10 março 2016

Para quê servem os Relacionamentos?

© Alessandro Loiola


 
Responda com a primeira frase que lhe vier à cabeça: para quê os relacionamentos servem, afinal? Para perpetuação da espécie? E no caso de relacionamentos sem a intenção de reproduzir? O que há em nós que nos faz gravitar na direção desse evento, insistindo algumas vezes uma vez atrás da outra, as esperanças todas em frangalhos?
 
Alguns dizem que talvez seja a preguiça ou a incapacidade de sentirmo-nos completos sozinhos que nos faça procurar no outro a tampa da laranja que nos falta. Ou a metade da laranja. Ou quiçá a laranja inteira. Ou um abacate - deixo você escolher a fruta de sua preferência, se quiser.

A despeito de laranjas e abacates, a resposta definitiva para essa questão pode não estar na seção de hortifruti, mas nas aulas de embriologia: não nascemos como uma pessoa completa. Somos concebidos parasiticamente como uma pessoa dentro de outra pessoa. A anfimixia nos funde a partir de dois conjuntos de 23 cromossomos e logo nos tornamos dois corações que passam a bater assincrônicos porém juntos.
 
A gestação é isso: uma simbiose de duas almas um só espaço. Ou mais almas, dependendo da animação dos óvulos, dos espermatozóides e dos genes.

O término da gravidez nos divide e pelo resto da vida buscamos um útero que nos complete enfim, mas nenhum útero será como aquele útero original, confortável, protetor, sereno. E a busca que nasce conosco está fadada ao desespero ou à infelicidade, a menos que lhe desvendemos a natureza - e sua natureza é o retorno tranquilo ao par, aos dois seres coabitando um no outro, pagando o roubo de nutrientes com promessas de encontro.

Um relacionamento é a quitanda onde fazemos nosso escambo de expectativas tendo a Paciência como placenta e a Tolerância como cordão umbilical. Enquanto negociamos intenções, o preço e o bônus do amor acumulam-se e nos aguardam na vida que se segue a ele.
 
Qual seria a MINHA resposta sobre "para quê servem os relacionamentos"? Eu lhe diria que a construção do romance é esse trabalho de parto onde sabemos, de alguma forma instintivamente sabemos, que apaixonar-se de verdade é nascer de novo para si e para o outro. Simples e leve assim.
 

Um comentário:

Mara Abreu disse...

Linda definição.