12 agosto 2014

CEFALEIA TENSIONAL

© Dr. Alessandro Loiola

Se existe uma coisa admirável nos cientistas médicos é a capacidade que eles têm de contabilizar tudo, quase como se cultivassem um fetiche por porcentagens e estatísticas. Por exemplo: estudos recentes calcularam que, dos 6 bilhões de seres humanos neste planeta, 25% apresentam algum transtorno psiquiátrico, 3% são levemente retardados e 1% sofre de esquizofrenia franca. Uma conta dessas só pode ser coisa de doido.

Algumas vezes, as estatísticas se referem a dados que, em última análise, parecem completamente inúteis: uma pesquisa da American Academy of Emergency Medicine calculou que o cidadão médio possui um risco de 30% de morte por infarto fulminante. E daí? Segundo minha modesta matemática, o risco de uma pessoa morrer por qualquer outra causa ao longo da vida é de 100%. No final, o motivo derradeiro não passará de pura burocracia para preencher papéis.

O resultado de uma outra pesquisa que recebi por email revelava que, depois de fazer sexo selvagem, 10% dos homens se viram para o lado direito, 10% se viram para o lado esquerdo e os 80% restantes se viram para chegar em casa antes que a patroa perceba. Esse sim, um dado sociológico chauvinista de extrema relevância.

Mapa da mina

Mas muitas dessas estatísticas possuem aplicações verdadeiramente úteis, como auxiliar na definição de políticas de saúde pública, elaborar orientações para facilitar o diagnóstico e tratamento de certos distúrbios, e – principalmente e acima de tudo – servir de mapa para que a indústria farmacêutica desenvolva novos medicamentos.

Um bom exemplo deste último emprego da ciência: sabendo que, anualmente, cerca de 90% dos homens e 95% das mulheres sofrem de pelo menos um episódio de dor de cabeça (38% dos adultos do mundo apresentarão uma crise ainda nas próximas duas semanas), os laboratórios lançam periodicamente campanhas milionárias para apresentação do analgésico definitivo ou do antiinflamatório mais eficaz de todos os tempos.

Atalhos

Algumas vezes, apertam um pouco o passo e começam a vender um medicamento cujos testes de segurança não foram completamente concluídos, mas qual o problema? Algumas centenas de pessoas cujos rins pararam de funcionar em razão daquela droga mal-sucedida não comprometerão toda a margem de lucro. E ano que vem a gente apresenta uma nova droga e tudo se esquece.

O triste é perceber que as pessoas anseiam por este tipo de atalho para saúde. Não querem compromissos, apenas um atalho. Esse é bem o caso da própria dor de cabeça – chamada de cefaléia no jargão médico. Todo mundo parece adorar um remédio para dor de cabeça, mas o problema pode representar a manifestação de distúrbios graves como sinusite, crise hipertensiva ou disfunção da coluna vertebral, que devem ser tratados com uma seriedade maior que uma simples aspirina.

Tensão excessiva

A cefaléia tensional, o tipo mais comum de dor de cabeça, costuma estar relacionada ao estresse, fadiga, depressão e personalidade perfeccionista. A causa está na tensão excessiva da musculatura da região cervical. Tipicamente, a dor é diária e mais intensa na região frontal ou occipital, podendo durar de algumas horas a vários dias. A dor se inicia logo pela manhã, ao sair da cama, e vai piorando ao longo do dia. O diagnóstico é feito por meio do exame médico.

Se você sofre de crises recorrentes de cefaléia tensional, existem algumas medidas práticas que você pode empregar antes de rechear seu estômago com pílulas de ultima geração: faça compressas mornas nos pontos dolorosos localizados no pescoço e na cabeça.

Exercícios físicos de alongamento para as costas e massagens realizadas por profissionais treinados também ajudam a resolver o problema, assim como não pular refeições, manter um padrão satisfatório de sono, aprender a lidar melhor com o estresse e utilizar antiinflamatórios naturais de eficácia comprovada, como o chá de folhas de algodão.

Efeito colateral

Atenção para o fato de que alguns remédios e substâncias podem causar dores de cabeça como efeito colateral. A lista inclui álcool, codeína, metildopa, beta-bloqueadores (p.ex.: atenolol), hidralazina, reserpina, bloqueadores de canais de cálcio (p.ex.: nifedipina), corticóides, ranitidina, indometacina, anticoncepcionais orais e nitratos sublinguais (muito utilizados para tratamento de crises de angina).

Apesar de mais de 95% dos casos de cefaléia não possuírem uma causa básica grave, alguns sintomas podem indicar a necessidade de uma ida mais rápida ao médico, tais como uma dor muito intensa ou severa (com ou sem rigidez de nuca), dor iniciada após uma pancada forte na cabeça, ou dor associada à febre, convulsão, confusão mental, perda da consciência ou desconforto nos olhos ou ouvidos, e dor capaz de interferir nas atividades do dia a dia.

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