© Alessandro Loiola
Escrever é um trabalho árduo e solitário. O que fazer com o personagem?, como aprofundar-se no caráter daquele outro?, a costura do roteiro, os cenários descritos, as intrigas construídas, os dilemas engendrados... e, depois de tudo orgulhosa e alegremente pronto, é hora de passar a tesoura. Sim, passar a tesoura sem dó nem piedade. Porque escrever é, antes de tudo, editar-se.
O crítico literário Arthur Quiller-Couch resumiu bem essa tarefa sofrida de edição em um lema que todo escritor deve trazer tatuado em suas retinas: "Murder your darlings". Mate seus queridos. Seja cruel com seu enredo. Apague suas passagens poéticas, assassine as virtudes preferidas, delete parágrafos inteiros. Jogue a polpa fora e mastigue a semente.
Excelentes livros saíram de rascunhos de merda. Por isso, não desanime. Dê um tempo ao seu texto, cure-o como um bom queijo ou uma garrafa de Malbec, permita que envelheça um pouco. E então revisite-o com isenção.
O mesmo princípio poderia (e deveria) ser aplicado às nossas certezas todas. Que tal maturá-las antes de anunciá-las aos olhos de seus amigos e conhecidos? As verdades que mais lhe agradam podem ser apenas um truque de sua mente para justificar as escolhas imbecis que você andou fazendo por anos a fio.
Ao escrever o livro de sua vida, observe regularmente os capítulos de uma distância segura. Questione-se sempre! - e quanto mais crítico você se mostrar em relação à autoridade de suas ideias, mais livre será. E tanto mais poderá confiar na clareza de si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário