18 novembro 2017

SOBRE UM DELÍRIO CHAMADO NOVEMBRO AZUL

Após receber toneladas de propaganda sobre as campanhas Novembro Azul, fiquei me perguntando: será que o screening para neoplasia prostática utilizando faixas etárias como linhas de corte produz alguma redução significativa na morbiletalidade da doença?

Não, não produz. E isso é o que dizem as evidências acumuladas a partir de metanálises e revisões sistemáticas da literatura.

Apenas para citar um exemplo de peso: segundo o NIH (Instituto Nacional de Saúde, entidade dos EUA equivalente ao nosso Ministério da Saúde), a dosagem periódica de PSA ou o exame de Toque Retal (TR) não é capaz de reduzir a mortalidade associada ao câncer prostático.

O que o conjunto dos dados embasados DE FATO mostra - e existem dezenas e dezenas de estudos sérios concluindo exatamente esta mesma coisa -  é que o screening populacional com PSA e/ou TR resulta em um exagero nos diagnósticos de câncer na próstata, além da detecção de lesões que, se não diagnosticadas, jamais causariam mal algum.

O excesso de diagnósticos e resultados falso-positivos leva à realização de exames adicionais (p.ex.: biópsia prostática) e tratamentos invasivos em homens que sofrerão, agora, as consequências desses danos desnecessários.

Mas as políticas públicas tupiniquins não são feitas com base em Ciência. Nunca foram. Elas são orquestradas com discursos paternalistas em nome de motivações essencialmente populistas. E, incrivelmente, aqueles que deveriam erguer suas vozes anunciando este descalabro, inacreditavelmente embarcam no delírio para - quem sabe - retirar dele algum brio e prestígio para seus egos.

Não temos um outubro rosa. Tampouco temos um novembro azul. O que temos são meses, anos, décadas do mais puro colorido psicodélico esquizofrênico que o mundo já viu do lado debaixo do Equador. E o surto de Gargamel sob efeito de cogumelos alucinógenos perseguindo Smurfs fantasiosos no bosque segue - com aval do Estado e sua corte de especialistas cegos, surdos e mudos.

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