o patrocinador – o que nem sempre corresponderá a toda verdade em si.

CRITÉRIO 3: ATUALIDADE.
O conhecimento científico é extremamente dinâmico: calcula-se que metade do que os médicos defendem agora estará errado daqui a 10 anos – e para desespero geral ninguém ainda é capaz de identificar qual metade é esta. O mais confiável é procurar sempre pela informação mais recente. Veja se o site exibe claramente a data em que determinada informação foi publicada ou revisada.

CRITÉRIO 4: DESCONFIANÇA.
Você encontrou algo que lhe diz respeito e o site parece ter autoridade, transparência e atualidade? Ótimo. Desconfie dele mesmo assim. Desconfie muito, desconfie sempre. Visite outros sites e compare informações. Até mesmo sites que exibem o selo do HON Code não estão isentos de informações imprecisas. Mantenha o espírito aberto, porém crítico em qualquer situação – ou você conhece alguém tenha caído morto, fulminado após tomar uma pequena dose de prudência?

Nem eu.

Boa parte do caminho de descobrir o que se quer é saber exatamente o que se procura.  A Internet pode ser uma grande fonte de informação em saúde, mas não é a única: ela deve representar apenas mais um item em seu cardápio de escolhas.

A FRASQUEIRA DE PANDORA: A VERDADEIRA VERDADE SOBRE OS ANTIDEPRESSIVOS

© Dr. Alessandro Loiola
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A medicina tem como “patrono” Hipócrates, famoso estudioso do corpo humano na antiga Grécia. Mas na minha opinião, Hipócrates não está com nada. Médicos, dentistas, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, enfermeiros e adjacências, deviam todos agradecer mesmo à Pandora.

Na Mitologia Grega, Prometeus foi um sujeito bacana. Ele entregou aos homens o segredo do fogo, um conhecimento que gerou crises de ciúmes no Olimpo. Afinal, mexer com fogo não era coisa para qualquer um. Em resposta, Zeus arquitetou uma de suas vinganças maquiavélicas: encomendou aos demais deuses uma mulher “perfeita”, dotada de todos os encantos, que obviamente foi batizada de Pandora (Pan = todos, Dora = encantos).

Pandora foi entregue como um presente para Epimeteus, o titã irmão de Prometeus. Apesar dos conselhos do irmão para que não a aceitasse (“Olha, Zeus não é flor que se cheire e tem coelho neste mato...” – dizia o email de Prometeus), Epimeteus se apaixonou perdidamente por Pandora e ambos foram morar juntos em um dois quartos com suíte. Entre os pertences de Pandora estava uma caixa, com recomendações explícitas para que jamais fosse aberta.

Um belo dia enquanto o mundo ainda era um Paraíso e Epimeteus assistia à final do campeonato brasileiro, Pandora foi mordida pela curiosidade e cismou de dar uma espiada na caixa. Bastou abrir uma pequena fresta para que lá de dentro subitamente saíssem a pobreza, o crime, a culpa, a angústia, a tristeza, as doenças, etc. Da Caixa de Pandora foram libertados os males que povoam o mundo até os dias de hoje, mas ela também libertou a Esperança, o fio salvador capaz de nos manter lutando em meio às adversidades.

Em última análise, Pandora e sua Caixa garantiram o mercado de trabalho dos profissionais de saúde, que há milênios correm atrás do prejuízo tentando desvendar os segredos e as respostas para as mais variadas doenças. Nem sempre este é um trabalho recheado de verdades absolutas. Algumas destas respostas podem ser bastante traiçoeiras.

A verdade está lá fora

Ao abrir sua caixa, a mítica Pandora libertou as doenças no mundo. Felizmente, entre os vários males que escaparam, os deuses haviam colocado um consolo, a Esperança. E a Esperança nos fez acreditar que para todo mal existe uma cura: se Pandora tinha as doenças guardadas em uma caixa, ela certamente possuía uma frasqueira para guardar utensílios, cosméticos, duas aspirinas, uma caixa de antibióticos, a cura do câncer, etc.

Nas últimas décadas, as doenças mentais que escaparam da Caixa de Pandora vêm ganhando destaque, a ponto da maioria dos médicos concordar que o século XXI será o século dos transtornos da mente. Estamos relativamente bem aparelhados para lidar com a maioria das infecções, temos recursos paliativos para boa parte dos tumores malignos, mas a mente... ah, a mente... essa ainda dá um baile na gente. Não é de surpreender que a indústria dos antidepressivos movimente várias centenas de milhões de dólares por ano. Estamos vasculhando a frasqueira de Pandora em busca daquela única pílula capaz de sumir com todos os problemas e pintar o mundo novamente de azul e cor de rosa.

Foi neste contexto que, no final da década de 1980, os cientistas acharam ter descoberto algo. Há muito se sabia que a Serotonina, uma substância utilizada para transmitir informações entre os neurônios, estava envolvida com a sensação de bem estar e a percepção de “felicidade”. Quanto mais serotonina no seu cérebro, mais você ri à toa. Quanto menos serotonina, mais segundas-feiras você encontra na sua semana. Em 1987, o lançamento da Fluoxetina inaugurou a era dos Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina - ou ISRS -, antidepressivos que agem diretamente sobre os níveis cerebrais de Serotonina. Não demorou muito para que a Fluoxetina fosse elevada à categoria de panacéia para toda sorte de tristeza e angústias – e virasse uma máquina de fazer dinheiro.

Entretanto, como qualquer bom casamento é capaz de provar, bastaram alguns anos de lua-de-mel para que os problemas começassem a surgir. Em junho de 2001, um júri nos EUA determinou que um certo antidepressivo da família dos ISRS foi o causador de uma crise psicótica em um homem. Durante o surto, o homem assassinou sua mulher, a filha e a neta, cometendo suicídio logo em seguida. A família processou o laboratório e ganhou a causa e uma indenização de 8 milhões de dólares. Outros casos se seguiram, e a cada dia mais e mais pessoas vêm acionando judicialmente médicos e companhias farmacêuticas por motivos similares: antidepressivos que matam.

Do meu ponto de vista, o problema teve início justamente com a propaganda em torno da expectativa de “felicidade-a-uma-pílula-de-distância”. Isto fez com que os ISRS fossem recomendados para tudo quanto é tipo de queixa. Ah, você não dorme? Tome um antidepressivo. O quê, você dorme demais? Tome mais antidepressivo. Você não dorme nem fica acordado, muito pelo contrário? Tudo bem, tome montes de antidepressivos! Mas ei, os antidepressivos ISRS devem ser empregados dentro de critérios específicos de indicação. E principalmente: se utilizados em excesso, podem provocar acúmulos tóxicos de Serotonina no cérebro.

Quando os níveis de Serotonina superam o tolerável, seu sistema nervoso começa a apresentar sintomas de envenenamento, incluindo tics nervosos, insônia, vertigens, alucinações, náuseas, disfunção sexual, sensações de “choques” pelo corpo, pensamentos e comportamentos auto-mutilantes, suicidas ou homicidas. Infelizmente, a maioria dos médicos e pacientes esquece de prestar atenção para este risco e não se mantém alerta para os sinais de que algo não vai bem – e que este algo pode ser um efeito colateral potencialmente grave do antidepressivo.

Você deve ter consciência de que não somos robôs. Ninguém é. Um pouco de angústia, tristeza e desânimo fazem parte da vida de cada um – lembre-se de agradecer à Pandora, certo? Se os sintomas depressivos que você apresenta sugerem baixos níveis cerebrais de Serotonina, existem vários recursos naturais e dietéticos que você pode empregar para tentar levantar seu humor ANTES de partir para o uso de drogas mais fortes. Além disso, lá no fundo, dependerá de VOCÊ – não de seu médico e certamente não de uma pílula – encontrar o caminho para superar as dificuldades desse mundo.

Sua VONTADE sempre terá mais peso que qualquer receita tirada da frasqueira de Pandora.

26 agosto 2014

STO LAT - COMO ULTRAPASSAR OS CEM ANOS

© Dr. Alessandro Loiola
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Um boletim do National Institutes of Health informa: os Estados Unidos são o país com o maior número de pessoas centenárias no Mundo. O Japão, em segundo lugar, conta com cerca de 25.000 pessoas acima dos 100 anos de idade – 30.000 a menos que os EUA.

Os centenários vêm se tornando tão comuns que o termo Supercentenário foi cunhado para designar pessoas que ultrapassaram os 110 anos, e alguns países estão adotando formulários de censos vão até 119 anos de idade.

Entre tantos números e estatísticas, fiquei pensando: qual seria o segredo desse pessoal todo? O que eles possuem em comum e que poderia aumentar sua chance de ultrapassar os 80 anos esbanjando vitalidade? Revisando os trabalhos científicos mais recentes, reuni as 05 orientações abaixo. Espero lhe sejam úteis.

STO LAT

Em polonês, “Sto Lat” é uma forma de cumprimento bastante comum e significa “que você viva cem anos!”. Desejar vida longa e próspera a alguém é uma das saudações mais bonitas que você pode fazer. Em teoria, quanto mais vivemos, maiores serão nossas chances de sucesso e felicidade.

A longevidade também é uma maneira indireta de medir a qualidade de vida de um povo: apesar de todas as suas riquezas e monumentos, no Egito de 1.000 a.C. poucos ultrapassavam os 30 anos de idade. Por volta da época de Cristo, a expectativa de vida havia melhorado pouca coisa: os homens viviam 45 anos em média e as mulheres, 36. Uma lástima.

Mas avançamos muito. Às portas do século XXI, o cidadão comum passou a viver uma média de 75 anos - o equivalente a 2 antigos egípcios e meio! Um tremendo salto de qualidade. Mais que isto: nos últimos 40 anos, o número de pessoas com 100 anos de idade ou mais aumentou 1.000%. Calcula-se que uma de cada 50 mulheres e 1 de cada 200 homens vivos hoje chegarão ao centenário. E os cientistas dizem que é apenas o começo, pois temos potencial biológico para viver ainda mais, até os 130-150 anos de idade.

Então qual será o segredo? Como fazer parte desta estatística e comemorar um supercentenário sendo capaz de amarrar os próprios cadarços (se é que irão existir cadarços até lá)? Inúmeros centros de pesquisa em todo o Mundo vêm se debruçando sobre o assunto, com algumas conclusões em comum:

1 - RESPEITE SEU ESTÔMAGO

O ditado “o peixe morre pela boca” também pode ser aplicado aos mamíferos. O alimento é o combustível do corpo. Cuide bem do seu motor, e ele lhe garantirá uma viagem longa e tranqüila. Por exemplo: 70% do colesterol presente no seu organismo são produzidos por você mesmo, principalmente pelo seu fígado. Seguir  uma dieta capaz de reduzir os níveis de colesterol é tão importante quanto levar uma dieta pobre em gorduras.

Quer outro exemplo? A qualidade da dieta influencia o risco de desenvolver vários tipos de câncer – e os tumores malignos são uma das principais causas de óbito na Terceira Idade. Leve isto em conta quando estiver escolhendo um Plano de Previdência Privada.

2 - RESPEITE SUA HIDRATAÇÃO

Um ser humano é pouco mais que um saco plástico contendo cerca de 40 litros de líquido viscoso e 20 quilos de miúdos secos. A água corresponde a 60% do seu peso. Assim como o radiador do seu carro, você precisa manter o nível de água dentro do ideal, sob o risco de ferver e ter de interromper a viagem antes do previsto. Mas atenção: não inclua bebidas alcoólicas na lista de líquidos preferenciais para hidratação. Ao invés disso, abuse da água potável e dos sucos de frutas naturais.

3 - RESPEITE SEU CÉREBRO

Considere o cérebro como o músculo mais eficiente do seu corpo. Não o deixe atrofiar por falta de exercícios! Procure estar à volta com atividades que estimulem o raciocínio, desde jogos de memória até equações de física quântica. À noite, premie o esforço dos neurônios com sono de boa qualidade.

4 - RESPEITE SEUS OSSOS

Para cada 1 hora de exercícios regulares, você adiciona 3 horas à sua vida. É uma boa troca, não? Mas nada de exageros: para subir uma escada aos 80 ou levantar-se da cadeira aos 90, você precisará de ossos flexíveis. Na Terceira Idade, um esqueleto estável é mais importante que braços definidos ou um abdome tanquinho. Respeite seus ossos fazendo alongamentos pelo menos duas vezes por semana e obedecendo aos limites de velocidade no trânsito.

5 - PROCURE UM SENTIDO

Envelhecer significa livrar-se de alguns pesos. Filhos, contas, emprego, responsabilidades... muita coisa sai de cima dos seus ombros. Mas uma carga menor também pode significar um sentido menor para a vida. Essa é uma armadilha comum. A resposta é procurar sempre um novo lugar, uma nova perspectiva existencial. Como disse John Barrymore, “só envelhecemos de verdade quando começamos a trocar nossos sonhos por arrependimentos”. Portanto...

Aposentou? Assuma riscos diferentes, reinvente desafios, volte a estudar, compre um animal de estimação, participe de grupos de leitura, desempenhe trabalhos voluntários (que tal lecionar para crianças carentes?). Separou ou enviuvou? Viaje, faça aulas de dança, conheça pessoas e comece a namorar novamente. Certamente existem aventuras neste mundo que você gostaria de fazer e ainda não fez. Se não forem contra a Lei, faça-as imediatamente!

O BOM HUMOR ESTÁ NA COZINHA

© Dr. Alessandro Loiola

Reis, diplomatas, empresas de turismo, a menina que irá fazer do seu filho um esposo, todas essas pessoas possuem uma coisa em comum: elas sabem que, para ganhar alguém, você deve começar pelo estômago. Essa conversa de “ganhar com um olhar” ou “seduzir com um perfume” é muito bonita e tudo mais, mas o animal faminto que existe dentro de nós simplesmente não é capaz de resistir à velha e boa comida.

Mas por que o ato de comer desperta um prazer tão grande? Outro dia me responderam: porque sem comer você não vive. Ótimo. Você não vive sem respirar ou piscar os olhos idem, mas isso não quer dizer que você larga tudo que está fazendo quando alguém lhe convida para dois copos de fôlego. E você já marcou com seus amigos “vamos piscar os olhos lá em casa, quer vir?”.

O fato é que, entre as nossas orelhas, existe uma maquininha de calcular capaz de fazer algo entre 1013 e 1016 operações por segundo (sim, isso tudo de zeros). E este prodígio -  o seu Cérebro - é um ávido consumidor de energia.

Apesar de representar 2% do peso corporal, o cérebro é responsável por cerca de 20% do consumo de oxigênio e energia do organismo. Da mesma forma que o motor de um carro, o desempenho dependerá da qualidade do combustível que você consome.

A química dos alimentos modifica a produção dos neurotransmissores, as substâncias utilizadas pelo cérebro para transmitir impulsos nervosos. Por exemplo: se o desânimo está ameaçando sua segunda-feira, procure comer salmão, atum ou sardinha. Estes alimentos são ricos em Ácidos Graxos tipo Ômega-3, uma substância útil para combater a depressão, o mau-humor e a impulsividade. A lecitina, presente na soja e nos ovos, também é essencial para o funcionamento cerebral, afetando não apenas o humor, mas também a memória e a concentração.

Para temperar a alegria durante o dia, você não deve passar mais do que 4 horas em jejum. Ficar muito tempo sem comer reduz os níveis de glicose no cérebro e faz com que aquela nuvem carregada de raios estacione sobre você. Uma boa dica é aumentar a quantidade de abóbora ou sementes de girassol na sua dieta: eles contêm grandes quantidades de Triptofano, uma substância que regula o bom-humor e a qualidade do sono. E não se esqueça de colocar um pouco de folhas de Espinafre na salada: elas são ricas em ácido fólico e reduzem os níveis circulantes de homocisteína associados à depressão. 

As bananas são outra boa opção para lanches rápidos: elas são ricas em potássio, triptofano, sucrose, glicose e frutose – todas substâncias envolvidas na manutenção do bom humor.

Os frutos do mar, em especial as ostras, são ricos em zinco, mais uma substância essencial para regular o estado de ânimo. O zinco também está envolvido na produção de testosterona, o principal hormônio do desejo sexual. Pensando bem, acho melhor você não comer ostras no horário de trabalho não...

Alho. Você sabia que o alho, é uma das principais fontes de selênio, um sal mineral diretamente envolvido no estímulo dos centros cerebrais da alegria? (Outras fontes de selênio incluem cogumelos, brócolis, aveia, germe de trigo e castanha do Pará).

Além disso, o alho ajuda a evitar o desenvolvimento de várias doenças cardiovasculares. Mas atenção: se ostras no trabalho não é uma boa dica, o consumo excessivo de alho pode causar um verdadeiro desastre na sua vida social. Faça o teste: mastigue meio dente de alho e dê um enooorme beijo em quem você gosta. Viu o que eu disse? Mesmo assim, eu recomendo que você adicione boas quantidades de alho – e pastilhas de menta – à sua dieta habitual.

Finalmente, o ingrediente mais essencial de todos, aquilo sem o quê seu humor irá afundar na piscina feito um martelo sem cabo: a Água. Além de ser responsável por mais de 80% do peso do cérebro e estimular a eliminação de toxinas pelos rins, a água é uma das poucas coisas que eu preparo na cozinha sem fazer muita bagunça.

Acalme seu sistema nervoso com pelo menos 08 copos de água ou suco por dia e, como quem não quer nada, aproveite a saída para pegar mais um copo e faça um favor à comunidade. Deixe estas sugestões perto do seu irritado favorito. Ele merece.

Pessoas idosas em risco de queda

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Um dos mantras da medicina diz “Primeiro, não causar dano”. Também dizem que devemos “consolar sempre, aliviar quando possível, curar às vezes”. Infelizmente, o empenho em fazer valer esses dogmas pode resultar em iatrogenias, e as consequências do tratamento podem sair tão caras quanto a doença em si.

Um bom exemplo disso foi uma pesquisa European Journal of Public Health em julho/2014: Metade dos 20 medicamentos mais comumente receitados para pessoas idosas aumentam o risco de quedas. Analgésicos, antidepressivos e sedativos são os mais preocupantes.

Tudo bem que as doenças de base para as quais esses medicamentos são receitados já trazem em si a possibilidade de quedas, mas os pesquisadores salientaram que, com relação às quedas em específico, essas drogas só pioram o cenário. E foram analisados dados de 7 milhões de suecos com mais de 65 anos de idade, tendo sido identificados mais de 60 mil casos de quedas que resultaram em hospitalização.

Após os devidos ajustes para o número de medicações em uso, algumas tendências curiosas surgiram: homens e mulheres em uso de analgésicos opioides e homens em uso de antidepressivos apresentam duas vezes mais possibilidade de sofrerem quedas quando comparados a pessoas da mesma idade que não estavam utilizando estes medicamentos. Mulheres em uso de antidepressivos apresentam um risco de queda 75%  maior.

Os estrogênios e a maioria dos remédios anti-hipertensivos não afetaram o risco de quedas – na verdade, estas medicações até apresentaram um efeito protetor. A única exceção coube aos diuréticos quando empregados em altas doses.

O estudo não foi capaz de provar que as medicações eram a causa direta das quedas. Entretanto, atentar para a existência deste risco deve fazer parte da prescrição, e sintomas como vertigem, tontura, comprometimento psicomotor, fraqueza muscular e alterações cognitivas devem levantar bandeiras de alarme.

Em alguns casos, os riscos não compensam os benefícios, e as medicações deveriam ser modificadas ou suspensas.

25 agosto 2014

Obesidade e câncer: cara ou coroa?

© Dr. Alessandro Loiola
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Um trabalho publicado dia desses na Lancet (Agosto/2014) jogou mais lenha na fogueira da obesidade.

Há muito se sabe, a partir de pequenos levantamentos estatísticos, que o peso corporal está relacionado ao desenvolvimento de certos tipos de cânceres. Mas os ingleses levaram isso um (graaande) passo adiante: utilizando registros clínicos do Clinical Practice Research Datalink, eles identificaram mais de 5 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 16 anos e que não apresentavam diagnóstico de câncer no momento da avaliação. O IMC médio calculado para o grupo foi 25,5 kg/m².

Durante 7 anos e meio, esse coorte foi acompanhado e aproximadamente 170 mil indivíduos desenvolveram pelo menos uma das 22 neoplasias de interesse do estudo. Os 22 tipos escolhidos respondiam por 90% de todos os tipos de tumores malignos diagnosticados na Grã-Bretanha, e o aumento no IMC mostrou estar associado a nada menos que 17 deles.

O aumento no peso foi determinante para aumentar o risco de câncer na mama (em mulheres na pós-menopausa), na vesicular biliar, nos rins, no fígado, no intestino grosso, na tireóide, nos ovários, na região cervical e para leucemia. Por outro lado, algumas evidências sugeriram que o IMC aumentado exercia um certo efeito protetor para câncer de mama na pré-menopausa e para câncer na próstata.

Cada aumento de 5 kg/m² no IMC (equivalente a 15,5 kg) associou-se a um aumento de 62% no risco de câncer no útero, 25% para câncer renal e 10% para câncer no intestino grosso.

A temporada de caça à obesidade está aberta há muito tempo, graças à sua associação com hipertensão arterial e diabetes – e todas as consequências e custos daí decorrentes. Mas agora este estudo confirma, sem a menor sombra de dúvida, que o papel desempenhado pela obesidade representa um fator de risco de verdade, sólido, progressivo e definitivo.

O excesso de peso é certamente uma causa evitável de câncer. Ponto.

Agora resta saber se a moeda vai cair.

Antipsicóticos e problemas renais

© Dr. Alessandro Loiola
Médico – CRMSP 142.346
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Um estudo populacional avaliando os registros de mais de 2000 pacientes acima de 64 anos de idade mostrou que aqueles em uso de quetiapina, risperidona ou olanzapina apresentam um risco duas vezes maior de insuficiência renal aguda que pessoas da mesma idade que não tomam esses remédios.

Milhões de pessoas fazem uso de antipsicóticos a cada ano. Estas drogas específicas são bastante utilizadas para controlar sintomas comportamentais em pacientes com demência – ainda que esta recomendação não tenha aprovação da maioria dos especialistas no assunto.

A pesquisa, publicada em agosto/2014 no Annals of Internal Medicine, é válida por lançar mais luz sobre o uso de antipsicóticos. Esses medicamentos não devem ser execrados, mas seu emprego merece cautela, especialmente em idosos, e o ideal é monitorizar a função renal e a pressão arterial periodicamente.

22 agosto 2014

Ftalatos e Testosterona: você já ouviu falar?

© Dr. Alessandro Loiola
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Segundo a Mãe Wikipedia, “os ftalatos são um grupo de compostos químicos derivados do ácido ftálico, tal como o cloro ftalato, utilizado como aditivo para deixar o plástico mais maleável. Dentre os ftalatos existentes, o DEHP (ftalato de di-2-etilhexila) é um dos mais difíceis de serem biodegradados”.

Ótimo, mas... e você com isso?

“Você com isso” é o seguinte: um novo estudo publicado online no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (agosto/2014) mostrou que a exposição a ftalatos está associada a uma redução significativa dos níveis de testosterona em homens, mulheres e crianças.

A pesquisa envolveu 2208 participantes arrolados no National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) entre 2011 e 2012. Apesar de muitos ftalatos terem sido associados a reduções significativas nos níveis de testosterona em ambos sexos e em faixas etárias diferentes, as associações mais fortes foram encontradas em mulheres entre 40 e 60 anos de idade: nestas, os níveis de testosterona caíram até 24%, especialmente quando expostas ao mono-benzil ftalato.  

A exposição à DEHP também associou-se a uma redução de 20,1% nos níveis de testosterona em geral, chegando a 29% nos meninos entre 6 e 12 anos de idade.

Curiosamente, a maior exposição a ftalatos não pareceu afetar os níveis de testosterona em homens adultos.

A testosterona é um hormônio importante, mesmo nas mulheres: a deficiência deste hormônio prejudica o desempenho sexual, a libido, as funções cognitivas, a densidade óssea, o sistema cardiovascular e a sensação geral de bem-estar. 

Ainda que as implicações clínicas ainda não estejam bem claras, parece seguro afirmar que estes achados adicionam evidências importantes quanto ao risco reprodutivo associado a exposição a estes produtos químicos. 

Como a maioria dos produtos que contém ftalatos não informa isso em seu rótulo, a Sociedade Americana de Endocrinologia e a OMS emitiram recomendações para que sejam realizadas maiores pesquisas sobre o tópico e emitidos alertas sobre o potencial de risco.

Não sou a OMS e isso é só mais um blog. Mas o alerta tá aí.

A Arte da Comunicação Eficaz

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A arte da comunicação eficaz merecia por si só uma biblioteca inteira. De quase nada adianta seu conhecimento enciclopédico se ele não pode ser compreendido pelas pessoas ao seu redor. A comunicação correta aumenta consideravelmente as chances de suas propostas se transformarem em mudanças ao invés de resistências. Sua capacidade de dialogar claramente é tão ou mais importante quanto onde você cursou a faculdade ou quantas pós-graduações traz no currículo.

A maioria dos cursos de medicina peca de modo imperdoável ao não ensinar quesitos específicos de liderança e comunicação aos seus alunos. Formam-se médicos cheios de verdades científicas, mas poucos comunicadores. E, na hora de conversar com o paciente, sua intransigência em fazer valer a ciência sobre todas as coisas de nada ajuda. Para melhorar substancialmente sua interação com a equipe, os pacientes e a comunidade, atente para 7 equívocos comuns da comunicação:

1• VOCÊ ACHA QUE SABE FALAR. Uma porção substancial dos desentendimentos reside no fato de você achar que está passando uma determinada mensagem quando, em contrapartida, o outro está fazendo uma interpretação completamente invertida da conversa.

Aprender a comunicar-se de modo efetivo é como aprender a utilizar um programa de computador: os comandos devem ser bem claros, cada tecla deve ser apertada com um objetivo bem determinado. Nada de meias palavras, segundas intenções ou agendas secretas: apenas apresente sua mensagem de modo simples, limpo e não agressivo.


2• VOCÊ ACHA QUE É CAPAZ DE MUDAR INTIMAMENTE OUTRA PESSOA. Aceite isso desde o princípio. Você pode criar um contexto que favoreça a mudança do outro, mas sua força de vontade ou seu ímpeto jamais mudarão a natureza de outrem. A pessoa pode curvar-se à sua vontade para conseguir um ganho secundário, terminar uma discussão, sair de uma situação constrangedora, mas apenas o fato dela ter concordado com seus argumentos quer dizer muito pouco.

Você não pode mudar outra pessoa: a mudança é um processo de forças internas, nunca externas. Por isso, “não diga aos outros como fazer as coisas: diga o que tem que ser feito e deixe que lhe surpreendam com os resultados” (George S. Patton).


3• VOCÊ NÃO RELAXA. Se quiser realmente resolver uma situação, relaxe. Qualquer diálogo produz melhores resultados em um ambiente mais sereno. “Um capitão assustado assusta a tripulação inteira” (Lister Sinclair).


4• VOCÊ DISCUTE CULPADOS AO INVÉS DE DISCUTIR SOLUÇÕES. Fazer consultas cheias de observações criticando o(s) outro(s) é uma excelente maneira de desperdiçar seu tempo. Primeiro, porque não existe essa história de “crítica construtiva”. Toda crítica dói e destrói. Mesmo que pouco. Ademais, as críticas que você lança no calor da discussão irão apenas lhe distanciar da pessoa criticada.

Reclamar indiscriminadamente, gritando e xingando aos quatro ventos, pode ser uma tentação enorme, mas acredite: ao final da tempestade, você terá perdido terreno que já havia sido conquistado. Talvez você faça isso para assumir o papel de vítima indefesa ou agressor invencível e balançar a autoconfiança do outro, mas o que você está fazendo de fato é diminuindo o nível de confiança do outro em relação a você.


5• VOCÊ NÃO ADICIONA PESSOAS À SUA PROPOSTA. Durante qualquer discussão para definir metas (de tratamento, de atendimento, de cobertura vacinal ou pré-natal, etc), a palavra “você” frequentemente é utilizada para solidificar o isolamento e o papel de vítima de quem se está reclamando: “você tem que seguir a receita”, “você tem que mudar”, “você podia muito bem ter feito isso ou aquilo”, etc.

Um profissional verdadeiramente adulto e comprometido tem a coragem de representar o seu papel, ao invés de eximir-se dele. Esse profissional utiliza a palavra “nós”. “Nós temos que encontrar um caminho para melhorar o tratamento”, “Nós vamos nos entender”, “Nós poderíamos ter agido de outra forma”. “Nós” não é uma palavra que fecha portas. Muito pelo contrário: um único “Nós” pode abrir várias delas.


6• VOCÊ SEMPRE COMEÇA PELOS PONTOS FRACOS. Existe um pré-requisito estratégico se você pretende obter sucesso com suas propostas: além de saber comunicar-se, conhecer as limitações da argumentação, estar relaxado(a), adicionado e focado nas soluções, você deve iniciar sua investida utilizando as ferramentas fortes de que dispõe.

Conheça os pontos fortes de sua equipe, de seu local de atendimento, de seus pacientes e da comunidade a que você está assistindo: é muito mais fácil e eficaz construir sobre pontos fortes que desperdiçar seus esforços escrutinando os pontos fracos. Muitos colegas perdem um tempo enorme tentando resolver absolutamente tudo que está errado, e nunca conseguem resultado algum.

Um exemplo que ilustra bem a construção de propostas sobre pontos fortes versus pontos fracos pode está ilustrado na seguinte história: há muitos anos, as companhias aéreas pediam ao final do vôo que os passageiros não esquecessem seus pertences de mão, mas esqueciam de um detalhe simples: estamos habituados a prestar atenção ao verbo da frase, não na sua negativa. Então, enquanto as portas eram colocadas em manual, tudo que ficava martelando na cabeça dos passageiros era para que “esquecessem seus pertences de mão”. O não da frase passava batido, e incontáveis bolsas, casacos, guarda-chuvas, óculos, livros, mamadeiras, frasqueiras, fones de ouvido, travesseiros de viagem, agendas e telefones celulares iam fazer sua escala no setor de achados e perdidos do aeroporto.

Uma pequena mudança na recomendação fez uma enorme diferença, reduzindo drasticamente a quantidade de objetos deixados para trás. Hoje, após o pouso, a mensagem diz ...”e lembrem-se de pegar seus pertences de mão”.

Pode parecer bobagem, mas funciona. Eu lhe digo: “Não pense na cor vermelha!” e você automaticamente pensa em azul, transparente, música, borboleta ou... na cor vermelha?

O mesmo enredo vale para reuniões com grupos maiores. Ao invés de iniciar o encontro com a atmosfera de que “Não adianta porque nada nunca muda”, tente inspirar-se com o lema “Gosto do nosso trabalho porque existe sempre uma abertura para conversar e melhorar as coisas”. Ainda que isso seja uma mentira temporária - sim, adultos mentem, lamento lhe informar -, o fato é que este tom de diálogo provoca um tipo de profecia auto-realizável, evocando no outro o desejo de corresponder àquela observação.

Esqueça as fraquezas, esqueça o que você não gosta e o que não está dando certo – porque colocar isso como ponto de partida provavelmente é o que você tem feito e não tem funcionado. Comece o diálogo salientando os pontos fortes que você conhece tão bem (no outro ou na sua equipe) ou as forças que você gostaria que fossem demonstradas com maior constância. Não tente consertar coisa alguma de imediato. Concentre-se em administrar uma injeção de entusiasmo e deixe esse novo estado de ânimo vicejar por um dia ou dois.

Podemos não ser perfeitos naquilo que fazemos com entusiasmo, mas certamente somos uma porcaria naquilo que fazemos sem entusiasmo algum.


7• VOCÊ ACHA QUE SABE OUVIR. O desejo de aliviar o sofrimento é uma das melhores ferramentas motivacionais entre profissionais de saúde. E não existe melhor maneira de expressar esse desejo que ouvir com todo o seu coração, sem intenção de julgar, condenar ou criticar. Permita que seu interlocutor perceba que está bem no coração dos acontecimentos naquele momento e que as decisões que ele/ela toma fazem toda a diferença para o sucesso do que está sendo proposto.

Ajude o outro a manifestar o que ele/ela deseja, preste atenção até você descobrir, em silêncio, qual é o problema. E então, transforme o problema em uma meta que esteja no interesse de ambos. Mostre o caminho com serenidade e justiça, e veja o que acontece. Quando este processo de escutar é feito de modo consciente, construímos uma estrada de valorização, estabilidade e progresso.

21 agosto 2014

Para os colegas que atendem em ambulatório: o que é preciso saber sobre as leis de Ética e Confidencialidade?

© Dr. Alessandro Loiola
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A legislação a respeito dos parâmetros do que o médico PODE e DEVE fazer – e também do que NÃO pode e NÃO deve -, deve ser do seu pleno domínio. PLENO domínio. Por isso, copie estas páginas a seguir e deixe-as à mão na sua gaveta mais próxima. Estas dicas já me foram úteis antes e certamente lhe serão preciosas de alguma maneira em um momento futuro.

O paciente deve ser recebido com respeito e diligência. No momento do atendimento, apresente-se dizendo seu nome e posto e, caso ele esteja acompanhado, diga-lhe que ele tem o direito de solicitar que o acompanhante aguarde do lado de fora do consultório. Esta primeira conduta estabelece o tom do seu relacionamento: a prioridade é DO PACIENTE.

Por isso, caso a presença do acompanhante cause qualquer constrangimento, ele pode ser polidamente orientado a aguardar na sala de espera em obediência ao Código de Ética Médica (CEM):

• II Princípio Fundamental: O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em lei.

• Artigo 73: é vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente.


Esta recomendação vale para crianças e adolescentes? Sim, vale. E muito. Para efeitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se criança a pessoa com até 12 anos de idade e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. O Código Civil estabelece como 18 anos de idade o marco para maioridade civil, podendo esta ser alcançada em maiores de 16 anos em face de alguns atos (emancipação, casamento, exercício de emprego público efetivo, etc).

O atendimento de menores de idade sem o acompanhante também se encaixa nos preceitos do CEM:

• Artigo 74º: é vedado ao médico revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.

No âmbito da saúde pública, crianças e adolescentes podem até mesmo agendar suas próprias consultas e DEVEM ser atendidos na falta de um responsável ou familiar maior de idade. Lembre-se que a interpretação da legislação deve se dar sempre a favor da criança e do adolescente, e as ações e serviços de saúde são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no Artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:

• ... III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;

• IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;

• V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;


Ademais, o Artigo 3º do ECA estabelece que criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral, sendo-lhes assegurado por lei todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Caso a criança ou adolescente compareça à Unidade de Saúde da Família (USF) para atendimento, este deverá ser realizado também em respeito aos Artigos 11, 15, 16 e 17 do ECA:

• Artigo 11: É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente, através do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.

• Artigo 15: A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

• Artigo 16: O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; (...) VII – buscar refúgio, auxílio e orientação.

• Artigo 17: O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.


A Lei ressalta o direito de defesa da criança e do adolescente quando seus interesses venham a colidir com os de seus pais ou responsável. Uma adolescente que procure orientações e assistência para contracepção tem o direito de receber este atendimento de modo sigiloso, seguindo os preceitos do CEM...

• Artigo 42: (é vedado ao médico) Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo, devendo sempre esclarecê-lo sobre indicação, segurança, reversibilidade e risco de cada método.

...E a Lei n.º 9.263/1996, que regula um conjunto de ações para o planejamento familiar, saúde sexual e saúde reprodutiva. Esta Lei estabelece diretrizes ou restrições específicas para adolescentes, devendo ser interpretada conjuntamente com a Lei orgânica do SUS e o ECA, que garantem o direito do adolescente o atendimento integral e incondicional (restrição apenas para cirurgia de esterilização).

Os adolescentes de ambos os sexos tem direito à educação sexual, ao sigilo sobre sua atividade sexual, ao acesso e disponibilidade gratuita do teste HIV e aos demais insumos de prevenção. A consciência desse direito implica em reconhecer a individualidade (e ao mesmo tempo a vulnerabilidade) do adolescente, estimulando a responsabilidade com sua própria saúde. O respeito a sua autonomia faz com que eles passem de objeto a sujeito de direito.

No atendimento de menores de 18 anos de idade, faça prevalecer o bom-senso contido nas recomendações do MS:

• Qualquer exigência que possa afastar ou impedir o exercício pleno do adolescente de seu direito fundamental à saúde e à liberdade (p.ex.: a obrigatoriedade da presença de um responsável para acompanhamento no serviço de saúde), constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável.

• Caso a equipe de saúde entenda que o usuário não possui condições de decidir sozinho sobre alguma intervenção em razão de sua complexidade, deve, primeiramente, realizar as intervenções urgentes que se façam necessárias, e, em seguida, abordar o adolescente de forma clara expondo a necessidade de que um responsável o assista e o auxilie no acompanhamento.

• Busque sempre encorajar o adolescente a envolver a família no acompanhamento dos seus problemas, já que os pais ou responsáveis têm a obrigação legal de proteção e orientação de seus filhos ou tutelados.

• Havendo resistência fundada e receio de que a comunicação ao responsável legal implique em afastamento do usuário ou dano à sua saúde, solicite uma pessoa maior e capaz indicada pelo adolescente para acompanhá-lo e auxiliar a equipe de saúde na condução do caso.

• A quebra do sigilo, sempre que possível, deve ser decidida pela equipe de saúde juntamente com o adolescente e fundamentada no benefício real para a pessoa assistida, e não como uma forma de “livrar-se do problema”.


Três outras situações frequentes de risco de violação da ética e da confidencialidade são bastante comuns no dia a dia da USF: empregadores que desejam informações sobre atestados, seguradoras que desejam informações adicionais sobre o falecimento de um segurado e pessoas que desejam acesso ao registro clínico do paciente. Nestes cenários, respeite e cite em sua resposta os seguintes artigos do CEM, respectivamente:

• Artigo 76: (é vedado ao médico) Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos dirigentes de empresas ou de instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade.

• Artigo 77: (é vedado ao médico) Prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias da morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas na declaração de óbito,

• Artigo 85: (é vedado ao médico) Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não  obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade.


Finalmente, o contrato de confidencialidade deve ser equilibrado com a Lei nas situações em que sua  observância inflexível pode lhe colocar em risco de processos por negligência, omissão ou postergação de determinada conduta. Mantenha-se atento para:

• Artigo 243 (ECA): (configura crime) Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente.

• Artigo 66 (Código Penal): (configura crime) Deixar de comunicar à autoridade competente: I - crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício de função pública, desde que a ação penal não dependa de representação; II - crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício da medicina ou de outra profissão sanitária, desde que a ação penal não dependa de representação e a comunicação não exponha o cliente a procedimento criminal.

20 agosto 2014

... e por falar em Saúde Pública: como vai sua equipe de ESF?

© Dr. Alessandro Loiola

 
Se você tem menos de 40 anos de idade, quase certamente nunca ouviu falar de INAMPS ou tem pouca ideia sobre como era estruturada a saúde em nosso país antes de 1988. O Sistema Único de Saúde, por mais que detonem tudo relacionado a ele, foi uma CONQUISTA. O SUS foi um enorme passo adiante na elaboração de uma saúde verdadeiramente coletiva, funcional e eficaz.

Mas nada se constrói do dia para a noite em um país de dimensões planetárias como o nosso. É preciso esforço, paciência, perseverança, profissionalismo, planejamento, raciocínio, comprometimento pessoal e – acima de tudo – tempo. Um navio não faz curvas bruscas, e uma nação do tamanho do Brasil não é dirigida de modo diferente. Nossas mudanças ocorrem, mas são lentas: temos uma população de 20 “Portugais” distribuída em uma área maior que 200 Holandas. A massa a ser redirecionada é simplesmente gigantesca demais.

Seguindo o planejamento estratégico do SUS, em 1994 o Governo Federal implantou mais um tijolo à sua empreitada da saúde pública: em um movimento de acordo com o bom senso médico nos países com as melhores práticas de saúde do mundo, foi criado o Programa de Saúde da Família, logo rebatizado de Estratégia de Saúde da Família (ESF).

A medicina ocidental tornou-se um pequeno monstro sádico. A prioridade de criar doenças, máquinas para descobri-las e procedimentos para curá-las passou a gerar dinheiro demais, e desvirtuou o conceito de saúde. Saúde deixou de ser uma sensação de bem estar e plenitude e passou a ser a ausência de doenças. Mas ninguém NUNCA está sem doença alguma. Vivemos todos em um rodízio sem fim de alergias, urticárias, rinites, angústias, resfriados, tristezas, cefaleia, sobrepeso, palpitações, cólicas menstruais, torções, insônia, dores musculares e uma infinidade de outros sintomas e transtornos - que passaram a ser escrutinados com exames cada vez mais caros e tratamentos ainda mais dispendiosos.

Será tudo isso realmente necessário?

O esforço para implantar a ESF veio para mostrar uma via alternativa de assistência à saúde. Mais humanizada, prática, mais racional, porém mais próxima do próximo. A bem da verdade, e a despeito do que os apóstolos da medicina baseada em procedimentos possam ter profetizado em seu infinito catecismo junto às legiões que exigem cuidados especializados desnecessários, são precisos poucos recursos para aliviar o sofrimento da maioria das pessoas que buscam assistência: cerca de 85% dos problemas podem ser resolvidos no nível das Unidades Básicas de Saúde.

Mesmo as consultas especializadas deveriam fazer parte de um armário de recursos à disposição do Generalista, que acompanharia seu paciente nas idas e vindas nos diferentes especialistas, ao invés de se tornarem um refúgio para onde encaminhamos o que não sabemos (ou não queremos) tratar.

Para alguém profundamente apaixonado por Medicina, a Estratégia de Saúde da Família é um sopro bem-vindo, com seus conceitos de Integralidade e Resolutividade, ideias e metas razoáveis, boas ferramentas e uso judicioso de recursos.

Nada é perfeito, e temos um sistema de saúde à semelhança do povo que o faz e usa. Entretanto, como bem disse Gandhi: devemos nos tornar o mundo que queremos. Cabe a cada um de nós fazer sua parte mais que o melhor possível. Bora lá!

Celulares podem colocar a saúde da criança em risco?

© Dr. Alessandro Loiola
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O risco da radiação de micro-ondas (RDM) emitida por equipamentos eletrônicos, especialmente com relação às crianças e bebês em gestação, tem sido objeto de especulação há várias décadas. Apesar dos dados até o momento serem bastante conflitantes, existem de fato evidências científicas associando RDM e câncer.

Partindo desta premissa, recentemente foi publicada uma excelente revisão do assunto no Journal of Microscopy and Ultrastructure. Os pesquisadores fizeram um garimpo na literatura médica e avaliaram dados epidemiológicos de exposição a aparelhos de telefone celular entre 2009 e 2014. O que descobriram? Que crianças e bebês em gestação apresentam um risco considerável de danos neurológicos e biológicos decorrente da RDM emitida por estes equipamentos.

A velocidade de absorção da RDM é maior em crianças que em adultos pois seus cérebros absorvem mais, seus crânios são mais finos, e seu tamanho relativo é menor. O feto é particularmente vulnerável: a exposição à RDM pode resultar em degeneração da bainha de mielina que protege os neurônios.

É irrealista (e quase psicótico) achar que por causa disso os telefones celulares (e outros aparelhos emissores de RDM) serão banidos. Aparelhos que emitem RDM não podem ser considerados 100% seguros – mas automóveis também não.

O que os dados desta revisão sugerem é que deveria haver uma preocupação maior dos organismos governamentais com relação a este tópico, promovendo debates e estudos para assegurar os limites reais de segurança.

Até que estas pesquisas sejam realizadas, os autores do estudo fizeram algumas recomendações práticas:
  • A distância é sua amiga: manter o telefone celular a uma distância de 15 cm do seu ouvido reduz em 10.000 vezes o risco de exposição à RDM.
  • A menos que esteja completamente desligado, seu celular está sempre emitindo radiação. Se não o estiver utilizando, mantenha-o distante do seu corpo (p.ex.: em uma bolsa, sacola, mochila ou gaveta).
  • Mulheres gestantes devem manter distante da barriga todo e qualquer equipamento eletrônico.
  • Não coloque aparelhos eletrônicos dentro do berço do bebê.
  • Crianças e adolescentes devem ser ensinados a utilizar equipamentos emissores de RDM de um modo seguro. Por exemplo: um estudo do Pew Research Center mostrou que 75% dos adolescentes e pré-adolescentes americanos dormem a noite inteira com o celular debaixo do travesseiro. Fala sério...
  • Uma vez que o risco é cumulativa, as crianças deveriam minimizar o tempo que passam utilizando telefones celulares e sem fio. Por outro lado, serviços de telefonia que utilizam o computador (quando a conexão com a Internet é feita por meio de cabo) não emitem radiação e seu uso deveria ser encorajado.
  • Finalmente, em casa, os aparelhos roteadores Wi-Fi devem ser colocados longe dos lugares onde as crianças passam a maior parte do dia.
É isso aí. O recado tá dado.

Problemas mentais em crianças estão aumentando

© Dr. Alessandro Loiola
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Apesar da quantidade de crianças com limitações físicas ter diminuído 12% nos EUA na última década, o número de crianças como limitações relacionadas a problemas de desenvolvimento neurológico ou mental aumentou em 21% no mesmo período. Este dado foi apresentado na nova edição da revista Pediatrics (2014;134:530-538).

Crianças vivendo na linha da pobreza apresentam os maiores índices de limitação (102 casos para cada 1000 pessoas), mas – curiosamente – aquelas vivendo em lares com renda acima de 4 vezes o salário mínimo apresentaram o maior aumento no número de casos notificados (acréscimo de 28% em 10 anos contra 10% em 10 anos para os lares mais pobres).

Ainda que a pesquisa não tenha sido feita para determinar as causas do aumento, os autores do estudo especularam que talvez a diminuição do estigma tenha contribuído para o aumento: os pais agora estão deixando de esconder as crianças com transtornos mentais e passaram a procurar ajuda ativamente.

Os profissionais de saúde também parecem estar mais atentos para o problema, e os diagnósticos de Autismo (em seus vários espectros) e TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) estão se tornando mais comuns.

Se você convive com crianças, sabe como perceber se o desenvolvimento psico-motor dela está indo de acordo com o esperado? Se não sabe, tá esperando o quê? Google it !