30 outubro 2008

CORAÇÃO DE MULHER

© Dr. Alessandro Loiola


- O negócio é o seguinte: mulher é um bicho complicado. Um bicho muito complicado!... - estava começando meu almoço e o amigo/conhecido, recentemente moído por uma experiência sentimental mal-sucedida, sentou-se descascando sua laranja:
- ... Pra você ter uma idéia, concluí que mulher não gosta de homem. Mulher gosta de dinheiro, sapatos de salto alto, cartão de crédito sem limite... nem de falar de homem, mulher gosta. Elas gostam mesmo é de falar de outras mulheres.
- Hum... ?
- É isso aí. Vá até uma banca, procure revistas para homens. O que você espera ver? Fotos de mulheres. Mulheres com roupa, mulheres sem roupa, mulheres com carros, mulheres na praia, mulheres em todo canto... e uma ou outra foto de um sujeito com cara de Zé fazendo alguma coisa pouco interessante. Agora, procure por revistas voltadas para mulheres. O que você verá?
- Nem imagino... – respondi lacônico, enquanto tentava decifrar porque o arroz tinha gosto idêntico ao da batata cozida. Esse sabor unânime da comida de hospital sempre foi um mistério para mim.
- Pois eu lhe digo: você verá a mesmíssima coisa ! Algumas vezes a revista traz “dez técnicas para acabar com a celulite”, “20 maneiras para vencer suas rugas”, ou “30 dicas quentes para estar na moda neste inverno”, mas no bojo, é tudo igual. Só tem mulher em revista de mulher.
- Olha, de repente se você trocar de revistas...
- Não adianta. Nós só pensamos em mulheres. Elas, idem. Mulheres... ô bicho complicado !

Realmente, entender as mulheres é tarefa para poucos profissionais. No meu caso, me considero no máximo um amador genuinamente interessado. Ainda assim, fui pesquisar para ver se o amigo de cotovelo quebrado possuía alguma razão. Terminei deparando com um outro fato interessante: a absoluta escassez de textos sobre problemas cardiovasculares nas publicações que se dizem voltadas para o ex-sexo frágil.

Páginas, entrevistas e testemunhos sobre AIDS, câncer, menopausa e infidelidade sobram para todo lado, mas pouco se fala sobre a saúde do coração feminino. Saúde orgânica, entenda-se. Apenas nos EUA, mais de 260.000 mulheres morrem anualmente vítimas de ataques cardíacos, um número 5 vezes maior que as mortes causadas pelo câncer de mama.

As mulheres possuem um risco de complicações mais de duas vezes maior que os homens quando se trata de doenças do coração. O motivo? Os sintomas raramente são típicos, provocando atrasos graves na detecção e tratamento do problema.

Dormências no pescoço, dores no meio das costas ou na região do queixo, fôlego
curto, vertigens, náuseas e vômitos podem sinalizar distúrbios cardíacos nas mulheres. Entretanto, como estas manifestações não costumam ser associadas imediatamente a problemas no coração, o diagnóstico correto demora a ser feito, aumentando a incidência de fatalidades.

Para cuidar melhor do seu coração, toda mulher deveria ter na ponta da língua 3 recomendações simples:

1. CONHEÇA SEUS RISCOS. O uso simultâneo de cigarro e pílulas anticoncepcionais aumenta consideravelmente o risco de ataques cardíacos e derrame. A terapia de reposição hormonal, indicada em alguns casos de menopausa, também pode aumentar suas chances de infarto. Converse com seu médico.

2. ATENÇÃO PARA SINTOMAS POUCO SUSPEITOS. Ao invés da clássica dor tipo aperto no lado esquerdo do peito, mulheres que sofrem de doenças do coração tendem a se queixar de dores nos braços, pescoço, costas ou boca do estômago, associadas a palpitações, suores e vertigens. É lógico que estes sintomas podem ocorrer em inúmeras outras situações, mas não deixe de pensar que eles também podem significar problemas no coração. Aja rápido.

3. FAÇA SEU DEVER DE CASA. pratique regularmente uma atividade física para manter a pressão arterial em 120/70. Trinta minutos de caminhada rápida pelo menos 3-4 vezes por semana, se possível temperados com exercícios de alongamento, meditação e controle da respiração, são uma boa ajuda neste sentido.

Siga uma dieta saudável capaz de elevar o colesterol bom (HDL) acima de 50 mg/dL e segurar os níveis de triglicerídios abaixo de 150 mg/dL.

E, finalmente, se quiser voltar ao seu peso ideal perdendo de uma só vez 80 Kg de gordura inútil, despache seu marido ou namorado para tirar uma foto de um iaque no Tibet. Porque, olha: homem é um bicho complicado. Um bicho muito complicado.

22 setembro 2008

MURPHY, OS METAIS E O ELEFANTE: FAÇA SUA ESCOLHA

© Dr. Alessandro Loiola


Diariamente, entram no consultório mais e mais exemplares de uma raça cuja reprodução parece ir de vento em popa: a dos Reclamadores Crônicos. É o tal sujeito que reclama da falta de chuva no dia ensolarado e da falta de um solzinho no dia chuvoso. Que a comida estava muito quente ou muito fria. Que a esposa ou o marido ou o emprego lhes causa tédio demais ou lhes dá nos nervos demais.

É difícil concordar com o raciocínio destes seres que reclamam sem parar. Vivemos as conseqüências de nossas próprias opções. Alguém está obrigando você a viver nesta cidade, neste país, naquele emprego, com aquela pessoa ou com este exato estado de humor? Não. Tudo é fruto de suas escolhas. Podem não ser escolhas fáceis, mas ainda assim são escolhas. E acredite: é você quem decide.

Apesar dos dissabores, os Reclamadores Crônicos parecem seguir uma marcha inexorável em direção ao domínio do mundo. Como estão conseguindo esta proeza? Três teorias do comportamento podem ajudar a responder este mistério:


TEORIA UM: A LEI DE MURPHY

“Se alguma coisa pode dar errado, dará”. Quase sempre, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível. Este raciocínio típico possui muitos adeptos e é como um batismo para os novos candidatos a Reclamadores Crônicos.

Alguns exemplos práticos da Lei de Murphy: as peças que exigem maior manutenção quase sempre estão no local mais inacessível do aparelho. Ao vasculhar uma gaveta, você só encontra aquilo que não está procurando. Quando o telefone toca, se você tem caneta, não tem papel. Se tem papel, não tem caneta. Quando finalmente pega ambos, o telefone se cala. E se você jogar fora alguma coisa que tem guardada há muito, muito tempo, vai precisar dela logo, logo.
Um Reclamador Crônico que se preze traz em seus genes uma mensagem clara da Lei de Murphy: a Natureza opera a favor da falha. E ele mesmo, o Reclamador Crônico, sente-se uma prova viva disso.


TEORIA DOIS: O CÓDIGO DOS METAIS

Este nobre código de comportamento é constituído por 4 regras consecutivas, encabeçadas pela Regra de Ouro: “faz aos outros o mesmo que desejas que te façam”.

O risco de falências judiciais associadas à prática da Regra de Ouro resultou em uma adaptação do código mais fácil de ser seguida, chamada Regra de Prata: “não faça aos outros o que não desejas que te façam”.

Como tudo que foi mudado pode ser melhorado para pior, à Regra de Prata seguiu-se a Regra de Bronze: “faz aos outros o que te fazem”.

Porém, a versão mais atual do Código de Conduta dos Metais, editada pelos Reclamadores Crônicos, recebeu nome de Regra de Ferro. Este exemplo de puro altruísmo humano prega o seguinte: “faz aos outros o que quiseres, antes que te façam o mesmo!”. Simplesmente magnânimo.


TEORIA TRÊS: O PRINCÍPIO DOS CEGOS E O ELEFANTE

A Lei de Murphy explica como os Reclamadores Crônicos nascem (negativismo), e o Código dos Metais elucida como eles se multiplicam (por vingança). Mas por que eles não melhoram com o tempo? A explicação pode estar no Princípio dos Cegos e o Elefante, derivado da fábula indiana de mesmo nome.

Na fábula, alguns cegos decidiram aprender o que era um elefante tocando partes diferentes do animal. Um tocou o lado do corpo do elefante e o descreveu como uma parede. Outro tocou a tromba, e ficou convencido de que o animal era como uma serpente. O que tocou o joelho disse tratar-se de uma árvore. O que tocou as nádegas disse que aquilo tudo não passava de uma grande mmm... bem, você captou a idéia.

Mais tarde, ao se reunirem, os cegos se envolveram em uma discussão acalorada. Cada um tinha sua própria versão do bicho, mas nenhuma delas parecia se encaixar com a do outro. Embora estivessem individualmente certos, a intolerância em compreender a verdade do próximo impedia a todos de entender o que era realmente o paquiderme.

Assim como os cegos e o elefante, os Reclamadores Crônicos palpam um fio do cabelo do nariz da vida e aquilo lhes basta para conceber uma seqüência infinita de dificuldades e tristezas. Apegados às suas meias-verdades, eles não entendem que nossas opiniões mais fervorosas são apenas construções frágeis que criam a ilusão de que sabemos alguma coisa – quando não sabemos de coisa alguma.

Juntamente com a existência, você recebeu de presente duas possibilidades: desperdiçar primaveras reclamando de qualquer novo detalhe que a vida lhe oferecer, ou maravilhar-se continuamente com a imprevisibilidade de cada minuto. A escolha é simples – e sua apenas. Faça-a da melhor maneira possível. Só não venha reclamar depois no meu ouvido.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

25 agosto 2008

MULHERES PESO PESADO

© Dr. Alessandro Loiola


Com toda a movimentação em torno das Olimpíadas, é praticamente impossível escapar das manchetes. Acredito que vai ser assim mesmo até o dia 24 de agosto, quando a festa termina. Não sou grande fã de esportes, mas um outro flash termina atraindo a atenção da gente.

Por exemplo: não tem como não parar na frente da TV durante um nado sincronizado ou uma partida feminina de vôlei de praia. Fala sério. Duplas femininas de vôlei de praia. Aquilo é que é boa forma, meu camarada. Paro até para ver enquanto estão enxugando a quadra. Não me chame de machista: culpe o par Y do meu cromossomo X. Eu sou apenas um fenótipo. Ele é que manda.

E os esportes de hoje em dia? É um tal de mountain bike cross-country, vela yngling, skiff duplo peso leve, fossa olímpica dublê, badminton, softbol, misto finn... Nesses, eu nem me arrisco. Espero um pouco mais e volto no canal da praia para ver se terminaram de arrumar a areia. Melhor não forçar tanto as coronárias.

Dias atrás, levei um susto com uma moça chinesa, Chen Yanging, medalha de ouro em levantamento de pesos: a criança levantou 244 Kg ! Cá entre nós: no total, são quase 6 Sandy, da ex-dupla Sandy e Júnior! Tem que respeitar.

Com a conquista da Srta. Yanging, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Nós, médicos, sempre recomendamos aos nossos pacientes que pratiquem esportes aeróbicos, como correr ou caminhar. Mas será que mulheres deveriam levantar pesos?

A resposta é sim, por vários motivos:

- A musculação aumentará sua força física, lhe deixando menos dependente dos outros no dia a dia. Desde dar um puxão de orelha no seu filho adolescente, que agora tem 1.90 m de altura e pesa mais que a mesa de granito da sala, até fazer compras e levar seu notebook para o trabalho, aumentar sua força é sempre uma boa idéia. Estudos recentes mostram que rotinas moderadas de musculação podem aumentar sua força física em 30-50% em poucas semanas.

- Você irá perder peso! Fazer musculação duas a três vezes por semana por 2 meses fará você ganhar pelo menos 1 Kg de músculos puros e perder 2 Kg de gordura. À medida que sua massa muscular aumenta, o mesmo ocorre com sua taxa de metabolismo basal, facilitando o emagrecimento e a manutenção do peso ideal. Para cada 500 gramas de músculos, você queimará 35-50 calorias a mais diariamente.

- Você ganhará forma sem parecer disforme. A musculação habitual não irá lhe deixar parecendo uma versão feminina do Arnold Schwarzenegger. Em comparação aos homens, as mulheres têm 10 a 30 vezes menos hormônios que causam hipertrofia muscular. O levantamento de pesos lhe dará tônus e definição muscular.

- A musculação é capaz de aumentar a densidade mineral óssea em 13% em apenas 6 meses, reduzindo a possibilidade de osteoporose.

- A musculação reduz o risco de dores nas costas, estiramentos, entorses e atrite. Os exercícios de musculação direcionados para o fortalecimento da região lombar são capazes de aliviar 80% dos casos de crises dolorosas neste local.

- Levantar pesos diminui o risco de doenças cardíacas. O efeito ocorre através da redução do colesterol LDL (“colesterol ruim”), aumento do colesterol HDL (“colesterol bom”) e redução da pressão arterial.

- A musculação diminui o risco de diabetes. Os estudos mostram que exercícios regulares envolvendo levantamento de pesos são capazes de melhorar o metabolismo da glicose em 23% em apenas 4 meses.

- Levantar pesos ajuda a combater o desânimo e a depressão. Pesquisas realizadas em Harvard descobriram que 10 semanas de musculação possuem quase o mesmo efeito que a psicoterapia no tratamento dos sintomas da depressão leve a moderada. Mulheres que malham regularmente em geral se sentem mais auto-confiantes e capazes – ambos fatores essenciais para combater a depressão.

O ganho de massa muscular e o aumento da força física são possíveis em qualquer idade, até mesmo em mulheres com mais de 70 ou 80 anos. Sua independência está intimamente associada à saúde da sua mente e à força dos seus músculos. Quanto mais tempo você mantiver ambos, mais poderá curtir e fazer as coisas que gosta.

Para extrair o melhor dos exercícios, lembre-se sempre de começar passando pela avaliação de um profissional de Educação Física capacitado e, de preferência, obtenha uma liberação do seu médico de confiança para a prática do esporte que você escolheu.

Daí em diante, nem o céu – tampouco a China - é o limite!

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

19 agosto 2008

A 180 CAVALOS PARA A ETERNIDADE

Curiosamente, ainda tem gente reclamando da Lei Seca, que vem provocando uma revolução silenciosa em nossas estradas. Dada minha profunda admiração pela inteligência (inteligência?) humana, só posso concluir que os reclamantes são:

(1) Vendedores de bebidas alcoólicas preocupados que a Lei possa atingir o Nervo Bolsoriano, ramo do Plexo Carteiral e um dos mais dolorosos do corpo; ou

(2) Alcoólatras convictos, ofendidos pela idéia preconceituosa de que pessoas embriagadas podem não saber dirigir direito; ou

(3) Completos ignorantes de carteira assinada. Iria dizer burros mesmo, mas talvez essa palavra seja um tanto forte e provoque indignação entre nossos parentes ungulados. Vamos ficar apenas com “ignorantes”. Assim eles ganham tempo para se informar sobre o que estão defendendo.

Minha contribuição para o terceiro grupo segue na crônica de hoje. Se não for suficiente, saia da teoria para a prática: procure um pronto-socorro e passe um fim de semana inteiro por lá, se deliciando com a construtiva mistura entre álcool e veículos motorizados – e depois a gente conversa.

Boa leitura,

Dr. Alessandro Loiola.

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A 180 CAVALOS PARA A ETERNIDADE

© Dr. Alessandro Loiola


Tendo uma ótima xícara de capuccino por testemunha, abro uma revista local e sou avisado de que a montadora X está disputando com a montadora Y o título de “carro mais veloz fabricado do Brasil”. Ambas estão produzindo máquinas com mais de 180 cavalos de potência capazes de acelerar a 220 Km/h e além.

Na página ao lado, uma imensa propaganda de festa de axé e abadás patrocinados por uma cervejaria. Palmas para o diagramador: carros lado a lado com bebidas alcoólicas. Excelente associação.

Na época das primeiras locomotivas, algumas pessoas temiam embarcar nos trens e morrer por falta de oxigênio: um punhado dos cientistas de então chegou a afirmar categoricamente que a velocidade do trem seria suficiente para sugar todo o ar de dentro dos vagões quando alcançasse os espantosos 90 Km/h de velocidade! Os bólidos atuais de fórmula 1 alcançam velocidade mais de 3 vezes superiores a esta, e não tenho notícia de mortes de pilotos por sufocação a vácuo.

O desejo por automóveis cada vez mais rápidos é um paradoxo quando observamos as ruas das cidades cada vez mais cheias de gente e as estradas, de buracos. Não por acaso, os pretensos ases do volante e seus motores de última geração respondem por cerca de 100 mortes no trânsito por dia na nação tupiniquim.

Apenas como comparação, em cinco anos de guerra no Iraque morreram algo como 4.000 soldados americanos em combate. Nossa guerra de automóveis é 50 vezes mais letal que vestir um uniforme do Tio Sam e enfrentar terroristas nos desertos do Oriente Médio.

No fundo, como a própria página de revista sugeriu, o que torna um carro brasileiro mais mortífero que um muçulmano injustiçado é a dobradinha volante x bebida alcoólicas. Mais de 60% dos acidentes automobilísticos com mortes foram antecedidos por goles “inofensivos” de louríssimas geladas e outros compostos etílicos.

Este corpo que você carregará consigo para a balada à noite ou para o churrasco no final de semana é composto basicamente por água, algumas pitadas de sais minerais e uns outros temperos exóticos. O álcool tumultua o equilíbrio dessas substâncias. Após a ingestão de pequenas quantidades, ele se distribui rapidamente por todos os tecidos, com uma preferência especial pelo cérebro.

Os sintomas iniciais de embriaguez incluem excesso de autoconfiança (“deixa que eu dirijo, não tô tão ruim assim não, pô, coalé... !”), redução do campo de visão (“... fala sério: só me diz cadê a praga da chave do carro?“, “aqui, na sua frente, ó..”), alteração da audição (“Heeiin?!?”) e do senso de equilíbrio (“péra que agora eu acerto o buraquinho da *ic* ignição...”).

A animação inicial não é nada mais do que a anestesia dos centros cerebrais responsáveis pelo controle do comportamento. Esta anestesia leva um certo tempo para passar. A eliminação do álcool não pode ser acelerada por exercícios físicos, banhos gelados ou remédios. Um bom café forte irá apenas transformar um bêbado sonolento em um bêbado acordado. A mudança dos fatores não irá alterar o produto.

Tudo que você pode fazer para se livrar da intoxicação alcoólica é esperar o tempo necessário para que o fígado metabolize e neutralize o álcool. Na maioria das pessoas, este processo leva 6 a 8 horas. Tenha paciência.

Se você consumiu duas latas de cerveja ou dois copos de vinho, você provavelmente conseguiu ultrapassar o limite considerado seguro e, de acordo com a Lei (não ria: dizem que ela, a Lei, existe mesmo), já pode ser considerado embriagado. Meus parabéns. Agora mire no pedestre mais próximo e ganhe bônus para a fase seguinte do jogo: enquanto você diz se arrepender, o infeliz inocente desencarnado pela sua ignorância apodrece debaixo da terra.

É uma troca justa ou engraçada? Antes de rir, feche os olhos e responda: se o tal inocente fosse seu pai, mãe, filho ou filha, qual a cor da coroa de flores que ficaria mais bonita no velório?

Para os alcoólatras motorizados deixo duas perguntas finais: todo mundo morre um dia, mas para que a pressa? E por que tanta questão de levar outros com você?

Diabos, não parece uma mensagem difícil de entender: se dirigir, não beba! Se beber, não dirija - ou certifique-se de ter um bom plano funerário. Assim você poderá pegar seu carro-arma-de-destruição-em-massa e passar tranqüilamente a mais de 180 cavalos por hora para a eternidade. Tenha uma boa viagem.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

11 agosto 2008

A DESCONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA

© Dr. Alessandro Loiola


Um saudoso professor costumava nos dizer, enquanto fazia sua corrida matinal de leitos:

- Vocês um dia estarão lá fora, clinicando e tratando seus pacientes, e devem saber o quanto antes que a medicina não é, nem nunca pretendeu ser, uma ciência exata, isenta de falhas. Assim que receberem seus carimbos, vocês verão que nossa vida profissional é uma eterna alternância entre 3 grandes categorias de médicos.

Ele fazia uma pausa, segurando um prontuário qualquer como o bom ator que espera sua deixa, e então alguém perguntava:

- Quais categorias, professor?

Levantando as sobrancelhas e olhando por cima dos óculos, sem largar o prontuário, ele concluía solenemente:

- Os que erram muito, os que erram pouco e os que só erram.

Essa história me veio à cabeça quando, durante um intervalo no hospital, uma auxiliar de enfermagem veio me perguntar assim, na surdina, como quem conta um segredo terrível ou uma infidelidade digna da Santa Inquisição:

- Doutor, o que o senhor acha da auto-hemoterapia?

E eu que achei que este assunto estava morto e enterrado. Mas não está. Graças a um posicionamento absolutamente precipitado das sociedades de especialistas, a auto-hemoterapia foi banida da prática médica.

Sob o pretexto de que “não existem evidências científicas favoráveis comprovando sua eficácia”, a auto-hemoterapia foi execrada ao limbo da charlatanice. De quebra, ao fazer propaganda da técnica, o médico carioca Dr. Luiz Moura terminou tendo seu registro cassado no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 2007. Mas isso não fez a auto-hemoterapia desaparecer – ela ainda acontece, na penumbra.

Não sou defensor da auto-hemoterapia. Concordo com seus acusadores: realmente faltam evidências sólidas. Mas, pensando cá com meus botões, então não seria o caso de ir atrás destas evidências, sejam elas boas ou desfavoráveis? Bastaria seguir os mesmos protocolos de pesquisas clínicas utilizados há décadas para avaliar novos antiinflamatórios, novos antibióticos, novas próteses, novas tecnologias - vide desde a cirurgia videolaparoscópica até os recentes avanços nas pesquisas com células-tronco.

Mas não, não houve racionalidade ao lidar com a auto-hemoterapia. Houve, sim, uma deterioração da ciência em prol de uma agenda obscura de intolerância com o novo. Curiosamente, uma agenda brandida com ares de indignação pelos mesmos bispos que deveriam defender o pensamento científico livre, leve e solto.

Como seremos capazes de enxergar o novo se continuamos saindo de casa doutrinados para ver somente as mesmas coisas de sempre?

Se você já estudou termodinâmica, certamente conhece a escala de Kelvin de temperaturas absolutas, batizada em nome do gênio William Thomson, brilhante matemático e físico irlandês também conhecido como Lorde Kelvin. Dentre as inegáveis contribuições deste homem à ciência, constam algumas bem embaraçosas.

Apesar de ser um profundo conhecedor da engenharia e da eletricidade, em 1895 Lord Kelvin profetizou: “máquinas voadoras mais pesadas que o ar não são possíveis”. Em 1897, outra pérola: “o rádio não tem futuro e os raios-X são um embuste!”. E, na aurora do Século XX, encenou sua derradeira e mais célebre escorregadela ao dizer que “a física já descobriu praticamente tudo que havia para descobrir no Universo”. Um certo Albert Einstein mostraria alguns anos depois que o buraco era um pouco mais embaixo.

A ciência biomédica está repleta de equívocos semelhantes, opiniões jogadas ao ar antes de serem submetidas ao escrutínio do método científico. Frases de efeito que mais parecem frases de defeito.

"A teoria dos germes de Louis Pasteur é uma ficção ridícula", escreveu Pierre Pachet, Professor de Fisiologia em Toulouse, 1872.”O abdome, o tórax e o cérebro permanecerão para sempre além do alcance de qualquer cirurgião humano”, disse, em 1873, Sir John Eric Ericksen, cirurgião da coroa britânica. "Não teremos artrite no ano 2000”, vaticinou o famoso reumatologista Dr. William S. Clark, em 1966.

Ah, nada como o tempo para mostrar que o futuro não é mais aquilo que costumava ser...

Enquanto a orgulhosa ciência médica torna-se ela própria uma forma religião, escravizada no apego irrestrito às normas e preceitos em detrimento da lógica, me pergunto: estamos construindo faculdades de medicina ou igrejas, templos e seitas que pregam não o amor à ciência e à curiosidade altruísta, mas uma louvação cega a dogmas empoeirados?

Nesta fogueira tão antiga, onde o preconceito ainda reina como cultura, a auto-hemoterapia e o ex-Dr. Luiz Moura foram apenas os gravetos mais recentes. Outros virão. É preciso alimentar a chama. Valha-me Santo Prometeu, filho de Jápeto! Amém.

05 agosto 2008

BURSITE NA IDADE DAS MARAVILHAS TECNOLÓGICAS

© Dr. Alessandro Loiola


As Bursas são “almofadas” achatadas que atuam como amortecedores, facilitado a movimentação dos músculos durante a fase de contração. Nós, mamíferos quase desenvolvidos, possuímos aproximadamente 160 bursas espalhadas pelo corpo. A inflamação das bursas, ou bursite, é um distúrbio comum, podendo ser causada por esforços repetitivos, alterações inflamatórias e processos infecciosos

Os sintomas da bursite variam de acordo com o local afetado. Na maioria dos casos, a dor costuma ser bem localizada, dificultando a realização de movimentos específicos. Por exemplo, no ombro, a bursite pode dificultar atividades repetitivas com o braço elevado, como erguer cargas acima do nível da cabeça. No cotovelo, a bursite pode se manifestar como dor e dificuldade para esticar o braço.

A maior bursa do corpo está localizada nos quadris. É a bursa do Iliopsoas. Ela pode ser inflamada em doenças como artrite reumatóide, osteoartrite e em lesões por esforço repetitivo – por exemplo, em pessoas que praticam corrida. As principais manifestações da bursite do Iliopsoas incluem dor na movimentação da perna e na região da virilha do lado afetado.

Existe uma bursa na raiz da coxa chamada Bursa Trocantérica. Sua inflamação manifesta-se com dores nos quadris e na coxa, sendo relativamente comum em mulheres entre 40-60 anos de idade. Caminhar ou deitar sobre o lado afetado piora a sensação de desconforto.

Por serem articulações bastante exigidas, os joelhos também são protegidos por bursas, principalmente na altura da rótula. As bursites nesta região podem ocorrer após quedas ou por ficar muito tempo ajoelhado. Outras causas comuns incluem artrite reumatóide e gota. As principais manifestações incluem dor para flexionar o joelho e dificuldade para andar e subir escadas.

Finalmente, a região do calcanhar é outro local comum de bursite. A bursite do calcâneo é mais observada em pessoas que possuem esporões no osso do calcanhar ou fazem uso contínuo de sapatos de salto alto. A dor pode ser intensa o suficiente a ponto de impedir que a pessoa caminhe direito.

O diagnóstico de uma bursite é relativamente simples, desde que se levante a suspeita correta. Havendo dúvidas, o médico poderá solicitar ultra-sonografias ou uma ressonância nuclear magnética. Exames de laboratório e radiografias não são úteis para detectar a maioria das bursites.

Em boa parte dos casos, o tratamento consiste em repouso, compressas quentes e geladas, elevação do membro afetado e antiinflamatórios. Se o local for acessível e a dor, muito intensa, podem ser realizadas infiltrações com anestésicos e corticóides no local. Bursites recorrentes podem necessitar remoção cirúrgica da bursa afetada, mas este procedimento deve ser reservado como último recurso.

Felizmente, com o tratamento adequado, praticamente todas as pessoas se recuperam bem e sem seqüelas.

Todo esse papo serviu só de pano de fundo para contar a história de um colega médico que acabara de receber um moderníssimo aparelho para detectar casos de bursite. Curioso e sabidamente sofredor de uma dor crônica no ombro, colocou um pouco de sua própria saliva no frasco de exame. Em 2 segundos o computador cuspiu o diagnóstico: “bursite no braço direito”.

Impressionado, chamou a esposa para fazer um teste. Misturou a saliva de ambos no frasco, colocou no analisador e o computador sentenciou: “bursite no braço direito e esposa estourou limite do cartão de crédito”. Incrível !, exclamou, mais por causa da precisão da máquina que do limite do cartão estourado.

Ainda querendo explorar o potencial daquela maravilha tecnológica, decidiu levar um tubo de coleta para casa. Pegou amostras da filha, do cachorro, do motor do carro, e misturou, misturou, misturou e misturou mais um pouco. No dia seguinte, voltou à máquina. Dessa vez, foram necessários quase 10 segundos de análise até que o computador respondesse em alto e bom som:

“Esposa estourou o limite do cartão, filha grávida, carro precisa de alinhamento urgente, o vira-lata está com sarna e da próxima vez que for sacudir o bendito frasco de exame, utilize o braço esquerdo, PORQUE O BRAÇO DIREITO ESTÁ COM BURSITE SEU ZÉ ORELHA...!”.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

08 julho 2008

FALANDO SÉRIO: VISTA ESTA CAMISA !

© Dr. Alessandro Loiola


Há cerca de 50 anos, gonorréia, sífilis e gravidez eram as doenças sexualmente transmissíveis (DST) mais comuns. Foram tempos afrodisíacos, em que a maioria dos problemas sexuais podia ser resolvida com uma dose de penicilina ou um ótimo bolo de casamento. Mas as décadas voaram e surgiram novos vilões, como hepatite B, HPV, HIV, clamídia, vaginite, uretrite e pensões alimentícias com execução judicial.

Estas e outras DST afetam milhões de pessoas a cada ano, e vários milhares ficam gravemente enfermos ou morrem. No meio do tiroteio entre fungos, vírus, bactérias, homens mulherengos (perdão pela redundância....) e ex-esposas furiosas, como se proteger ?

Abster-se de sexo é a única proteção absoluta contra as DST e qualquer um que mantenha relações sexuais está sob risco de adquirir uma dessas moléstias. Talvez a abstinência não esteja no topo da sua lista de opções viáveis. Neste caso, para alívio seu e dos demais seres humanos sexualmente ativos na Via Láctea, existe uma saída: a camisinha. A camisinha é um meio barato e eficaz de reduzir as possibilidades de contágio e gestações indesejadas.

Pesquisas mostraram que se a camisinha for utilizada corretamente a cada ato sexual durante um ano, é esperado que apenas 3 em cada 100 mulheres fiquem grávidas. O uso incorreto – e não a má-qualidade da camisinha – é o que leva à maioria dos insucessos.

Os preservativos de látex, ao evitar contato com secreções corporais, agem como uma barreira contra uma grande variedade de agentes infecciosos. O espermicida nonoxinol-9, utilizado em alguns preservativos, é eficaz como contraceptivo e pode reduzir o risco de transmissão de algumas DST (com exceção do HIV).

E anote aí outras dicas valiosas para tirar o máximo proveito dos preservativos:

Para Eles

· Alguns homens possuem alergia ao látex, mas nem por isso não podem usar camisinhas: existem preservativos de poliuretano, que não produzem alergia.
· Guarde as camisinhas em um lugar fresco e seco, longe da luz do sol. Não cometa o erro comum de guardá-las desprotegidas no porta-luva, na carteira ou na bolsa. Isso pode danificar o látex e inutilizar o preservativo.
· Uma camisinha é várias vezes mais barata que uma caixa de antibióticos ou um pacote de fraldas descartáveis. Por isso, verifique a embalagem e a qualidade do látex. Se algum dos dois não lhe parecer seguro, jogue o preservativo fora e compre um novo.
· Observe sempre o prazo de validade e não utilize camisinhas com mais de 5 anos de fabricação. E nunca, nunca mesmo, reutilize uma camisinha. Principalmente se não for a sua!
· Na empolgação, cuidado para não danificar o preservativo com unhas, dentes ou outros objetos pontiagudos ou cortantes, como chicotes de couro, chaves de fenda e furadeiras de impacto Black & Decker.
· Uma boa lubrificação durante a relação torna tudo mais fácil. Apenas evite lubrificantes à base de óleos (p.ex.: vaselina e óleo de cozinha) pois eles podem enfraquecer o látex.

Para Elas

· Pílulas protegem contra gravidez mas não evitam DST. Você pode contrair HIV, HPV, gonorréia ou hepatite B mesmo tomando a pílula anticoncepcional. O mesmo vale para os diafragmas.
· A camisinha feminina existe, é confiável e oferece um bom nível de proteção contra gravidez e DST. Mas não a utilize junto com o preservativo masculino. Elas simplesmente não permanecerão no lugar.
· No período de um ano, espera-se que 5% a 21% das mulheres que utilizam a camisinha feminina fiquem grávidas. Da mesma forma como ocorre entre os homens, boa parte dos insucessos se deve ao uso incorreto do preservativo.

Para Eles e Elas

Tenha consciência de que camisinhas não são métodos 100% confiáveis e que o comportamento sexual de baixo risco é um dos meios mais seguros para manter-se longe das DST. Contenha seu entusiasmo, permita que seu cérebro faça a parte dele e visite regularmente seu médico.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

23 junho 2008

URGÊNCIA EM CASA

© Dr. Alessandro Loiola


Entre uma manchete e outra de bombeiros que fazem partos e salvam pessoas pelo telefone, vou me perguntando porque tanta gente jamais se preocupou em ter noções básicas sobre como proceder em situações de urgência e emergência em casa.

Em países mais desenvolvidos, as crianças treinam periodicamente para sair da escola em caso de incêndio, e os requisitos de primeiros socorros realmente são levados a sério. Não se trata apenas de marcar um “x” na questão certa para tirar a carteira de motorista: estamos falando de salvar vidas humanas, sabe? Alguém como eu, você ou nossos filhos.

A saúde não é um jogo de azar. Arriscar contra a própria sorte é uma aposta perigosa ou, no mínimo, pouco sensata. Por isso, todo mundo deveria aprender a reconhecer uma emergência médica em potencial. Saber como agir corretamente nestes casos é uma das coisas mais importantes que você pode fazer pela saúde de sua família.

Tudo bem, algumas vezes é difícil diferenciar uma emergência de verdade de um problema corriqueiro, e apenas um médico estaria capacitado para estabelecer o diagnóstico preciso. Estaria, porque do jeito que a educação médica vai por esses dias, em breve os diagnósticos serão dados por cartomantes ou biscoitinhos de restaurantes chineses.

Ainda assim, existem algumas situações que sugerem urgência e justificam uma ida mais rápida ao pronto socorro mais próximo, tais como: dificuldade para respirar, dor ou sensação de pressão no abdome, desmaios, tonteiras súbitas, alterações do estado mental (p.ex.: confusão, comportamento bizarro, etc), sangramentos que não cessam após 10 minutos de pressão contínua, vômitos intensos ou persistentes, tosse ou vômitos com sangue e uma pessoa apresentando tendências suicidas ou homicidas.

Tenha sempre à mão o endereço do local de pronto-socorro mais próximo – chegar rapidamente ao serviço de atendimento de urgência pode ser decisivo em muitas situações. Guarde este número em seu celular.

Quando chamar uma ambulância ao invés de levar a pessoa doente até o serviço de pronto-atendimento? Algumas dicas podem ajudar a identificar situações de maior perigo:
- Existe risco de vida iminente ou possibilidade de complicações sérias até o caminho para o local do atendimento?
- Mover a pessoa pode piorar a situação?
- A vítima necessita de equipamentos ou assistência médica especializada para remoção do local?
- Você acredita que o tráfego ou a distância podem retardar a chegada da vítima ao hospital?

Se a resposta for “sim” para qualquer uma dessas perguntas, então chame uma ambulância. Quando telefonar pedindo ajuda em uma situação de emergência, fale pausadamente e com clareza, dando seu nome, endereço, número de telefone e localização da vítima (p.ex.: no quarto de dormir ou no quintal). Não desligue até que o(a) atendente lhe peça para fazê-lo.

Em outras situações, existem medidas simples que você pode tomar para auxiliar a recuperação da vítima e o trabalho das equipes de pronto-atendimento. Por exemplo:

CORTES E MORDIDAS: lave o local com água corrente e sabão de coco. Não tempere o ferimento com pó de café, açúcar, maizena, vinagre, azeite, molho inglês ou qualquer outra substância esquisita. Após lavar, apenas comprima o local por 10 minutos utilizando um pano limpo. Cortes muito profundos ou com bordas muito separadas devem ser avaliados pelo médico. Feridas causadas por pregos e outros objetos pontiagudos também devem ser avaliadas no pronto-socorro devido ao risco de infecção. Pergunte sempre quanto à necessidade de vacinação contra tétano.

SANGRAMENTOS PELO NARIZ: pressione as asas do nariz formando uma pinça com o indicador e o polegar. Não repouse a cabeça para trás – mantenha o corpo ligeiramente inclinado para frente, procurando não deglutir o sangue. Se após um período de compressão de 10 minutos o sangramento ainda persistir, procure auxílio médico.

TRAUMATISMOS NA CABEÇA: são uma urgência quando associados a perda da consciência, vômitos, sonolência, turvamento da visão, dificuldade em acordar a pessoa após o acidente, alterações do estado mental (comportamento estranho, confusão mental, etc) ou dor de cabeça persistente. Nestes casos, avance 3 casinhas até o pronto socorro mais próximo.

CONVULSÕES: afaste da pessoa de quaisquer objetos que possam oferecer algum risco (p.ex.: móveis com pontas, mesas de vidro, objetos cortantes, escada, etc) e permaneça por perto. Não coloque colheres, garfos, dedos ou outros objetos na boca da vítima. Se a pessoa está tendo convulsão e vomitando, simplesmente deite-a sobre o braço esquerdo, mantendo-a de lado. Certifique-se de que o sujeito esteja respirando adequadamente e peça alguém para chamar auxílio médico.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

16 junho 2008

HULK RUGA

© Dr. Alessandro Loiola
http://br.groups.yahoo.com/group/saudeparatodos/



Família toda no cinema. Fomos reencontrar o Incrível Hulk e uma boa desculpa para aquela rodada de pipocas no domingo à tarde. Passados uns poucos minutos de filme, comecei a deixar o roteiro em segundo plano e passei a ficar entretido com a Computação Gráfica (CG). É absurdo o que a CG pode fazer atualmente!

Se colocarmos lado a lado a capacidade de expressão do novo Hulk-digital e os 60 Kg de botox do Sr. Al “Histrionismo Absoluto” Pacino, o Sr. Pacino corre o risco de ganhar o Oscar por uma margem estreita, muito estreita.

Na guerra cinematográfica da digitalização versus sindicato dos artistas, as marcas de expressão (popularmente conhecidas como rugas) são como um denominador comum, um verdadeiro termômetro: em busca de realismo, os especialistas em informática lutam para colocar rugas em seus personagens de bits. Os artistas do mundo real, lutam para tirá-las de si próprios.

O Hulk franze a testa e a cara enfurecida, e fico imaginando porque temos tanto medo das rugas. Elas sempre foram uma parte natural do processo de envelhecimento. Ou alguém lhe prometeu chegar aos 90 anos com um rosto de pêssego?

O tempo torna a pele menos elástica e mais frágil. A diminuição na produção de óleos faz com a pele torna mais ressecada e pregueada. A gordura presente nas camadas mais profundas, e que conferem uma aparência mais macia, também diminui com o tempo, acentuando os sulcos na superfície.

Os anos de cigarro e exposição desprotegida à radiação ultravioleta do Sol resultarão em danos às fibras de colágeno e elastina, responsáveis pela força e flexibilidade da pele, acelerando o processo de envelhecimento.

Entretanto, se as rugas estão lhe causando constrangimento, existem opções para diminuir ou mesmo eliminar o problema. Retinóides tópicos, cremes, enchimentos com gordura, silicone e cirurgias a Laser estão entre os recursos mais utilizados para restaurar a aparência da pele.

Por exemplo: o dermoabrasão, uma técnica bastante popular de “lixamento cirúrgico da pele”, costumava ser empregada para melhorar cicatrizes decorrentes de acne, catapora e acidentes. Atualmente, ela pode ser usada para tratar lesões pré-cancerosas, tatuagens, manchas da idade e rugas mais profundas.

O peeling químico consiste na aplicação de uma solução capaz de provocar a descamação e surgimento de uma nova pele, mais lisa e menos enrugada que a pele antiga. A vermelhidão resultante do peeling químico pode durar um bom tempo, deixando você com aquele perfil super natural de tomate San Marzano. Uma beleza. Evite aparecer na frente das visitas neste meio tempo.

A Toxina Botulínica tipo A, ou Botox, atua eliminando a contratura muscular e reduzindo certas rugas. Os resultados costumam durar pouco, coisa de 3-4 meses, mas recomendo que você fuja de batizados e festas infantis durante o período: seu sorriso botulínico pode traumatizar algumas crianças pelo resto de suas vidas.

Finalmente, temos o lift facial, um procedimento cirúrgico anti-rugas um pouco mais agressivo que os demais, onde o excesso de pele no rosto e o excesso de gordura na região do pescoço são removidos, e a musculatura da região é reforçada, dando ao rosto uma aparência mais firme e jovem. Quer dizer, isso quando dá certo. Porque quando o lifting não é feito com critério, o sujeito pode terminar com aquela expressão de motoqueiro sem capacete, os olhos e a boca esticados pelo vento até a altura das orelhas, quase engasgando com os brincos.

A parte boa da historia: os resultados do lift duram cerca de 10 anos, mais ou menos o tempo necessário para você pagar o lifting anterior e juntar aquela grana para o próximo.

Neste mundo moderno de valores invertidos, onde o exterior é ricamente decorado com plásticas e roupas da moda, enquanto o interior é abandonado como um latifúndio de futilidades em câmeras em tempo real, prefiro ficar com o escritor Mark Twain que certa vez disse que “as rugas devem indicar apenas o lugar onde os sorrisos estiveram”. Por que alguém em sã consciência cismaria em perseguir e apagar cada uma destas lembranças?

Talvez o Hulk Ruga traga a resposta no final do filme. Veremos.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

11 junho 2008

NÃO DORMINDO COM O INIMIGO

© Dr. Alessandro Loiola
http://br.groups.yahoo.com/group/saudeparatodos/


Um sujeito vai ao médico para se queixar de um grave transtorno do sono:

- Doutor, toda vez que me deito na cama, acho que tem alguma coisa me ameaçando embaixo. Aí me deito embaixo da cama e acho que a coisa está em cima. Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima, a noite inteira. Não consigo dormir... será que isso tem cura?
O médico rascunha uma meia dúzia de trinta remédios diferentes e sentencia:
- Tem, tem cura. Mas vai demorar uns 2 anos e serão necessárias sessões semanais de 150 reais cada uma, aqui no consultório.

Sem todo aquele dinheiro e ainda mais deprimido do que quando chegou para a consulta, o sujeito desaparece. O médico o reencontra por acaso na rua, vários meses depois.

- Rapaz, olha você aí! Não voltou mais...
- Ah, doutor, terminei encontrando a solução definitiva para meu problema num bar. E por apenas 10 reais!
- Como é que é !?
- Por 10 reais, o sujeito foi lá em casa e cortou os pés da cama...
Não recomendo que você vá procurar a cura de todos os seus males em cada barzinho da sua cidade – até porque, corre o risco de não existirem barzinhos suficientes. Mas também não recomendo que confie o sucesso de sua existência a um punhado de comprimidos escondidos em caixinhas coloridas de papelão. A insônia é um bom exemplo disso.

Apesar de extremamente comum, a insônia não é uma doença. Muitas vezes, é um alarme de outros distúrbios, tais como alergias, artrite, obesidade, doenças cardíacas, hipertensão arterial, asma, doenças reumáticas, Parkinson, Alzheimer e hipertireoidismo – para citar os mais comuns. Alterações psicológicas também são uma causa importante: estudos mostram que mais de 70% das pessoas deprimidas e 25% das pessoas excessivamente ansiosas sofrem com insônia.

Cerca de 5% dos insones apresenta um tipo especial de transtorno, chamado Insônia Psico-Fisiológica. Esta forma consiste em um ciclo vicioso onde uma primeira noite mal-dormida produz irritabilidade e ansiedade durante o dia, afetando o padrão de sono da noite seguinte, reiniciando então todo o processo. O consumo exagerado de álcool e cafeína responde por 10-15% dos episódios de insônia psico-fisiológica.

Independente da causa, a insônia pode resultar em dificuldade de concentração, dores de cabeça persistentes, problemas da memória e dificuldade em resolver problemas do dia a dia. Pesquisas recentes mostram que o sono profundo é importante para o aprendizado de habilidades repetitivas que exigem boa percepção visual (p.ex.: digitar, dirigir, manusear máquinas pesadas, etc). Diminuir uma ou duas horas de sono por noite já é o suficiente para comprometer sua performance no trabalho e aumentar o risco de acidentes no trânsito.

O tratamento da insônia deve ser iniciado pela pesquisa e correção das causas diretas. Por exemplo: normalizar a pressão arterial, combater a obesidade, tratar o hipertireoidismo, a crise de asma, as dores artríticas, a depressão, etc.

Se você não sofre de nenhuma doença grave e mesmo assim anda se queixando de insônia, o problema provavelmente está nos seus maus hábitos na hora de dormir. Neste caso, o primeiro passo é procurar a farmácia mais próxima e comprar um grande e suculento frasco de vergonha. Tome-o quase todo e ofereça o restinho àquelas visitas que teimam em ficar até mais tarde no domingo. Explico porquê.

A qualidade do sono depende de atitudes simples, como criar no quarto um ambiente escuro, silencioso e relaxante. Um banho morno seguido de um lanche leve (uma ou duas porções de fruta ao invés de 80 Kg de antílope assado com pimenta) ou tomar chás com ervas relaxantes (p.ex.: melissa, valeriana, bupleuro, camomila, erva cidreira) são medidas úteis para chamar o sono.

Nos quadros mais severos e crônicos, pode ser necessário utilizar sedativos. Entretanto, o organismo ganha resistência com o tempo, tornando necessárias doses cada vez maiores do remédio para obter os mesmos efeitos, aumentando a possibilidade de reações colaterais perigosas. Como essas drogas não curam o problema, a insônia tende a retornar tão logo os medicamentos são suspensos.

No final das contas, o segredo para aquele ronco serrado não está em remédios mirabolantes. A verdadeira solução para a insônia – e tantos outros problemas que lhe afligem - costuma se esconder no velho lugar insuspeito de sempre: dentro da sua cabeça.

Ou embaixo da cama.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

05 junho 2008

MENOPAUSA MASCULINA

© Dr. Alessandro Loiola


As mulheres, estas felizardas, possuem vários trunfos em suas mangas: sempre que querem ser elas mesmas, podem apelar para a velha tática de culpar a TPM. Quando a TPM há muito se foi, têm a opção da menopausa.

Por muitos anos, nós, homens, estivemos à mercê da sorte e do humor feminino. Não mais: pesquisas recentes mostram que talvez exista uma saída, afinal.

Todos vocês, caros colegas de gênero, lembram bem da época em que éramos como urubus planando alto e faturando qualquer carniça. Desde pacas, tatus, cotia-não até o radiador do velho jipe Willis, era só apontar e estávamos dentro. Décadas e mais décadas depois, alguns começam a se sentir como uma sombra dentro da sombra. “Eu já fui notícia, meu filho, hoje não passo de um boato” entristece-se o velho guerreiro, representante típico desta nova legião, a dos Andropausados.

A Andropausa, ou Menopausa Masculina, pode ser definida como aquela época da vida em que o trabalho não dá prazer, e o prazer começa a dar um trabalho danado.

O motivo para a decadência é simples. Os níveis de testosterona, o principal hormônio masculino, começam a cair até 1% a cada ano a partir dos 30 anos de idade. A redução é gradual, mas permanente. Por volta dos 50 anos, cerca de 10% dos homens apresentam níveis baixos de testosterona. Aos 70 anos, mais da metade sofre com deficiência franca do hormônio. Aos 80 anos, a maioria dos homens tem níveis de testosterona (e comportamentos) semelhantes ao de meninos antes da puberdade.

Muitos médicos ainda relutam em reconhecer a Andropausa e seu verdadeiro significado do dia a dia masculino, mas a Andropausa é um fenômeno real. Ela não tem coisa alguma a ver com a famosa crise da meia idade. Trata-se de uma alteração orgânica mensurável - e absolutamente tratável.

Os sintomas da Andropausa são bastante semelhantes às manifestações da menopausa em mulheres. Um estudo realizado nos EUA envolvendo mais de 2.000 homens entre os 40 e 60 anos de idade, mostrou que 80% deles se queixavam de fadiga intensa, 70% sofriam de algum nível de depressão, e mais de 60% se queixavam de irritabilidade e distúrbios da ansiedade.

Outras manifestações relacionadas a Andropausa incluem alterações inexplicáveis de humor, insônia, diminuição da libido, fraqueza, perda de massa muscular, dificuldade para obter ereções e uma certa tendência para lágrimas na parte dramática dos filmes da Disney.

Uma vez reconhecidos os sintomas, o passo seguinte consiste na realização de alguns exames para eliminar a presença de doenças com manifestações semelhantes a Andropausa, como certas doenças do fígado e da tireóide, anemia, alcoolismo, diabetes, depressão essencial, etc.

A dosagem de Testosterona Livre no plasma é o principal teste, devendo ser feita em uma amostra de sangue colhida pela manhã, em jejum. Se os níveis estiverem abaixo de 200 nanogramas/dL e você não possuir fatores de risco significativos, a Terapia de Reposição de Testosterona (ou TRT) pode ser iniciada.

A TRT só deve ser realizada sob supervisão médica criteriosa, estando contra-indicada em homens com problemas na próstata, doenças no fígado, altos níveis de gordura no sangue ou passado recente de tromboses. A TRT não é um tônico capaz de resolver todos o problemas da sua vida, mas uma terapia específica com vários efeitos colaterais importantes. Para utilizá-la, é necessário realizar exames de acompanhamento a cada 3-6 meses. Entretanto, desde que indicada e realizada de modo responsável, a TRT produz resultados quase milagrosos.

A testosterona pode ser administrada de várias formas: oral, injetável, transdérmica (adesivos) ou por implantes. As formas orais não são mais recomendadas devido ao risco de efeitos tóxicos sobre o fígado. As formas injetáveis não oferecem níveis estáveis e podem terminar piorando os sintomas da Andropausa. As apresentações transdérmicas têm sido as mais utilizadas nos últimos tempos.

Além de buscar tratamento especializado, existem algumas medidas simples que você pode adotar a partir de agora para lidar melhor com os sintomas da Andropausa:

- Aprenda técnicas eficazes para lidar melhor com o estresse.
- Siga uma alimentação nutritiva, com pouca gordura e rica em fibras vegetais.
- Tome pelo menos 8 copos de água por dia.
- Diminua o consumo de bebidas alcoólicas e cafeína.
- Mantenha um padrão de sono saudável.
- Pratique alguma forma de atividade física regularmente.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

26 maio 2008

A TRIBO DOS RONCADORES

© Dr. Alessandro Loiola


Volte seu relógio alguns milhares de anos até a pré-história. Até aquela época em que habitávamos um mundo selvagem, bestializado e extremamente violento. Eu sei, não é preciso voltar no tempo para viver em um lugar assim. Basta ir até a esquina. Mas seja paciente.

Pegue seu tacape. Você está de guarda numa daquelas noites frias e chuvosas, com uivos ao fundo. O resto da tribo dorme na caverna enquanto corre a madrugada. Você pisca. A roda ainda não foi inventada, mas o plantão noturno sim. Chuva, frio, aquele pernil de preguiça gigante feito na brasa ameaçando avançar para o duodeno, e você ali. O protótipo neandertal do vigia sonâmbulo.

Fatalmente, você cai no sono. Aproveitando a deixa, os uivos se esgueiram pela sombra, aproximando-se da caverna. São lobos. E estão famintos. Mas antes que o treinador arme o ataque 4x4x2 lançando um coiote por sobre a barreira, um som gutural assustador, como o urro de bestas terríveis e possessas, irrompe pela caverna. E logo outro. E ao ressoar o terceiro, a matilha se dispersa, rabos entre as pernas, desaparecendo apressada na floresta.

Sem que soubessem, você e sua tribo foram salvos por uma adaptação maravilhosa da natureza: o ronco.

Não somos os animais mais rápidos ou os mais fortes ou aqueles com a mordida mais devastadora. Apesar de predadores, somos mamíferos terrestres relativamente frágeis. Então como poderíamos nos manter protegidos durante o descanso? Fácil: o som de dezenas de homens da caverna roncando juntos seria suficiente para manter qualquer ameaça a uma distância segura.

Levando o raciocínio adiante, seria possível deduzir que tribos de não-roncadores permaneceriam mais expostas durante as horas de sono, complicando suas chances de perpetuação, resultando em uma conclusão bastante simples: seguindo a linha nua e crua da seleção natural, somos todos descendentes de roncadores instintivos. Pois apenas os roncadores sobreviviam às noites de sono.

O ronco é o ruído que a respiração produz ao passar pelas vias aéreas parcialmente obstruídas durante o sono. Estima-se que mais de 1/3 dos adultos ronquem pelo menos algumas noites por semana. De cada 10 roncadores crônicos, 9 são homens – a maioria com 40 anos de idade ou mais.

Apesar da teoria da tribo dos roncadores explicar porque seu marido imita um urso com cólica intestinal durante o sono, os especialistas defendem que o ronco está intimamente relacionado a distúrbios tais como obesidade, aumento das amídalas e das adenóides, e deformidades no nariz. Fumar, consumir bebidas alcoólicas em excesso, fazer alimentações pesadas antes de ir para cama, dormir de barriga para cima e sofrer de alergias nasais facilitam a ocorrência de roncos.

Você talvez não ligue para o seu ronco, mas tenha certeza que qualquer pessoa que esteja por perto tem uma opinião um pouco diferente. Em todos os casos, procurar seu médico de confiança é uma boa recomendação. O ronco pode sinalizar a presença ou o início de outros problemas mais sérios, como apnéia do sono, obstrução nasal e separações litigiosas. Além disso, o ronco pode resultar em sonolência excessiva durante o dia e aumentar o risco para hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e derrame.

Para resolver a situação, o primeiro passo é cortar os fatores de risco. Elimine o excesso de peso; evite refeições pesadas, bebidas alcoólicas ou cafeína no horário de dormir (o ideal é manter o jejum nas duas horas anteriores ao seu horário habitual de ir para a cama); mude a posição em que você dorme (p.ex.: levante um pouco a cabeceira da cama, coloque um travesseiro para ficar de lado, etc), e mantenha o quarto limpo e arejado para evitar rinite e congestão nasal.

Outros recursos para controlar o ronco incluem o uso de próteses orais que evitam a queda da língua, e máscaras especiais que mantém uma pressão contínua sobre as vias aéreas, evitando a obstrução (este tratamento com máscaras de pressão, conhecido como CPAP, é eficaz e razoavelmente desconfortável).

Casos mais graves podem necessitar tratamento cirúrgico. O procedimento mais comumente realizado é uma espécie de cirurgia plástica da garganta que aumenta o diâmetro das vias aéreas e reduz a vibração. Vale lembrar que a intervenção cirúrgica não está indicada nos casos de ronco ocasional ou leve.

No final das contas, se o seu ronco estiver incomodando as pessoas da sua vizinhança e nenhuma das medidas descritas anteriormente resolver o problema, eu recomendo que você junte suas trouxas e mude para uma caverna. De preferência, longe da minha.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

20 maio 2008

COMO LIDAR COM UMA CRIANÇA PIRRACENTA?

© Dr. Alessandro Loiola


Dia desses foi comemorado o Dia Mundial Sem Carro. Quando vi a propaganda, achei que todos os automóveis seriam enviados para Netuno e só voltariam ao planeta no dia seguinte. Uma maravilha. Mas, para minha decepção, não foi nada disso. Enfim, por causa das celebrações, fui zapear na Internet e descobri que existem cerca de 500 milhões de automóveis no mundo. Para cada um destes automóveis, existe um adulto responsável, devidamente treinado e habilitado para sua condução. E então veio o estalo.

Existem 1,82 bilhões de crianças no mundo. Quase 4 crianças para cada automóvel. Responda rápido: qual você acredita ser a proporção de adultos responsáveis, devidamente treinados e habilitados para conduzir estas crianças?

Não conheço escolas ou faculdades que formem pais responsáveis. Também não existem cursos rápidos sobre como criar filhos. Isto continua sendo uma experiência individual na maioria dos casos, baseada na velhíssima fórmula de tentativa e erro.

Uma das queixas mais freqüentes dos pais despreparados é que “a criança que faz pirraça demais”. Ora, no começo da infância, tudo que o bebê quer é chamar sua atenção. Para isso, ele irá falar, chorar, bater, jogar coisas no chão e perturbar todo mundo. Ele não se importa muito se está sendo agradável ou chato, desde que você olhe para ele. Isso não tem coisa alguma a ver com pirraça.

Além disso, a pirraça ou birra não deve ser confundida com desobediência. O conceito de pirraça começa no momento em que a criança sabe a diferença entre certo e errado, mas ainda não tem maturidade suficiente para se controlar e fazer a coisa certa. Esta fase começa por volta dos 2 anos de idade. Raramente, a criança pirracenta quer um confronto. Ela quer apenas atenção e descobrir seus limites.

Por outro lado, a desobediência significa que a criança faz questão de se impor firmemente contra a sua autoridade. Nestes casos, ela quer de toda forma um confronto.

Para enfrentar uma crise de pirraça com garbo e estilo, recomendo que você faça o seguinte:

- Inicialmente, mantenha um comportamento sereno. Tente ignorar a birra, falando com a criança de modo calmo e pausado, porém firme. Procure entender e explicar a situação. Se isto não funcionar, a criança deve ser castigada.

- Quando digo “castigada” não estou falando “surrada até a morte exsanguinante”. Punir a criança com tapas e beliscões pode ser uma solução rápida, mas certamente é pouco duradoura. Além disso, você estabelece um ciclo de agressões e truculências que não leva a nada. Um excelente exemplo de castigo é proibir a criança de brincar com os coleguinhas ou de assistir ao programa preferido de TV durante uma semana.

- Se a criança não ceder, ela deve ser subordinada. Novamente, isso pode ser feito sem violência. Como? Mostre-se fora de controle, faça a criança perceber que, se é para perder a cabeça, você pode ser mais perigosa que ela. Mas nunca subordine fazendo ameaças ou gritando em público: a audiência só faz a criança aumentar o teatro. No final da subordinação, aplique um castigo.

- Se a pirraça estiver relacionada a uma situação onde não existe possibilidade de negociação (p.ex.: a criança não quer tomar banho, ou se joga no chão para não atravessar a rua, etc), pegue a criança com firmeza pelos braços, sempre dizendo o que você está fazendo e porquê. Não bata nem discuta. Quando terminar de fazer o que precisava ser feito, avalie se é ainda necessário aplicar alguma forma de castigo.

- É óbvio que para tudo existe um limite. Desde a quantidade de carros em circulação até o número de crises de pirraça que uma criança pode ter em um dia. Se a criança começar a machucar a si própria ou a outras, tiver mais de 5 crises de pirraça por dia, ou se as birras estiverem associadas a outros problemas de comportamento (p.ex.: dificuldade para se expressar, para fazer amigos, para aprender na escola, etc), é recomendável visitar o médico para uma avaliação mais específica.

E lembre-se sempre: a obediência da criança depende da sua capacidade de mostrar autoridade com inteligência. Ouça e converse com seu filho. Explique o que você acredita que ele fez de errado, escute os motivos dele e deixe-o de castigo se for preciso, mas jamais apele para surras. A violência é o argumento da ignorância. E a ignorância é o caminho mais curto para o fracasso.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

19 maio 2008

ATLETISMO SEXUAL

© Dr. Alessandro Loiola


A atividade sexual é um dos muitos parâmetros utilizados para aferir o nível global de saúde de um adulto. Em teoria - e respeitados os devidos limites de carga, velocidade e decibéis do seu bairro -, quanto maior a quantidade e a qualidade do sexo que você pratica, mais saudável você está. Entenda isto como uma conseqüência fisiológica das coisas: o objetivo de sua programação genética é que você procrie, principalmente se estiver com saúde. E para tanto você deve se envolver em relações sexuais.

A importância da atividade sexual em nossas vidas é inquestionável (não estaríamos aqui se não fosse por ela), tornando o tema um verdadeiro campeão de bilheterias do lado de cá da Via Láctea. Por isso, não me surpreendi quando, recentemente, recebi um e-mail com algumas dúvidas sobre o assunto. A mais curiosa era a seguinte: será que o sexo pode lhe ajudar a ficar em forma? Em outras palavras: a atividade sexual, como forma de esporte, pode ser útil para queimar calorias? Afinal de contas, nada como otimizar seu tempo unindo o útil ao agradável...

Pensei em simplesmente apagar a bendita mensagem, mas a mesma curiosidade que matou o gato terminou me obrigando a comprar um bilhete da Helman’s Airlines – aquela em que você viaja na maionese -, e fui pesquisar durante alguns dias. Antes que você fique imaginando coisas impróprias para o horário (pesquisar? Como assim, “pesquisar”?), vamos aos resultados.

Dez minutos de relação sexual consomem cerca de 45 calorias, quase a mesma quantidade de energia que você gasta para ficar de pé, dormir, estudar ou falar ao telefone por meia hora. Mas os especialistas afirmam que o prazer destas atividades pode não ser tão intenso, justificando tranqüilamente sua escolha pela primeira alternativa.

Se extrapolarmos a contabilidade para a fase de aquecimento dos motores, e considerarmos que seus 10 minutos de sexo foram precedidos por 10 minutos de preliminares, o gasto mal atinge 70 calorias – menos do que o necessário para arrumar os móveis da sala.

Fazer compras, buscar as crianças na escola, preparar a janta e colocá-las para dormir é uma rotina capaz de consumir mais de 200 calorias. Em valores totais, seria algo como manter 5 relações sexuais completas no intervalo de poucas horas. Não surpreende que ao final do dia você sinta toda aquela fadiga – e nem pense em culpar o trânsito!

Deixando de lado a vida doméstica e partindo para a academia, para uma pessoa média atingir um estágio “sarado” será necessária pelo menos uma hora de malhação, 4 vezes por semana, durante 1 ano. Isso significa um investimento de 70.000 calorias, o equivalente a 1.600 relações sexuais ou cerca de 260 horas de sexo ininterrupto. Fique à vontade para tentar e relatar aos amigos sua experiência. Ah, sim: e não se esqueça de comunicar o feito inédito ao Guinness.

Equacionadas as variáveis pertinentes, ficou fácil perceber que o Atletismo Sexual não deveria sequer constar na lista das 100 melhores práticas desportivas de todos os tempos, pelo menos não do ponto de vista de gasto energético ou de condicionamento cardiopulmonar.

A explicação para o resultado desta pesquisa é bem simples: quando lidamos com Sexo, não estamos falando de controle da obesidade, queima de calorias ou reengenharia de músculos, mas da celebração máxima da cumplicidade afetuosa entre dois seres humanos. Isso, sim, é o que verdadeiramente importa. O resto não passa de conversa calórica para boi dormir.

13 maio 2008

COMO DEIXAR A CASA LIMPA

© Dr. Alessandro Loiola


Apesar da raça humana estar fazendo um excelente trabalho no quesito “poluição ao nível do auto-extermínio”, ainda nos resta esperança. Estudos recentes apontam para o surgimento de uma ramificação do Homo sapiens, o Homo limpadorus compulsivum, que poderá significar a salvação do planeta.

As pesquisas mostram outro fato alarmante: toda família terrestre já possui pelo menos um (ou uma) representante desta subespécie entre os seus. O que caracteriza este nosso primo mais evoluído é o desejo irrefreável de ver não apenas as coisas limpas, mas ver as coisas limpas por ele mesmo.

Para detectar o Homo Limpadorus compulsivum é muito simples: em uma dessas tardes insossas no final de semana, logo depois do almoço, dirija-se para a cozinha dizendo que está na hora da limpeza. Imediatamente, o Limpadorus irá estacionar na porta, puxando conversa como quem não quer nada e então, com um movimento insuspeito, irá surrupiar um pano de prato na gaveta da esquerda e começará a passá-lo com requintes de detalhes naquilo que você jurava ter acabado de limpar.

- Nossa, olha só – mostrando o pano tão limpo quanto antes -, ninguém merece! Faz o seguinte, vai lá ver televisão com o pessoal que eu termino aqui.

Você pode até aproveitar a deixa para esticar as pernas. Contudo, assim que ouvir algo como “o que essa casa está precisando é de uma boa faxina!”, recomendo que assuma rapidamente o controle, tome o pano de prato do Homo Limpadorus e peça alguns sedativos hipnóticos na farmácia mais próxima. Ou coloque-o para assistir um programa de auditório. O efeito é idêntico.

Manter uma boa higiene é imprescindível para sua saúde, mas o mutante tende a transformar isso em uma cruzada épica contra a própria existência das bactérias. Infelizmente, cerca de 60% das partículas de poeira em suspensão na sua casa são compostas por fragmentos de pele morta. O restante são fungos, ácaros e demais extraterrestres minúsculos. Você irá respirar isso umas 10 milhões de vezes por ano, por mais que as paredes sejam alvejadas. Não há escapatória.

Todo Limpadorus que se preza também preocupa de modo exagerado com a preparação dos alimentos. Eles adoram deixar as alfaces afogadas a noite inteira em um caldo antibacteriano de composição alquimista. Pobre coitado... para cada ser humano neste planeta existem 200 milhões de insetos. Ao longo de nossas vidas, engolimos mais de 70 deles durante o sono. Além disso, anualmente, centenas de pessoas morrem engasgadas com partes de canetas esferográficas. Conclusão: o perigo pode estar onde você menos espera. É melhor ficar mais atento.

Se você quiser ajudar seu ilustre representante de Homo Limpadorus compulsivum, passe à frente estas informações realmente úteis para a limpeza do lar doce lar:

- O chão da cozinha é considerado a área mais suja da casa. Os restos microscópicos de comida embutidos ali são o ambiente ideal para proliferação de vírus, fungos e bactérias. O chão deve ser varrido diariamente e lavado com produtos químicos específicos duas ou quatro vezes por semana.

- A pia da cozinha também deve ser lavada diariamente com detergentes fortes. Ao final do dia, é uma boa idéia enxaguá-la com uma panela de água aquecida. Mantenha as crianças longe neste momento.

- Por falar em pia: pelo menos duas vezes por semana, faça o mesmo com a pia do banheiro. Para facilitar, utilize um pouco de água sanitária no lugar da água aquecida. Logo você irá perceber que alguns detalhes da pia são difíceis de alcançar. Não esquente a cabeça: espere pela próxima crise no casamento e utilize a escova de dente do seu cônjuge para limpar estas reentrâncias. Depois guarde a escova de volta.

- A bucha que você utilizou para lavar os pratos e talheres antes da refeição contém mais micróbios nocivos que o assento do seu vaso sanitário. Tudo bem, pode vomitar o almoço agora. A parte boa da notícia é que a bucha pode ser esterilizada no microondas: bastam 30 segundos (quando seca) ou 60 segundos (quando molhada), em potência máxima, para eliminar todas as bactérias.

- E uma última dica: todo mundo adora a sensação de limpeza de um bom banho, mas há quanto tempo você não dá uma geral no próprio chuveiro? Assim que retornar ao banheiro, veja se não tem uma samambaia carnívora crescendo lá de dentro. Se for seguro, limpe o chuveiro antes que ele fagocite alguém da família.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

05 maio 2008

PALESTRANDO EM RITMO DE AVENTURA

© Dr. Alessandro Loiola


A ida até Uberlândia foi uma tranqüilidade. Uma pena não ter conseguido tempo hábil para uma parada no meio do caminho e visitar Araxá, mas não se tratava de um passeio. Era uma viagem estilo caixeiro viajante para tratar de negócios. Mais precisamente, palestras. Depois de uma merecida noite de descanso na bela cidade do triângulo mineiro, partimos para o destino final: Caldas Novas.

Com cerca de 60.000 habitantes, este pequeno município goiano é considerado o maior sítio de fontes hidrotermais do planeta. Conhecia Caldas Novas de anos passados. Não vou dizer exatamente quando ou você irá me achar Jurássico. Basta falar que, na primeira vez em que estive em Caldas, as águas quentes ainda estavam mornando.

O motivo da viagem foi uma participação no 4º Encontro Nacional Dedo de Prosa da Melhor Idade, a convite do grande amigo Juarez Eliziário. O encontro foi excepcional. Centenas de pessoas simpáticas, esbanjando após os 60 anos uma vitalidade que não se vê em muitos meninos de 20 ou 30. Oficinas, bailes, lançamento do livro Para Além da Juventude e, entre outros eventos, uma palestra muito divertida sobre a aventura de envelhecer com saúde ministrada por um médico de Beozonte. Um rapaz de óculos, meio careca e muito simpático que escreve uma coluna aos domingos no Jornal Estado de Minas... o nome me fugiu agora, mas você deve saber quem é.

Ótimas pessoas, ótima estrutura, ótimos temas. Um abraço enorme à ajuda inestimável de Juarez, Rita, Adelson, Polyana & Poliana e todos os envolvidos na organização do Encontro. Espero comparecer novamente, no próximo ano.

Terminado o evento, saímos de Caldas Novas de volta à Uberlândia e então Belo Horizonte para, no mesmo dia, pegar um vôo para Governador Valadares e de lá, seguir por estrada até Teófilo Otoni. Praticamente o estado de Minas de ponta a ponta em um dia.

Não conhecia Governador Valadares e vou lhe contar uma coisa: é quente. Muito quente. Quase tanto quanto as águas de Caldas Novas. Mas ainda assim menos quente que Teófilo Otoni, onde estive para mais duas palestras, desta vez sobre Doenças Emergentes no Século XXI.

Durante a apresentação na capital das pedras preciosas, apenas uma coisa era mais abrasadora que o sol na calçada do lado de fora: a recepção teofilotonense no auditório do SESC-MG, com direito a presença do Secretário de Saúde Walter da Silva Gonçalves, da Diretora Luciene, do Frederico, do locutor Alan, grupos da Terceira Idade e acadêmicos de várias faculdades próximas. Foi uma apresentação recompensadora e um bate-papo interessante.

Na volta para casa, após dias de muita estrada e muita gente boa, restaram excelentes lembranças e a satisfação da troca de conhecimentos. Alguns podem afirmar que conversar com um auditório em Caldas Novas e outro em Teófilo Otoni não é suficiente para mudar o Mundo. Concordo e também tenho certeza absoluta disso. Todavia, o sentimento de dever cumprido pode ser compreendido através da história da Menina e as Estrelas do Mar:

Em uma distante cidade litorânea, após uma violenta tempestade, milhares e milhares de pequenas estrelas do mar foram jogadas pelas fortes correntezas, abandonadas à própria sorte para morrerem na praia. Curiosas, as pessoas da cidade foram até o local para presenciar o estranho fenômeno.

Um casal que caminhava de mãos dadas admirando a paisagem inusitada, deteve-se diante de uma menina que parecia não prestar atenção a mais nada, exceto ao que estava fazendo: cuidadosamente, ela pegava uma estrela e a devolvia às águas do mar. Certificava-se de que ela estava bem posicionada em seu habitat, acenava tchau, pegava outra estrela e repetia tudo de novo e de novo.

O casal trocou um entreolhar rápido e disse para a menina com ar condescendente:
- O que você está fazendo?
- Devolvendo as estrelinhas para casa, ora essa.
- Mas olhe à sua volta. Deve ter mais de um milhão de estrelas espalhadas pela areia!
- Eu sei.
- E você acha que jogar uma ou outra de volta ao mar irá fazer alguma diferença?
A menina abaixou-se, devolvendo mais uma estrela e dizendo:
- Para esta, faz.... – pegando a seguinte, disse: – e para esta faz... e para esta aqui também...

Após todas as andanças, a verdadeira recompensa vem do fato de ter encontrado em Caldas Novas e Teófilo Otoni centenas de pequenas estrelas. Com alguma sorte, posso ter feito alguma diferença na vida de algumas delas. E isto basta. Por enquanto.
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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

16 abril 2008

GRAN PRIX DE FÓRMULA SEXO

© Dr. Alessandro Loiola


Toca o celular. Segue uma voz feminina querendo mais informações sobre Viagra mastigável.

- ... Para uma matéria que estou escrevendo, doutor – fez questão de explicar a repórter do jornal de um estado vizinho. Pedi que ligasse mais tarde. Para emitir uma opinião embasada, precisava pesquisar melhor o assunto.

O Sildenafil, composto ativo do Viagra, foi descoberto nos anos 90 pelos laboratórios Pfizer. Inicialmente, a Pfizer estudava o papel da droga no tratamento de doenças cardíacas, mas um curioso efeito colateral fez com que as pesquisas tomassem outro rumo: durante os testes clínicos, o sildenafil mostrou ser capaz de induzir fortemente ereções penianas.

Em março de 1998, o sildenafil tornou-se o primeiro remédio aprovado nos Estados Unidos para tratamento da impotência sexual masculina. Desde então, as vendas mundiais do remédio vêm rendendo mais de 1 bilhão de dólares ao laboratório a cada ano.

Como a patente mundial da Pfizer para fabricação do citrato de sildenafil só expira em 2011 (ou seja: apenas a Pfizer está autorizada a sintetizar o composto até lá), a saída da concorrência foi modificar a estrutura do sildenafil e produzir substâncias pouco diferentes, porém com efeitos idênticos.

Adicione um carbono e dois hidrogênios à molécula do sildenafil, leve ao forno por 10 minutos e você terá a vardenafila. Com alguns hidrogênios e nitrogênios a menos, sem o molho de enxofre, cozinha-se a tadalafila. E, em pleno raiar do século XXI, estava alinhado o gride de largada para o Grand Prix de Fórmula Sexo.

Não tardou e alguns países Latindo Americanos observaram nesta corrida boas chances de lucros. No Uruguai, por exemplo, não há produção de genéricos. Para baratear os custos de alguns remédios, foi aprovada em 1998 uma Lei que permite que laboratórios locais sintetizem princípios ativos de outras companhias, desde que a empresa recolha 5% do valor das vendas à detentora da patente original. Uma forma bacana de pirataria oficializada para o bem de todos e felicidade geral da nação.

Apesar de bem mais baratos, os medicamentos uruguaios não possuem registro na ANVISA, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde responsável pelo monitoramento da qualidade de todos os remédios vendidos no Brasil. Sem esta forma de controle, os genéricos uruguaios importados irregularmente correm o risco de não conter a quantidade correta do princípio ativo, ou – pior – possuírem contaminantes potencialmente nocivos à saúde. Desde setembro de 2006, o sildenafil uruguaio tem estado na mira da ANVISA e da Policia Federal, para desespero de donos de motéis e agremiações de homens de meia idade.

Pensa que acabou aí? Pois em 2003 uma mega-indústria americana de goma de mascar conseguiu sintetizar uma forma mastigável do sildenafil. Devido aos problemas de reserva de patente, o “chiclete de viagra” deve aguardar ainda alguns anos até ser colocado no mercado. Obviamente, isto não impediu que versões similares surgissem (adivinhe onde?) no Paraguai.

E aqui chegamos finalmente ao viagra mastigável “made in Paraguai”, que vem sendo vendido com grande alarde e propaganda através da Internet e anúncios em classificados. Mas não existem estudos clínicos mostrando que estes comprimidos possuem efeito superior às apresentações de sildenafil registradas na ANVISA. Além disso, pairam sobre os genéricos paraguaios as mesmas preocupações com relação à bioequivalência e segurança dos seus primos uruguaios.

Toda essa fuzarca em torno dos medicamentos para disfunção erétil baseia-se na idéia visceral de que, se um homem é capaz de levantar, entrar e sair, ele é um sujeito másculo e realizado. Infelizmente, esta é de fato a noção limitada que a maioria dos homens tem sobre o sexo.

Incontáveis pesquisas realizadas nos últimos 30 anos mostraram que uma experiência sexual completa e verdadeiramente satisfatória – tanto do ponto de vista masculino como feminino – deve vir acompanhada de um profundo envolvimento emocional. E este nível de percepção não é vendido em caixinhas com comprimidos azuis.

Por isso, apesar dos avanços tecnológicos, os seres sensíveis que são os homens deverão continuar deslumbrando suas mulheres com ereções incríveis e comentários desanimadores, como a conversa do casal logo após aquele fantástico sexo selvagem:

- Querido, o que você prefere? Uma mulher bonita ou inteligente?
- Nem uma, nem outra, meu amor. Você sabe que eu gosto só de você!

Mais macho, impossível.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

05 abril 2008

O QUE VOCÊ SABE DE VERDADE SOBRE A ACNE?

© Dr. Alessandro Loiola


A acne é uma das doenças mais comuns da pele: cerca de 80% das pessoas sofrem com esta praga em algum momento de suas vidas.

Felizmente, o que antes era um suplício sem fim, se tornou um problema absolutamente tratável e curável. Por exemplo: você sabia que nas últimas duas décadas, graças aos estudos de uma substância derivada da vitamina A, chamada Isotretinoína, foi possível chegar à cura da acne?

Quando bem indicado e acompanhado por um profissional capacitado, o tratamento com Isotretinoína é capaz de resolver a imensa maioria dos casos em 6-8 meses. O principal risco relacionado a este medicamento é a possibilidade de má-formação fetal, motivo pelo qual deve ser utilizado com cuidados redobrados em mulheres em idade fértil. Outros possíveis efeitos colaterais, como dores de cabeça e ressecamento labial, são reversíveis e desaparecem com a interrupção do tratamento.

Apesar das pesquisas, avanços e conquistas sobre o assunto, alguns mitos sobre a Acne parecem ter 7 vidas, e vez ou outra ressurgem em um bate-papo no consultório ou durante um encontro casual com os amigos.

Em uma situação dessas, será que você conseguiria separar o joio do trigo? Faça o teste com as perguntas a seguir e veja quantas você é capaz de acertar:

A acne é pior na adolescência.
Verdadeiro. A relação exata entre acne e adolescência ainda é desconhecida. Acredita-se que o problema esteja relacionado às variações hormonais típicas do período, que fazem com que as glândulas sebáceas aumentem seu tamanho em até três vezes, facilitando o desenvolvimento das espinhas.

O sol melhora a acne.
Falso. A princípio, o sol mascara a acne, desidratando as glândulas da pele, e parece melhorar o quadro geral. Contudo, o sol também danifica os folículos e causa entupimento dos poros, resultando em mais acne – este efeito em geral surge 3-4 semanas após exposição à luz solar.

Quanto mais sexo, mais acne.
Falso. Um dos mitos mais famosos relaciona atividade sexual ao agravamento da acne. Isto, obviamente, não possui qualquer fundamento. Na verdade, o sexo pode reduzir os níveis de estresse e com isto diminuir a acne. Não conte isso para o seu filho adolescente.

Pizza, chocolate e outras “guloseimas” causam acne.
Falso. Na maioria das pessoas, não existe uma associação específica entre determinados alimentos e acne. O que existe é uma relação entre a acne e a quantidade de calorias ingeridas: dietas com excesso de calorias aumentam os níveis de testosterona, e a testosterona aumenta a produção de secreção nas glândulas da pele - que posteriormente se transformarão em lesões da acne.

Pasta de dente ajuda.

Falso. Além de você ficar com aquela cara de quem acabou de ser atacado por um tubo de dentifrício raivoso, o flúor presente nos cremes dentais podem irritar ainda mais o local da aplicação, piorando a acne.

É bom manter o rosto sempre limpo.
Verdadeiro. Mas tome cuidado com a intensidade da limpeza, pois a pele precisa de um nível específico de pH para manter-se saudável.

Se você quiser ajudar ao invés de atrapalhar, é suficiente lavar o rosto duas ou três vezes por dia, no máximo, desde o queixo até a linha de cabelos na parte superior da testa, com movimentos circulares e delicados. Enxágüe com bastante água morna e utilize uma toalha macia para secar a pele. Não utilize buchas ou esponjas.

A escolha adequada do sabonete é crucial. Sabonetes detergentes ajudam a diminuir a produção de sebo, mas em alguns casos podem piorar a doença. Prefira sabonetes leves (p.ex., desses indicados para bebês).

Espremer melhora.

Falso. Em hipótese alguma esprema suas espinhas – isto só aumenta o risco de cicatrizes e infecções.

Cosméticos não pioram a acne
Falso. Cosméticos oleosos (p.ex.: batons) podem facilitar o desenvolvimento da acne. Produtos capilares como laquês, quando em contato com a pele, podem causar queimação ou irritação na pele de pessoas com acne, acentuando o problema.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

09 março 2008

TPM - GUIA PARA SOBREVIVENTES

© Dr. Alessandro Loiola



Muitos pesquisadores consideram a Tensão Pré-Menstrual, ou TPM, um evento fisiológico absolutamente normal. Do mesmo nível que acessos de riso, flatulências em público e homens que não cortam as unhas dos pés. É óbvio que estes pesquisadores devem ser solteiros, moram em gaiolas e não tem a menor idéia do que estão falando.

A TPM afeta até 80% as mulheres em algum momento de suas vidas, sendo mais comum entre os 20 e 30 anos de idade. Em cerca de 5% dos casos, os sintomas são graves o suficiente para incapacitar completamente a pobre durante a crise. E isso não tem nada de fisiológico.

A lista de sintomas da TPM possui mais de 150 itens, sendo os principais: cólicas abdominais (causadas pela contração do útero), fadiga, urticária, irritabilidade, isolamento social, depressão, ansiedade, insônia, baixa auto-estima, dores para todo lado, diminuição do desejo sexual, hiperreatividade emocional (briga com filhos, marido, cabelo, geladeira, esmalte, meia-calça...), problemas de memória, dificuldade de concentração, incapacidade para terminar tarefas, náuseas e alterações do apetite.

Não se sabe a causa exata da TPM. Alguns sugerem que a síndrome esteja relacionada a uma sensibilidade anormal aos níveis de progesterona liberados durante a segunda metade do ciclo menstrual. Um dos efeitos desta supersensibilidade seria a redução dos níveis serotonina, um neurotransmissor envolvido no controle do humor.

De fato, boa parte das manifestações da TPM está relacionada às alterações nos níveis de estrogênio e progesterona, que começam a ocorrer uma ou duas semanas antes de chegada da menstruação. Outros fatores hormonais, nutricionais e afetivos também participam da entorna do caldo.

Algumas mulheres sofrem de TPM a vida inteira, outras nunca, algumas nem percebem. Se você acha que tem sorte e a TPM ainda não lhe pegou, tenho uma notícia: lembra aquele dia em que você percebeu no almoço que havia saído cedo de casa com a blusa virada de frente para trás? E apenas no final da tarde se deu conta que havia consertado colocando do lado avesso? Era ela. A bendita. A TPM.

E quando você começou a pensar que o homem perfeito não era alto, moreno e sexy, mas qualquer um que viesse cego, amordaçado e de preferência em chamas ou com alguma doença terminal? Pois olha aí. Ela de novo.

Dizem que principal diferença entre um grupo de terroristas e um grupo de mulheres com TPM é que você pode negociar com o primeiro. Pessoalmente, eu não acredito nisso. Alguns terroristas não são perigosos desse jeito. Em todo caso, para ajudar a controlar a TPM e evitar acidentes com armas biológicas no futuro, recomendo que você considere as seguintes dicas:

- Siga uma alimentação saudável. Uma dieta balanceada, pobre em sal e rica em nutrientes naturais, oferece ao corpo os elementos certos para reduzir os sintomas, a retenção de líquidos, a fadiga e as cólicas. Mas nada de extremos: permita-se um mimo e compre 2 ou 3 bombons.

- Faça exercícios ! Atividades aeróbicas aliviam o estresse e aumentam os níveis de endorfinas e outros hormônios com propriedades relaxantes. O efeito é melhor quando os exercícios são realizados regularmente, e não apenas quando aquele espírito homicida ameaça tomar conta do seu corpo.

- Largue esta praga chamada cigarro. Além de aumentar seu risco para uma infinidade de desgraças, o cigarro também acentua os sintomas da TPM.

- Converse com seu médico a respeito de suplementos naturais. O cálcio é capaz de reduzir os gases, a depressão e as dores em algumas mulheres. O magnésio é útil nos casos de TPM associada à enxaqueca, mas não deve ser utilizado por pessoas com problemas renais. A associação de magnésio com piridoxina (vitamina B6) pode ser empregada para reduzir a ansiedade associada a TPM. O Vitex (Vitex agnus castus) é um fitoterápico muito popular que reduz as dores nas mamas, as alterações de humor e a constipação intestinal na TPM.

- Mantenha um bom padrão de sono, diminuindo a quantidade de café e açúcar à noite. E nada de bebidas alcoólicas durante o período.

- Se você estiver no pequeno grupo de mulheres que se tornam inválidas durante a TPM, verifique com seu médico a possibilidade de utilizar medicamentos mais específicos para o problema. Eles existem e incluem antidepressivos, diuréticos e antiinflamatórios não-hormonais.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

25 fevereiro 2008

KING KONG TEEN

© Dr. Alessandro Loiola
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Estava exercitando o ócio à tarde, durante os preparativos para a virada de ano, quando alguém apareceu com uma sacola de DVDs.

- Depois de uma praia e um bom almoço, nada como assistir um filme para relaxar antes dos festejos, hein?

Escolha vai, escolha vem, ficamos com uma refilmagem de King Kong. No elenco, um gorila virtual e manadas de computação gráfica. No roteiro, a velha expedição a uma terra desconhecida, o confronto com nossos medos mais primitivos e aquela incrível capacidade de espalhar a barbárie que só o homem civilizado tem.

Com o correr do filme, não foi preciso fazer muito esforço para perceber que King Kong é uma grande analogia com um período muito especial de nossas vidas: a adolescência.

Assim como na saga do gigante Kong, o término da infância – e de toda a inocência acumulada no período - quase sempre ocorre como um novo parto, com festas de ganhos e dores perdas. E apesar da turbulência, a ternura e a compreensão da família são capazes, sim, de controlar os impulsos da fera dentro de nós.

Muitas pessoas dizem que, se a vida fosse uma viagem, os aborrecentes seriam aqueles sujeitos que acabaram de descer do navio. Mesmo em terra firme, continuam enjoados. Mas o rótulo aborrecido que ronda a geração teen é extremamente tendencioso. Ele parte de levas de gentes que há muito não se deslumbram com o mundo. De adultos que não vivem mais, apenas sobrevivem, indo de uma conta à outra.

A aborrecência é um período mágico de crescimento e desenvolvimento físico e emocional. Ela se estende dos 11 aos 16 anos nas meninas e dos 13 aos 18 anos nos meninos, aproximadamente. Neste curto intervalo, assistimos ao corpo mudar em ritmo frenético. Pêlos, saliências e protuberâncias surgem por toda parte. A voz muda. As atitudes mais ainda.

Vivendo nos extremos há muito esquecidos por nós, o aborrecente começa sua aventura por uma dimensão até então oculta: o mundo governado pelos hormônios. Neste universo paralelo, o ajuste à realidade não é mole. A proliferação de incertezas pode resultar em comportamentos rebeldes ou introspectivos, roupas estranhas, desânimo e depressão. Em contrapartida, existem ocasiões onde a disposição excessiva do aborrecente causa surtos de entusiasmo, obrigando os pais a levá-lo à sessões de musicoterapia baiana na festa de axé mais próxima.

Reações contra a autoridade são comuns. O jovem neste período freqüentemente experimenta o desejo de expressar sua própria personalidade, formar um caráter definido e provar o máximo de sensações possíveis. Atritos com valores e padrões preestabelecidos pelo mundo adulto são inevitáveis.

A maioria dos aborrecentes gosta da oportunidade de assumir responsabilidades e tornar-se mais independente. Contudo, eles podem ter dificuldades em lidar com os desafios. Em alguns momentos, podem agir de maneira independente. Em outros, têm o desejo de serem dependentes. Esta alternância enervante é absolutamente natural.

Como em qualquer expedição aventureira a uma terra distante, a adolescência marca o momento de preparar as malas para a longa viagem do mundo adulto. É importante incluir na bagagem tudo aquilo que será útil mais adiante. Esteja sempre à disposição para conversar com o exemplar que você tem em casa, fale abertamente sobre os riscos do uso de cigarro, a segurança ao dirigir automóveis, o alcoolismo, o uso de drogas ilícitas, a sexualidade e a gravidez.

Mas atenção: o vínculo de confiança com o aborrecente não deve ser confundindo com ser “amigo do seu filho”. Seja pai e mãe do seu filho, não amigo. Amigo ele tem e terá aos montes. Pai e mãe, ele só terá 1 de cada. Um aborrecente que pegou o carro escondido ou chegou em casa embriagado deve receber medidas iguais de disciplina e compreensão.

Informe-se e ofereça tolerância, simpatia, equilíbrio, conselhos e discussões sobre todos os problemas fisiológicos e psicológicos que acompanham este período da vida. Os aborrecentes podem levar tempo para amadurecer, especialmente os meninos. Felizmente, com uma orientação bem temperada, seu King Kong Teen estará pronto para conquistar o mundo assim que deixar a ilha. Faça acontecer.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde apresenta o quadro BEM VIVER na TV Alterosa / SBT.