30 agosto 2017

CRIANÇAS E ADOLESCENTES PODEM SER ATENDIDOS SEM ACOMPANHANTE NO POSTO DE SAÚDE?

Sim, podem.

E é impressionante ver como muitos médicos, gestores, gerentes, enfermeiros e outros profissionais envolvidos na assistência à saúde têm um completo e absoluto desconhecimento disso, fazendo exigências sobre a presença de um “de maior” ou recusando atender o menor devido à falta de um responsável com mais de 18 anos idade.

Do ponto de vista legal e ético, os seguintes parâmetros justificam o atendimento de qualquer pessoa – independente da idade – em uma unidade de saúde:

Lei Orgânica da Saúde 8.080/90

As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: 
  • III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;  
  • IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;
  • V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

Constituição Federal - Título VIII - Da Ordem Social - Capítulo VII - Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso
  • Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
  • Artigo 3 - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
  • Art. 11 - É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente, através do Sistema Único de Saúde, garantindo o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
  • Art. 15 - A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
  • Art. 16 - O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; (...) VII – buscar refúgio, auxílio e orientação.
  • Art. 17 - O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais Direitos Fundamentais: a privacidade, a preservação do sigilo e o consentimento informado. O “Poder familiar” (antigo Pátrio poder) dos pais ou responsáveis legais não é um direito absoluto.
  • Art. 243 -  Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Recomendações do Ministério da Saúde:
  • Qualquer exigência, como a obrigatoriedade da presença de um responsável para acompanhamento no serviço de saúde, que possa afastar ou impedir o exercício pleno do adolescente de seu direito fundamental à saúde e à liberdade, constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável. Caso a equipe de saúde entenda que o usuário não possui condições de decidir sozinho sobre alguma intervenção em razão de sua complexidade, deve, primeiramente, realizar as intervenções urgentes que se façam necessárias, e, em seguida, abordar o adolescente de forma clara a necessidade de que um responsável o assista e o auxilie no acompanhamento. Havendo resistência fundada e receio que a comunicação ao responsável legal, implique em afastamento do usuário ou dano à sua saúde, se aceite pessoa maior e capaz indicada pelo adolescente para acompanhá-lo e auxiliar a equipe de saúde na condução do caso (MS, 2005:41). 
  • Garantir direitos ao adolescente (menores de 18 anos), nos serviços de saúde, independente da anuência de seus responsáveis, vem se revelando como elemento indispensável para a melhoria da qualidade da prevenção, assistência e promoção de sua saúde (MS, 2005).
  • Situações em que os exames anti-HIV estão indicados para adolescentes: No caso de adolescente, este pode decidir sozinho pela realização do exame, desde que o profissional de saúde avalie que ele é capaz de entender o seu ato e conduzir-se por seus próprios meios (art. 103 do Código de Ética Médica). Ainda assim, nesse caso, o adolescente deverá ser estimulado a compartilhar o que lhe acontece com os seus responsáveis ou com adulto(s) em quem confie e que possa servir-lhe de suporte. Na prática diária dos serviços ambulatoriais, os profissionais de saúde costumam orientar os adolescentes para virem acompanhados de um adulto de sua confiança no dia do resultado do exame. Caso ele deseje, após receber o seu resultado, o profissional de saúde também poderá conversar com esse adulto. Contudo, em face das diversidades de condições de vida às quais estão submetidos muitos jovens, importa destacar que nem sempre os apoios partem de seus responsáveis Legais (MS, 2004:39).
  • Para adolescentes portadores de DST e/ou usuários de drogas injetáveis, ou que tenham práticas de risco para o HIV – com as mesmas recomendações do item anterior. No caso de DST devidas à violência sexual, o registro da violência é obrigatório em alguns estados brasileiros, exigindo uma ação conjunta com o Conselho Tutelar (MS, 2004:39-40). Da mesma forma, o artigo 13 do ECA determina que os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças ou adolescente sejam obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais.
Ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) n° 1.865/96 – Sobre a testagem anti-HIV para menores de 18 anos.
  • .... deverá ser voluntária e consentida pelo menor, sem necessidade de autorização de responsável, desde que aquele tenha capacidade de avaliar seu problema e atuar a respeito. CFM 1665/2003 (adicionalmente). É vedada a realização compulsória de sorologia para HIV.
Código de Ética Médica (CEM):
  • Art. 103 – (É vedado ao médico) Revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-los, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente.  
  • Art. 107 – (É vedado ao médico)Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar para que respeitem o segredo profissional a que estão obrigados.
Código de Ética do Profissional de Enfermagem:
  • Art. 27 - Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu bem-estar.
  • Art. 28 - Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente.
  • Art. 29 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto nos casos previstos em Lei.
Códigos de Ética do Assistente Social
  • Art. 18 - A quebra do sigilo só é admissível, quando se tratar de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade. Parágrafo Único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhecimento.
Código de Ética do Psicólogo
  • Art. 21 O sigilo protegerá o atendimento em tudo aquilo que o Psicólogo ouve, vê ou de que tem conhecimento como decorrência do exercício da atividade profissional.


Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/mulher/aspectos_legais.pdf

21 agosto 2017

O QUE É LIBERDADE?



“Tempos estranhos são esses em que vivemos, quando velhos e jovens são ensinados na escola da falsidade, e o único homem que se atreve a dizer a verdade é chamado de uma só vez um louco e insensato.” 
(Platão)



A Liberdade é uma abstração ambígua e pode significar quase qualquer coisa. Ela é algo que achamos possuir na mesma proporção que nos domina, uma substância escravizadora louvada em livros e nos meios de comunicação, ou um mártir abolicionista impreciso por quem tantos já se sacrificaram – e continuam sacrificando-se.

De acordo com o Aurélio, Liberdade é “o direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem”. Os filósofos, entretanto, abordam o tema por um enfoque mais complexo que o encontrado nos dicionários.

Segundo Kant, enquanto seres humanos, somos tanto parte do mundo Natural quanto do mundo da Razão. Com relação aos nossos impulsos e desejos, estes pertencem à nossa natureza animal; são compreendidos nos termos das necessidades geradas por circunstâncias físicas e nenhum padrão moral se aplica a eles: pouco importa se alguém aprova o fato de você estar com sono ou fome. Grandes frases éticas de efeito não são capazes de alterar esses estados de modo notável. Estamos submetidos às mesmas leis naturais que governam o mundo e não podemos suprimi-las apenas por que as rejeitamos.

Por outro lado, o homem é uma criatura capaz de pensamentos morais e, por meios deles, criamos estatutos arbitrários para nossas vidas. Seja na esfera das leis naturais ou nas leis criadas pelos homens, a Liberdade aparece sempre ornamentada com cerceamentos.

Considerados alguns limites do razoável, existe Liberdade de idéias expressão na maioria dos países do mundo – desde que não sejam expressamente radicais e danosas. Podemos ir aonde queremos – desde que atentos para algumas restrições. Podemos agir como desejamos – mas não de modo completamente impune, especialmente quando nos posicionamos fora da lei. Em outras palavras: a Liberdade é um devaneio fortuito em todos os cantos desse planeta.

POUCO MAIS QUE UMA NOÇÃO INTANGÍVEL

A noção de Liberdade, como vista e vendida pela sociedade pós-moderna capitalista atual, é mais uma emoção vaga que um aspecto real da vida. Por mais que você esperneie dentro de seus conceitos de autonomia e independência, não existe uma Liberdade geral, mas apenas liberdades específicas.

Por exemplo: se o senhor de escravos tem o direito de ter escravos, então os escravos não têm direito de ser livres. Se eles têm o direito de ser livres, então o senhorio não tem o direito de possuí-los.

Se uma mãe tem direito de fazer um aborto, então seu bebê não tem direito à vida. Se ele tem direito à vida, então sua mãe não tem direito de fazer um aborto.

Muito – ou praticamente tudo – que você fala e faz e sente na verdade são manifestações de hábitos socialmente adquiridos. Pare e reflita por um segundo: em que parte da sua vida você age realmente de modo independente e livre?

A atividade humana resulta de impulsos que emergem espontaneamente de dentro de nós como resposta às mudanças nas circunstâncias, que então iniciam um processo de atividade física (na forma de ações) ou mental (na forma de pensamentos).

Se as circunstâncias que encontramos são familiares o suficiente, os impulsos produzem respostas automáticas. Contudo, quando as circunstâncias não são familiares, os impulsos levam à atividade mental; o hábito de pensar tem início, passamos a deliberar sobre qual caminho seguir e, então, agimos. A pergunta é: em ambos os casos, a ação física derradeira é fruto de uma escolha livre ou, no final das contas, ocorre como resultado de condicionamentos prévios?

A emoção da Liberdade jamais é plena, mas uma noção relativa – e aparentemente sempre pré-condicionada. Por isso, todo aquele que tenta proteger-se e justificar suas ações apelando em nome da Liberdade está apoiando-se em um discurso de limites vazios – e é terrivelmente simples estabelecer uma tirania a partir destes conceitos. Os heróis da independência de um povo nunca lutaram pela Liberdade desse povo, mas apenas pela troca de Controladores.

LIBERDADE INDIVIDUAL E LIBERDADE SOCIAL

Individualmente, a Liberdade possui um sentido diferente de seu significado social. No nível pessoal, Liberdade tem a ver com fazer o que você gostaria de fazer. Socialmente, Liberdade tem a ver com autorizar que as pessoas façam o que gostariam de fazer.

Poderíamos nos referir à Liberdade Individual como a capacidade de uma pessoa em tomar todas as decisões sobre sua vida, propriedades e propósitos sem qualquer interferência de terceiros. “Faço o que eu quero e não obedeço a ninguém”. Este tipo de Liberdade é concebível, mas inalcançável: você tem Liberdade para viajar, para expressar suas opiniões e viver sua vida da maneira como preferir, desde que se mantenha dentro da legislação local. Fora desse cercado, a sociedade irá cobrar o preço.

Também poderíamos conceituar Liberdade Individual como estar livre dos corolários de suas escolhas. “Faço como eu quero e não presto contas a ninguém”. Mas suas escolhas produzem consequências, sejam elas desejáveis ou não, o que torna esta convicção uma falácia ingênua – e, novamente, passível de sanções pela comunidade.

A maioria dos libertários acredita que a Liberdade individual requer a ausência completa de restrições, mas todas as sociedades, por mais livres que sejam, possuem leis, normas e preceitos para assegurar que a liberdade de um ser humano não implique na coibição da liberdade de outro ser humano.

Uma sociedade sem qualquer limite resultaria em nenhuma Liberdade para todos dentro dela. Sem leis e certas expectativas de adequação social, e sem lideranças firmes (Controladores) para impô-las, a sociedade não existiria. Seríamos uma massa caótica de predadores carnívoros devorando-nos uns aos outros. Ou pelo menos assim me disseram.

Mas é fato que sua Liberdade – Individual e Social - é ditada por aqueles que lhe controlam, sejam “eles” seus pais, o Governo, o Estado, a bateria do seu celular, sua conta de energia elétrica ou o banheiro mais próximo. Qualquer pessoa trabalhando em uma empresa ou morando em um prédio deve ater-se a um conjunto de regras e procedimentos. Pessoas em relacionamentos – sejam eles românticos ou de amizades, ou apenas interações familiares – devem se comportar de uma determinada maneira, ou sofrerão isolamento social.

Os Controladores de sua Liberdade podem ser questionados, debatidos ou repudiados, mas jamais poderão ser evitados. Lutar para furtar-se deles é inútil. Quanto mais cedo você compreender e aceitar esta conjuntura, mais proveitosa será a serventia de seu Tempo.

AUMENTANDO SUA LIBERDADE

O problema com a Liberdade está no fato dela não ser algo de evolução natural: ela é uma noção artificial patrocinada pelas vontades e ações daqueles que controlam o poder. Mesmo nas sociedades e nos relacionamentos “democráticos”, os mecanismos Controladores encontram uma maneira para impor suas vontades e seus pontos de vista, em geral sob o discurso de estarem agindo “em nome de um bem maior”.

Você pode ter crescido em um lar ou nação que outras pessoas considerariam um ambiente opressor, mas como você nunca conheceu outro estilo de vida, aquele estilo pode lhe parecer livre o suficiente. Todos vivemos em “sistemas” que influenciam o que fazemos e o que não fazemos, e existimos sob a égide de escolhas permitidas.

Ninguém é Livre no conceito puro e irrestrito de Liberdade: a Liberdade, derradeiramente, deriva de percepções subjetivas. E justamente por ser um desenvolvimento íntimo no caráter de cada um de nós, a consciência de Liberdade pode ser ampliada. Como? Com Educação.

Apenas a Educação, por meio do estudo da Razão e do emprego corajoso da Filosofia, é capaz de aumentar suas possibilidades de escolhas lúcidas e criar algum sopro de Liberdade verdadeira fora da prisão de seus condicionamentos precedentes. 

Se quiser investir em Liberdade, invista em seus aprendizados. Estude, leia muito e reflita bastante. Qualquer outro caminho além desse é puro delírio com grades douradas.

17 agosto 2017

SOBRE SAÚDE E CONTAS QUE JAMAIS IRÃO FECHAR

Temos no Brasil um sistema de saúde com pretensões de oferecer um serviço de nível Canadense ou Australiano, com cobertura universal e amplo acesso.

A OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico -, criada em 1960, possui um banco de dados abrangente, confiável e atualizado reunindo informações de 34 nações. Caso pertencesse à OCDE, o Brasil seria o antepenúltimo nos investimentos públicos em saúde, superando apenas Chile e México. Nos gastos per capita, só ficaria acima da Turquia.

Os investimentos públicos em saúde em nosso país representam 3,6% do PIB, contra 5,9% na Austrália, 7,2% no Canadá, 8,6% da França e incríveis 9,7% na Holanda. Até os EUA, que nem possuem um sistema propriamente público, gastam mais: o Estado americano dedica 7,9% do PIB em investimentos em saúde.

Junte-se a isso o fato de que Austrália,Canadá, França e Holanda possuem todos taxas de analfabetismo iguais ou inferiores a 1%, enquanto que a taxa de brasileiros considerados analfabetos funcionais é de 17,1%, chegando a 26,6% na região Nordeste e alcançando 20% de analfabetismo pleno entre as pessoas com 60 anos de idade ou mais.

Em resumo: em comparação aos países nos quais nos inspiramos para construir nosso sistema de saúde, investimos MENOS dinheiro para um público MAIS incapaz - mais incapaz de ler, mais incapaz de processar criticamente informações, mais incapaz de agregar conhecimento científico e, consequentemente, mais incapaz de compreender suas próprias responsabilidades.

Agora me diz: você acha mesmo que nossas políticas públicas de saúde - confortavelmente assentadas em eternas práticas numéricas de assistencialismo burocrático, populista, contraproducente e ineficaz - algum dia irão produzir avanço, prosperidade, ordem ou progresso nessa república tupiniquim?

13 agosto 2017

LEVE SUA VIDA COMO UM ARTESÃO

No excelente livro The Carpenter, o autor John Gordon escreve: "Enquanto a maioria das pessoas aborda seu trabalho com a intenção de terminá-lo, um Artesão age mais preocupado com O QUÊ está criando do que com a velocidade com que irá finalizar a tarefa".
"Um Artesão", Gordon prossegue, "preenche sua mente com o empenho para mostrar o melhor de si. Quando se tem esse nível de atenção, você se destaca, pois este é um mundo de desatentos. É a Atenção, e não a rapidez, que derradeiramente leva ao sucesso".
Alguém que cuida diligentemente do que vê, diz e faz é alguém destinado a expressar características de qualidade. Pode-se dizer então que Atenção e Qualidade sâo, respectivamente, aspectos internos e externos da mesma "coisa", do mesmo segredo por trás do sucesso de um Artesão.
Mas o que seria esse segredo, essa "coisa"? A resposta é facil: Amor.
O Artesão trabalha com Amor. Existe paixão em sua atividade, um cuidado silencioso e concentrado, um deslumbramento quase místico no modo como ele trabalha. O Artesão encontra-se tão completamente presente quando atua que ele e sua arte tornam-se um só.
O valor de agir em sua vida como um Artesão vai bem além de fazer um bom trabalho. Uma vez que a intenção final de cada um de nós é levar uma vida incrível, a melhor maneira para atingir este objetivo consiste em postar-se plena e intimamente envolvido com cada etapa do processo de Viver.
O que quer que você esteja fazendo agora e vá fazer daqui em diante, certifique-se de fazê-lo como um Artesão. Comprometa-se com a Atenção e a Qualidade. E viva com Amor. Sempre.


11 agosto 2017

RELAÇÕES INTERPESSOAIS E LONGEVIDADE


Você sabia que o modo como você se relaciona com outras pessoas pode incrementar sua longevidade?

No livro Safe People (Relacionamentos Saudáveis, título brasileiro), os psicólogos Henry Cloud e John Townsend comentam sobre os resultados da investigação de uma cidade americana que possuía um dos maiores índices de longevidade dos EUA: nos anos 1960, a cidade de Roseto (Pensilvânia) apresentava uma incidência de mortes por eventos cardíacos METADE abaixo a incidência média do restante dos EUA.

Por mais de cinquenta anos, este fenômeno, conhecido como “Efeito Roseto”, foi investigado de todas as formas possíveis, com conclusões sempre similares. Excluídas as variáveis pertinentes e realizadas as análises estatísticas devidas, o motivo pelo qual a população da cidade de Roseto exibia uma saúde tão incrível mostrou ser bem simples: elas viviam relacionamentos profundos e duradouros.

Nós nascemos para nos relacionarmos uns com os outros. Fomos criados para isso. Quando alguém está em seu leito de morte, raramente pede que coloquem dinheiro ou prêmios ou títulos à sua volta. Alguém que está morrendo deseja nada disso, mas apenas seus entes queridos por perto.

Infelizmente, nos dias atuais, a noção de “entes queridos” está turva. A tecnologia e as mídias sociais nos enganam com a percepção de que estamos vivendo relacionamentos interpessoais profundos com dezenas – às vezes centenas ou milhares – de pessoas, quando na verdade não estamos.

De repente você chega em casa e navega no seu Facebook ou Whastapp ou Instagram por 20, 30 ou 40 minutos, e quando coloca o celular de lado (quando coloca...) fica com aquela sensação de que passou algum tempo com algumas pessoas. Mas não passou. Talvez, para aquela meia dúzia minguada de pessoas cujos posts você comentou – e que lhe responderam -, você tenha participado de uma forma de interação. Para o restante delas, e para o restante esmagador do seu tempo, tudo que você fez foi abraçar uma frágil e falsa noção de amizade.

Uma vez que as amizades são tão importantes para o seu bem estar, é essencial saber como cultivá-las e aprofundá-las.

Se você deseja fazer amigos ou levar suas amizades atuais para um próximo nível, sugiro que analise os passos a seguir:

1. VÁ EM BUSCA. Quanto mais você buscar amigos, mais encontrará. Porque a imensa maioria das pessoas está querendo o mesmo que você. Nascemos para fazermos amizades, lembra-se? A procura por relacionamentos interpessoais significativos está embutida no seu código genético após dezenas de milhares de anos de seleção natural. Então comente posts, envie mensagens de texto ou voz, faça uma ligação pelo celular. Isso não substitui a interação ao vivo e em cores, mas é um primeiro passo. Seja a pessoa que toma a iniciativa de fazer o contato e agende um encontro, um programa, um cinema, um chope, uma caminhada, um por do sol na praia. Se a sua atitude for rejeitada, tudo bem. Você não pode forçar quem não quer a deixar o casulo. Sacuda a poeira e vá em busca da próxima amizade.

2. SEJA UM ESPECIALISTA EM CONVERSAÇÃO. Os americanos, que amam um protocolo, desenvolveram um método para iniciar um bate papo amigável com qualquer pessoa. O método, que atende pelo acrônimo FORD, recomenda que você comece a conversa abordando qualquer um destes tópicos: Família, Ocupação, Recreação ou Desejos. Por exemplo:
·         Família: você tem filhos? Eles moram com você? Você tem familiares na cidade?
·         Ocupação: com que você trabalha? Se você não gosta do seu trabalho, o que gostaria de fazer para ganhar a vida?
·         Recreação: o que gosta de fazer nas suas horas vagas? Você tem algum hobbie?
·         Desejos: qual a sua viagem dos sonhos? O que você espera da sua vida?

À medida que for obtendo as respostas, repita a informação que recebeu para certificar-se de que entendeu direito, e então aprofunde-se no tema, adicionando perguntas pertinentes ao contexto que está sendo conversado. Esse jogo de “toma lá / dá cá”, rápido e fácil, mostrará que você está realmente ouvindo e se interessa pelo que está sendo dito.

3. APAREÇA. Quando algum amigo lhe convidar para algum evento, festa, reunião, chope, pizza, café ou bate papo, não responda “talvez” ou “quem sabe” ou “vou ver”. Apenas vá. Apareça. Não seja a pessoa que os outros sempre convidam e que nunca aparece – porque assim, mais cedo do que tarde, você terminará sendo a pessoa que quer aparecer, mas que ninguém nunca convida. Obviamente, você não precisa dizer “sim” para todo e qualquer convite: se não puder ir por falta de interesse, simplesmente diga que não pode, desde o princípio. Se não puder ir por algum aperto na sua agenda, diga que não poderá comparecer, mas ofereça na mesma hora uma contrapartida – “nessa quinta feira não vou poder ir, já estou preso em um compromisso, mas que tal então um chope no bar XYZ na sexta, às 20h?”.

4. EXPONHA-SE. Expor suas vulnerabilidades pode levar a amizades bastante profundas, mas também pode assustar caso seja algo feito cedo ou rápido demais. Quando o momento for oportuno, e se você decidir dar um passo além na construção daquele vínculo, compartilhe um perrengue seu. Comente sobre suas feridas, seus medos, suas lágrimas e seus risos. Compartilhe conversando sobre algo que lhe fez profundamente feliz, ou um sonho ou uma conquista importante para você. Se a amizade estiver no ponto, e se a pessoa for de valor, ela também irá expor-se para você. Se isto não acontecer, então aquele laço de confiança não estava pronto como você julgou – ou talvez seja hora de ir buscar novas amizades.

5. DIGA A VERDADE. Na maioria das vezes, as pessoas preferem ser educadas a ser verdadeiras. Se a sua intenção é fazer amizades de qualidade, você precisa largar suas máscaras e agir e falar de modo honesto. As máscaras (ou “personas”) são ferramentas eficientes e produtivas na sociedade; são elas que permitem que freqüentemos ambientes públicos, áreas de trabalho e instituições de ensino. Sem máscaras, a vida em sociedade seria impossível. Todavia, você pode ser você mesmo, falar a verdade e ser educado ao mesmo tempo. Ser educado não significa agradar a todos ao seu redor, mas ser respeitoso ao manifestar suas verdades. É melhor ter alguns poucos amigos verdadeiros que aceitam quem você é do que viver cercado de uma multidão interessada em interagir apenas com uma máscara de alguém que você nunca foi.