18 abril 2017

VOCÊ ACREDITA EM MEDICINA ALTERNATIVA?



A Medicina Baseada em Evidências (MBE) aplica o método científico à prática médica, permitindo que os profissionais de saúde tomem suas decisões de forma consciente, explícita e judiciosa, com base nas melhores evidências atuais disponíveis.

Apesar dos defensores da medicina alternativa reconhecerem que o efeito placebo pode ter um papel nos benefícios que algumas terapias produzem, eles também salientam que este “detalhe” não diminui a validade dessas abordagens. Os praticantes acreditam que a medicina alternativa pode oferecer ganhos no sentido de permitir um “empoderamento” dos pacientes, ampliando as possibilidades de escolha do público. Contudo, os pesquisadores que avaliam as abordagens alternativas utilizando métodos científicos preocupam-se com este ponto de vista, uma vez que ele é incapaz de avaliar a possível ineficácia dos tratamentos alternativos.

Desde que os tratamentos alternativos sejam utilizados concomitantemente aos tratamentos convencionais, a maioria dos médicos enxerga a medicina complementar como um recurso aceitável. O risco da medicina alternativa interferir com a medicina convencional é minimizado quando a prática alternativa é acionada apenas após exaustão dos recursos terapêuticos convencionais. Muitos pacientes sentem que a medicina alternativa é útil para lidar com doenças crônicas para as quais a medicina convencional oferece apenas um suporte, mas nenhuma possibilidade de cura.

Uma vez que muitos tratamentos alternativos alcançaram a prática médica, precisamos determinar uma coisa: não podem existir DUAS formas de medicina – uma convencional e outra alternativa. Deve existir apenas UMA forma de medicina: aquela que foi adequadamente testada e que funciona. Uma medicina que não foi submetida a testes, que se recusa a ser escrutinada pelo método científico e aceitar suas conclusões, ou que não provou irrefutavelmente sua eficácia, não deve ser chamada de medicina, ela não merece o rótulo de Ciência, mas de curandeirismo.

Uma vez que um determinado tratamento foi rigorosamente testado, não interessa mais se ele era considerado alternativo ou não: se ele se mostrou razoavelmente seguro e eficaz, terá sua validação científica e poderá ser considerado uma prática ética.

Por este motivo, muitos dizem que não existe “medicina alternativa”. Existe apenas uma medicina, aquela cientificamente comprovada, apoiada por evidências sólidas. Não interessa se um determinado recurso é Ocidental ou Oriental, se é convencional ou alternativo, se envolve técnicas de mente-corpo ou genética molecular. Estes aspectos em si são irrelevantes, exceto por propósitos históricos ou curiosidades culturais. Como um fiel defensor da ciência e das evidências, acredito que devemos focar no que é realmente importante: o paciente, a doença, o tratamento proposto, e os dados sobre segurança e eficácia da abordagem escolhida.

Não interessa se uma conduta é convencional ou alternativa: o que interessa é se ela está à altura dos padrões exigidos pelo método científico. Se estiver, esta conduta será muito bem vinda. Se não estiver, ela deve ser debatida com extrema cautela. Se provar ser maléfica, deverá ser sumariamente eliminada do rol de recursos terapêuticos.

Muitas formas de medicina alternativa são rejeitadas pela medicina convencional, pois a eficácia desses tratamentos não pode ser demonstrada por meio de estudos clínicos controlados, randomizados e duplo-cego. Em contrapartida, os medicamentos convencionais que chegam ao mercado só obtém seu registro e liberação para venda após terem sido submetidos a estes testes, comprovando sua eficácia.

O alívio sintomático produzido por uma determinada abordagem alternativa pode decorrer do efeito placebo, ou da recuperação natural do organismo, ou da natureza cíclica natural da própria doença (regressão espontânea), ou do fato de que aquela pessoa jamais esteve verdadeiramente doente. Os defensores da medicina alternativa dizem que esses raciocínios também podem ser aplicados aos casos onde a medicina convencional foi utilizada. Todavia, os críticos das práticas alternativas observam que esses raciocínios não respondem pela eficácia das práticas convencionais validadas quando submetidas a testes clínicos duplo-cego.

Contra fatos não há argumentos – e a MBE respalda-se em fatos, em estudos clínicos bem desenhados, em revisões sistemáticas e meta-análises criteriosas – e não em pressupostos, crenças, doutrinas ou provas testemunhais isoladas.

As pessoas devem ser livres para escolher qualquer tratamento que lhes apetecer, mas elas DEVEM ser expressamente informadas quanto à segurança e eficácia de suas escolhas. Aquelas que optam por recursos alternativos podem achar que estão optando por uma forma segura e eficaz de medicina, quando na verdade estão recebendo apenas remédios de curandeiro.

Algumas pessoas que obtiveram sucesso ao tratar um problema de menor importância utilizando recursos alternativos podem se convencer dessa eficácia e extrapolar a expectativa de sucesso, utilizando mais recursos alternativos, desta vez para resolver doenças mais sérias, muitas vezes potencialmente letais.

Exatamente por este motivo, as terapias que se baseiam apenas no efeito placebo para definir seu sucesso são perigosas: abordagens terapêuticas que não possuem o suporte de evidências científicas podem levar alguns indivíduos a menosprezar os tratamentos convencionais sabidamente eficazes.

A oportunidade de uma abordagem alternativa pode resultar em um custo extra para a abordagem convencional: o sujeito pode investir grandes somas de tempo e dinheiro em tratamento ineficazes, apenas para mais tarde flagrar-se sem ambos (dinheiro e tempo) e fora da janela de oportunidade para empregar um tratamento validado pela MBE.

Deveríamos nos preocupar em adicionar mais e melhores pesquisas para provar a eficácia das terapias complementares antes de incorporá-las formalmente à prática médica – mas infelizmente, não é isto que vem ocorrendo.

Deveríamos buscar evidências clínicas e biológicas suficientemente plausíveis para justificar o investimento de tempo e energia na exploração dos méritos da medicina alternativa – mas infelizmente, também não é isto que vem ocorrendo.

Para a medicina tradicional, a vida humana é considerada preciosa, e NENHUM risco se justifica quando se coloca na balança a chance de prejudicar a saúde de um indivíduo. Se este é também o mantra das terapias alternativas, elas deveriam se submeter ao escrutínio de estudos clínicos bem desenhados.

Se as terapias alternativas funcionam, elas deveriam aceitar e desejar essa validação. Mas você sabe de alguém disposto a testar sua fé por meio do método científico?


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