* Especial para
Manhood Brasil
A maioria dos livros e textos sobre divórcio baseia-se na premissa de que, uma vez que o casal decidiu se separar, eles estão 100% prontos para dar este passo. Nem sempre é assim. Em geral, quando a conversa de separação surge, um dos dois é pego de surpresa pela notícia. Ou ambos.
É esta falta de preparo para lidar com o assunto Divórcio que faz com que muitos casamentos terminem cedo demais ou se deteriorem em competições destrutivas por anos a fio. Apesar de parecer banal, com tanta gente se divorciando hoje em dia, terminar um casamento é uma das decisões mais importantes que você pode tomar - e as consequências podem repercutir por anos ou até mesmo pela vida inteira.
Uma decisão dessa relevância merece uma reflexão enorme, muito maior e mais profunda que aquela que normalmente você está disposto a oferecer. O problema é acreditar que, uma vez iniciada a conversa, quanto mais cedo tudo terminar, melhor. É como tomar uma injeção: se for rápido, deve doer menos. Até os amigos oferecem esse tipo de conselho - "termina logo e segue com sua vida!", eles dizem. Mas um Divórcio não é uma carta de alforria sem fardos e ele certamente não cabe numa ampola.
Você decidiu pelo Divórcio na esperança de que a paz e a normalidade retornem à sua vida, mas não é bem assim que as coisas irão acontecer, acredite. É justamente o oposto, especialmente no princípio. Muitos casais que se separam na correria de resolver atritos na verdade terminam adicionando mais um ponto de discórdia ao relacionamento: o processo de separação se arrasta, as acusações brotam e se multiplicam, as mágoas se prolongam, e a promessa de serenidade se dissipa.
Se você está pensando em preencher a declaração de óbito do seu matrimônio, que tal fazer uma análise objetiva dos sinais e sintomas que levaram ao diagnóstico antes de bater o martelo?
Preparei a seguir um roteiro para facilitar a identificação das causas do problema e selecionei uma série de perguntas que você deve levar em consideração para tomar sua decisão com o máximo de consciência.
DIVÓRCIO: ETIOLOGIA, SINAIS E SINTOMAS
Algumas vezes o divórcio parece ser a única opção saudável. Se você está neste caminho, recomendo que reflita sobre os motivos mais comuns que levam à separação. Será que seu caso se encaixa em algum destes?
1. EXCESSO DE INTERAÇÕES NEGATIVAS. Frequentemente, não é a gravidade, mas a QUANTIDADE dos desentendimentos que costuma indicar a necessidade de um divórcio. A fórmula mágica que produz o desencanto parece ser de 5 interações positivas para cada interação negativa. Deste ponto em diante, o caldo entorna. Discutir sobre detalhes é uma parte normal de qualquer convivência, mas isso não deveria fazer parte da rotina. O limite psicológico de 5x1 salienta a importância das pequenas discussões como indicadoras de problemas conjugais potencialmente graves e irreconciliáveis. Você tomou nota desse padrão entre vocês dois?
2. GRAVIDADE DAS DISCUSSÕES. Até mesmo a fórmula mágica acima possui limites. A proporção entre interações negativas e positivas não deve ser levada em conta quando a discussões começam a descambar para acusações graves, ameaças físicas ou demonstrações francas de violência. Ocorreu algo assim?
3. DIFERENÇA DE VALORES. Por exemplo: ela quer ter 6 filhos, mas você valoriza mais sua carreira e sucesso profissional e nem considera a possibilidade de trocar fraldas. Exceto se a visão de um ou de outro mude, o divórcio é o destino mais provável com o tempo. Quais valores e esperanças vocês compartilham?
4. A TERAPIA DE CASAL NÃO FUNCIONOU. O aconselhamento profissional é uma ferramenta extraordinária para trabalhar problemas e aprender mecanismos para resolver desentendimentos. Mas é preciso que AMBOS estejam dispostos. Se vocês passaram por algum tipo de terapia desse tipo e parece que não funcionou, pode afirmar sem sombra de dúvidas que foi ELA - e não você - quem empacou ou sabotou as mudanças necessárias?
5. INFIDELIDADE. Ainda que alguns casais sejam capazes de se recuperar após uma pulada de cerca, muitos encaram a infidelidade como um ponto final indiscutível. Se algo desse tipo ocorreu, será que os laços de confiança não podem ser reconstruídos?
6. EXAUSTÃO EMOCIONAL. O casamento pode ser uma grande escola, com aprendizados preciosos para sua vida. Mas quando ele se transforma em uma competição ou em uma caminhada cuidadosa sobre cascas de ovos, a exaustão emocional pode eliminar a motivação necessária para continuar. Um casal é feito pelo comprometimento de 2, não pelo empenho de apenas 1. Manter seus sonhos e ideias para si, sem qualquer vontade de compartilhá-los com sua mulher, é um dos principais sinais de exaustão emocional. Como anda a comunicação entre vocês dois? Será que a culpa é única e exclusivamente dela?
7. SUAS NECESSIDADES NÃO CONTAM MAIS. Muito mais que uma empresa de dois sócios, um casamento é uma parceria de cúmplices. É um universo onde um deve transbordar o outro, fisica, emocional e espiritualmente. Se ela não lhe oferece reciprocidade em termos de envolvimento em seus planos, entendimento, apoio, afeto, carinho e sexo, vá em frente e divorcie-se. Mas antes me diga: será que você é este marido dedicado, participativo e atencioso que acha ser?
8. VOCÊ SÓ PENSA EM CONTINUAR JUNTO POR CAUSA DAS CRIANÇAS. Crianças não são adultos em miniatura, mas têm uma sensibilidade enorme. Elas podem detectar animosidades a quilômetros de distância. Mais que isso: as crianças absorvem os padrões de comportamento dos pais e tendem a repeti-los na idade adulta. Você quer mesmo que elas cresçam pensando que um relacionamento frustrado, cheio de desarmonia e discussões, é o modo mais saudável de interação?
9. O RESPEITO SE FOI. Um relacionamento sólido baseia-se, antes de mais nada, em confiança, compreensão e respeito mútuo. Sem esses ingredientes, conviver com alguém torna-se um inferno. Qual o seu nível de tolerância e compreensão com as diferenças?
10. VOCÊ CONSIDERA O CASAMENTO A OPÇÃO MENOS RUIM NO MOMENTO. Se você acredita que ficar com ela é mais fácil que zerar o cronômetro e tentar tudo de novo, existe uma boa chance de seu casamento estar respirando por meio de aparelhos. Sim, um divórcio irá aumentar suas despesas, pelo menos no princípio. E sim, um divórcio irá lhe passar um sentimento de insucesso e constrangimento. Mas nada disso é motivo para aceitar passivamente dias ruins sem lutar por dias melhores.
OS TRÊS DILEMAS DO DIVÓRCIO
Uma vez conferida a lista de sinais e sintomas, o homem que enfrenta o diagnóstico provável de um divórcio frequentemente está frente a frente com 3 dilemas:
1 - Eu quero a separação, mas não tenho bem certeza de que esta seja a decisão mais correta.
2 - Minha esposa é quem quer a separação. Eu, nem tanto.
3 - Eu só quero o divórcio porque o casamento não está funcionando.
No Dilema 1, provavelmente existem crianças envolvidas, além de bens, estilo de vida, investimentos emocionais e outros aspectos relevantes. A pressão para tomar a "decisão correta" é enorme e não existem garantias sobre QUAL é esta decisão. Na melhor das hipóteses, você pode estar tomando uma decisão neutra e não motivada pelo ego.
O Dilema 2 oferece um cenário de desespero e vitimização. Sua vida está prestes a mudar num piscar de olhos e você não pode fazer coisa alguma quanto a isto. No meio da gigantesca devastação emocional, será que você não está se agarrando a um hábito, sofrendo pela perda de um terreno familiar ainda que ilusório?
Finalmente, no Dilema 3, você quer evitar a todo custo a responsabilidade pelo término, colocando toda a culpa nela. Isso produzirá raiva e rancor. Quanto mais alívio você demonstrar, maior será o barulho e mais intensas serão as demonstrações de frustração dela. Durante todo o processo, as acusações e o clima de tensão serão ainda piores que aqueles tolerados durante o casamento.
Se você observar atentamente, perceberá que o elemento comum em todos os 3 dilemas é o Medo. O medo de errar e ser injusto, o medo de reconhecer os problemas e admitir sua dependência do núcleo familiar, e o medo de assumir falhas e responsabilidades. Todos os 3 dilemas resultam em um período de profunda turbulência, batalhas e desgaste.
Qual é o seu dilema? Você reconhece o aspecto de Medo inerente a ele? É capaz de reconhecê-lo e está disposto a enfrentá-lo? Mas não responda isso. Ainda não. Guarde esta resposta para mais tarde. Antes, recomendo que pondere a respeito do seguinte:
AS 8 PERGUNTAS QUE DEVEM SER FEITAS ANTES DA SEPARAÇÃO
Para que o divórcio ocorra de modo colaborativo e respeitoso - se é que isso é possível... -, você deve estar preparado para separar sua vida em todos os níveis, tanto legal quanto física e emocionalmente.
Para harmonizar o discurso e colocar você e sua esposa na mesma página da questão, responda:
1. VOCÊS AINDA TÊM SENTIMENTOS UM PELO OUTRO? Muitos casais que dizem "queremos nos divorciar" ainda nutrem sentimentos fortes um pelo outro, mas devido a uma queda de braço de egos e orgulhos eles perderam a noção de proximidade e intimidade. Se ainda existe algum sentimento, a separação não irá produzir alívio, mas angústia, e provavelmente depois dele você irá se sentir pior do que se sente agora.
2. SERÁ QUE VOCÊS ESTIVERAM MESMO CASADOS ALGUM DIA? Ser casado exige uma troca do "EU" por "NÓS". Será que vocês entraram no casamento como uma guerra por liderança, fazendo dele um campo de batalha para fazer prevalecer apenas o seu ego ou o dela? Manter sua individualidade é importante, mas ao optar pelo matrimônio você também está optando por uma mudança de foco onde a preservação de um sentimento de UNIÃO COLABORATIVA passa a ocupar o centro da atenção de ambos. Se você - ou ela - viveu o relacionamento tendo como único objetivo preocupar-se com a satisfação do próprio umbigo, então vocês nunca estiveram casados de verdade. Que tal reeditar o modelo de interação antes de desistir do pacote completo?
3. VOCÊS ESTÃO REALMENTE PRONTOS PARA O DIVÓRCIO OU SÓ ESTÃO BRINCANDO DE AMEAÇAS? Relacionamentos maduros operam por meio de consensos, não ameaças. Mencionar que você quer uma separação pode ser um mecanismo de defesa-e-ataque desencadeado por raiva, frustração, necessidade de sentir-se no comando (fazendo as coisas apenas ao seu modo), intenção de motivar uma mudança, ou um chamado desesperado para sacudir a mesmice. Nenhuma dessas motivações é genuína e ficar brandindo no ar a espada do divórcio a cada discussão apenas diminui a sua credibilidade. Você quer realmente encerrar sem culpas um capítulo da sua vida ou está apenas fazendo birra?
4. ESTA É UMA DECISÃO BASEADA EM AUTOCONHECIMENTO OU UMA REAÇÃO EMOCIONAL? A decisão de separar-se deve ser feita de maneira lúcida, fria e sustentável. Você deve estar 100% preparado para cortar todos seus laços com a outra pessoa - inclusive o laço da Hostilidade. Decisões com alta carga emocional costumam associar-se a estragos duradouros. Se você quer o divórcio por raiva, ciúme ou insegurança, esses sentimentos irão aumentar. Diga para si mesmo: "Eu entendo que ela é uma pessoa com seus próprios defeitos e grandes qualidades, cheia de sonhos e planos, e eu a respeito muito por isso, mas não desejo mais estar casado com ela". Consegue dizer isso sem que seus batimentos cardíacos aumentem ou ficar pensando apaixonadamente em um futuro hipotético onde as coisas poderiam ser diferentes entre vocês dois?
5. QUAL A SUA INTENÇÃO COM O DIVÓRCIO? Existe alguma agenda ou subterfúgio nas entrelinhas do seu pedido de separação? Se você tem a esperança de que com o divórcio ela possa mudar e tratar você melhor, ou quer fazê-la sentir a dor da perda ou usar o divórcio como uma forma de punição pelo sofrimento que ela lhe causou, então está baseando sua decisão em todos os motivos errados possíveis. O divórcio não tem o poder de consertar o que estava errado. Um divórcio só é capaz de fazer uma coisa: terminar um casamento e liberar você E ELA para que desenvolvam laços emocionais com outras pessoas.
6. VOCÊS JÁ RESOLVERAM SEUS CONFLITOS INTERNOS SOBRE A DECISÃO? O sentimento de certeza pode vir misturado com de culpa. Você pode se sentir traído por ter investido tanto naquela relação e agora vê-la terminando. Você reconhece esses conflitos e está disposto a assumir a parte da responsabilidade que lhe cabe?
7. VOCÊS SÃO CAPAZES DE LIDAR COM AS CONSEQUÊNCIAS? Desapontamento, solidão, frustração, amargura, revolta, tristeza, ansiedade, labilidade emocional e vulnerabilidade esperam por você logo ali, depois da esquina. Não adianta fazer pose de macho e fingir o contrário. O mais adequado é preparar-se para o que está por vir. Além da sua dor, você terá que lidar também com a dor dela e das crianças - se tiverem filhos. Você tem um círculo familiar e de amigos capaz de lhe oferecer algum suporte?
Se você não quer mudanças no seu estilo de vida ou nas suas finanças, então você não está pronto para o divórcio.
Se você não consegue aceitar a mágoa e a raiva dos seus filhos, então você não está pronto para o divórcio.
Se você não pode receber o medo do desconhecido, então você não está pronto para o divórcio.
Se você não está preparado para cortar completamente todo e qualquer laço emocional com ela, então você não está pronto para o divórcio.
8. VOCÊ ESTÁ DISPOSTO A ASSUMIR O CONTROLE DE SUA VIDA DE MODO RESPONSÁVEL E MADURO? Esta é a derradeira pergunta. O divórcio não é um retorno à sua adolescência ou infância. Ele é um ritual que dever marcar sua passagem para um nível maior de maturidade, força, compreensão e respeito.
Se você observou corretamente os sinais e sintomas que levaram até este ponto, venceu o dilema do Medo, controlou suas reações emocionais e manteve seu diálogo dentro da razão, e ainda assim concluiu que o divórcio é a única saída, então existe uma grande chance de que você venha a passar por esta fase com o mínimo de danos possíveis.
Será difícil, mas ninguém lhe prometeu que viver seria uma tarefa simples e fácil, prometeu?
Um comentário:
Gostei nao sabia que era assim, agora eu aprendi vou postar isso no meu blog, la no max, pois tem muita gente que não sabe e a gente precisa divulgar.
Obrigado
Postar um comentário