24 junho 2007

GRIPES E RESFRIADOS: ANOTE AÍ ENQUANTO É TEMPO

© Dr. Alessandro Loiola

Fui convidado a um programa de rádio para falar sobre Doenças Respiratórias de Inverno. Para não fazer feio e sair disparando estatísticas estapafúrdias, recorri à sempre muito bem informada Internet. E o que encontrei? Estatísticas ainda mais estapafúrdias do que poderia imaginar.

Por exemplo: a cada ano, as infecções respiratórias de inverno acometem uma de cada 10 pessoas no mundo todo. Faça as contas: são quase 20 casos de resfriados por segundo!

Apenas nos EUA, as Gripes e Resfriados custam mais de 4 bilhões de dólares por ano em hospitalizações e consultas médicas, além de uma perda de produtividade por afastamento do trabalho estimada em outros 7 bilhões de dólares anuais. É bilhão de dólar pra tudo quanto é lado. Infelizmente, nenhum desses bilhões chega até meu consultório. Talvez por problemas no CEP, acredito.

Mesmo com todos estes dados alarmantes, é comum o sujeito olhar para a receita de banda e deixar a sala de exame com aquela cara de “eu sabia que ele viria com essa conversa de virose!”. Mas as doenças respiratórias do inverno são, em sua maioria, viroses de fato.

Apesar da gripe ser causada por um único tipo de vírus mutante, o Influenza, os Resfriados podem ser causados por mais de 200 tipos de vírus diferentes. E atenção: Gripe não é igual a Resfriado.

O Resfriado se caracteriza por dores de cabeça, desconforto na garganta, congestão nasal e coriza, raramente causando febre. A Gripe, por outro lado, é uma infecção mais grave, com febre alta, dores musculares intensas e bastante indisposição, mas raramente causa sintomas do tipo coriza ou rinite.

Para ajudar você a lidar melhor com as viroses de inverno, relacionei a seguir 10 dicas valiosas:

- De um modo geral, os sintomas das viroses de inverno se iniciam 2-3 dias após a contaminação pelo vírus maledito e duram cerca de 7-14 dias até a recuperação completa. Tenha paciência.

- O custo elevado e o tempo prolongado para obter os resultados comprometem a utilidade da maioria dos testes de detecção viral. Por isso os médicos não perdem tempo tentando isolar qual o vírus que está lhe cercando. É caro demais e os resultados só estarão prontos quando você não estiver mais doente.

- A maioria dos casos de Gripe e Resfriados pode ser tratada em casa com sintomáticos, repouso, boa hidratação oral e alimentação equilibrada. Lembra aquela canja da sua avó? Então, ela.

- Para diminuir a irritação do nariz e da garganta, aproveite o vapor do banho quente ou faça compressas sobre o rosto por 5-10 minutos com toalhas limpas ensopadas com água morna.

- O gargarejo com soro fisiológico morno ajuda a reduzir o desconforto na garganta. Curiosamente, o mesmo pode ser dito com relação a picolés e bebidas geladas.

- Comprimidos descongestionantes podem oferecer algum alívio, mas atenção para o risco de efeitos colaterais, tais como palpitações, insônia, ansiedade, elevação da pressão arterial e tremores.

- Descongestionantes nasais tópicos podem diminuir o desconforto no nariz, mas também podem causar piora da congestão algumas horas após seu uso. Para evitar esse problema, limite o uso dos descongestionantes nasais a 3-4 aplicações por dia ou substitua-os pelo soro fisiológico puro e simples.

- Durante a noite, elevar um pouco a cabeceira reduz o reflexo de tosse desencadeado pelas secreções na garganta, melhorando a qualidade do sono.

- Quer diminuir seu risco de pegar uma gripe ou resfriado? Lave cuidadosamente suas mãos por 20 segundos com água e sabão comum, várias vezes durante o dia.

- E por último: muitos vírus que causam resfriados podem sobreviver por até 3 horas em corrimões, telefones, maçanetas, etc. A limpeza regular destes locais com desinfetantes pode ajudar a reduzir o risco de infecção, mas isso não substitui a boa higiene das mãos.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

10 junho 2007

DONG ZHI E A ASMA

© Dr. Alessandro Loiola


O Dong Zhi é um dos feriados mais importantes da cultura Chinesa, perdendo apenas para o Ano Novo. Ele marca o momento em que a Terra está no ponto de sua órbita mais afastado do sol, ocorrendo em 21 de dezembro no hemisfério norte e entre 21 e 22 de junho no hemisfério sul. Não por coincidência, o Dong Zhi – ou Solstício do Inverno - marca a chegada da estação mais fria do ano em ambos hemisférios.

Os profissionais da área biomédica também celebram a aproximação do Dong Zhi desde eras ancestrais, mas à sua maneira. Neste período do ano, decoramos os consultórios como Templos de Asclépio e esperamos as levas de peregrinos que chegam entoando um mantra bastante típico: o Sibilus Asmaticus. Afinal, nada como mais um bom e velho inverno para lembrar “Ei, e aquela sua bronquite, hein...?”.

O termo Asma deriva de uma palavra grega que significa “arfante”, denotando a genialidade do anônimo que batizou a doença. Atualmente, a Asma afeta cerca de 10% da população mundial.

A Asma possui causas complexas e variadas. A maioria dos asmáticos é alérgica, mas nem todas as pessoas alérgicas possuem asma. Além disso, para complicar, os processos alérgicos não conseguem explicar todos os casos de asma. Provavelmente, a asma resulta da interação entre susceptibilidade genética e fatores ambientais.

Os principais gatilhos que podem desencadear as crises incluem exposição a alérgenos no ambiente, baixas temperaturas e estresse, mas as crises também podem estar relacionadas a estresse, emoções fortes, exercícios físicos, refluxo gastro-esofágico e certos alimentos e medicamentos.

Para lidar melhor com a Asma, coloque as seguintes orientações bem próximas ao seu calendário antes do Dong Zhi:

- Evite contato com pólen, mofo e animais de pêlo (incluindo bichos de pelúcia e o Tony Ramos).

- Ácaros e baratas são alérgenos comuns que podem causar crises graves de Asma. Limpar a casa com pano úmido, encapar colchões e travesseiros com tecidos impermeáveis, e livrar-se de tapetes e carpetes são medidas simples para diminuir a concentração destes contaminantes.

- Fuja de poluentes ambientais como cigarro, produtos de limpeza com cheiro forte e descargas de automóveis. Uma boa dica neste sentido é mudar de planeta.

- Se possível, diminua o consumo de alimentos contendo glutamato monossódico (encontrado em sopas em lata e certos queijos) e sulfetos (utilizado como conservante em certos vinhos e alimentos industrializados). “Nada de queijos e vinhos??”, você irá perguntar, constatando que eu acabei de detonar seus planos para o restante do inverno.

- Veja com seu médico se a sua asma pode ser causada por exercícios. Mas atenção: não use isso como desculpa para ficar em casa se enchendo de capuccino e biscoitos de chocolate.

- Devido às alterações nos níveis hormonais, 30 a 40% das mulheres apresentam mais crises de asma alguns dias antes e durante a menstruação. Os anticoncepcionais orais podem ajudar nestes casos, nivelando as flutuações hormonais. Curiosamente, a Terapia de Reposição Hormonal na menopausa parece aumentar o risco de asma.

- Na gravidez, um terço das mulheres asmáticas apresentam piora das crises, um terço sofre menos e o outro terço não observa alterações na gravidade dos ataques. Felizmente, as medicações habituais contra asma parecem seguras para uso até mesmo em gestantes.

- Finalmente, uma em cada 3 pessoas asmáticas possui familiares com o mesmo problema. Como os fatores genéticos parecem ser mais importantes que os fatores ambientais nestas famílias, converse anda hoje com seus pais sobre a possibilidade de você trocar todos os seus genes.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

01 junho 2007

ÁLCOOL E ALCOOLISMO: MAIS POLITICAMENTE INCORRETO, IMPOSSÍVEL

© Dr. Alessandro Loiola


O sujeito na cadeira, a irmã ao lado. O homem tem mais cascas de pelagra nas pernas que árvore de praça no meio do outono. A consulta segue.
- O senhor deveria falar com ele para diminuir a bebida, doutor!
Vinte pacientes todos os dias nos últimos 10 anos me ensinaram que a melhor terapia inicial para estes casos é o que chamo de Choque de Honestidade.
- De modo algum.
- Como?
- De modo algum vou falar para ele diminuir a bebida – respondo, para espanto da mulher e repentino entusiasmo do homem.
– Primeiro, tenho certeza de que vários outros médicos fizeram esta mesma recomendação: que ele deveria parar de beber.
- É, já disseram isso várias vezes, mas ele...
- ...Não parou. Então, insistir significa me tornar mais um em uma longa fila de conselheiros inúteis. Em segundo lugar, eu não deveria falar mal da bebida alcoólica. Tampouco do cigarro. Nenhum colega de faculdade, nenhum amigo médico, ninguém – frisei - encaminha mais pacientes para o meu consultório que a dobradinha Álcool e Cigarro.
- Hein?
- Quanto mais seu irmão beber, mais dinheiro eu ganho. Desejo longa vida a ele e ao vício que nos sustenta. Que ambos durem várias décadas para desenvolver hipertensão, infarto, derrame, desnutrição, gastrite e pancreatite, para então morrer de cirrose ou câncer no esôfago após mais alguns anos de sofrimento. Se ele parar de beber agora, estará dando um excelente passo em direção à recuperação da saúde, mas será um péssimo investimento do ponto de vista do meu bolso...

Quando bem conduzida, este tipo de conversa “ao inverso” resulta no efeito necessário, que é fazer o indivíduo enxergar com todas as luzes os tons sinistros com que está pintando seu futuro.

O alcoolismo é um dos maiores (e mais subestimados) problemas de saúde pública no Brasil. Este entorpecente, bastante acessível e com altíssimo potencial de vício, deveria ser tratado com mais sobriedade, não com propagandas festivas na TV. O álcool está envolvido em mais de 40% dos acidentes automobilísticos com mortes e em uma proporção similar de crimes sexuais, para dizer o mínimo.

Quanto mais a embriaguez se torna habitual e começa a interferir com seu ritmo de vida, mais perto você está de cruzar a linha que separa o uso recreacional do álcool do alcoolismo propriamente dito.

As manifestações do abuso alcoólico incluem comportamento agressivo, redução da coordenação motora e da clareza nas decisões, desorientação, perda da memória e desidratação. O consumo crônico de álcool pode causar lesões graves em nervos, fígado, pâncreas e coração, além de levar à hipertensão arterial, derrame cerebral, demência e aumento do risco para câncer na boca, laringe, esôfago, estômago, intestino grosso e mama.

Um dos principais sintomas do alcoolismo, e o que o torna este distúrbio tão difícil de ser tratado, é a Negação. O dependente não admite para si ou para os outros a existência de qualquer problema com o álcool, e a família tende a colaborar fazendo coro e vista grossa para o problema. Infelizmente, empurrar para debaixo do tapete não limpa a sujeira, apenas a acumula.

Havendo disposição voluntária por parte do alcoólatra em parar com o vício, vitaminas e outros remédios podem ser empregados sob supervisão médica para controlar os sintomas da abstinência. Algumas pessoas podem necessitar internação hospitalar durante o período mais crítico de abandono da bebida. Vencida a etapa de desintoxicação, a participação em grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos é recomendável para manter o vício sob controle no longo prazo.

O diagnóstico de alcoolismo não significa falta de vergonha ou fraqueza de caráter, mas uma doença que deve ser abordada sem pudor e com todas as letras. O tratamento pode ser difícil, mas a cura não é impossível - basta fazer a coisa mais incrível e poderosa de todas: Querer.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.