© Dr. Alessandro Loiola
Um trabalho publicado dia desses sobre tratamento da depressão chamou bastante minha atenção. O estudo, muito bem elaborado e estatisticamente embasado feito na Harvard Medical School e publicado em Agosto na revista Biological Psychiatry, mostrou a capacidade de um equipamento gerador de campo eletromagnético de oscilação rápida em promover alterações de humor.
Há mais de uma década sabe-se que a estimulação magnética de baixo campo (low-field magnetic stimulation ou LFMS) é capaz de alterar o funcionamento cerebral. Com base nessa premissa, os pesquisadores desenvolveram um aparelho portátil semelhante a uma pequena caixa capaz de aplicar LFMS. O paciente se deita e o topo da sua cabeça é encaixada no aparelho, deixando o restante, incluindo os olhos, livres.
Mais de 60 indivíduos entre 18 e 65 anos de idade com transtorno bipolar ou transtorno depressivo, já em uso de medicamentos porém ainda sintomáticos, utilizaram o aparelho. Após 20 minutos de aplicação de LFMS, a maioria apresentou melhora significativa dos sintomas. E o resultado foi estatisticamente significativo mesmo quando comparado ao grupo controle – pacientes submetidos a um tratamento placebo elaborado de forma engenhosa para simular em todos os detalhes o tratamento real. Não foram observados efeitos colaterais.
O cérebro funciona a partir de impulsos eletroquímicos, e parece óbvio teorizar que o funcionamento elétrico das sinapses foi modulado pela LFMS. Exatamente como e por que isso ocorreu, ainda é um mistério.
Uma vez que este equipamento oferece um alívio imediato, ele pode ser útil como uma “ponte” em locais de atendimento de urgência: medicamentos antidepressivos levam várias semanas para funcionar, e mesmo a eletroconvulsoterapia – método mais eficaz conhecido para tratamento da depressão severa – leva 2 a 3 sessões semanais por 4 semanas pelo menos para produzir resultados. Em locais de pronto atendimento, a LFMS poderia ser utilizada como um procedimento de urgência em indivíduos atendidos após tentativa de suicídio ou com episódio depressivo grave, por exemplo.
Os pesquisadores agora estão procurando determinar qual a frequência do tratamento, a forma como deve ser aplicado e o tempo necessário de exposição ao campo eletromagnético para produzir o efeito antidepressivo.
A despeito de ser um caminho ainda muito novo, a LFMS merece atenção pela chance de alívio real dos sintomas dessa doença ainda tão mal compreendida.
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