© Alessandro Loiola
Os paralelos entre o momento atual e o momento pré-1964 são inevitáveis. O populismo parcialmente eficaz e parcialmente incompetente do PT avançou até este ponto de paralisia decisória do segundo mandato da presidente Dilma.
As boas reformas do governo Lula (sim, elas houveram!) que deveriam ter sido ampliadas com afinco, não o foram. E a política econômica, contaminada por uma combinação de inépcia e corrupção em progressão geométrica, minou o potencial de crescimento do país, a despeito do relativo bom momento mundial - a China continua puxando o mundo como um buraco negro de consumo de commodities e serviços, que pode ter arrefecido, mas ainda é surpreendentemente alto.
Diferentemente de 1964, não temos uma Elite Intelectual politizada - em nenhum dos lados. Os anos pós-Vargas desaguaram em uma brasilidade sem precedentes, que se manifestou desde a Bossa Nova até o Cinema Novo, mas nenhum elemento vanguardista intelectual está presente agora. Mais de uma década de governo de esquerda produziram uma massa de "inteligência" imediatista e instantaneidades amorfas. Temos passeatas e selfies, mas não temos uma agenda específica. Menos ainda um projeto.
Entretanto, assim como em 1964, a ideia de retirar do poder um presidente democraticamente eleito e chacinar o cenário político-partidário em busca de uma "normalidade institucional" foi ressuscitada. Diria até que esta ideia nunca morreu - ela apenas hibernou, acordando pontualmente no suicídio de Getúlio, na queda do governo Jango e com os caras-pintadas anti-Collor. Agora a ideia retorna novamente de sua tumba, tão desmemoriada quanto antes.
Cinquenta e dois anos depois de 1964, chegamos a mais um março tempestuoso. Será no mínimo interessante ver qual monstro brotará dele.
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