03 setembro 2014

GESTANTE MUTANTE

© Dr. Alessandro Loiola
Médico – CRMSP 142.346
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Quando estávamos na escola, lá naqueles idos quando chamávamos a professora de “tia”, aprendemos que os seres vivos possuem um conjunto bastante peculiar de características. Eles são formados por células, necessitam de alimento, nascem, crescem, morrem, etc. De todas estas estranhezas que nos cercam, o fato de sermos capazes de produzir descendentes é um requinte miraculoso.

A metamorfose envolvida na geração de nossas pequenas fotocópias devoradoras de fraldas descartáveis seria um bom tema de ficção-científica. A gestante é um mutante e não é preciso ser um cientista para perceber as alterações que ocorrem no organismo feminino durante este período. Entretanto, existe muito mais ocorrendo entre o céu e a placenta do que julga nossa vã filosofia.

Alguns dias após a fecundação do óvulo, o organismo materno – faminto por energia - inicia uma série de saques nas reservas de gordura, podendo ocorrer uma discreta perda de peso no início da gravidez. A atividade enzimática e a síntese de proteínas aumentam, agregando valores à construção do pequeno novo ser humano.

Com toda essa movimentação molecular, os níveis de glicose no sangue diminuem e o corpo retém líquido. Alterações renais promovidas por hormônios como a Aldosterona farão com que até o final da gravidez sejam acumulados mais de 7 litros de água! O acúmulo de líquido responde por boa parte das alterações sensoriais, como a diminuição da audição, as alterações do paladar e do tato.

Nos primeiros 3 meses de gravidez, o trabalho do coração aumenta 40%. Para manter níveis adequados de oxigenação para a mãe e o feto, incrementam a necessidade de ferro e a freqüência respiratória materna.

As adaptações anatômicas também repercutem sobre sistema digestivo: náuseas no período da manhã são comuns. A produção de saliva é maior. O intestino passa a funcionar com mais lentidão e a constipação é freqüente. À medida que o útero ocupa boa parte do espaço na cavidade abdominal, o estômago se torna menos capaz de distender, provocando o refluxo e azia.

As mudanças hormonais são sentidas literalmente na pele: estrias gravídicas podem surgir nos seios, nos flancos, na parte anterior do abdome, nas nádegas e na raiz dos membros inferiores. É comum o escurecimento da linha que vai do umbigo ao púbis (Linha Nigra) e o rosto pode apresentar áreas de hiperpigmentação (cloasma). O balanço dos hormônios também pode provocar balanços no humor, com extremos de irritabilidade e melancolia.

Por todos estes motivos, o acompanhamento pré-natal é fundamental. É essencial que a grávida compreenda as modificações e adaptações do seu corpo à presença do parasita, digo, do bebê, pois isso ajudará a diminuir a ansiedade e a insegurança associadas à gestação.

Para facilitar um pouco sua vida, reuni 7 macetes que podem lhe ajudar a contornar os problemas mais comuns:

ENJÔOS MATINAIS: as náuseas começam 3-4 semanas após o atraso da menstruação, durando até o final da 12ª semana de gravidez. Prefira alimentos de digestão mais fácil, como batatas amassadas, torradas, arroz e frutas, ingerindo as refeições em porções menores, porém mais freqüentes.

CÃIBRAS: mais comuns durante a noite. O remédio mais fácil e rápido consiste em ficar de pé e alongar os músculos que estão doendo. Aproveite para chorar uma promoção e conseguir uma massagem alentadora nos pés.

DORES NAS COSTAS: quanto mais peso, mais trabalho para a coluna vertebral. Procure utilizar sapatos baixos e manter as costas bem apoiadas quando estiver sentada. Cuidado ao curvar-se, levantar pesos ou fazer exercícios.

AZIA: a barriga está toda ocupada pelo bebê e ele não sabe que você come. Para reduzir o desconforto, evite alimentos muito temperados ou ácidos, frituras e refeições muito volumosas. Para descansar depois de uma refeição, recoste sobre uma pilha de travesseiros ou almofadas ao invés de deitar.

FALTA DE AR: a pressão progressiva do útero sobre os pulmões pode causar falta de ar. Repouse e aceite os novos limites do seu corpo. Estes limites podem ser temporários, mas existem.

DORES NOS QUADRIS: nas últimas semanas da gravidez, as cartilagens que unem os ossos da pelve começam a se afastar, preparando para a passagem do alien. Isso faz com que os quadris doam e pareçam “soltos” durante a caminhada. Repouso e compressas mornas ajudam a aliviar o desconforto.

INCHAÇO NOS PÉS E TORNOZELOS: sempre que possível, mantenha os pés levantados ou apoiados na altura do corpo, evitando permanecer de pé por longos períodos de tempo. Essas mesmas dicas se aplicam para evitar as famigeradas varizes. Mas atenção: se os inchaços começarem a parecer fora de proporção, conte sempre com a ajuda de seu médico de confiança!

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