08 dezembro 2014

Café faz bem para o fígado

© Dr. Alessandro Loiola

Minha permanente xícara sobre a mesa não deixa mentir: o café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo. As pessoas dizem que adoram café porque é uma bebida estimulante, saborosa e aromática. Mas pode haver mais por trás desta escolha. Silenciosamente, o corpo sabe de coisas que nossa consciência sequer desconfia. E o café pode ser uma delas.
 
Pesquisas recentes mostram que o consumo regular de café diminui o risco de várias doenças, incluindo diabetes melito, pedras na vesícula, Parkinson, derrame e doenças cardíacas. Como se isso não bastasse, análises do NIH-AARP Diet and Health Study mostraram que beber café regularmente também está associado a uma menor incidência de morte precoce por todas as causas: homens e mulheres que tomavam 6 ou mais xícaras por dia apresentavam um risco 10% e 15% menor de morte precoce, respectivamente.
 
As doenças crônicas do fígado (DCF) são um dos grandes males que afetam a saúde pública na modernidade: apenas nos EUA, as DCF afetam 15% da população, ocupando o 12º lugar das principais causas de morte e ceifando mais de 30.000 vidas anualmente. As opções de tratamento para DCF quase sempre são vistas com boa dose de suspeita, e muitos pacientes terminam procurando tratamentos alternativos para o problema.
 
Somando o potencial de benefícios do café e a recente popularidade das DCF, um grupo de pesquisadores resolveu verificar se esta bebida possuía algum efeito em pessoas portadoras de hepatite viral, esteato-hepatite não-alcoólica (EHNA), cirrose e carcinoma hepatocelular. Para tanto, foi realizada uma busca nas bases de dados médicos MEDLINE e PubMed, incluindo todos os estudos publicados envolvendo café e doenças hepáticas, abrangendo o intervalo de tempo entre 1986 e 2012.
 
Vários estudos mostraram que o consumo de café apresentava um efeito benéfico sobre os testes de função hepática. Este benefício foi observado inclusive em pessoas alcoólatras, obesas, tabagistas e/ou portadoras de hepatite viral crônica, com melhora significativa nos níveis de TGO, TGP e gama-GT. 
 
Tomar café também associou-se a uma menor incidência de DCF: o consumo diário de duas ou mais xícaras de café diminui o ritmo de fibrose hepática em pessoas obesas mórbidas com EHNA. Curiosamente, este efeito protetor não está presente quando a cafeína é ingerida a partir de outras fontes que não o famoso cafezinho.
 
Três ou mais xícaras de café por dia diminuem o risco de cirrose ou pelo menos ajudam a reduzir a velocidade de progressão da doença. Em pessoas em tratamento para hepatite viral com interferon, esta mesma dose de café é capaz de aumentar a tolerância ao medicamento. E, como se não bastasse, após 1-2 anos consumindo três ou mais xícaras de café por dia, você também começa a reduzir seu risco de câncer hepatocelular.
 
Beleza. Café é excelente para o fígado. Mas como isso acontece? 
 
O café é composto por mais de 100 substâncias químicas diferentes, e qualquer uma delas poderia ser a responsável pelos efeitos benéficos. O mais provável é que mérito não caiba a um único composto em particular, mas ao efeito combinado de várias substâncias. Ademais, nem todos os tipos de café parecem fazer bem para o fígado. Vários estudos mostraram um efeito protetor para o café filtrado, e um possível efeito deletério relacionado ao café não-filtrado.
 
Até que os exatos mecanismos de ação do café sejam elucidados, uma coisa é certa: esse super-herói é de fato eficaz e merece continuar tendo um papel importante na sua dieta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente artigo! Eu adoro café! Vou continuar com a minha xícara em cima da mesa diariamente. Abçs!