© Alessandro Loiola
Um conhecido muito querido (mora de verdade no meu coração), escreve: "Não vejo a hora dessa crise política e econômica passar. Não aguento mais lidar com esse monte de cientista político que atua como papagaio de pirata do William Bonner. Eu quero voltar a fazer a oposição que sempre fiz ao Governo Federal. Uma oposição de esquerda e que respeita a Democracia!"
Certo. Mas daí um dia você cresce, amadurece, pára de fazer Oposição de Esquerda e decide que é hora de propor Soluções de Prosperidade, não importa de que lado elas estejam.
Mas há de se perdoar a juventude. Estão aqui há menos tempo que nós e ainda não aprenderam quantas casas existem no tabuleiro do mundo. E uma história ilustra bem isso:
Diz-se que um fazendeiro, preocupado com suas galinhas, resolveu comprar um galo novo - o outro estava velho e parecia não estar dando muito conta do recado. Quem sabe a juventude de um bom galo macho daria um ânimo novo à granja, aumentando a produção.
Chegando ao galinheiro, o galo novo desfilou com pompa e glória, um galo jovem altivo, esporões novos, penas viçosas. O galo velho, acabrunhado, propôs-lhe um acordo:
- Veja só, estou aqui há anos e me sentiria péssimo em simplesmente deixar meu posto de galo-chefe assim, sem eira nem beira.
- Seu tempo acabou, velhote. - disse o jovem, sorrindo e acenando para a plateia de galinhas suspirosas.
- Eu sei, eu sei, meu filho. Nem me fale... mas, pelo menos, em respeito às minhas penas brancas e até para inspirar as galinhas com seu espírito de justiça e liderança, poderíamos disputar uma corrida em torno da casa do fazendeiro. Quem ganhar, torna-se o novo líder.
- Você jamais conseguiria ganhar de mim.
- Exatamente. Eu sei disso e você sabe disso, mas elas veriam tudo como uma competição justa em que o vencedor leva tudo e o perdedor se retira com honra. Todos ganham, entende?
E os dois galos marcaram a corrida para o dia seguinte. As galinhas se alinharam animadas ao longo da cerca para assistir o embate.
Dada a largada, o galo novo disparou e logo tomou uma dianteira. O galo velho conseguiu acompanhá-lo ombro a ombro por quase meia volta, mas quando contornavam a casa, na reta da linha de chegada, o galo novo estava já umas "duas galinhas" a frente, correndo empedernido, sorriso nos lábios, e o galo velho atrás dele, expressão esbugalhada para cima do concorrente, asas abertas, meio palmo de língua de fora. As galinhas gritavam "cocorico cocorico!". E o galo novo na frente todo animado e frondoso em sua pujança e o galo velho perseguindo-o resfolegante, os olhos vidrados na traseira do outro.
Súbito um estampido "BUUM!" e penas do galo novo voam para toda parte.
De sua varanda, sentado na cadeira de balanço e soprando desanimado o cano fumegante de seu bacamarte, o fazendeiro lamentou-se:
- Benzamedeus... já é o terceiro galo veado que eu compro esse mês...
A juventude pavoneia-se, mas são os outros que se banqueteiam. E não me venha com comentários de homofobia - se lhe ofende, vá reclamar com Esopo.
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