10 novembro 2014

Outubros são rosas?

© Alessandro Loiola

Depois de estudos e pesquisas e reuniões de grupos de especialistas e mesas redondas com desfiles de MsScs e PhDs e outros egos, vários governos – e o nosso incluído - concluíram que mamografias são úteis para evitar câncer na mama. E milhões de milhões de impostos passaram a ser investidos anualmente nessas campanhas.

Entretanto, o debate sobre a verdadeira utilidade das mamografias está longe de uma conclusão sumária. Inúmeros estudos (e foram muitos mesmo, pesquise e você verá) vêm mostrando que as mamografias anuais ou bienais não produzem qualquer benefício com relação ao Câncer na Mama – nem previnem, nem ajudam, nem melhoram o prognóstico. Na verdade, as mamografias só parecem produzir mais problemas.

Em um dos maiores e mais meticulosos estudos sobre mamografias, 90.000 mulheres canadenses foram acompanhadas por 25 anos e descobriu-se que os números de mortes por câncer na mama era o mesmo entre as mulheres que haviam feito mamografias em comparação àquelas que não haviam feito o exame.

Mas os exames preventivos cobraram seu preço: 1 de cada 5 tumores encontrados e tratados não representava risco para a vida daquela paciente, significando que elas receberam quimioterapia, cirurgia e / ou radioterapia sem necessidade.

A pesquisa foi publicada na edição de novembro (2014) do British Medical Journal:



Apesar das dúvidas, nenhuma nação teve ainda a coragem de suspender as mamografias periódicas. Nenhuma com exceção talvez da Suíça. Nos EUA, são realizados cerca de 37 milhões de exames anualmente, atingido ¾ das mulheres com 40 anos de idade ou mais. O custo? A bagatela 100 dólares por mamografia – agora multiplica isso por 37 milhões e me conta se esse dinheiro cabe na sua carteira. Mais de 90% das mulheres europeias com idade entre 50 e 69 anos de idade já realizaram pelo menos 1 mamografia em suas vidas. 
 
O fato é que a indicação de mamografia deveria ser discutida paciente por paciente, e não empurrada goela abaixo em escala populacional. O exame não reduz a mortalidade específica associada ao câncer na mama e não se mostrou superior ao velho exame físico de palpação.   
 
A política da mamografia precisa urgentemente ser revista. Os outubros não são rosas – mas deveriam ser.