Os professores são os responsáveis por difundir modos de pensar a alunos que já tem seus próprios métodos de raciocínio – métodos estes que serão empregados para processar as informações apresentadas.
Muitos dos pontos de vista explicados na frente do quadro negro são edições intelectualmente refinadas de opiniões que os estudantes já possuíam, porém em versões mais rudimentares. Por este motivo, as aulas deveriam levar em conta as competências cognitivas presentes nos alunos, e, idealmente, procurar ampliar e desafiar essas competências, ao invés de simplesmente tentar ocupar espaços vazios ou reorganizar os espaços já existentes colonizando-os com algo que o Estado considere essencial, novo ou melhor.
Qualquer professor que tente apresentar um material que não esteja alinhado às competências cognitivas prévias de seus pupilos estará enxugando gelo. Sua instrução será rejeitada como sendo incompreensível ou radicalmente discordante do bom senso, ou será absorvida de modo distorcido. Uma boa aula expõe informações que desalojam as compreensões anteriores do aluno, obrigando-o a construir novos entendimentos. Afinal, o Saber não é uma flor que se observa, mas uma montanha que se escala.
Quando o Conhecimento é divulgado desta forma, muitos estudantes metabolizam os dados de modo convencional e, por conseguinte, deturpado. Eles não estão confundindo tudo: estão apenas tentando entender em seus próprios termos. Este problema é bem perceptível quando lidamos com parcelas menos educadas da população e tentamos expressar noções de tolerância, honra, coragem, força, disciplina, igualdade, secularismo e meritocracia.
É de se esperar que, enquanto estes conceitos são apresentados em um embrulho questionador, a classe comece a se dividir em grupos com argumentos opostos. O desentendimento mútuo – e não o entendimento compartilhado - é a regra nesses cenários. A mesma dinâmica pode ser observada quando cidadãos discutem política.
Em geral, o grupo que demonstra o maior nível de confusão, desacordo e insatisfação pode ser o mais produtivo educacionalmente. E isto não corre apenas porque a agitação fornece carvão para a fornalha do pensamento reflexivo: na verdade, os insatisfeitos barulhentos ajudam a iniciar ou exacerbar o desequilíbrio cognitivo pré-existente, que de outro modo permaneceria constrangido em seu mutismo conveniente. Esta sacudida leva os estudantes – e os cidadãos – na direção de uma reintegração de crenças alicerçada em ideias com um nível bem maior de discernimento.
Assim como um hospital tende a ser uma instituição de cuidados, uma escola também deveria conceber sua missão desta forma. Não apenas transmitindo conteúdo ou desenvolvendo habilidades tayloristas específicas, mas apoiando, nutrindo, fomentando, complementando e participando ativamente do crescimento intelectual global do estudante.
O fato de muitos professores acreditarem já estar agindo dessa forma – quando não estão nem um pouco - mostra como é essencial e urgente conceber uma nova forma de ensino. Infelizmente, enquanto a Base Nacional Comum Curricular tramita em um universo paralelo, longe da atenção merecida, a nação segue desperdiçando vários minutos por ano com os muitos escândalos do dia. Nesse ritmo, deixaremos de ser o país do futuro e continuaremos a ser, com pompa e circunstância midiáticas, o país sem futuro de sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário