25 fevereiro 2008

KING KONG TEEN

© Dr. Alessandro Loiola
br.groups.yahoo.com/group/saudeparatodos/



Estava exercitando o ócio à tarde, durante os preparativos para a virada de ano, quando alguém apareceu com uma sacola de DVDs.

- Depois de uma praia e um bom almoço, nada como assistir um filme para relaxar antes dos festejos, hein?

Escolha vai, escolha vem, ficamos com uma refilmagem de King Kong. No elenco, um gorila virtual e manadas de computação gráfica. No roteiro, a velha expedição a uma terra desconhecida, o confronto com nossos medos mais primitivos e aquela incrível capacidade de espalhar a barbárie que só o homem civilizado tem.

Com o correr do filme, não foi preciso fazer muito esforço para perceber que King Kong é uma grande analogia com um período muito especial de nossas vidas: a adolescência.

Assim como na saga do gigante Kong, o término da infância – e de toda a inocência acumulada no período - quase sempre ocorre como um novo parto, com festas de ganhos e dores perdas. E apesar da turbulência, a ternura e a compreensão da família são capazes, sim, de controlar os impulsos da fera dentro de nós.

Muitas pessoas dizem que, se a vida fosse uma viagem, os aborrecentes seriam aqueles sujeitos que acabaram de descer do navio. Mesmo em terra firme, continuam enjoados. Mas o rótulo aborrecido que ronda a geração teen é extremamente tendencioso. Ele parte de levas de gentes que há muito não se deslumbram com o mundo. De adultos que não vivem mais, apenas sobrevivem, indo de uma conta à outra.

A aborrecência é um período mágico de crescimento e desenvolvimento físico e emocional. Ela se estende dos 11 aos 16 anos nas meninas e dos 13 aos 18 anos nos meninos, aproximadamente. Neste curto intervalo, assistimos ao corpo mudar em ritmo frenético. Pêlos, saliências e protuberâncias surgem por toda parte. A voz muda. As atitudes mais ainda.

Vivendo nos extremos há muito esquecidos por nós, o aborrecente começa sua aventura por uma dimensão até então oculta: o mundo governado pelos hormônios. Neste universo paralelo, o ajuste à realidade não é mole. A proliferação de incertezas pode resultar em comportamentos rebeldes ou introspectivos, roupas estranhas, desânimo e depressão. Em contrapartida, existem ocasiões onde a disposição excessiva do aborrecente causa surtos de entusiasmo, obrigando os pais a levá-lo à sessões de musicoterapia baiana na festa de axé mais próxima.

Reações contra a autoridade são comuns. O jovem neste período freqüentemente experimenta o desejo de expressar sua própria personalidade, formar um caráter definido e provar o máximo de sensações possíveis. Atritos com valores e padrões preestabelecidos pelo mundo adulto são inevitáveis.

A maioria dos aborrecentes gosta da oportunidade de assumir responsabilidades e tornar-se mais independente. Contudo, eles podem ter dificuldades em lidar com os desafios. Em alguns momentos, podem agir de maneira independente. Em outros, têm o desejo de serem dependentes. Esta alternância enervante é absolutamente natural.

Como em qualquer expedição aventureira a uma terra distante, a adolescência marca o momento de preparar as malas para a longa viagem do mundo adulto. É importante incluir na bagagem tudo aquilo que será útil mais adiante. Esteja sempre à disposição para conversar com o exemplar que você tem em casa, fale abertamente sobre os riscos do uso de cigarro, a segurança ao dirigir automóveis, o alcoolismo, o uso de drogas ilícitas, a sexualidade e a gravidez.

Mas atenção: o vínculo de confiança com o aborrecente não deve ser confundindo com ser “amigo do seu filho”. Seja pai e mãe do seu filho, não amigo. Amigo ele tem e terá aos montes. Pai e mãe, ele só terá 1 de cada. Um aborrecente que pegou o carro escondido ou chegou em casa embriagado deve receber medidas iguais de disciplina e compreensão.

Informe-se e ofereça tolerância, simpatia, equilíbrio, conselhos e discussões sobre todos os problemas fisiológicos e psicológicos que acompanham este período da vida. Os aborrecentes podem levar tempo para amadurecer, especialmente os meninos. Felizmente, com uma orientação bem temperada, seu King Kong Teen estará pronto para conquistar o mundo assim que deixar a ilha. Faça acontecer.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde apresenta o quadro BEM VIVER na TV Alterosa / SBT.

21 fevereiro 2008

Como controlar o estresse?


Clique sobre a imagem para assistir ao quadro Bem Viver da TV Alterosa / SBT.

PAIS SUPERPROTETORES

© Dr. Alessandro Loiola
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Nestes tempos de violência gratuita e justiça cega, o instinto natural de proteção da cria vem ganhando contornos dramáticos. Não é raro encontrar pais que tentam vigiar seus filhos armando os pimpolhos de telefones celulares, pagers e localizadores GPS.

Eu acredito até que se o pessoal do telescópio Hubble vendesse um serviço de localização permanente de crianças com imagens on-line em tempo real, ia ter uma fila de pais e mães angustiados querendo fazer uma assinatura. O que antes era um mero comportamento de elites, virou uma pandemia, e os Pais Superprotetores se espalharam pelo mundo feito um vídeo qualquer do YouTube.

É natural querer proteger seus filhos, mas interferir constantemente para amaciar o mundo para a criança é uma forma garantida de diminuir a sua autoconfiança. Um pai superprotetor está enviando a seguinte mensagem para seu filho: “Tenha medo, muito medo!, de qualquer coisa ou situações nova, porque você é incapaz de resolver as coisas por si só”.

Em crianças mais velhas, o fato de ter um pai ou uma mãe superprotetores não é compreendido como uma demonstração de amor e preocupação. Elas entendem isso como uma falta de confiança na sua própria capacidade – e este ‘rótulo’ pode ter sérias conseqüências na idade adulta.

Você pode ser considerado superprotetor(a) quando:

- Acredita que qualquer tipo de atividade física pode machucar seriamente seu filho (até mesmo atravessar uma rua tranqüila).

- Em situações do dia-a-dia (p.ex.: uma excursão supervisionada da escola) fica mais ansioso que seu filho, com medo de que algo dê errado ou de que a criança vá ser seqüestrada.

- Gruda no seu filho durante qualquer brincadeira, dando orientações para que ele não se machuque.

- Não permite que a criança se envolva em atividades que possuam até mesmo um risco mínimo de acidentes (p.ex.: brincar de pique esconde).


Se você acredita que está sendo um pai ou mãe superprotetor, não se aflija nem corra para o consultório psiquiátrico mais próximo. Antes, tente implementar algumas dicas simples para lidar com o problema:

- Primeiro passo: confirme sua suspeita. Pergunte a alguns amigos ou parentes se eles acham você superprotetor. Se a resposta for positiva, não vá discutir tentando convencer o contrário.

- Segundo passo: OUÇA seu filho. Converse com ele. Explique que toda sua preocupação vem do amor que você sente por ele, e que você confia na capacidade dele para vencer certos desafios. Mostre os perigos envolvidos em determinadas atividades e entre em um acordo sobre o que deve ser feito se algo der errado.

- Proibir seu filho de fazer uma certa atividade é um direito seu. Não menospreze o peso da sua experiência. É óbvio que a capacidade de julgamento dos pais é superior a dos filhos, e o que é seguro para uma criança, pode não ser para outra. Desde que você explique isso para seu filho – e sem exageros -, não haverá problema.

- Tudo bem, supervisionar seu filho é o melhor remédio para mantê-lo a salvo. Concordo com isso. Mas saiba que mantê-lo sob sua vigilância 100% do tempo também é a receita para produzir um adulto inseguro. Use sua inteligência para encontrar o equilíbrio.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde apresenta o quadro BEM VIVER na TV Alterosa / SBT.

10 fevereiro 2008

VIAJANDO PELOS DOMÍNIOS DA VONTADE

© Dr. Alessandro Loiola
http://br.groups.yahoo.com/group/saudeparatodos/



Um leitor manda seu pedido de socorro: como se não bastasse a dor de cabeça crônica, no último ano terminou desenvolvendo excesso de peso e hipertensão arterial. Para completar, sentia-se absolutamente sem energia para mudar, como se a vontade para vencer tivesse desaparecido no vento. Após vários exames, nada mais estava errado, exceto pelos problemas citados. Qual a saída?

Qualquer roteiro para solução de problemas que se preze deve começar pelo início que é o princípio de tudo: elimine primeiro o que mais incomoda. Como ninguém consegue fazer coisa alguma direito com dor – especialmente dor de cabeça -, seu controle se torna essencial para os passos seguintes.

A dor de cabeça - cefaléia, no jargão dos médicos - não constitui uma doença em si mesma, mas pode representar várias doenças potencialmente graves. O tipo mais comum, chamada cefaléia tensional, é causada pela contração persistente da musculatura do pescoço e ombros. Nada de aneurismas ou tumores no cérebro: a cefaléia tensional quase sempre decorre da incapacidade em lidar de modo adequado com o estresse do dia a dia. A carapuça coube?

Assim como outras dores, a cefaléia pode ser o sinal de alerta para distúrbios mais sérios. Nosso amigo garantiu que, no caso dele, a dor não estava relacionada a crises de pressão elevada, febre, problemas visuais ou quaisquer outros sintomas.

Para se livrar da cefaléia tensional, devem ser empregados antiinflamatórios, técnicas de relaxamento mental e revisão dos hábitos alimentares. Mas atenção: algumas pessoas podem achar que descontando na comida e entupindo o cérebro com açúcar estão fazendo um grande negócio. Consumir muitas calorias pode aliviar temporariamente a dor de cabeça, mas não resolve a questão, além de nutrir problemas diferentes como aterosclerose, obesidade e diabetes.

Superado o obstáculo número 1, passamos ao seguinte: a falta de vontade. “E a hipertensão ?”, você poderia perguntar. “Não é importante manter a pressão sob controle, corrigir logo o excesso de peso, os triglicerídios, o colesterol...?”. Ah, certo, mais um discípulo da Medicina Espetacularmente Reducionista Da Atualidade ! Não vou abreviar porque senão fica feio.

Esta nem tão nova escola médica funciona da seguinte maneira: o sujeito chega sedentário, fumante, se queixando de angina, arritmia, disfunção sexual e outras 7 pragas do Egito, e qual ação o médico toma? A mesma que o paciente espera receber: um carrinho de supermercado com vários quilos de pílulas, frascos e comprimidos. Um para cada sintoma. É mais fácil tratar várias conseqüências que descobrir uma causa.

Parece óbvio, mas vale a pena ouvir de novo: a raiz da imensa maioria dos seus problemas não está no reino das bactérias, vírus, gorduras trans e frangos contaminados por hormônios. Não raramente, esta raiz está fincada nos domínios da sua vontade. Para entender melhor o que isso significa, é preciso dar uma guinada no caminho para visitar a sociedade perfeita de Platão.

Platão, filósofo Grego, acreditava que a sociedade perfeita só seria alcançada quando Reis Filósofos governassem o Povo por meio de Soldados. Apesar da idéia de soldados e regimes totalitários não trazer boas lembranças, ela serve para uma analogia.

Para governar e progredir com seu corpo, essa máquina de 1 trilhão de células que acompanha a consciência, você deve trocar Reis Filósofos por “razão”, Povo por “desejo” e Soldados por “vontade”: o organismo humano realmente saudável é aquele onde a Razão governa o Desejo por meio da Vontade.

Sofrer de hipertensão, obesidade, diabetes, ansiedade ou depressão não é o fim do mundo - caixas de remédios oferecem bons paliativos para isso. Perder-se do raciocínio ou ver extinta a motivação para continuar lutando, sim, é o fim da picada. É por aí que qualquer tratamento de verdade deve começar.

A solução para muitos problemas de saúde aguarda sua visita nos domínios da vontade. Pegue seu passaporte de inteligência e comece ainda hoje essa viagem! Lembre-se: pode não haver cura para o nascer e o morrer, mas você é livre para ir saboreando o intervalo.

Feliz Ano Novo !