Não,
não ajudam.
Em uma
das consultas de hoje, fui questionado sobre outra dessas “descobertas incríveis que os médicos não
querem que você saiba”. É incrível como na internet pululam achados
extraordinariamente simples para problemas médicos complexos e ancestrais, quase como se
cada site de medicina alternativa escondesse uma legião de potenciais
ganhadores do Nobel. A verdade é que eles não escondem. São apenas o bom e
velho charlatanismo com roupas lustrosas de marketing moderno.
Neste
caso específico, o paciente se achava no dever de informar que estava
utilizando um suplemento de Picolinato de Cromo. Segundo a notícia que havia recebido por e-mail e confirmado após extensas leituras - todas, obviamente,
feitas na página do fabricante do referido suplemento -, esta dádiva da
medicina alternativa era capaz de operar milagres no excesso de açúcar em seu
sangue. Curiosamente, o dextro dele estava em 247 mg/dL.
Imbuído
do benefício da dúvida, fui pesquisar o que havia de real nisso. Descobri que o
Picolinato de Cromo é comercializado quase como uma panacéia. De acordo com os
vendedores de fumaça na internet, o Picolinato “melhora seu nível geral de disposição, facilita a perda de peso, diminui
o trabalho do pâncreas, otimiza o metabolismo da glicose e aumenta a queima de
gorduras”. Só faltou tirar nome do SPC, encontrar cachorro perdido e trazer
o amor bandido de volta...
Uma
volta na base de dados Pubmed e foi possível ver que, desde 1998, diversos estudos
avaliaram seriamente os efeitos do Picolinato de Cromo.
Em uma
pesquisa realizada em ratos,
os cientistas concluíram que a suplementação com Picolinato poderia melhorar a
sensibilidade periférica à insulina. Uma outra pesquisa, desta
vez envolvendo 39 seres humanos com diabetes e idade média de 73 anos, empregou
um grupo controle para avaliar o efeito do Picolinato (200 mcg duas vezes ao
dia por 3 semanas), e encontrou diferenças significativas positivas na glicemia
e nos níveis de colesterol entre os indivíduos tratados e o grupo controle. Tudo
parecia estar indo bem para o Picolinato.
De
fato, o cromo é um mineral essencial que parece ter um efeito benéfico na
regulação da ação da insulina no organismo, afetando o metabolismo de
carboidratos, proteínas e lipídios. Estudos também mostraram que pessoas com
diabetes tipo 2 possuem níveis sanguíneos de cromo abaixo daqueles de pessoas
não-diabéticas. Uma revisão sistemática da literatura realizada em 2006 avaliou 13 estudos
clínicos (incluindo 11 estudos randomizados e controlados), envolvendo 1.690
pacientes, e sugeriu que existem efeitos positivos da suplementação com
Picolinato de Cromo sobre os níveis de glicose, insulina, colesterol e
triglicérides. Além disso, a suplementação com Picolinato de Cromo,
especificamente, foi demonstrada
como sendo bem segura. Mas seria de fato eficaz
acima de qualquer dúvida?
Um estudo
realizado em 2011,
envolvendo 50 pessoas recebendo doses diárias de 500 mcg ou 1000 mcg de
Picolinado de Cromo por 6 meses
(idades entre 31 e 88 anos), não foi capaz de encontrar qualquer efeito da
suplementação de cromo sobre os níveis de glicohemoglobina, peso,
circunferência abdominal, índice de massa corporal, pressão arterial,
colesterol total, HDL, LDL, triglicérides ou microalbuminúria. Estes resultados
foram congruentes com outros estudos clínicos randomizados realizados com
pacientes com síndrome plurimetabólica.
Ao que
parece, quando o desenho do ensaio clínico é aprimorado para eliminar vieses de
controle - reduzindo assim a variabilidade dos resultados -, os resultados
mudam e o cromo perde seu efeito prodigioso.
Em resumo: considerando-se os dados disponíveis até o momento, não existem evidências sólidas que apoiem a recomendação de suplementos de cromo como parte rotineira do tratamento de pessoas com diabetes tipo 2.
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