© Dr. Alessandro Loiola
Os cigarros eletrônicos (ou e-cigarettes) vêm se tornando mais populares a cada dia. Estima-se que eles já movimentem um mercado anual superior a 1 bilhão de dólares e os fabricantes calculam que irão ultrapassar a venda de cigarros comuns em 10 anos.
As propagandas anunciam os e-cigarettes como mais saudáveis, mais limpos, mais baratos, capazes de facilitar o abandono do tabagismo e com o bônus de permitirem ao fumante desfrutar seu vício em qualquer lugar. O marketing tem sido tão eficaz que 1 de cada 5 tabagistas relatam já terem feito uso do cigarro eletrônico pelo menos uma vez. Logo irão chover perguntas e falsas-verdades sobre esse produto, e o que os profissionais de saúde irão dizer?
Bora dar uma olhada no que tem embasamento e no que é pseudo-ciência, então.
Uma das desculpas mais frequentes para o uso de e-cigarettes é a de que o aparelho ajuda a parar de fumar. Essa eu já ouvi até de uma colega de plantão. Nos EUA, mais da metade dos tabagistas que tentaram parar de fumar chegaram a usar os e-cigarettes como ferramenta, mas os méritos do equipamento ainda são mais que questionáveis.
Para os profissionais de saúde, talvez o mais importante neste aspecto seja o fato de que, quando um tabagista contumaz começa a fazer perguntas sobre o cigarro eletrônico, o que ele ou ela na verdade está procurando é uma saída para o seu vício. Então de repente a conversa sobre cigarros eletrônicos possa ser utilizada como uma ponte para iniciar tratamentos anti-tabagismo que realmente funcionam.
A imensa maioria dos e-cigarettes é fabricada por uma única empresa na China. Eles – surpresa! – não possuem quase nenhuma fiscalização sanitária ou de padronização de qualidade. Muitas propagandas os anunciam como “simples e inofensivos produtores de vapores d´água”, mas isto é uma mentira deslavada. O que ocorre é que eles utilizam propileno-glicol vaporizado como veículo para a nicotina, além de agentes flavorizantes que também são inalados ao serem aquecidos por um sistema interno movido a bateria. O esquema todo termina fornecendo um aerossol contendo partículas ultrafinas, com uma quantidade variável e indeterminada de nicotina.
Cada tragada no e-cigarette, utilizando as configurações com maior carga de nicotina, oferece apenas cerca de 20% da quantidade de nicotina de uma tragada em um cigarro comum. Ok, eles são menos potentes do ponto de vista de oferta de nicotina – e este pode ser exatamente o motivo pelo qual alguns pacientes tentaram e não gostaram dos e-cigarettes.
Até aqui, é o que se sabe de fato. O que não se sabe é se os e-cigarettes, após muitos anos de uso, se mostrarão realmente mais seguros que os cigarros convencionais. Será que é possível quantificar os riscos da aspiração de propileno-glicol, do vapor de bateria e de todas as demais partículas em aerossóis que acompanham as tragadas eletrônicas? E se no final essa porcariada toda se mostrar ainda mais carcinogênica que o mau e velho cigarro?
Se é para parar de fumar, então como os e-cigarettes se comparam em termos de eficácia estratégica a um bom aconselhamento cara a cara, ou uso de chicletes ou adesivos de nicotina, ou comprimidos de bupropiona ou vareniclina? Ainda não existem pesquisas suficientes para responder a isso.
Você quer usar vitaminas, antioxidantes e cápsulas de ômega-3? Beleza, não existem evidências claras sobre benefícios, mas essas opções são provavelmente seguras no longo prazo.
Você quer tomar uns goles? Ora, um a dois drinques por dia é possivelmente útil e benéfico, desde que você seja capaz de manter o ritmo dentro deste nível e não esteja preocupado(a) com o risco de desenvolver câncer.
Você quer fumar o que quer que seja? Lamento, mas neste caso simplesmente não existem evidências mostrando que isso pode ser útil, benéfico ou sem risco em qualquer versão imaginável, nem mesmo se você for exibir por aí essa moderníssima e descolada pipeta de vapores de bateria que chamam de cigarro eletrônico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário