Saindo de uma visita médica domiciliar, a assistente que nos acompanhava puxou assunto:
- Caramba, doutor, o senhor viu a notícia do cara que bateu com uma Lamborghini lá em Caçapava?
- Não...
- O fulano foi ficar se exibindo com o carro... bem feito. Aqui se faz, aqui se paga.
- Não assisto jornal há muito tempo, mas continuo surpreso com a mania do brasileiro em demonizar a riqueza.
- Demo-o-quê?
- Demonizar, achincalhar. Como se riqueza fosse algo ruim quando, no final, não é. A ridicularização da fortuna não é movida pelo senso de um mundo mais justo. É apenas inveja mesmo.
- Eu hein. Não concordo com isso, não. Tenho inveja nenhuma dele, todo queimado depois de bater com aquele brinquedo de menino mimado.
- Então se eu pudesse lhe dar um Lamborghini hoje, você recusaria?
- Lógico! Deus me livre! Não sou motivada por essas coisas materiais.
- Você poderia vender o carro e ajudar outras pessoas. Uma máquina dessas vale uns 3 milhões de reais. Poderia pagar integralmente uma faculdade de medicina para 9 adolescentes em situação de risco social. Ou de engenharia civil para uns 30. Isso mudaria a história deles e, provavelmente, de suas famílias. Ou até de uma comunidade inteira.
- Hum... eu não havia pensado por esse lado...
- Eu sei. Mas não se sinta culpada por isso. Nem sozinha. Como você, temos mais 140 milhões de pessoas que também não pensam. E votam. E acham de verdade que discutir identificação de gênero é o que vai mudar esse país.
Seguimos de carro - um Gol, não um Aventador Roadster - de volta para o posto e fiquei pensando em Churchill: "O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de 5 minutos com um eleitor mediano".
O velho Buldogue era rabugento e malvado, mas era igualmente lúcido e sincero.
25 outubro 2017
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