© Alessandro Loiola
O papo é sempre o mesmo: dizem que existem 2 tipos de homens. De um lado, os Alfas, cheios de poderes, dinheiro e mulheres, dominando e intimidando a tudo e a todos através de sua força física, os caras “foda”, no alto da montanha, os mandachuvas, os “homens de verdade”. E do outro lado, os Betas, fracos, submissos, subordinados, sensíveis, sentimentais, que as mulheres carinhosa e maternalmente se referem como “uma boa pessoa”, o “Mr. Nice Guy”, os "Do Bem", etc.
A diferenciação entre Alfas e Betas vem da observação de outros animais sociais como chimpanzés e lobos. Apesar de divertida, ela pinta a psique masculina de preto ou branco, sem direito a tons intermediários. Isso não apenas é um reducionismo da multi-dimensionalidade da masculinidade como também turva completamente o foco DO QUE REALMENTE nos torna atraentes para as mulheres.
Se aceitarmos que existem apenas estas duas categorias de homem, estaremos conduzindo uma imensa manada de palermas para um caminho tortuoso de frustração e insucesso, transformando o relacionamento Homem x Mulher em uma contenda de crianças.
Que tal você se perguntar: será que essa merda de Alfa tem alguma coisa mesmo a ver com ser desejável para o sexo feminino?
A Complexa Psicologia da Dominância
Utilizando estudos comportamentais – e principalmente a partir do trabalho de Sadalla EK et al, Dominance and Heterosexual Attraction, Journal of Personality and Social Psychology,1987;52(4):730-738 -, os pesquisadores observaram que, em comparação às descrições de atitudes passivas, homens com características dominantes provocavam uma resposta de atração sexual de maior intensidade nas mulheres. Fato.
Entretanto, em estudos subsequentes, os cientistas notaram também que era necessário um determinado conjunto de adjetivos (ou qualidades) para produzir essa resposta. Ainda que ser “Dominante” fosse algo positivo, a mesma resposta de atração não ocorria quando as mulheres eram confrontadas com percepções como “agressivo” e “dominador”.
Do ponto de vista feminino, a característica Dominante como fator de atração sexual perde de goleada para duas outras: em uma entrevista com mulheres universitárias sobre “qual característica seria a mais importante para formar um par romântico com você?”, o traço Dominante foi apontado como relevante por apenas 2% delas. As qualidades vencedoras foram Autoconfiança (74%) e Assertividade (48%) - que basicamente significam a mesma coisa, para economizar uma ida sua ao dicionário de sinônimos.
Quando a pergunta foi repetida com relação às qualidades não-dominantes, aquelas consideradas mais atraentes pelas mulheres foram “Descontração” (68%) e “Sensibilidade” (76%). É, ser sensível é uma merda mas tem lá suas vantagens... De um modo até óbvio, simplesmente NENHUMA das entrevistadas citou “Submissão” ou “Subserviência” como qualidades ideais para seu par romântico. “Calado” ganhou 4% dos votos e “Tímido” ficou com tímidos 2% das preferências - então eu não investiria nisso, ok?
Os estudos também revelaram que a atitude Dominante pode se manifestar de várias formas: um sujeito Dominante mas exigente, solicitante, violento e egocêntrico NÃO é nem de longe um partido atraente. Traços de Dominante manifestados como qualidades de liderança segura são os mais desejáveis. Isso significa que Sensibilidade e Assertividade, ao contrário do que meus testículos me informaram por décadas, não são coisas opostas. Na verdade, a combinação de Sensibilidade e Assertividade formam o sanduíche mais apreciado por elas.
Não basta você treinar aquelas poses e caras ridículas de Dominante Alfa, porque essa atitude isoladamente não produzirá o efeito que você espera. Para funcionar, é preciso que o pacote venha embrulhado em comportamentos proativos pró-sociais, tais como Agradabilidade, Generosidade e Altruísmo.
Do ponto de vista feminino, a Dominância só se torna atraente em competições exclusivamente masculinas. Fora destas situações bem específicas, demonstrações de agressividade sugerem que o sujeito a qualquer momento poderá explodir com sua ira violenta contra ela também - e esse não é exatamente o ninho de aconchego que elas querem.
Em outras palavras: você pode até chutar a cabeça do zagueiro do time adversário para fora do corpo no domingo, mas na segunda-feira você deve ser genuinamente amigável e divertido com seus colegas de trabalho. E não adianta fingir forçando-se parecer sensível: elas percebem, amigo. Mesmo quando você não percebe que elas percebem, elas estão percebendo. Percebe?
As Melhores preferem os Maus: verdade?
Distinguir os diferentes tons de Dominância, e como eles interagem com a Sensibilidade, não é importante apenas para compreender a atração sexual, mas também apresenta profundas implicações no entendimento do status social na nossa espécie.
Ainda que os perfis psicológicos afirmem que mulheres são mais atraídas por Homens Dominantes ao invés de Homens Dominadores - tanto para casos curtos quanto para relacionamentos de longo prazo -, é verdade que algumas delas preferem sempre o idiota desgraçado coração de gelo dominador insensível "uma-metida-e-fui-embora". Em geral, mulheres com gosto por homens assim cresceram em lares instáveis com pouco ou nenhum suporte familiar, tendem a se sentir inseguras para estabelecer vínculos e apresentam atitudes sexistas hostis para com suas companheiras de gênero.
Legal né? Agora você pode saber em que tipo de lar ela cresceu apenas lendo as postagens dela no Facebook.
Ainda que seja possível pegar algumas mulheres tendo uma atitude 100% Alfa-feladaputa, o tipo de presa que essa isca atrairá quase certamente irá lhe causar mais dor de cabeça que alívio nos bagos. E, não por outro motivo, os homens que utilizam essa ideologia costumam ter uma amostragem bem ruim do universo feminino: não são elas que não prestam, mas seu método de seleção que é uma bosta. A fantasia de Alfa irá atrair mulheres mais promíscuas e instáveis, e o sujeito vai terminar achando que todas as mulheres são malucas daquele jeito. (O que elas são ao seu modo, mas não espalhe isso).
Técnicas de flerte com a fantasia narcisista de Super-Alfa espantam as mulheres que são centradas e bem resolvidas. A rejeição dos "bons partidos femininos" faz com que esses caras achem que ainda não são "maus o suficiente", e eles então injetam ainda mais testosterona no seu comportamento, piorando o índice de rejeição entre as que valem à pena e se aproximando daquelas que não valem tanto - e o ciclo vicioso se inicia novamente.
Chegando na real
Como bons macaquinhos que somos, nosso status social - e os bônus sexuais daí oriundos - pode ser melhorado por meio de Compaixão e Cooperação tanto quanto por meio de Agressão e Intimidação. Se bobear, a primeira opção é tão mais fácil quanto a segunda, e mais bem sucedido.
Isso significa que existem duas rotas básicas para melhorar seu jogo: Dominância ou Prestígio. Essas rotas não estão aí à toa. Elas nos foram presenteadas por centenas de milênios de propósitos evolucionários.
Como você percebeu no começo, a rota da Dominância é pavimentada com blocos de intimidação, ameaças, manipulação, coerção orgulhosa, arrogância, neurose, narcisismo... Enfim, Chatice mesmo.
Por outro lado, a rota do Prestígio é calçada na satisfação do dever cumprido, na confiança enérgica e no sucesso empático, e coberta por camadas honradas de orgulho autêntico. Quem caminha por essa estrada apresenta um comportamento agradável focado em objetivos, com boas doses de auto-conhecimento, satisfação nos relacionamentos interpessoais e uma atitude mental positiva. Em resumo: é um cara que confia no próprio taco sem ter que ficar brandindo o maldito por aí na cara de todo mundo.
Daí você conclui: Ah, saquei! Dominância é "ruim" e Prestígio é "bom"...
Calma lá. Eu disse isso? Não venha simplificando as coisas com raciocínios de primatas. O buraco é mais embaixo e somos mais do que isso, meu bom camarada. Sempre que alguém discute sobre Alfas e Betas, essa pessoa invariavelmente se esquece de contabilizar uma coisa chamada Cenário.
Em um ambiente difícil e perigoso, o Alfa Dominante tem seu valor pois ele consegue o que quer e ainda é capaz de fornecer recursos para aqueles que aceitam submeterem-se ao seu comando. Em um contexto assim, não é preciso muito mais que força e intimidação para fazer as coisas funcionarem. Contudo, para além dos limites das sociedades bárbaras, é o cara de Prestígio quem manda. É ele quem alcança o sucesso na vasta maioria de suas empreitadas. Tudo tem a ver com o cenário.
Dominância e Prestígio são estratégias bem diferentes de obter e manter o status social, e não raramente as duas coexistem e se alternam dentro de nós. Somos animais predadores no final das contas, não anjos e menos ainda santos.
Dominância é uma boa estratégia para o sucesso no curto prazo, mas será necessário empregar Prestígio para se manter no degrau conquistado. A Dominância pode ser uma excelente conquistadora, mas é uma péssima governante.
Mexendo nessa salada toda, posso dizer sem qualquer medo de errar que o homem idealizado pelas mulheres é assertivo, descontraído, sensível, gentil, generoso e autoconfiante, e tem nada de agressivo, exigente, quieto, tímido ou submisso. Em outras palavras, o homem idealizado por elas é um Homem de Prestígio, não um Homem de Dominância.
Ao invés de preocupar-se com padrões de comportamento, linguagem corporal e emissão de sinais de domínio, por que não tornar sua experiência neste planeta mais ampla e plena? Engajar-se na missão de tornar-se verdadeiramente mais atraente para elas trará um profundo senso de valor para a sua própria vida.
Alfas caçam e matam na floresta selvagem. Betas cozinham e servem a mesa.
Homens de Prestígio, ah meu caro.. esses degustam o mundo.
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