© Dr. Alessandro Loiola
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Que a Internet é um meio de expressão sem precedentes, não é novidade alguma. Mas o que tem assombrado até aos internautas mais experientes é a epidemia de websites voltados para a saúde: estima-se que existam hoje mais de 40 mil deles e dezenas surgem a cada dia, manifestando a intensa demanda por este tipo de informação.
Por um lado, a proliferação de páginas sobre saúde marca o processo de democratização do conhecimento médico, mas isto também se traduz em conseqüências menos encantadoras. O médico e o monstro podem estar apenas a um clique de distância, e os websites de saúde podem facilmente transformar o amável Dr. Jekill em um terrível Mr. Hide. Isto porque uma parte considerável da informação disponível está errada ou é enganosa, expondo você a danos perigosos e potencialmente irreparáveis.
Entendendo as regras
Existe um princípio de ouro na Web: qualquer um pode publicar qualquer coisa, bastando para tanto um computador pessoal e acesso à rede. Porém, enquanto que as mídias convencionais (jornais, revistas, programas de rádio ou televisão, etc) deixam um registro físico, o conteúdo da Internet é volátil: ele está aqui hoje e pode simplesmente desaparecer no éter amanhã. O grande problema deixou de ser “encontrar a informação desejada”, e passou a ser como avaliar a credibilidade de um documento obtido via Internet.
Não existe uma legislação específica para as informações disponíveis na rede. A própria dinâmica sem fronteiras da Internet torna as medidas legais sem sentido ou lentas demais. A solução mais eficaz até o momento tem sido a auto-regulamentação: desde os anos 90 existem vários códigos de honra para informação em saúde na Internet. O mais famoso deles foi criado pela Health On Net Fundation em 1996 e se chama HON Code.
Apesar de ser uma iniciativa louvável, o HON Code possui um grande problema: ele não verifica a qualidade da informação. O HON Code determina o nível de confiabilidade através de padrões éticos, tentando garantir um certo rigor científico na elaboração do material publicado. Isso significa que nem todo site com o selo do HON Code possui informações necessariamente corretas ou verídicas. Em contrapartida, nem todo site honesto possui o selo do HON Code.
Então como sobreviver em meio a este caos? Como saber o que é informação confiável ou não? Bom, para evitar enganos, eu recomendo que você aplique por conta própria 04 critérios bem simples para avaliar a qualidade do que está lendo: Autoridade, Transparência, Atualidade e Desconfiança. Cole estes critérios ao lado do seu computador, consultando-os sempre que tiver alguma dúvida sobre se o que está lendo possui alguma validade ou não.
CRITÉRIO 1: AUTORIDADE.
A orientação médica ou de saúde contida no site é dada por um profissional da área ou você está lendo sobre Hipertensão Arterial na visão de um Ufologista de Rondônia? É possível identificar o autor do texto e checar suas credenciais? A informação possui referências claras às fontes consultadas (p.ex.: links para textos científicos, documentos do Ministério da Saúde ou páginas de centros universitários na Internet)?
Quando der de cara com alguma informação de importância para você, procure sempre a fonte daquela informação. Sites criados por grandes centros médicos, organizações científicas, universidades e agências governamentais são os mais seguros. Muito cuidado com sites estritamente comerciais ou baseados em testemunhos de pessoas que procuram empurrar um único ponto de vista ou vendem curas milagrosas. O maior milagre do Universo está entre as suas orelhas e se chama Inteligência, lembre-se sempre disso.
CRITÉRIO 2: TRANSPARÊNCIA.
A informação deve estar publicada de modo claro, oferecendo endereços de contato para quem desejar orientação ou ajuda adicional. O site também deve ser bastante claro quanto à presença de patrocínio: qualquer apoio financeiro, comercial ou não, deve ser identificado.
Por exemplo: se você está lendo sobre Constipação Intestinal em um site patrocinado por um fabricante de laxantes, as informações ali contidas certamente tenderão a favorecer o patrocinador – o que nem sempre corresponderá a toda verdade em si.
CRITÉRIO 3: ATUALIDADE.
O conhecimento científico é extremamente dinâmico: calcula-se que metade do que os médicos defendem agora estará errado daqui a 10 anos – e para desespero geral ninguém ainda é capaz de identificar qual metade é esta. O mais confiável é procurar sempre pela informação mais recente. Veja se o site exibe claramente a data em que determinada informação foi publicada ou revisada.
CRITÉRIO 4: DESCONFIANÇA.
Você encontrou algo que lhe diz respeito e o site parece ter autoridade, transparência e atualidade? Ótimo. Desconfie dele mesmo assim. Desconfie muito, desconfie sempre. Visite outros sites e compare informações. Até mesmo sites que exibem o selo do HON Code não estão isentos de informações imprecisas. Mantenha o espírito aberto, porém crítico em qualquer situação – ou você conhece alguém tenha caído morto, fulminado após tomar uma pequena dose de prudência?
Nem eu.
Boa parte do caminho de descobrir o que se quer é saber exatamente o que se procura. A Internet pode ser uma grande fonte de informação em saúde, mas não é a única: ela deve representar apenas mais um item em seu cardápio de escolhas.
27 agosto 2014
O Médico, o Monstro e a World Wide Web
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