14 dezembro 2017

SOBRE UM NOVO SISTEMA DE ENSINO


Os professores são os responsáveis por difundir modos de pensar a alunos que já tem seus próprios métodos de raciocínio – métodos estes que serão empregados para processar as informações apresentadas.

Muitos dos pontos de vista explicados na frente do quadro negro são edições intelectualmente refinadas de opiniões que os estudantes já possuíam, porém em versões mais rudimentares. Por este motivo, as aulas deveriam levar em conta as competências cognitivas presentes nos alunos, e, idealmente, procurar ampliar e desafiar essas competências, ao invés de simplesmente tentar ocupar espaços vazios ou reorganizar os espaços já existentes colonizando-os com algo que o Estado considere essencial, novo ou melhor.

Qualquer professor que tente apresentar um material que não esteja alinhado às competências cognitivas prévias de seus pupilos estará enxugando gelo. Sua instrução será rejeitada como sendo incompreensível ou radicalmente discordante do bom senso, ou será absorvida de modo distorcido. Uma boa aula expõe informações que desalojam as compreensões anteriores do aluno, obrigando-o a construir novos entendimentos. Afinal, o Saber não é uma flor que se observa, mas uma montanha que se escala.

Quando o Conhecimento é divulgado desta forma, muitos estudantes metabolizam os dados de modo convencional e, por conseguinte, deturpado. Eles não estão confundindo tudo: estão apenas tentando entender em seus próprios termos. Este problema é bem perceptível quando lidamos com parcelas menos educadas da população e tentamos expressar noções de tolerância, honra, coragem, força, disciplina, igualdade, secularismo e meritocracia.

É de se esperar que, enquanto estes conceitos são apresentados em um embrulho questionador, a classe comece a se dividir em grupos com argumentos opostos. O desentendimento mútuo – e não o entendimento compartilhado - é a regra nesses cenários. A mesma dinâmica pode ser observada quando cidadãos discutem política.

Em geral, o grupo que demonstra o maior nível de confusão, desacordo e insatisfação pode ser o mais produtivo educacionalmente. E isto não corre apenas porque a agitação fornece carvão para a fornalha do pensamento reflexivo: na verdade, os insatisfeitos barulhentos ajudam a iniciar ou exacerbar o desequilíbrio cognitivo pré-existente, que de outro modo permaneceria constrangido em seu mutismo conveniente. Esta sacudida leva os estudantes – e os cidadãos – na direção de uma reintegração de crenças alicerçada em ideias com um nível bem maior de discernimento.

Assim como um hospital tende a ser uma instituição de cuidados, uma escola também deveria conceber sua missão desta forma. Não apenas transmitindo conteúdo ou desenvolvendo habilidades tayloristas específicas, mas apoiando, nutrindo, fomentando, complementando e participando ativamente do crescimento intelectual global do estudante.

O fato de muitos professores acreditarem já estar agindo dessa forma – quando não estão nem um pouco - mostra como é essencial e urgente conceber uma nova forma de ensino. Infelizmente, enquanto a Base Nacional Comum Curricular tramita em um universo paralelo, longe da atenção merecida, a nação segue desperdiçando vários minutos por ano com os muitos escândalos do dia. Nesse ritmo, deixaremos de ser o país do futuro e continuaremos a ser, com pompa e circunstância midiáticas, o país sem futuro de sempre.

11 dezembro 2017

PERTO DE MAIS UM GIRO NA RODA DA VIDA

 
Último mês de 2017. Hora de olhar para frente, planejar o próximo ano e tentar enxergar o que aguarda um pouco além da curva. Mas é hora também de olhar para trás e ver o rastro das pegadas deixadas no caminho dos últimos 12 meses. E que 12 meses...!

Conheci cidades, praias, rios, cachoeiras, matas, estradas e lugares espetaculares; andei mais de 2000 km de moto, carimbei o asfalto com minhas costelas, esmaguei um pulmão e fiz um estágio de imersão de alguns dias, como paciente, na realidade do sistema público de saúde de nosso país. Uma experiência que me modificou profundamente, pode acreditar.

De uma ideia surgida em uma conversa de mesa de bar com dois amigos muito queridos (Juliano e João Ricardo), o projeto ManhoodBrasil se desdobrou em um website versátil, informativo, vibrante, contabilizando mais de 1.500 páginas publicadas em um ano (são 309 matérias em 5 categorias de interesse até aqui) e quase 20.000 views/mês.

Hoje, a marca reúne mais de 1.000 seguidores no Instagram, mais de 7.000 no Linkedin e superou o teto de 4.000 no Facebook, alcançando mais de 55.000 pessoas e rendendo feedbacks recompensadores. Simplesmente não tenho como agradecer a cada um de vocês que fizeram – e continuam fazendo - parte dessa transformação.

Entre idas e vindas no consultório, concentrando 100% dos meus atendimentos no SUS, pude compartilhar das queixas e das agruras de cerca de 6.500 pessoas: de cada 3 pacientes tomando remédios psiquiátricos, 2 não precisavam de remédio algum, mas apenas de uma luz para aceitar a responsabilidade embutida em suas próprias escolhas e a chance de mudança que a vida oferece a cada dia. O mesmo valia para os obesos (60% da população atendida), os ansiosos e os deprimidos.

Em muitos casos, não acho que minhas orientações fizeram grande diferença, mas tive o prazer de ver pessoas iluminadas conseguindo se livrar de seus tarjas-preta de estimação, perdendo 8 kg em 2 meses ou até 23 kg ao longo do ano. Assisti relacionamentos renascerem, crises de choros e tempestades de catarse. Testemunhei alguns corajosos se engajando e decidindo finalmente participar ativamente de seu tratamento, virando corredores, atletas, remando caiaques no mar, florescendo novamente. A honra e a alegria de participar de suas vitórias não cabem em palavras.

Para fechar 2017 com um brinde especial, recebi a companhia de uma mulher magnífica, inteligente, esforçada, cujos planos em comum me fazem respirar fundo com um sorriso quando penso em como 2018 poderá ser ainda mais recheado de riscos, descobertas e conquistas gratificantes.

Espero que você tenha maturidade para reconhecer os milagres que lhe acompanharam neste ano – até mesmo nas vicissitudes que ele pode ter trazido. Que você deixe as picuinhas políticas de lado, que tire essas roupas pirracentas de moralidade que teima em ostentar, e faça uma viagem para dentro de si e para fora de sua zona de conforto. De todas as opções possíveis, seguir vivendo é certamente a mais extraordinária delas! Curta cada minuto.

Boas festas :)

30 novembro 2017

AINDA SOBRE EDUCAÇÃO NO BRASIL

No primeiro dia de 2015, a presidente recém empossada Dilma Rousseff definiu o novo lema de governo: Brasil, Pátria Educadora. Curiosamente, em novembro do mesmo ano, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou seu relatório Education at a Glance.

O Education at a Glance é uma fonte validada de informações acuradas sobre o estado da educação em todo o mundo. Ele fornece dados sobre o desempenho das instituições de ensino; o impacto do aprendizado nos países; os recursos financeiros e humanos investidos em educação; o acesso, a participação e a progressão na educação; e a organização e o ambiente de ensino dentro das escolas.

No painel de 2015, a OCDE apontou alguns indicadores preocupantes no ensino brasileiro. Por exemplo: o nível de aprendizado médio dos estudantes em Ciência foi péssimo. Entre os avaliados, 82% ficaram entre o nível mais baixo de conhecimento e o nível 2 – o nível básico. A média da OCDE para esses grupos é de 46% no total.

Importante salientar que o nível 2 de aprendizagem em ciências é o mínimo necessário para se tornar um cidadão “crítico e informado”. Nesse nível, os estudantes começam a demonstrar as competências que vão permitir que participem efetivamente e produtivamente nas situações cotidianas relacionadas a ciência e tecnologia. Com 82% dos estudantes com nível baixo de conhecimento científico, não é preciso uma dedução complexa para calcular o naipe de raciocínio crítico que nossa população possui...

Em leitura, o Brasil ficou entre os 12 piores países, com uma média de 407 pontos - bem abaixo da média de 493 da OCDE.

Mas nosso pior desempenho geral foi em Matemática, disciplina em que ficamos entre os cinco piores países avaliados, com uma média de 377 ante uma média de 490 entre os países da OCDE. Basicamente, 70% de nossos estudantes estão abaixo do nível 2 em Matemática – que seria o mínimo necessário para que um aluno possa exercer plenamente sua cidadania. Em países desenvolvidos, como a Finlândia, a taxa de incapazes é de 13%.

“Países como a Colômbia e o México, que tinham resultados similares aos nossos, nos deixaram para trás. Portugal e Polônia, que também estavam próximos, deram um salto de qualidade e superaram a média da OCDE” – e estas não são palavras minhas. São da Secretaria Executiva do MEC.

NÃO É UM PROBLEMA DE QUANTIDADE...

Talvez o problema da qualidade da educação esteja nos investimentos, não? Talvez nós estejamos gastando pouco com isso...

Não, não estamos gastando pouco. O Brasil destina 17% dos seus gastos públicos à educação, do nível de educação básica à educação superior. Somente o México e a Nova Zelândia – ambos com 18% - destinam uma proporção maior dos gastos públicos às instituições de ensino.

Além disso, o gasto público em instituições de educação superior como percentual do gasto público total aumentou 49% entre 2005 e 2012, o que é bem acima do aumento médio da OCDE de 33%. O aumento foi ainda mais acentuado em instituições de ensino fundamental e médio. A proporção de gasto público nesses níveis aumentou 82% no mesmo período, o maior aumento entre todos os países e parceiros da OCDE com dados disponíveis.

Em 2012, o gasto público brasileiro em instituições da educação básica a superior representou 5,6% do PIB. Essa proporção é consideravelmente maior que a média OCDE de 4,7%, e é a quinta mais alta entre todos os países e parceiros da OCDE com dados disponíveis.

Neste ponto, vamos fazer um parêntese e supor o seguinte: eu lhe dei 30 mil reais e pedi que você comprasse um carro para mim. Trinta mil mangos não é uma fortuna, mas também não é de se jogar fora. Contudo, antes que você saísse, eu lhe passei algumas instruções específicas sobre a compra: com esse dinheiro, você deveria retornar trazendo um carro zero quilômetro, com direção hidráulica, automático, trio elétrico, teto solar, 6 air-bags e tração nas quatro rodas - com ABS.

Trinta mil não compram isso. Ainda que seja um dinheiro legal, é pouco para a qualidade definida para o produto. E aqui entra um dos problemas do nosso ensino. Ele não é tanto de quantidade dinheiro, mas de destino do investimento: os salários iniciais dos professores no Brasil são menores do que em outros países latino-americanos como Chile, Colômbia e México para todos os níveis educacionais, desde a pré-escola até o ensino médio.

No Brasil, um professor da rede pública ganha em média R$ 3,3 mil e nós, os hipócritas esquizofrênicos, alucinamos com a suposição de que uma mão de obra desse valor é capaz de ter o mesmo rendimento de um professor da Finlândia. É uma piada. O salário médio de um professor primário finlandês é de  3.132 euros mensais (cerca de R$ 12 mil). Professores do ensino médio recebem 3.832 euros e docentes de universidades ganham em média 4.169 euros por mês (R$ 16 mil).

Se você quer pagar R$ 3,3 mil por um carro, não se surpreenda quando ele não tiver o rendimento de um veículo 5 vezes mais caro. Por R$ 3,3 mil mensais você não compra o direito de possuir uma Ferrari, ainda que os delírios anotados na Constituição Federal e as crenças socialistas-comunistas de banânia tentem lhe convencer do contrário.

Como diz a expressão americana da década de 1930: Não existe essa coisa de almoço grátis. Se você quer qualidade, pague por ela. Ou faça alguém pagar.

... É UM PROBLEMA DE VALORES

Além da montanha de dinheiro investido em educação não ir para o bolso de quem faz a diferença – professores -, há ainda o problema do desinteresse comatoso da população brasileira, que não vê no estudo e no aprendizado um valor intrínseco, mas apenas uma forma para ganhar dinheiro.

Nós não estudamos para aprender. Dizemos o oposto disso apenas como uma maneira dissimulada para ocultar o real motivo pelo qual estudamos: o brasileiro estuda para ganhar mais dinheiro. Transformando o dinheiro - e não a aquisição de cultura e saber – na finalidade do processo escolar, nosso povo deixou de enxergar a educação como algo nobre. Estudar e aprender viraram ferramentas que podem ser indesejadas sem penalidade.

Está tudo bem não estudar caso você esteja satisfeito em levar uma mais simples, certo?

Não, não está.

Em 2013, 54% dos adultos com idade entre 25 e 64 anos não tinham completado o ensino médio no Brasil - o que é consideravelmente maior que a média OCDE de 24% -, e quase dois terços dos jovens de 15 a 29 anos não estavam estudando.

No meio dessa massa de analfabetos funcionais, existe uma multidão absurda que compõe um grupo conhecido como “NEM-NEM”: gentes que nem estudam nem trabalham. Essa multidão - mais de 20% dos indivíduos de 15 a 29 anos - equivale a uma manada de 10,2 milhões de inúteis que a população economicamente ativa deve literalmente carregar nas costas.

A saída para a Educação no Brasil é como a saída para a Saúde, para a Segurança Pública, para o sistema Previdenciário, para a Burocracia e tudo mais que entrava esse país: a saída passa por uma discussão dura, franca, grosseira e com todos os nomes aos bois e palavrões a que se tem direito sobre o que está ocorrendo aqui. Sem espaço para comportamentos de vítima, mecanismos de projeção de culpa, corporativismos cor-de-rosa ou cunhadismos indecentes.

Ou levamos essa joça a sério, ou nos tornamos perpetuamente aquilo que já somos: um bando de sonâmbulos sem competência sequer para limpar o próprio traseiro sem uma ajudinha do Estado.


SOBRE NOSSO SISTEMA EDUCACIONAL

O academicismo preciosista brasileiro matou a Academia. Leia a biografia de Einstein, Leeuwenhoek, Newton, Darwin e Ignaz Philipp Semmelweiss, por exemplo, e veja que títulos eles possuíam quando produziram conhecimentos que mudaram o status quo.

Da mesma forma como o governo é o problema do país, os professores (e sua busca por titulações apenas para aumentar salários e não a eficiência do ensino) são o problema do sistema educacional: 50% dos profissionais da área sofrem de algum transtorno mental comum (aí inclusos síndrome de burnout, transtorno da ansiedade, depressão, bipolaridade e síndrome do pânico). Na população geral, a prevalência é de 20%.

Muito mais que a remuneração, precisamos melhorar a seleção de quem vai para as salas de aula. Depois de 30 anos, é perceptível que filtrar a admissão por credenciais acadêmicas e ideologias socialistas não produziu bons resultados: ostentamos a nada honrosa 60.ª posição no ranking mundial de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No estudo da OCDE, foram avaliados 76 países - um terço das nações do mundo - por meio do desempenho de alunos de 15 anos em testes de Ciências e Matemática.

A mudança de filosofia deveria começar pela desconstrução da ideia por trás da valorização do ego academicista. Precisamos trocar os silogismos sofistas vitimizantes de nossas escolas por conteúdos técnicos focados em objetivismo, cidadania e responsabilidade resiliente. Apenas assim será possível observar alguma mudança efetiva daqui algumas décadas.

18 novembro 2017

SOBRE UM DELÍRIO CHAMADO NOVEMBRO AZUL

Após receber toneladas de propaganda sobre as campanhas Novembro Azul, fiquei me perguntando: será que o screening para neoplasia prostática utilizando faixas etárias como linhas de corte produz alguma redução significativa na morbiletalidade da doença?

Não, não produz. E isso é o que dizem as evidências acumuladas a partir de metanálises e revisões sistemáticas da literatura.

Apenas para citar um exemplo de peso: segundo o NIH (Instituto Nacional de Saúde, entidade dos EUA equivalente ao nosso Ministério da Saúde), a dosagem periódica de PSA ou o exame de Toque Retal (TR) não é capaz de reduzir a mortalidade associada ao câncer prostático.

O que o conjunto dos dados embasados DE FATO mostra - e existem dezenas e dezenas de estudos sérios concluindo exatamente esta mesma coisa -  é que o screening populacional com PSA e/ou TR resulta em um exagero nos diagnósticos de câncer na próstata, além da detecção de lesões que, se não diagnosticadas, jamais causariam mal algum.

O excesso de diagnósticos e resultados falso-positivos leva à realização de exames adicionais (p.ex.: biópsia prostática) e tratamentos invasivos em homens que sofrerão, agora, as consequências desses danos desnecessários.

Mas as políticas públicas tupiniquins não são feitas com base em Ciência. Nunca foram. Elas são orquestradas com discursos paternalistas em nome de motivações essencialmente populistas. E, incrivelmente, aqueles que deveriam erguer suas vozes anunciando este descalabro, inacreditavelmente embarcam no delírio para - quem sabe - retirar dele algum brio e prestígio para seus egos.

Não temos um outubro rosa. Tampouco temos um novembro azul. O que temos são meses, anos, décadas do mais puro colorido psicodélico esquizofrênico que o mundo já viu do lado debaixo do Equador. E o surto de Gargamel sob efeito de cogumelos alucinógenos perseguindo Smurfs fantasiosos no bosque segue - com aval do Estado e sua corte de especialistas cegos, surdos e mudos.

SOBRE O MITO DA DOENÇA MENTAL

A partir da Segunda Guera Mundial, a medicina passou a definir a simulação de doença como uma doença em si. Isso equivale a dizer que uma boa imitação de uma obra-prima deveria, segundo aqueles novos conceitos, ser considerada uma obra-prima.

No caso da doença mental, essa redefinição arbitrária significou aceitar compulsoriamente que uma nota de dinheiro falsificada deva valer o mesmo que uma nota verdadeira - e as manifestações diversas de Fraqueza Moral finalmente receberam sua validação como Doença, sem a necessidade de sustentar sequer um substrato anatomo-fisiológico qualquer que lhe justificasse o título.

Nos últimos 60 anos, tudo que fizemos para resolver este problema foi afrouxar nossos conceitos de doença e de obra-prima, forçando a medicina a aceitar e tratar toda histeria - até as falsificadas - como se fosse uma moléstia crônica "ipso facto".

Travestida de "ciência", a condescendência mercantilista patrocinada por laboratórios farmacêuticos, prontamente abraçada por agremiações de "especialistas" e gratamente recebida por manadas de indivíduos masoquistas em busca de aconchego para suas carências e inépcias, rapidamente alastrou-se pelo mundo e produziu, até aqui, duas gerações inteiras de pessoas confortavelmente assentadas em discursos de autovitimização privilegiada.

E esta farsa sem fim segue firme e forte.

10 novembro 2017

A FUGA COTIDIANA DAS RESPONSABILIDADES


Uma adolescente entra no consultório acompanhada da mãe e o que se desenrola é o mesmo de sempre:

- Quero que o senhor peça um check-up dela.

- Algum motivo especial? Ela faz tratamento para alguma doença? Tireoide, asma, diabetes...

- Não, nada. Só quero fazer os exames de rotina.

Segue-se uma conversa sucinta e objetiva sobre antecedentes médicos da paciente, uma consulta ao prontuário e, enquanto preencho os dados dos exames, a mãe continua:

- E daria também para o senhor encaminhá-la para o psicólogo? Ela anda tendo uns problemas...

- Exatamente por que eu deveria encaminhá-la ao psicólogo?

- Porque ela anda difícil, rebelde, desobediente, às vezes chorosa...

- Não acredita que, antes do acompanhamento com um psicólogo, resolver essas situações de comportamento deveria ser um papel do pai e da mãe?

- Sou sozinha com ela, doutor. E já fiz de tudo para ajudar, mas não tá adiantando.

- Entendo. Mas não acha que levar sua filha ao psicólogo para resolver problemas de conduta é uma forma de transferir para o psicólogo a responsabilidade de criá-la, que deveria ser sua?

- Não.

- A senhora tem carta de motorista?

- Tenho, sim.

- Esse documento se materializou na sua carteira como um passe de mágica ou a senhora teve que estudar para consegui-lo?

- Estudei, fiz auto-escola, foi um sufoco!

- E diploma do ensino médio? A senhora tem?

- Tenho. Não fiz faculdade, mas terminei os estudos.

- Hum. Sou formado há 22 anos e ainda não terminei os meus... Mesmo assim: esse diploma também se materializou na sua gaveta de documentos ou a senhora teve que estudar para consegui-lo?

- Estudei, lógico! Não tem como aparecer um diploma de conclusão de curso sem fazer o curso.

- Certo. No último ano, quantos livros a senhora leu sobre como criar filhos?

- Hãn? – ela se surpreendeu, colocando a bolsa a tiracolo na frente do corpo.

- No último ano, quantos livros a senhora leu sobre como criar filhos?

- Nenhum.

- A senhora por acaso já se interessou em ler algum?

- Ah, há alguns anos até comecei um que não lembro o nome agora, mas larguei antes da metade.

- E a senhora acha mesmo que já fez “de tudo” para tentar entender o comportamento de sua filha e ser um exemplo para o desenvolvimento dela?

- Sinceramente, acho que sim. E não sei mais o que fazer.

- Que tal começar a ler sobre o assunto?

- Não sei... não vejo como isso iria ajudar muita coisa. – ela respondeu, cruzando os braços.

- E a senhora acredita que o espírito santo vai baixar na sua mente e por um milagre lhe iluminar sobre como agir para conduzir a formação da personalidade de sua filha?

- Ah, eu vou tentando do jeito que eu sei.

- Entendo. É o velho método de “tentativa e erro”. Mas, se a senhora está se queixando do comportamento dela, isso diz um bocado sobre o que está acontecendo com mais freqüência nas suas tentativas. E o que está acontecendo são erros.

- Não penso que estou errada.

- Então por que se queixa que as coisas não estão dando certo como gostaria?

- É essa geração...

- A senhora tem lido ou estudado alguma coisa sobre como lidar com essa geração?

- Não tenho tempo pra isso, doutor. Trabalho muito, sou sozinha e ainda mais com uma filha...

- Algumas dessas coisas lhe foram impostas? Ou são frutos de escolhas que a senhora fez até aqui?

- Só quero que o senhor encaminhe minha filha para o psicólogo e pronto. É pedir muito? – ela respondeu, visivelmente irritada e contrariada.

Abaixei a cabeça, peguei o formulário de encaminhamento, preenchi, assinei, carimbei e a dupla se foi. Provavelmente, semana que vem vou receber uma carta da Diretoria de Saúde comunicando outra  “sindicância instaurada sobre atendimento a partir de queixa do usuário”. Mais algumas e logo organizo um livro só delas - a coleção vai aumentando forte e saudável.

SOBRE ROSSEAU, O SOCIALISTA-PADRÃO

Em suas andanças, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o garotão suíço esperto órfão de mãe que fugiu da escola, arrumou como amante uma rica senhora e, sob seus cuidados, desenvolveu o interesse pela música e filosofia. Amou-a durante alguns anos e outros tantos contos de réis e, quando a situação financeira ficou ruim, fugiu para Paris com outra amante cujo saldo bancário era mais compatível com seu apreço pelo ócio.

Instalado na França, Jean teve cinco filhos com sua amada parisiense. Muito diligentemente, tratou de colocá-los todos em um orfanato.

Apesar de seu contra-Iluminismo, Rousseau é tido em grande conta como um pensador de relevância para a modernidade. Mas, analisando seus escritos, é difícil encontrar alguma genialidade que não possa ser classificada como pura maledicência socialista.

Em O Contrato Social, Rousseau prega insistentemente a "liberdade". Entretanto, defende também a presença de um Legislador que possua uma “inteligência superior ”. Tal legislador teria uma das tarefas mais exigentes na sociedade: estipular regras e normas que limitam a liberdade de cada indivíduo em nome do bem desses. Haja incongruência...

Por tudo isso, Voltaire tem no mínimo um mérito incontestável: foi um crítico ferrenho do aproveitador Rousseau - um sujeito esquizofrênico e de atitudes dissociativas que nossa esquerda tupiniquim ama idolatrar.

04 novembro 2017

EDUCAR-SE É UM DIREITO OU UMA OBRIGAÇÃO?

Nos tímpanos da geração Mimimi, a palavra “direito” virou um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros.

Conforme exposto por Olavo de Carvalho, "há décadas o Estado vem gritando nos ouvidos dos estudantes que a educação é um direito, e isso só os tem impelido a cobrar tudo dos outros — do Estado, da sociedade — e nada de si mesmos".

Cruzadas publicitárias que "enfatizam a educação como um direito a ser cobrado, e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da campanha, têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas: elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma", escreveu o autor de O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota.

O resultado disso é fácil de ser aferido: o Brasil ficou na 60.ª posição no ranking mundial de educação em uma lista elaborada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) envolvendo 76 países - um terço das nações do mundo.

Não é de admirar: segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê em média 2 livros inteiros por ano. É isso que acontece quando o que deveria ser uma obrigação de cada um vira direito de todos - e dever de ninguém.

E se você se acha tão especial, inteligente e acima da média, que tal comentar citando os 3 (ou mais) livros inteiros que leu nos últimos 12 meses?

QUAL A SAÍDA PARA O BRASIL?

Apenas no PRIMEIRO trimestre de 2017, o Facebook registrou um LUCRO LÍQUIDO de R$ 10 bilhões.

Para efeito de comparação, isso é 3 vezes maior que o LUCRO LÍQUIDO SOMADO de 10 das maiores potências industriais brasileiras durante TODO O ANO de 2016:

1- Grupo Weg (R$ 1,117 bilhão)
2 - Votorantim Cimentos (R$ 600 milhões)
3 - Cristália (R$ 469 milhões)
4 - Mineração Paragominas (R$ 393 milhões)
5 - Natura (R$ 296 milhões)
6 - Rede Ipiranga (R$ 280 milhões)
7 - Mahle Metal Leve (R$ 150 milhões)
8 - Magazine Luíza (R$ 104 milhões)
9 - Furukawa (R$ 76 milhões)
10 - Cometc (R$ 25 milhões)

Enquanto nosso sistema educacional continuar sufocando a criatividade; a burocracia esquerdista, massacrando a capacidade de iniciativa; e os impostos, abortando o empreendedorismo liberal, continuaremos na liderança mundial dos índices de homicídios: nosso país, sozinho, responde anualmente por 10% de todos os assassinatos no planeta.

A fórmula não é mágica, tampouco é nova: o crescimento econômito baseado no desempedimento e valorização do mérito pessoal, com justiça efetiva protegendo a vida e a propriedade, é o único caminho para uma reforma social séria. Todo o resto é fanfarronice eleitoreira.

01 novembro 2017

A CLÁSSICA ANTIGUIDADE DO DELÍRIO

Existe um livro de 1841 chamado Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds (Extraordinários engodos populares e a loucura das multidões). Duvido um pouco que você sequer tenha ouvido falar dele... Há alguns anos, baixei o pdf, devorei a leitura das 499 páginas em um fim de semana, e dexei-o salvo na minha “nuvem”. Desde então, o revisito com uma certa periodicidade, como quem passa na varanda de um velho amigo para rir de alguma bobagem à toa.

Escrito pelo jornalista escocês Charles Mackay, a obra explora o lado ridículo de muitas crenças e convenções tais como alquimia, barbas e sua influência na política e na religião, caça às bruxas, cruzadas e duelos.

Entre os engodos populares, Mackay descreve a Mania das Tulipas (febre que acometeu a Holanda e terminou como uma crise em fevereiro de 1637), a quebra da South Sea Company (uma convulsão de imbecilidade do capitalismo que assolou a Europa em 1720) e a Companhia do Mississippi (mais ou menos uma versão Franco-Americano da South Sea).

Impossível não pensar no livro de Mackay quando você lê a história de Satoshi Nakamoto e sua criatura mais famosa, um certo BitCoin.

Os anos passam, algum conhecimento se eleva, alguma sabedoria nos ilumina, mas certas burrices inacreditáveis insistem em persistir. Se estivesse vivo, Mackay estaria agora mesmo tomando notas sobre Satoshi e preparando uma edição atualizada de seu excelente Madness of Crowds. Modestamente, eu sugeriria como título do novo capítulo: BitBubbleCoin, a virtual opera of the same fucking old mental disorder.


ALFABETIZAÇÃO PARA NEOPOLÍTICOS & VELHAS RAPOSAS NÉSCIAS


Para quem empacou no meio do caminho e ainda não conseguiu entender o que é ESQUERDA e DIREITA - e vive de argumentar contra tudo utilizando apenas retórica oca e jargões bobos -, aqui seguem algumas orientações bem básicas sobre ideologias políticas.

Se você concorda com elas, fico feliz. Que tal agregar mais valor a esse debate complementando as idéias expostas com as suas próprias?

Por outro lado, se você não concorda, fico ainda mais feliz! Mas, ao invés de torcer o nariz, que tal agregar mais valor a este debate colando SUAS DEFINIÇÕES? Mas entenda: definições são idéias que se erguem de pé, dignas, claras, límpidas, translúcidas. Definições não são convulsões de revolta vazia, ou xingamentos e ataques ao mensageiro (sério: atirar no mensageiro que traz uma mensagem que você não gosta é comportar-se feito uma criança que se joga gritando no chão do supermercado porque a mãe não quis comprar um doce. Você provavelmente já é um adulto, então seja mais que uma criança pirracenta).

Tudo pronto? Vamos lá:

COMUNISMO é uma doutrina social segundo a qual se pode e deve "restabelecer" o que se chama "estado natural", em que todos teriam o mesmo direito a tudo, mediante a abolição da propriedade privada.

SOCIALISMO refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização econômica que advogam a administração e propriedade pública ou coletiva dos meios de produção e distribuição de bens, propondo-se a construir uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, com um método isonômico de compensação. Atualmente, teorias socialistas são partes de posições da esquerda política, relacionadas com as atuações do Estado de bem-estar social.

Em resumo: COMUNISMO E SOCIALISMO são basicamente a mesma coisa, é a mesma velha ideologia de Esquerda - apenas com nomes diferentes. Ambos defendem um Estado gigantesco (para ser capaz de restabelecer o que chamam de “nosso estado natural”), paternalista (construção da sociedade através de “métodos isonômicos de compensação”), ideologicamente inimigo da propriedade privada e controlador da liberdade, das oportunidades, dos meios de produção e da distribuição de bens.

Estas seriam as bases conceituais de Esquerda. Então o que seria Direita? Simples: o diametralmente oposto à esquerda. Portanto, uma ideologia de DIREITA é aquela em que temos:

- Um Estado que aceita o fato de que nem todos terão o mesmo “direito” a tudo. Você não tem direito a ser rico ou feliz, ou ter um diploma universitário, um emprego ou um corpo sarado. É SEU dever esforçar-se por meio da sua vontade e do seu empenho disciplinado para atingir os objetivos que aspira. Satisfazer seus desejos e ambições não é – tampouco foi um dia - um dever do Estado.

- Um Estado que protege a propriedade privada.

- Um Estado que NÃO SE METE com a administração dos meios de produção e distribuição de bens. Não cabe ao Estado fabricar automóveis ou geladeiras ou microondas ou vender máquinas de lavar roupa ou celulares, do mesmo modo que não cabe ao Estado ser dono de rodovias, ferrovias, refinarias, portos ou aeroportos.

- Um Estado que não interfere na liberdade de mercado utilizando subterfúgios escusos e objetivos pífios escondidos sob a égide bacana de “método isonômico de compensação”.

- Um Estado que preserva a liberdade de idéias e expressão.

Ficou mais fácil entender agora que NUNCA tivemos um Estado de Direita nesse país?


25 outubro 2017

REFLETINDO SOBRE VISITAS E RIQUEZAS

Saindo de uma visita médica domiciliar, a assistente que nos acompanhava puxou assunto:

- Caramba, doutor, o senhor viu a notícia do cara que bateu com uma Lamborghini lá em Caçapava?

- Não...

- O fulano foi ficar se exibindo com o carro... bem feito. Aqui se faz, aqui se paga.

- Não assisto jornal há muito tempo, mas continuo surpreso com a mania do brasileiro em demonizar a riqueza.

- Demo-o-quê?

- Demonizar, achincalhar. Como se riqueza fosse algo ruim quando, no final, não é. A ridicularização da fortuna não é movida pelo senso de um mundo mais justo. É apenas inveja mesmo.

- Eu hein. Não concordo com isso, não. Tenho inveja nenhuma dele, todo queimado depois de bater com aquele brinquedo de menino mimado.

- Então se eu pudesse lhe dar um Lamborghini hoje, você recusaria?

- Lógico! Deus me livre! Não sou motivada por essas coisas materiais.

- Você poderia vender o carro e ajudar outras pessoas. Uma máquina dessas vale uns 3 milhões de reais. Poderia pagar integralmente uma faculdade de medicina para 9 adolescentes em situação de risco social. Ou de engenharia civil para uns 30. Isso mudaria a história deles e, provavelmente, de suas famílias. Ou até de uma comunidade inteira.

- Hum... eu não havia pensado por esse lado...

- Eu sei. Mas não se sinta culpada por isso. Nem sozinha. Como você, temos mais 140 milhões de pessoas que também não pensam. E votam. E acham de verdade que discutir identificação de gênero é o que vai mudar esse país.

Seguimos de carro - um Gol, não um Aventador Roadster - de volta para o posto e fiquei pensando em Churchill: "O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de 5 minutos com um eleitor mediano".

O velho Buldogue era rabugento e malvado, mas era igualmente lúcido e sincero.

22 outubro 2017

SOBRE A ESPERANÇA POR MERITOCRACIA

Passamos boa parte do século XX permitindo confortavelmente a construção de uma consciência nacional comunista. O resultado dessa mentalidade pode ser vista a partir de alguns índices reveladores: ocupamos a 175a posição no ranking mundial de "facilidade para se abrir uma empresa", somos o número 123 entre os melhores lugares para se fazer negócios, o 81o em competitividade, e nosso PIB ocupa a última posição em uma lista de 39 países. Três décadas de redemocratização pró-socialista nos deixaram na 60a posição de um ranking mundial de educação envolvendo 76 países.

Em pleno 2017, multidões de brasileiros assentados em sua subserviência insistem em conceituar Meritocracia como "começar do zero", descartando imediatamente o mérito de todo progresso surgido a partir das conquistas da geração anterior. O Mérito tornou-se intrinsecamente vinculado à obrigação do Estado-pai em prover igualdades prévias - por consequência, eximindo o indíviduo de qualquer responsabilidade pela missão do esforço pessoal.

Segundo esse raciocinio limitado, na ausência de politicas educacionais eficientes, a validade do Mérito exigiria que fôssemos todos nivelados desde a origem pela miséria purificadora. Fora desse cenário igualitário utópico, qualquer menção à Meritocracia é sumariamente conduzida para a velha guilhotina do discurso da luta de classes, com opressores oligarcas canibais de um lado e desafortunados congênitos oprimidos do outro.

O fato é que a dialética Meritocrática, protestante, liberal e capitalista não encontra eco consistente por aqui: o povo, há décadas mentalmente adoecido pelo eterno sonho da terra prometida engendrado pelo socialismo católico tupiniquim, tornou-se dependente de clonazepam, fluoxetina, analfabetismo funcional e empregabilidade estatal. E o poço apenas fica mais fundo a cada geração.

19 outubro 2017

SUPLEMENTOS DE CROMO AJUDAM A CONTROLAR O DIABETES?


Não, não ajudam.

Em uma das consultas de hoje, fui questionado sobre outra dessas “descobertas incríveis que os médicos não querem que você saiba”. É incrível como na internet pululam achados extraordinariamente simples para problemas médicos complexos e ancestrais, quase como se cada site de medicina alternativa escondesse uma legião de potenciais ganhadores do Nobel. A verdade é que eles não escondem. São apenas o bom e velho charlatanismo com roupas lustrosas de marketing moderno.

Neste caso específico, o paciente se achava no dever de informar que estava utilizando um suplemento de Picolinato de Cromo. Segundo a notícia que havia recebido por e-mail e confirmado após extensas leituras - todas, obviamente, feitas na página do fabricante do referido suplemento -, esta dádiva da medicina alternativa era capaz de operar milagres no excesso de açúcar em seu sangue. Curiosamente, o dextro dele estava em 247 mg/dL.

Imbuído do benefício da dúvida, fui pesquisar o que havia de real nisso. Descobri que o Picolinato de Cromo é comercializado quase como uma panacéia. De acordo com os vendedores de fumaça na internet, o Picolinato “melhora seu nível geral de disposição, facilita a perda de peso, diminui o trabalho do pâncreas, otimiza o metabolismo da glicose e aumenta a queima de gorduras”. Só faltou tirar nome do SPC, encontrar cachorro perdido e trazer o amor bandido de volta...

Uma volta na base de dados Pubmed e foi possível ver que, desde 1998, diversos estudos avaliaram seriamente os efeitos do Picolinato de Cromo.

Em uma pesquisa realizada em ratos, os cientistas concluíram que a suplementação com Picolinato poderia melhorar a sensibilidade periférica à insulina. Uma outra pesquisa, desta vez envolvendo 39 seres humanos com diabetes e idade média de 73 anos, empregou um grupo controle para avaliar o efeito do Picolinato (200 mcg duas vezes ao dia por 3 semanas), e encontrou diferenças significativas positivas na glicemia e nos níveis de colesterol entre os indivíduos tratados e o grupo controle. Tudo parecia estar indo bem para o Picolinato.

De fato, o cromo é um mineral essencial que parece ter um efeito benéfico na regulação da ação da insulina no organismo, afetando o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios. Estudos também mostraram que pessoas com diabetes tipo 2 possuem níveis sanguíneos de cromo abaixo daqueles de pessoas não-diabéticas. Uma revisão sistemática da literatura realizada em 2006 avaliou 13 estudos clínicos (incluindo 11 estudos randomizados e controlados), envolvendo 1.690 pacientes, e sugeriu que existem efeitos positivos da suplementação com Picolinato de Cromo sobre os níveis de glicose, insulina, colesterol e triglicérides. Além disso, a suplementação com Picolinato de Cromo, especificamente, foi demonstrada como sendo bem segura. Mas seria de fato eficaz acima de qualquer dúvida?

Um estudo realizado em 2011, envolvendo 50 pessoas recebendo doses diárias de 500 mcg ou 1000 mcg de Picolinado de Cromo por 6 meses (idades entre 31 e 88 anos), não foi capaz de encontrar qualquer efeito da suplementação de cromo sobre os níveis de glicohemoglobina, peso, circunferência abdominal, índice de massa corporal, pressão arterial, colesterol total, HDL, LDL, triglicérides ou microalbuminúria. Estes resultados foram congruentes com outros estudos clínicos randomizados realizados com pacientes com síndrome plurimetabólica.

Ao que parece, quando o desenho do ensaio clínico é aprimorado para eliminar vieses de controle - reduzindo assim a variabilidade dos resultados -, os resultados mudam e o cromo perde seu efeito prodigioso.

Em resumo: considerando-se os dados disponíveis até o momento, não existem evidências sólidas que apoiem a recomendação de suplementos de cromo como parte rotineira do tratamento de pessoas com diabetes tipo 2.


16 outubro 2017

SOBRE A FALÊNCIA DA REDEMOCRATIZAÇÃO


Leio e ouço pessoas falando das dificuldades de nosso processo de redemocratização... me surpreendo com elas: e desde quando nosso comunismo tupiniquim foi uma democracia? 

O governo gigantesco cuidando de tudo, normatizando tudo, sufocando o empreendedorismo, vilipendiando a meritocracia, amaldiçoando o capital, desdenhando a prosperidade econômica, violando o princípio de propriedade, superfaturando impostos cumulativos, soterrando a inovação com burocracias infinitas, estimulando a dependência do Estado, louvando terroristas como heróis, apoiando regimes totalitários, menosprezando o valor da vida de seus cidadãos com políticas de segurança pública inexistentes, tornando a educação uma ferramenta de doutrinação idiotizante e medíocre...

Onde essas pessoas delirantes conseguiram ver "redemocratização"? Somos um pais socialista/comunista há séculos! E não adianta virar o rosto e chamar pimenta de pudim: ela não irá arder menos por isso. 

Só quando assumirmos a realidade com todas as letras e dores do ego será possível fazer algo a respeito. Até lá, seguimos em surto esquizofrênico

SOBRE O USO DE PLACEBOS EM PESQUISAS

Há alguns anos, o anacrônico Conselho Federal de Medicina (CFM) vem discutindo o uso de placebos em pesquisa clínica. Como é de praxe, o CFM posicionou-se em sintonia ao fisiologismo corporativista tão em moda nesse século de retrocessos e, em suas oficinas de debates, alinhou-se messiânica e unilateralmente ao proposto na versão de 2008 da Declaração de Helsinque -  que condena veementemente o emprego de placebos.

Em um excelente artigo, lúcido e realista, pesquisadores do Laboratório de Endocrinologia Molecular e Translacional da USP ergueram uma voz quase solitária em defesa do método científico, propondo uma customização no emprego de placebos. O texto é extremamente recomendada para profissionais de saúde.

Realmente desanimador ver como o CFM, a Associação Médica Brasileira e a Associação Médica Mundial se destacam como os arautos da nova ciência humanista do Século XXI – que mais se assemelha a uma religiosidade romântica e ingênua do Século XVI. Estamos regredindo rapidamente para antes do Iluminismo.


10 outubro 2017

SOBRE FEMINISMO E A LUTA CONTRA O PATRIARCADO


Dia sim, dia também, aparece no timeline do Facebook alguma coisa sobre a "luta" feminina contra o patriarcado... É um discurso cheio de incongruências delirantes e ameaças de indignação a partir de provas testemunhais, mas nunca argumentações efetivamente baseadas em dados estatísticos. Vejamos:

De acordo com dados da pesquisa Estatísticas de Eleitorado, publicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 76.534.83 mulheres votaram na última eleição, quase 53% do total de 146.470.880 eleitores no País.

Apesar do sufrágio feminino no Brasil datar de 1932, e o direito constitucional ao voto universal após os 16 anos de idade ter quase 30 anos de existência, atualmente apenas 10% das cadeiras legislativas são ocupadas por mulheres.

Nesse meio tempo, os homens continuam sendo maioria absoluta entre os trabalhadores de limpeza pública, construção civil, segurança, transporte de cargas e operação de maquinários pesados, entre outros setores que exigem desgaste físico e riscos. Talvez por isso os representantes do "patriarcado opressor maldito" respondam por 75% dos óbitos em acidentes de trabalho - além de serem 91% das vítimas de homicídio no Brasil (4 de cada 5 mortes por violência doméstica são do sexo masculino).

Grande "luta contra o patriarcado", hã?

Nossa nação, essa coleção de milhões de pessoas mentalmente doentes (dados da OMS), não tem problemas de patriarcado: tem um problema de falta de inteligência e leitura.

Essa gente desconectada da realidade não sabe do que reclama...

MEDICINA ALTERNATIVA NÃO EXISTE


Sou obrigado a confessar: tenho restrições profundas quanto ao termo “medicina alternativa”.

Primeiro, porque Medicina é uma ciência. Pode não ser um primor de exatidão, mas, como toda ciência, busca insistentemente basear-se em evidências comprováveis e reproduzíveis. Em segundo lugar, porque o vocábulo alternativo virou um sinônimo obsequioso para embuste.

A identificação e análise dos fatos reais como padrão de valor definitivo para a construção do conhecimento atende pelo nome de Método Científico - uma abordagem formalizada por Francis Bacon em seu fascinante Novo Organum, publicado há quase 400 anos. Desde então, o Método exposto por Bacon produziu uma revolução no gnosticismo sincrético, empurrando definitivamente o pensamento para além da zona de conforto dos “achismos pessoais”, das “provas testemunhais anedóticas” e do “meu jeito de ver ou fazer as coisas”.

Em 1972, Archie Cochrane, um epidemiologista escocês, elevou o Método proposto por Bacon a uma nova categoria ao publicar um dos grandes marcos na história da medicina. Em seu livro Effectiveness and Efficiency: Random Reflections on Health Services, Archie defendeu o emprego de evidências estatisticamente fundamentadas como ferramenta avaliadora das condutas médicas. Com o tempo, esta prática foi sendo cada vez mais adotada e disseminada, levando à criação de centros de pesquisa de Medicina Baseada em Evidências (MBE) e de uma organização internacional chamada Cochrane Collaboration.

Por tudo isso, é uma afronta afirmar que existe algo como medicina alternativa, do mesmo modo que é enxovalhar a lógica dizer que existe algo como uma Geografia Alternativa ou uma Engenharia Alternativa ou uma Magistratura Alternativa. Medicina requer padrões de aplicabilidade assentados em comprovações sólidas. Adicionar o sobrenome “alternativo” a este descalabro sugere logo de cara: “não temos provas suficientes para isso”.

Sem evidências escrupulosas que lhe dê suporte, a argumentação a favor de um determinado artifício não se justifica apenas porque ele é alternativo. Que o chamem pelo nome devido: picaretagem, trapaça, vigarice, misticismo, religiosidade - ou um procedimento experimental, na melhor das hipóteses. Mas, em nenhum desses casos, um expediente alternativo deveria – ou poderia - ser rotulado de Medicina.

Chamar um tratamento qualquer de “medicina alternativa” lhe confere um significado que traz embutido em si todo um viés de probidade, de aplicação de métodos axiomáticos, de meta-análises e revisões sistemáticas da literatura, e de considerações éticas e morais, além da áurea de um escrutínio pormenorizado dos índices de eficácia, efetividade e segurança daquela abordagem.

Se algo considerado “medicina alternativa” possuísse evidências consistentes e honestas de sua irrefutabilidade, este algo poderia simplesmente abandonar o termo “alternativo” e passar a denominar-se Medicina. Mas, em não sendo este o caso, deveríamos ter a honradez de batizar os tratamentos alternativos pelo que eles de fato são: condutas de validade duvidosa baseadas em efeitos placebos questionáveis.

Eu sei, esperar por este nível de integridade é querer muito do mundo real e suas alucinações alternativas... Mas a ciência é uma dádiva tão maravilhosa para a humanidade! Quem sabe, um dia, nos tornemos decentes o suficiente para não distorcê-la mais com as torturas de nossas inseguranças infantis. Até lá, os bons apreciadores do Novo Organum continuarão assistindo de camarote o relativismo alternativo investindo sua carnificina visceral sobre os notáveis conceitos propostos por Chochrane, Galileu, Newton, Jenner, Fleming... e na mesma fogueira da doutrina pseudocientífica continuarão sendo arremessados qualquer um e qualquer coisa que ouse ameaçar as crenças vigentes preferidas do momento com doses terapêuticas de Razão.


TIBOLONA PARA MENOPAUSA: É EFICAZ DE VERDADE?


Sim, é.

Revisões sistemáticas da literatura mostraram que a Tibolona é mais eficaz que placebos no alívio ondas de calor, suores noturnos e outros sintomas vasomotores.

Quando comparada à Terapia de Reposição Hormonal (TRH) convencional (estrogênios conjugados, p.ex.), a Tibolona  apresentou uma menor ocorrência de sangramentos vaginais como efeito colateral, ainda que tenha sido menos eficaz que a TRH no alívio dos sintomas vasomotores.

Em um excelente estudo randomizado, duplo-cego e placebo-controlado envolvendo 65 mulheres saudáveis entre 40-55 anos de idade, tratadas durante 12 semanas com 2,5 mg de Tibolona por dia, foram observadas melhoras significativas na bioquímica sanguínea e na atrofia endometrial, sem alterações ponderais ou efeitos colaterais importantes.

Apesar da dose diária habitualmente receitada ser de 5,0 mg, vários estudos realizados nos últimos  25 anos documentaram que doses de até mesmo 1,25 mg / dia são eficazes para melhorar a densidade mineral óssea e reduzir o risco de fraturas por osteopenia e osteoporose.

Em termos de segurança, a Tibolona não afeta o risco de câncer endometrial, mas existem preocupações quanto ao aumento do risco para câncer na mama em mulheres que já sofreram do problema no passado.

22 setembro 2017

CONDROITINA E GLUCOSAMINA SÃO EFICAZES PARA TRATAR OSTEOARTRITE?

Não, não são.

A eficácia do uso de Glucosamia + Condroitina (GC) no tratamento de casos de osteoartrite (OA) há muito é motivo de grandes controvérsias.

O American College of Rheumatology não defende o uso de GC para casos de osteoartrite, e o mesmo ocorre com os protocolos clínicos do American Academy of Orthopaedic Surgeons e do Osteoarthritis Research Society International. Contudo, a despeito destes guidelines, os suplementos de GC têm alcançado recordes de vendas – um absoluto desperdício de dinheiro.

Já em 2005, alguns autores apontavam para a falta de efetividade comprovada de GC em pacientes com OA.  Uma metanálise publicada em 2010 concluiu que glucosamina, condroitina ou uma combinação de ambos não era eficaz para aliviar dores articulares, tampouco produziam qualquer impacto na recuperação da cartilagem articular quando comparados a placebos.

Finalmente, em 2017, uma ampla revisão da literatura investigou novamente os dados sobre a eficácia clínica e a segurança da GC em pacientes com OA. Mais uma vez, tanto a glucosamina quanto a condroitina se mostraram seguras, com poucos efeitos colaterais sérios, mas não foram encontradas evidências suficientes que apoiassem cientificamente sua validade em pacientes com osteoartrite.

19 setembro 2017

Doenças Mentais versus Países

Países com a maior incidência de doença mental e transtornos patológicos de comportamento, segundo a OMS:

10 setembro 2017

VOCÊ SABE O QUE SIGNIFICA KISS?

Há alguns anos, em um curso de vela oceânica, tive contato pela primeira vez com uma filosofia de marinhagem que achei absolutamente fantástica. Algum tempo depois, envolvido no aprendizado de técnicas de sobrevivência na selva, esbarrei com exatamente o mesmo acrônimo. Pelo visto, era um princípio universal de eficiência para ambientes inóspitos.

Esse lema, desenvolvido na década de 1960 pela marinha americana, recebeu o apelido de KISS:

Keep
It
Simple,
Stupid

TUDO em um barco - e TODAS as sua ações no meio da mata - devem se basear nisso. Para que você otimize suas chances de sobrevivência, cada peça de equipamento, cada movimento e cada decisão devem ser selecionados a partir desta moldura.

O que não te ajuda, te atrapalha.
O que não te faz melhor, te piora.
O que não serve para o seu progresso, bloqueia inutilmente o seu caminho.

Eu recomendaria expandir o conceito KISS para a vida como um todo.

A simplicidade é a derradeira sofisticação. Mantenha tudo simples.

SOBRE A EPIDEMIA DOS NOVOS TEMPOS

Ao longo do Século XX, a ideia de que a vida indolor é um direito fundamental se impôs como um ideal. O amplo acesso aos analgésicos produziu uma multidão de órfãos da dor como ferramenta de autopurificação e autopromoção.

Mas não demorou muito para que este rebanho adotasse um outro sintoma como forma de se diferenciar das outras manadas: logo eles descobriram o Sofrimento, esta versátil emoção voluntária. Sofrer, lamento informar, NÃO é um fenômeno orgânico compulsório.

Segundo Karnal, "todo sofrimento traz em si um tempero do mais puro narcisismo: ser visto sofrendo dá alimento simbólico a um eu faminto por atenção". E agora, no lugar dos estigmas sangrantes na carne e dos santos anoréticos perambulando pelo deserto, vemos proliferar legiões de ansiosos e depressivos disputando o altar-mor da melancolia redentora, desfilando lúgrubes de um consultório ao outro enquanto arrastam consigo suas lamúrias de comiseração e receitas de uso contínuo.

Ninguém mais quer assumir a responsabilidade pelas consequências de suas próprias escolhas. A Maturidade - aquela dama de sabedoria elegante e serena resiliência - se tornou um conceito tão antigo quanto desconhecido.

30 agosto 2017

CRIANÇAS E ADOLESCENTES PODEM SER ATENDIDOS SEM ACOMPANHANTE NO POSTO DE SAÚDE?

Sim, podem.

E é impressionante ver como muitos médicos, gestores, gerentes, enfermeiros e outros profissionais envolvidos na assistência à saúde têm um completo e absoluto desconhecimento disso, fazendo exigências sobre a presença de um “de maior” ou recusando atender o menor devido à falta de um responsável com mais de 18 anos idade.

Do ponto de vista legal e ético, os seguintes parâmetros justificam o atendimento de qualquer pessoa – independente da idade – em uma unidade de saúde:

Lei Orgânica da Saúde 8.080/90

As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: 
  • III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;  
  • IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;
  • V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

Constituição Federal - Título VIII - Da Ordem Social - Capítulo VII - Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso
  • Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
  • Artigo 3 - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
  • Art. 11 - É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente, através do Sistema Único de Saúde, garantindo o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
  • Art. 15 - A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
  • Art. 16 - O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; (...) VII – buscar refúgio, auxílio e orientação.
  • Art. 17 - O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais Direitos Fundamentais: a privacidade, a preservação do sigilo e o consentimento informado. O “Poder familiar” (antigo Pátrio poder) dos pais ou responsáveis legais não é um direito absoluto.
  • Art. 243 -  Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Recomendações do Ministério da Saúde:
  • Qualquer exigência, como a obrigatoriedade da presença de um responsável para acompanhamento no serviço de saúde, que possa afastar ou impedir o exercício pleno do adolescente de seu direito fundamental à saúde e à liberdade, constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável. Caso a equipe de saúde entenda que o usuário não possui condições de decidir sozinho sobre alguma intervenção em razão de sua complexidade, deve, primeiramente, realizar as intervenções urgentes que se façam necessárias, e, em seguida, abordar o adolescente de forma clara a necessidade de que um responsável o assista e o auxilie no acompanhamento. Havendo resistência fundada e receio que a comunicação ao responsável legal, implique em afastamento do usuário ou dano à sua saúde, se aceite pessoa maior e capaz indicada pelo adolescente para acompanhá-lo e auxiliar a equipe de saúde na condução do caso (MS, 2005:41). 
  • Garantir direitos ao adolescente (menores de 18 anos), nos serviços de saúde, independente da anuência de seus responsáveis, vem se revelando como elemento indispensável para a melhoria da qualidade da prevenção, assistência e promoção de sua saúde (MS, 2005).
  • Situações em que os exames anti-HIV estão indicados para adolescentes: No caso de adolescente, este pode decidir sozinho pela realização do exame, desde que o profissional de saúde avalie que ele é capaz de entender o seu ato e conduzir-se por seus próprios meios (art. 103 do Código de Ética Médica). Ainda assim, nesse caso, o adolescente deverá ser estimulado a compartilhar o que lhe acontece com os seus responsáveis ou com adulto(s) em quem confie e que possa servir-lhe de suporte. Na prática diária dos serviços ambulatoriais, os profissionais de saúde costumam orientar os adolescentes para virem acompanhados de um adulto de sua confiança no dia do resultado do exame. Caso ele deseje, após receber o seu resultado, o profissional de saúde também poderá conversar com esse adulto. Contudo, em face das diversidades de condições de vida às quais estão submetidos muitos jovens, importa destacar que nem sempre os apoios partem de seus responsáveis Legais (MS, 2004:39).
  • Para adolescentes portadores de DST e/ou usuários de drogas injetáveis, ou que tenham práticas de risco para o HIV – com as mesmas recomendações do item anterior. No caso de DST devidas à violência sexual, o registro da violência é obrigatório em alguns estados brasileiros, exigindo uma ação conjunta com o Conselho Tutelar (MS, 2004:39-40). Da mesma forma, o artigo 13 do ECA determina que os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças ou adolescente sejam obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais.
Ofício do Conselho Federal de Medicina (CFM) n° 1.865/96 – Sobre a testagem anti-HIV para menores de 18 anos.
  • .... deverá ser voluntária e consentida pelo menor, sem necessidade de autorização de responsável, desde que aquele tenha capacidade de avaliar seu problema e atuar a respeito. CFM 1665/2003 (adicionalmente). É vedada a realização compulsória de sorologia para HIV.
Código de Ética Médica (CEM):
  • Art. 103 – (É vedado ao médico) Revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-los, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente.  
  • Art. 107 – (É vedado ao médico)Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar para que respeitem o segredo profissional a que estão obrigados.
Código de Ética do Profissional de Enfermagem:
  • Art. 27 - Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu bem-estar.
  • Art. 28 - Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente.
  • Art. 29 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto nos casos previstos em Lei.
Códigos de Ética do Assistente Social
  • Art. 18 - A quebra do sigilo só é admissível, quando se tratar de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade. Parágrafo Único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhecimento.
Código de Ética do Psicólogo
  • Art. 21 O sigilo protegerá o atendimento em tudo aquilo que o Psicólogo ouve, vê ou de que tem conhecimento como decorrência do exercício da atividade profissional.


Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/mulher/aspectos_legais.pdf