© Alessandro Loiola
Vejo a mulher de olhos fechados e não me contenho. Digo para ela: sinceramente, gostaria que você percebesse como tudo é raro e precioso, e como as forças dentro de nós rugem com fomes e sedes. De como existe nenhuma razão em coisa alguma, apenas as experiências que vivemos, e nenhum destino para onde estamos indo, ainda que estejamos indo mais depressa a cada dia.
Gostaria que você visse pelos meus olhos e tivesse a voracidade do meu espírito. Gostaria de transpor isso e fazê-la livre das amarras que a seguram antes dos instintos. Você deveria abrir os olhos e ver como o tempo se desfaz, como tudo é fútil exceto os prazeres e os aprendizados.
Você deveria alegrar-se pela alegria sem motivo e tagarelar risadas soltas o dia inteiro. E fazer planos encantados, transgredir-se despida de expectativas, abandonada de conceitos, ser quem quer que seja que não essa pessoa que se queixa da coluna, dos saltos, das cólicas, da enxaqueca, tão resumida em cansaços, sempre e sempre esgotada por tantas responsabilidades e regras igualmente transitórias.
Não, você deveria ir além. Bem além. Deveria abrir os olhos e o coração, florescer apaixonada para a vida em uma agitação de chamas e volúpia, em ganância pelas emoções espalhadas no mundo, e desejar juntar essas emoções dentro de si em uma coleção de júbilos para onde pudesse voltar-se a cada segundo, esfuziante por haver descoberto tanto, tanto.
Você deveria ser quem você nasceu para ser. Ser a imensidão que nascemos e então esquecemos. Porque eu lembrei, você também poderia. Deixar enfeitiçar-se pela música, nenhum maestro acima das estrelas, nenhum condutor abaixo delas, nenhuma busca nessa descoberta de espontaneidades livres e selvagens.
Você deveria abrir os olhos e ver tudo isso. Mas você não abre. Por que não?
4 comentários:
Lindas palavras!!
Lindas palavras!!
lindo...lindo!!
Ler essas palavras foi como estar ouvindo. Tenho aprendido tanto! O texto é lindo mesmo!
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