Mas nada se constrói do dia para a noite em um país de dimensões planetárias como o nosso. É preciso esforço, paciência, perseverança, profissionalismo, planejamento, raciocínio, comprometimento pessoal e – acima de tudo – tempo. Um navio não faz curvas bruscas, e uma nação do tamanho do Brasil não é dirigida de modo diferente. Nossas mudanças ocorrem, mas são lentas: temos uma população de 20 “Portugais” distribuída em uma área maior que 200 Holandas. A massa a ser redirecionada é simplesmente gigantesca demais.
Seguindo o planejamento estratégico do SUS, em 1994 o Governo Federal implantou mais um tijolo à sua empreitada da saúde pública: em um movimento de acordo com o bom senso médico nos países com as melhores práticas de saúde do mundo, foi criado o Programa de Saúde da Família, logo rebatizado de Estratégia de Saúde da Família (ESF).
A medicina ocidental tornou-se um pequeno monstro sádico. A prioridade de criar doenças, máquinas para descobri-las e procedimentos para curá-las passou a gerar dinheiro demais, e desvirtuou o conceito de saúde. Saúde deixou de ser uma sensação de bem estar e plenitude e passou a ser a ausência de doenças. Mas ninguém NUNCA está sem doença alguma. Vivemos todos em um rodízio sem fim de alergias, urticárias, rinites, angústias, resfriados, tristezas, cefaleia, sobrepeso, palpitações, cólicas menstruais, torções, insônia, dores musculares e uma infinidade de outros sintomas e transtornos - que passaram a ser escrutinados com exames cada vez mais caros e tratamentos ainda mais dispendiosos.
Será tudo isso realmente necessário?
O esforço para implantar a ESF veio para mostrar uma via alternativa de assistência à saúde. Mais humanizada, prática, mais racional, porém mais próxima do próximo. A bem da verdade, e a despeito do que os apóstolos da medicina baseada em procedimentos possam ter profetizado em seu infinito catecismo junto às legiões que exigem cuidados especializados desnecessários, são precisos poucos recursos para aliviar o sofrimento da maioria das pessoas que buscam assistência: cerca de 85% dos problemas podem ser resolvidos no nível das Unidades Básicas de Saúde.
Mesmo as consultas especializadas deveriam fazer parte de um armário de recursos à disposição do Generalista, que acompanharia seu paciente nas idas e vindas nos diferentes especialistas, ao invés de se tornarem um refúgio para onde encaminhamos o que não sabemos (ou não queremos) tratar.
Para alguém profundamente apaixonado por Medicina, a Estratégia de Saúde da Família é um sopro bem-vindo, com seus conceitos de Integralidade e Resolutividade, ideias e metas razoáveis, boas ferramentas e uso judicioso de recursos.
Nada é perfeito, e temos um sistema de saúde à semelhança do povo que o faz e usa. Entretanto, como bem disse Gandhi: devemos nos tornar o mundo que queremos. Cabe a cada um de nós fazer sua parte mais que o melhor possível. Bora lá!
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