Observe ao seu redor: telefones celulares, tablets, computadores, TVs, games... esses ruídos estáticos ao fundo se tornaram a trilha sonora da sua vida. O dia inteiro, você é bombardeados com barulhos. E seus filhos também.
As crianças são particularmente vulneráveis e influenciadas por esses estímulos externos. Tanto que a maioria delas se incomoda até mesmo com a ausência deles: quantas vezes alguém da sua família chegou em casa e a primeira coisa que fez, depois de abrir a porta, foi correr para ligar a televisão ou colocar uma música, enchendo o ambiente com sons? Você faz algo parecido quando entra no carro e automaticamente liga o rádio ou mp3-player.
Nesses dias de avalanches agitadas de tecnologia e informação, não precisamos de um tempo "lá fora" para acalmar, mas de um tempo "aqui dentro". Você precisa de um tempo em silêncio para ouvir seus pensamentos e conectar-se com aquela parte de você que toma as decisões que afetam de verdade seu presente e seu futuro.
Seus filhos estão na mesma situação, com a desvantagem de não carregarem a bagagem que você acumulou. Eles têm menos experiência, seus cérebros ainda estão em desenvolvimento, e toda essa distração ruidosa não está ajudando.
Existe uma grande virtude em ser capaz de experimentar e ensinar o valor do silêncio. O silêncio aquieta a mente, alimenta a alma e promove o desenvolvimento pela introspecção. Se você entendeu a mensagem, que tal tentar ensinar aos seus filhos (e aprender com eles) a riqueza oculta no silêncio?
Nos idos de 1930, a escritora e educadora Maria Montessori descobriu no silêncio uma ferramenta extraordinária para o desenvolvimento infantil. Ela elaborou um jogo e o experimentou em uma turma de 40 crianças: Maria propôs aos seus alunos que eles ficassem quietos e sussurrassem seus nomes, um de cada vez. A atenção que eles dispensaram à tarefa - e o deleite que ela proporcionou - foi surpreendente.
O Jogo do Silêncio de Montessori pode ser feito em casa. Reúna a família na sala e proponha que cada um fale bem baixinho uma palavra qualquer, como em uma brincadeira de "telefone sem fio". Cada pessoa deve anotar a palavra que entendeu e conferir, ao final da rodada, os erros e acertos.
Variações desse jogo podem incluir:
- Brincar de estátua.
- Desenhar palavras utilizando gestos no ar. Cada participante se mantém em silêncio e anota em um papel o que entendeu. Ao final da rodada os resultados são comentados.
- Sentar em círculo e passar de uma pessoa para outra um sino ou uma bola com um guizo dentro sem produzir qualquer ruído.
- Desligar todos os eletrônicos e ouvir os sons ao seu redor por 30 a 60 segundos. Cada um deve comentar sobre o que ouviu ao final de cada rodada.
- Todos fecham os olhos e o condutor do jogo produz sons delicados utilizando algum instrumento ou utensílio (um roçar de toalhas, um pequeno sino, o atrito de uma lixa ou uma caneta no papel, etc). Os participantes devem identificar o que produziu o som.
- De olhos fechados e respirando vagarosamente, cada um contará mentalmente quantas vezes inspirou e expirou durante o intervalo de 1 minuto.
Qualquer tipo de Jogo do Silêncio produz resultados bastante visíveis. O autocontrole aumenta e cria-se um espírito de paz e harmonia. Pouco a pouco, a disciplina proporcionada pela sociabilização em torno de uma meta em comum constrói nas crianças um senso de calma, capacidade de concentração e autoconhecimento.
Jogos do Silêncio podem e devem ser aplicados às crianças com mais de 4 anos de idade. Abaixo dessa faixa etária, a criança não possui a maturidade necessária para envolver-se nesse tipo de atividade. Não se decepcione se uma das crianças não for capaz de ficar completamente quieta durante o jogo. Tudo é uma questão de prática. Insista.
Para que o jogo funcione, recomendo que você siga algumas dicas:
1. Exponha as regras. Antes de embarcar em uma atividade dessas, converse detalhadamente com as crianças o que será feito, qual resultado você espera e quais serão as penalidades caso eles não se comportem direito durante as rodadas (p.ex.: limitar o tempo de videogame, internet, celular, tablet, etc).
2. Seja consistente. A melhor maneira de trocar velhos hábitos por atitudes novas é por meio da consistência. Repita o jogo periodicamente (p.ex.: toda segunda-feira) e dê um bom reforço positivo quando as crianças participarem.
3. Lidere pelo exemplo. Suas crianças observam o modo como você se comporta e tiram dali os modelos para seus próprios comportamentos. Se você é barulhento, agitado e espalhafatoso, como espera que seus filhotes sejam calmos e pacientes?
4. Explique a importância do silêncio. Ser um comunicador eficiente e ouvir de verdade seus filhos é imperioso para que eles compreendam a virtude de ficar quieto. Conversas inteligentes produzem participações positivas. Certifique-se de que a criança compreendeu a importância dessa transformação silenciosa.
5. Ensine técnicas que poderão ser usadas sempre que necessário. Por exemplo: o último jogo proposto (Respiração meditativa) pode ser empregado quando a criança se sentir estressada ou nervosa. Respirar de modo controlado acalma a mente e ajuda a organizar o raciocínio.
6. Divirta-se! Qualquer jogo deve ser uma brincadeira antes de qualquer coisa. Que tal fazer uma competição de jogo do silêncio?
7. Invista nos seus filhos. Peça um feedback sobre o que acharam do Jogo. Eles sentiram alguma mudança dentro de si? Ouça o que têm a dizer. A criança não apenas receberá sua atenção como também incrementará a própria autoestima e o autorrespeito, reconhecendo sua importância no processo.
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