19 outubro 2017

SUPLEMENTOS DE CROMO AJUDAM A CONTROLAR O DIABETES?


Não, não ajudam.

Em uma das consultas de hoje, fui questionado sobre outra dessas “descobertas incríveis que os médicos não querem que você saiba”. É incrível como na internet pululam achados extraordinariamente simples para problemas médicos complexos e ancestrais, quase como se cada site de medicina alternativa escondesse uma legião de potenciais ganhadores do Nobel. A verdade é que eles não escondem. São apenas o bom e velho charlatanismo com roupas lustrosas de marketing moderno.

Neste caso específico, o paciente se achava no dever de informar que estava utilizando um suplemento de Picolinato de Cromo. Segundo a notícia que havia recebido por e-mail e confirmado após extensas leituras - todas, obviamente, feitas na página do fabricante do referido suplemento -, esta dádiva da medicina alternativa era capaz de operar milagres no excesso de açúcar em seu sangue. Curiosamente, o dextro dele estava em 247 mg/dL.

Imbuído do benefício da dúvida, fui pesquisar o que havia de real nisso. Descobri que o Picolinato de Cromo é comercializado quase como uma panacéia. De acordo com os vendedores de fumaça na internet, o Picolinato “melhora seu nível geral de disposição, facilita a perda de peso, diminui o trabalho do pâncreas, otimiza o metabolismo da glicose e aumenta a queima de gorduras”. Só faltou tirar nome do SPC, encontrar cachorro perdido e trazer o amor bandido de volta...

Uma volta na base de dados Pubmed e foi possível ver que, desde 1998, diversos estudos avaliaram seriamente os efeitos do Picolinato de Cromo.

Em uma pesquisa realizada em ratos, os cientistas concluíram que a suplementação com Picolinato poderia melhorar a sensibilidade periférica à insulina. Uma outra pesquisa, desta vez envolvendo 39 seres humanos com diabetes e idade média de 73 anos, empregou um grupo controle para avaliar o efeito do Picolinato (200 mcg duas vezes ao dia por 3 semanas), e encontrou diferenças significativas positivas na glicemia e nos níveis de colesterol entre os indivíduos tratados e o grupo controle. Tudo parecia estar indo bem para o Picolinato.

De fato, o cromo é um mineral essencial que parece ter um efeito benéfico na regulação da ação da insulina no organismo, afetando o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios. Estudos também mostraram que pessoas com diabetes tipo 2 possuem níveis sanguíneos de cromo abaixo daqueles de pessoas não-diabéticas. Uma revisão sistemática da literatura realizada em 2006 avaliou 13 estudos clínicos (incluindo 11 estudos randomizados e controlados), envolvendo 1.690 pacientes, e sugeriu que existem efeitos positivos da suplementação com Picolinato de Cromo sobre os níveis de glicose, insulina, colesterol e triglicérides. Além disso, a suplementação com Picolinato de Cromo, especificamente, foi demonstrada como sendo bem segura. Mas seria de fato eficaz acima de qualquer dúvida?

Um estudo realizado em 2011, envolvendo 50 pessoas recebendo doses diárias de 500 mcg ou 1000 mcg de Picolinado de Cromo por 6 meses (idades entre 31 e 88 anos), não foi capaz de encontrar qualquer efeito da suplementação de cromo sobre os níveis de glicohemoglobina, peso, circunferência abdominal, índice de massa corporal, pressão arterial, colesterol total, HDL, LDL, triglicérides ou microalbuminúria. Estes resultados foram congruentes com outros estudos clínicos randomizados realizados com pacientes com síndrome plurimetabólica.

Ao que parece, quando o desenho do ensaio clínico é aprimorado para eliminar vieses de controle - reduzindo assim a variabilidade dos resultados -, os resultados mudam e o cromo perde seu efeito prodigioso.

Em resumo: considerando-se os dados disponíveis até o momento, não existem evidências sólidas que apoiem a recomendação de suplementos de cromo como parte rotineira do tratamento de pessoas com diabetes tipo 2.


Nenhum comentário: