05 agosto 2014

ALIMENTOS ORGÂNICOS

© Dr. Alessandro Loiola

No auge do verão e das epidemias de diarréia que entopem os pronto-atendimentos, não faltam reportagens sobre alimentos saudáveis e orientações sobre cuidados com a alimentação.

Em meio a essa avalanche de comida, vem uma onda de produtos com rótulos animados e coloridos trazendo o emblema “natural” e “orgânico”. Cereais e frutas naturais, carnes e laticínios orgânicos... Valha-me santa revolução agrícola, mas como um alimento pode não ser natural ou orgânico? 

Pode me chamar de pirracento (muito provavelmente eu sou mesmo), mas tudo que você ingere vem da natureza. Até coisas tão artificiais como o alumínio, o papel celofane e os seios de silicone podem ser consideradas consequências da natureza. A bem da verdade, não sei se lhe informaram, mas você veio da natureza e continuará vivendo imerso nela até o dia em que seus dias terminarem e você virar um tipo de vertebrado gasoso. Pelo menos é o que dizem algumas religiões.

O termo “orgânico” foi utilizado pela primeira vez em 1939 pelo Barão de Northbourne, agricultor inglês famoso por uma abordagem mais ecologicamente correta para a produção de alimentos. Desde então, os critérios utilizados para classificar um alimento como “orgânico” vem variando de um país para outro.

Os ortodoxos consideram alimentos orgânicos aqueles cultivados sem qualquer contato com pesticidas, inseticidas, herbicidas ou outros tipos de venenos artificiais. Um tomate colhido por sua sogra poderia perder a classificação de orgânico, por exemplo. Mas os alimentos orgânicos podem ser cultivados utilizando-se fertilizantes não-orgânicos - o capitalismo sempre encontra um jeito de enfiar o dedo na pureza dos conceitos.

No caso de aves, a criação deve ser feita sem o uso rotineiro de antibióticos ou hormônios. Animais produzidos de modo “orgânico” devem ser acomodados em condições que lembrem seus habitats naturais: vacas, ovelhas e outros ruminantes devem ter livre acesso ao pasto.

Vacinas são permitidas e os parasitas devem ser controlados através de medidas preventivas, incluindo dietas balanceadas e boas condições sanitárias. Arrancar diariamente os carrapatos da mimosa utilizando os próprios dentes também vale como modo orgânico natural, mas cuidadores com rotes e próteses odontológicas devem ser mantidos distantes dos fiscais. Só por garantia.

A forma como os alimentos orgânicos (fala sério, não vou dizer “alimento natural” nem que me paguem o dobro) são produzidos resultam em vários benefícios. As fazendas orgânicas não consomem ou liberam pesticidas sintéticos no meio-ambiente, além de serem mais eficientes na sustentação de ecossistemas diversos. Fazendo-se um cálculo de produtividade por unidade plantada, estas fazendas de fato utilizam menos energia e produzem menos lixo.

Alguns estudos mostram que vegetais e frutas produzidos de modo orgânico são mais ricos em nutrientes que alimentos produzidos de modo não-orgânico, chegando a apresentar uma concentração 40% de antioxidantes naturais quando comparados aos seus equivalentes convencionais.

Em contrapartida, uma pesquisa realizado na Austrália em 2004 descobriu que os alimentos orgânicos vendidos em supermercados chegavam a custar 65% mais que seus equivalentes não-orgânicos. Os preços podem ser maiores uma vez que os produtos orgânicos são produzidos em menor escala e, em muitos casos, de modo semi-artesanal.

Orgânico ou não-orgânico, natural ou não-natural, o essencial é escolher seus alimentos de modo equilibrado. Eles constituirão seu corpo futuro, então vá com calma com o que você anda colocando para dentro. Sempre que possível, prefira frutas, legumes e verduras de origem minimamente confiável. Lave bem as mãos e os alimentos antes de consumi-los.

Até onde estudei, higiene e ponderação raramente foram responsáveis por grandes desconfortos digestivos. Tempere seus lanches de verão com doses generosas de ambos.

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