© Dr. Alessandro Loiola
Em novembro de 2013, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association
(AHA) publicaram novas diretrizes para a abordagem do colesterol. Apesar de
novas, essas diretrizes não saíram menos confusas que as versões anteriores,
sendo - em alguns aspectos - até mesmo conflitantes com guidelines respeitados
como os da European Society of Cardiology/European Atherosclerosis Society, da Canadian Cardiovascular Society
e da International Atherosclerosis Society.
Algumas alterações foram meio que surpreendentes: as
metas restritas de colesterol LDL foram abandonadas e em seu lugar foram
especificados 4 grupos de pacientes que poderiam beneficiar-se do uso doses
moderadas ou altas de estatinas. Estes 4 grupos incluem:
- Pessoas com doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) clinicamente evidente.
- Pessoas com níveis de LDL iguais ou acima de 190 mg/dL.
- Pessoas com diabetes, idade entre 40 e 75 anos, LDL entre 70 e 189 mg/dL e sem evidencias de DCVA.
- Pessoas sem evidências de DCVA ou diabetes, porém com LDL entre 70 e 189 mg/dL e risco de DCVA em 10 anos igual ou superior a 7,5%.
Nestes casos, o tratamento deveria ser iniciado com altas
doses de estatinas potentes (p.ex.: 80 mg de atorvastatina ou 40 mg de
rosuvastatina por dia), tendo como objetivo uma redução média de 50% nos níveis
de LDL.
Tudo bem, a LDL continua sendo
a lipoproteína em foco, mas agora não existem mais recomendações específicas
sobre valores absolutos de redução. Fica a pergunta: até que ponto esta mudança
de estratégia não foi uma jogada patrocinada pela indústria farmacêutica para
tratar ainda mais pacientes com suas estatinas (incluindo até mesmo pessoas sem
sinais ou sintomas de DCVA)?
Vale lembrar que os algoritmos
utilizados para avaliar o risco de DCVA em 10 anos podem apresentar resultados
superestimados em até 75-150%, mostrando riscos onde nada existe.
Ah, o que seria da vida sem uma
teoria da conspiração de vez em quando...
A parte sensata do guideline de
2013 da ACC/AHA está na simplificação: eles focaram principalmente no risco de
DCVA relacionado ao colesterol LDL. Este é o ponto onde existe maior
concordância entre os especialistas. (As evidências são bastante limitadas
quando tentamos defender o aumento dos níveis de HDL ou a redução isolada dos
níveis de triglicerídios como medidas eficazes para diminuir o risco de
complicações cardiovasculares).
A American Association of Clinical
Endocrinologists e a National Lipid Association não
concordaram com as diretrizes da ACC/AHA e, obviamente, recomendaram aos seus
pares que seguissem seus próprios protocolos. Quem está mais certo? Apenas o
tempo dirá... Quer dizer, o tempo e algumas dúzias de meta-análises de estudos
clínicos populacionais randomizados multicêntricos
duplo-cegos, certamente.
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