Se existe uma coisa admirável nos
cientistas médicos é a capacidade que eles têm de contabilizar tudo, quase como
se cultivassem um fetiche por porcentagens e estatísticas. Por exemplo: estudos
recentes calcularam que, dos 6 bilhões de seres humanos neste planeta, 25%
apresentam algum transtorno psiquiátrico, 3% são levemente retardados e 1%
sofre de esquizofrenia franca. Uma conta dessas só pode ser coisa de doido.
Algumas vezes, as estatísticas se
referem a dados que, em última análise, parecem completamente inúteis: uma
pesquisa da American Academy of Emergency Medicine calculou que o cidadão médio
possui um risco de 30% de morte por infarto fulminante. E daí? Segundo minha
modesta matemática, o risco de uma pessoa morrer por qualquer outra causa ao longo
da vida é de 100%. No final, o motivo derradeiro não passará de pura burocracia
para preencher papéis.
O resultado de uma outra pesquisa
que recebi por email revelava que, depois de fazer sexo selvagem, 10% dos
homens se viram para o lado direito, 10% se viram para o lado esquerdo e os 80%
restantes se viram para chegar em casa antes que a patroa perceba. Esse sim, um
dado sociológico chauvinista de extrema relevância.
Mapa da mina
Mas muitas dessas estatísticas
possuem aplicações verdadeiramente úteis, como auxiliar na definição de
políticas de saúde pública, elaborar orientações para facilitar o diagnóstico e
tratamento de certos distúrbios, e – principalmente e acima de tudo – servir de
mapa para que a indústria farmacêutica desenvolva novos medicamentos.
Um bom exemplo deste último
emprego da ciência: sabendo que, anualmente, cerca de 90% dos homens e 95% das
mulheres sofrem de pelo menos um episódio de dor de cabeça (38% dos adultos do
mundo apresentarão uma crise ainda nas próximas duas semanas), os laboratórios
lançam periodicamente campanhas milionárias para apresentação do analgésico
definitivo ou do antiinflamatório mais eficaz de todos os tempos.
Atalhos
Algumas vezes, apertam um pouco o
passo e começam a vender um medicamento cujos testes de segurança não foram
completamente concluídos, mas qual o problema? Algumas centenas de pessoas
cujos rins pararam de funcionar em razão daquela droga mal-sucedida não
comprometerão toda a margem de lucro. E ano que vem a gente apresenta uma nova
droga e tudo se esquece.
O triste é perceber que as
pessoas anseiam por este tipo de atalho para saúde. Não querem compromissos,
apenas um atalho. Esse é bem o caso da própria dor de cabeça – chamada de
cefaléia no jargão médico. Todo mundo parece adorar um remédio para dor de
cabeça, mas o problema pode representar a manifestação de distúrbios graves
como sinusite, crise hipertensiva ou disfunção da coluna vertebral, que devem
ser tratados com uma seriedade maior que uma simples aspirina.
Tensão excessiva
A cefaléia tensional, o tipo mais
comum de dor de cabeça, costuma estar relacionada ao estresse, fadiga,
depressão e personalidade perfeccionista. A causa está na tensão excessiva da
musculatura da região cervical. Tipicamente, a dor é diária e mais intensa na
região frontal ou occipital, podendo durar de algumas horas a vários dias. A
dor se inicia logo pela manhã, ao sair da cama, e vai piorando ao longo do dia.
O diagnóstico é feito por meio do exame médico.
Se você sofre de crises
recorrentes de cefaléia tensional, existem algumas medidas práticas que você
pode empregar antes de rechear seu estômago com pílulas de ultima geração: faça
compressas mornas nos pontos dolorosos localizados no pescoço e na cabeça.
Exercícios físicos de alongamento
para as costas e massagens realizadas por profissionais treinados também ajudam
a resolver o problema, assim como não pular refeições, manter um padrão
satisfatório de sono, aprender a lidar melhor com o estresse e utilizar
antiinflamatórios naturais de eficácia comprovada, como o chá de folhas de
algodão.
Efeito colateral
Atenção para o fato de que alguns
remédios e substâncias podem causar dores de cabeça como efeito colateral. A
lista inclui álcool, codeína, metildopa, beta-bloqueadores (p.ex.: atenolol),
hidralazina, reserpina, bloqueadores de canais de cálcio (p.ex.: nifedipina),
corticóides, ranitidina, indometacina, anticoncepcionais orais e nitratos
sublinguais (muito utilizados para tratamento de crises de angina).
Apesar de mais de 95% dos casos
de cefaléia não possuírem uma causa básica grave, alguns sintomas podem indicar
a necessidade de uma ida mais rápida ao médico, tais como uma dor muito intensa
ou severa (com ou sem rigidez de nuca), dor iniciada após uma pancada forte na
cabeça, ou dor associada à febre, convulsão, confusão mental, perda da
consciência ou desconforto nos olhos ou ouvidos, e dor capaz de interferir nas
atividades do dia a dia.
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