24 abril 2007

ABSTINÊNCIA SEXUAL

© Dr. Alessandro Loiola


Passo metade do dia atendendo pacientes, metade do dia escrevendo e metade do dia atendendo pacientes. Quer dizer, uma matemática simples irá mostrar que estão faltando 12h no meu dia.

Antes que passe pela sua cabeça que esse workaholismo todo foi o que motivou o título da crônica de hoje, bom, vá com calma. Deixe-me pelo menos apresentar as preliminares.

Noite dessas, entre um atendimento de emergência e o seguinte, pintou o assunto “sexo”. Sabe como é: sobre o quê um bando de pessoas de plantão pode conversar, às 2:35 da madrugada, para ficar 100% acordado e alerta enquanto a próxima urgência anunciada não chega? Sexo.

A discussão daquela noite surgiu quando uma das enfermeiras relatou para um pequeno grupo uma conversa que havia tido com a mãe. Em um acesso de sinceridade, ela se queixou que há muitos e muitos anos não “aprontava mais nada”. A filha ficou horrorizada. Afinal de contas, é de se esperar que “viúvas de respeito não pensem mais nessas coisas, né doutor?”.

O vigia ao lado de uma maca completou: “depois de uma determinada idade, a gente tem que desistir de certas coisas. É a vida!”.

Tentei argumentar, em vão. Era aquela história: você está completamente certo enquanto estiver concordando comigo. E minha opinião sobre o assunto não parecia concordar em coisa alguma com as idéias que a enfermeira fazia para a vida sexual da mãe, ou as previsões do vigia para o seu próprio e sombrio futuro na cama.

Infelizmente, as pessoas ainda preferem o apego estável dos velhos conceitos ao velório temporário da certeza. Um dos melhores exemplos disso é a noção geral de que o termo “velhice” seja algum tipo de sinônimo para “assexuado”.

A sexualidade não está relacionada à sua capacidade reprodutora ou status marital: ela lhe acompanhará por muitos anos, mesmo quando você não for mais capaz de ter filhos ou estiver viúvo ou viúva. Na Terceira Idade, a maioria das pessoas deseja e continua a ter uma vida sexual ativa e prazerosa. Quando isto não é possível, resigna-se na tangente da abstinência.

Mas até que ponto a abstinência sexual (voluntária ou não) pode fazer mal?

Considere o seguinte: seu corpo é constituído por 5 sistemas - cardiovascular, respiratório, digestivo, urinário e genital. Se, até a hora de morrer, você continuará a ter batimentos cardíacos e movimentos respiratórios, digerindo sua comida e produzindo excretas, porque então deveria abrir mão da função do aparelho genital?

Que me critiquem os puritanos: tenho a consciência tranqüila, não inventei o sexo, sou um mero usuário. Aqueles que tiverem reclamações, que as façam diretamente junto ao Fabricante.

O que se sabe, cientificamente, é que breves períodos de abstinência sexual nos homens resultam em aumento no volume e na potência do sêmen: três dias de abstinência completa são capazes de dobrar o volume do esperma, mas este efeito diminui e até mesmo se inverte após 7-10 dias.

Nas mulheres, a abstinência sexual prolongada pode resultar em ressecamento e perda da elasticidade dos tecidos vaginais. Se a abstinência durar vários anos, o fechamento do canal vaginal pode chegar a um ponto em que a relação sexual se torna praticamente impossível.

Apesar das alterações anatômicas e fisiológicas, o problema maior da Abstinência Sexual está na medida em que isso significa abster-se de um contato mais íntimo com outra pessoa. Este isolamento forçado, além de ser contra a nossa própria natureza humana (quem é uma ilha?), pode resultar em graves conseqüências psíquicas, como baixa auto-estima, melancolia e depressão de difícil tratamento.

O segredo da satisfação (sexual inclusive) estará sempre em algum ponto entre ter demais e não ter coisa alguma - a vida, assim como a felicidade, exige equilíbrio, não extremos.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

17 abril 2007

POR QUE AS DIETAS NÃO FUNCIONAM?

© Dr. Alessandro Loiola

Não sou uma pessoa de muitas manias, mas admito: sou viciado em ler. Leio de tudo. Desde livros com mais de 4 Kg de peso e jornais com nomes tão esquisitos quanto Ned Tijdschr Tandheelkd, até revistas em quadrinhos e embalagens de biscoito.

Com o início da Internet, descobri um novo fornecedor gratuito e inesgotável para o meu vício: as listas de e-mails. Participo de dezenas delas, recebendo toneladas de artigos e textos todos os dias, alguns bizarros, outros bastante úteis.

Um dos mais recentes, da revista eletrônica Doctor’s Guide, informava que jamais na história os Americanos fizeram tanta dieta: nada menos que 24% dos homens e 40% das mulheres atualmente estão fazendo algum tipo de dieta para emagrecer. A psicose anti-gordura nos Estados Unidos atingiu níveis tão astronômicos que a indústria do emagrecimento já movimenta mais de 50 bilhões de dólares a cada ano naquele país.

A parte curiosa do fato é: observe os documentários ou imagens que mostram as grandes cidades dos EUA. Não se fixe no apresentador (que quase sempre é magro e tem dentes perfeitos). Preste atenção nas pessoas que passam ao fundo. Você verá que 1 de cada 3 americanos está beeem acima do peso! No Brasil, mais de 70 milhões de pessoas possuem gordurinhas em excesso e cerca de 1 em cada 10 são consideradas obesas.

Mas ora, com tanta gente obcecada por regimes e pela boa forma, porque as dietas não funcionam?

Inicialmente, você deve entender que as dietas contribuem para a Obesidade, ao invés de combatê-la. Mais de 50% dos pacientes em tratamento para distúrbios alimentares afirmam que o problema foi precipitado por uma dieta muito prolongada. Ademais, está comprovado estatisticamente que as dietas só funcionam de verdade em 5-10% dos casos.

A imensa maioria das pessoas que fizeram regime recupera o peso perdido nos 5 anos seguintes – muitas vezes, com uma boa margem de lucro. Os cientistas acreditam que a explicação para este fato está na atividade de uma enzima chamada Lipase Lipoprotéica, envolvida na formação dos depósitos de gordura. Quando a dieta é interrompida, a Lipase volta a atuar com tanta vontade que, em pouco tempo, seu corpo terá mais gordura que antes da dieta.

Uma dieta muito severa também pode resultar em danos psicológicos e alterações orgânicas potencialmente graves, incluindo depressão, distúrbios da ansiedade, desânimo, anemia, diminuição da capacidade de defesa do organismo, desnutrição e osteoporose, entre outros.

Na base do raciocínio, está a conclusão que as dietas não são bem sucedidas em manter a perda de peso no longo prazo porque atuam na conseqüência do problema (obesidade), e não na sua causa (maus hábitos alimentares). Se você deseja recuperar a boa forma e mantê-la por um tempo indefinido, então você não precisa de dieta. Precisa de Reeducação Alimentar.

De acordo com os especialistas, o termo Reeducação Alimentar se refere à adoção de um padrão alimentar e comportamentos mais saudáveis (p.ex.: prática regular de exercícios), promovendo o bem estar geral do organismo. Este é o segredo para manter-se dentro do peso ideal.

Fazer a dieta da Lua, do Yin-Yang, do abacaxi ou do raio-que-o-parta não irá colocar você no caminho correto. Será apenas mais uma forma de enrolar antes de tomar a decisão mais acertada: procurar seu médico ou nutricionista e fazer um plano definitivo para vencer o vício da comida. Quem sabe, começar trocando-o pelo vício da leitura já seja um bom começo.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

06 abril 2007

A CIÊNCIA DOS OVOS DE PÁSCOA

© Dr. Alessandro Loiola



Durante a época de Páscoa, além da comemoração da Passagem e da Fertilidade e de toda aquela história que aprendemos na escola durante as aulas de Educação Religiosa, também celebra-se o consumismo em cada canto dos supermercados e shoppings com os famigerados ovos de chocolate.

Além de área de nidificação do Coelhinho da Páscoa, as prateleiras destes locais se transformam em centro de peregrinação de outra espécie interessante: com sorrisos de alivio estampados no rosto, os chocólatras de plantão finalmente podem circular impunes pela rua, livres de olhares condenadores. Afinal, todo mundo se torna um chocólatra em potencial no mês do coelhinho...

Acredita-se que os Astecas tenham sido primeiros chocólatras da história. Foram eles que inventaram o “chocolatl”, uma infusão com sementes de cacau que – segundo acreditavam – possuía poderes afrodisíacos. Diz-se que seu imperador, Montezuma, chegava a beber mais de 50 porções de chocolatl por dia – e outras doses extras antes de entrar em seu harém.

Os Astecas podiam até estar errados, mas não custa nada adicionar uma barrinha de chocolate à sua noitada. Só por precaução, sabe como é. E garanto que irá chamar menos atenção que aquela pílula azul.

O chocolate começou a ganhar a Europa em 1528, quando o famoso conquistador Cortez presenteou o Rei Carlos V com algumas sementes de cacau. A partir daí, o chocolate se tornaria tão popular e valioso na Espanha que sua produção seria mantida em segredo por vários séculos.

A primeira “fábrica” de chocolate surgiu na Inglaterra em 1657, mas o chocolate sólido só se tornaria popular mesmo no final do século XIX. Em 1876, na Suíça, Daniel Peter desenvolveu a técnica de adição de leite ao chocolate, dando a forma final ao produto que consumimos até hoje.

Desde que o Chocolate conquistou o mundo, surgiram dezenas de mitos sobre suas propriedades. Vez ou outra, um desses aparece durante uma consulta. Para lhe dar um ar de erudição enquanto você devora mais um ovo de Páscoa tamanho extra-super-gigante, selecionei 3 lendas comuns e suas explicações cientificamente embasadas. Espero que lhe sejam úteis!

Chocolate não contém nutrientes e ainda por cima engorda

O chocolate contém mais de 300 nutrientes e substâncias químicas diferentes, além de apresentar níveis elevados de flavonóides e compostos fenólicos capazes de diminuir o risco para doenças cardíacas.

Apesar de uma barra média de chocolate pode conter mais de 210 calorias, a maioria das pessoas acima do peso não come quantidades excessivas de chocolate. Na verdade, o consumo de açúcar nestas pessoas tende a estar abaixo da média. O problema está no elevado consumo total de calorias e na pouca quantidade de energia gasta em atividades físicas.

Chocolate causa cárie

Todo e qualquer alimento rico em açúcar pode contribuir para a formação de cáries. Entretanto, pesquisas no Forsyth Dental Center (Boston/EUA) e na Escola de Odontologia da Universidade da Pensilvânia, mostraram que o chocolate é capaz de anular o potencial acidificante do seu açúcar e reduzir a desmineralização dos dentes.

O açúcar contido no chocolate não é mais perigoso que o açúcar contido nos demais alimentos. O que importa é a qualidade da sua higiene bucal, não o tamanho da barrinha de chocolate.

Chocolate vicia

Em parte, é verdade. O chocolate possui uma capacidade incomum para interagir com a química cerebral. E essa maior afinidade pode resultar em comedores compulsivos.

Se você acha que possui vício em chocolate, uma boa idéia é comer vegetais folhosos verdes, como brócolis e aspargos: estes alimentos substituem algumas das substâncias que produzem o “vício” e podem ajudar a controlar os sintomas, evitando que você voe na jugular do vendedor de bombons mais próximo.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.