09 março 2016

Círculos Instantâneos

© Alessandro Loiola
  
 


Acordo cedo, encho a xícara com café requentado, visto a roupa para ir trabalhar e aproveito um cigarro na meia hora que sobra. Gosto de me presentear com essa meia hora de nadas pela manhã. A casa vazia, dia nascendo, a vida que floresce novamente com suas rotinas. 
 
As pessoas reclamam da rotina. Eu mesmo já reclamei bastante. Felizmente, o tempo me ensinou a admirar sua beleza oculta. Como em Groundhog Day ou em About Time, existe uma harmonia fantástica na rotina que olhos daltônicos não são capazes de identificar. 
 
Os olhos do mundo enxergam apenas a fila do ônibus, as ruas alagadas pela chuva, o trânsito, o jormal com as tragédias mais frescas, aquelas notícias inúteis todas, o horário de entrar nas engrenagens de Chaplin, o pagamento atrasado, o serviço que se repete como um buraco que insistimos em cavar na água. Mas cada uma dessas coisas e outras tantas encerram o fantástico em si. Cada detalhe traz consigo um tempero do extraordinário.  
 
A cada dia, estamos vivos para saborear a vida novamente, para conversar com os universos nas pessoas, para respirar a cidade, para digerir as horas e o espetáculo impossível do presente. E tudo que o universo nos pede é que estejamos à altura de sua relevância. "Estar à altura", tal é o desafio dos círculos instantâneos que nunca se repetem.

Um comentário:

Mara Abreu disse...

Show... Perfeito sua visão de mundo.
Mas..o aroma de um café fresquinho ao nascer do dia, não tem preço.
Merecemos este capricho.
Bjs