Minha permanente xícara sobre a mesa não deixa mentir: o
café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo. As pessoas dizem que
adoram café porque é uma bebida estimulante, saborosa e aromática. Mas pode
haver mais por trás desta escolha. Silenciosamente, o corpo sabe de coisas que
nossa consciência sequer desconfia. E o café pode ser uma delas.
Pesquisas recentes mostram que o consumo regular de café
diminui o risco de várias doenças, incluindo diabetes melito, pedras na
vesícula, Parkinson, derrame e doenças cardíacas. Como se isso não bastasse,
análises do NIH-AARP Diet and Health
Study mostraram que beber café regularmente também está associado a uma
menor incidência de morte precoce por todas as causas: homens e mulheres que
tomavam 6 ou mais xícaras por dia apresentavam um risco 10% e 15% menor de morte
precoce, respectivamente.
As doenças crônicas do fígado (DCF) são um dos grandes
males que afetam a saúde pública na modernidade: apenas nos EUA, as DCF afetam
15% da população, ocupando o 12º lugar das principais causas de morte e
ceifando mais de 30.000 vidas anualmente. As opções de tratamento para DCF
quase sempre são vistas com boa dose de suspeita, e muitos pacientes terminam
procurando tratamentos alternativos para o problema.
Somando o potencial de benefícios do café e a recente
popularidade das DCF, um grupo de pesquisadores resolveu verificar se esta
bebida possuía algum efeito em pessoas portadoras de hepatite viral,
esteato-hepatite não-alcoólica (EHNA), cirrose e carcinoma hepatocelular. Para
tanto, foi realizada uma busca nas bases de dados médicos MEDLINE e PubMed,
incluindo todos os estudos publicados envolvendo café e doenças hepáticas,
abrangendo o intervalo de tempo entre 1986 e 2012.
Vários estudos mostraram que o consumo de café
apresentava um efeito benéfico sobre os testes de função hepática. Este
benefício foi observado inclusive em pessoas alcoólatras, obesas, tabagistas
e/ou portadoras de hepatite viral crônica, com melhora significativa nos níveis
de TGO, TGP e gama-GT.
Tomar café também associou-se a uma menor incidência de
DCF: o consumo diário de duas ou mais xícaras de café diminui o ritmo de
fibrose hepática em pessoas obesas mórbidas com EHNA. Curiosamente, este efeito
protetor não está presente quando a cafeína é ingerida a partir de outras
fontes que não o famoso cafezinho.
Três ou mais xícaras de café por dia diminuem o risco de cirrose
ou pelo menos ajudam a reduzir a velocidade de progressão da doença. Em pessoas
em tratamento para hepatite viral com interferon, esta mesma dose de café é
capaz de aumentar a tolerância ao medicamento. E, como se não bastasse, após
1-2 anos consumindo três ou mais xícaras de café por dia, você também começa a
reduzir seu risco de câncer hepatocelular.
Beleza. Café é excelente para o fígado. Mas como isso
acontece?
O café é composto por mais de 100 substâncias químicas
diferentes, e qualquer uma delas poderia ser a responsável pelos efeitos
benéficos. O mais provável é que mérito não caiba a um único composto em
particular, mas ao efeito combinado de várias substâncias. Ademais, nem todos
os tipos de café parecem fazer bem para o fígado. Vários estudos mostraram um
efeito protetor para o café filtrado, e um possível efeito deletério
relacionado ao café não-filtrado.
Até que os exatos mecanismos de ação do café sejam
elucidados, uma coisa é certa: esse super-herói é de fato eficaz e merece
continuar tendo um papel importante na sua dieta.
Um comentário:
Excelente artigo! Eu adoro café! Vou continuar com a minha xícara em cima da mesa diariamente. Abçs!
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