* Especial para
Manhood Brasil
Desde meados do
Século XVI, um vício se multiplicou e se espalhou pelo mundo como uma erva
daninha: a mania das Doutrinas. Doutrinas são crenças, conjuntos de
ensinamentos que servem de base a um sistema. O mundo sempre se polarizou entre
doutrinas, mas nos últimos 500 anos elas se reproduziram em escala jamais
vista. Fomos do Cristianismo ao Mercantilismo escravagista e de lá ao
Iluminismo, e então desdobramos tudo em Capitalismo, Comunismo, Objetivismo,
Positivismo, Cientificismo, Espiritismo, Feminismo...
Observamos o
alastramento desses "ismos" até o mais atual: o Individualismo. A
noção de que cada pessoa é especial e importante e pode fazer a diferença é uma
fé relativamente recente. Na época das grandes navegações, os filhos de reis e
rainhas dormiam todos em um único quarto comum. Hoje, queremos que nossos
filhos tenham seus próprios quartos e respeitamos sua individualidade. Pode
parecer estranho, mas esse humanismo sócio-liberal nem sempre foi a doutrina
prevalente entre nós.
De todos esses
sistemas, eu colheria um ou outro princípio, desde que estes princípios
obedecessem à minha própria doutrina, que eu chamaria de Paradigma da
Otimização. Do meu ponto de vista, O Paradigma é um empreendimento de lucro
certo, ainda que a atmosfera naturalmente caótica do mundo nos impeça de
persegui-lo do começo ao fim de nossas vidas.
Quando somos muito
jovens, a quantidade de opções e conhecimento à disposição é limitada - não
temos ainda a maturidade necessária para lidar com toda essa bagagem. Otimizar
a vida na infância é uma tarefa
extremamente árdua. Mas os anos passam e você cresceu, virou um adulto, e o
Paradigma da Otimização torna-se finalmente viável. Para ser aplicado, ele
requer um conjunto bem particular de princípios e filosofias. Felizmente, o Paradigma
pode ser empregado em praticamente qualquer situação.
O QUE É O PARADIGMA DA OTIMIZAÇÃO?
De que adianta
falar em otimização sem otimizar a própria discussão sobre o tema, certo?
O Paradigma da
Otimização consiste em trabalhar os atritos na sua vida, reduzindo ao
mínimo possível as experiências não prazerosas. Não se trata de um jogo de
Pollyana ou de uma procura incessante por um estado artificial de felicidade,
mas em saber extrair paz e crescimento de todo e qualquer evento. É
menos Eleanor Porter, e mais Friedrich Nietzsche (o que não lhe mata, lhe
fortalece", lembra?).
Toda vez que você
se deparar com uma decisão, um problema ou uma discussão difícil, pergunte-se:
como esta situação poderia se relacionar ao Paradigma da Otimização?
O PARADIGMA DA OTIMIZAÇÃO E SUA FAMÍLIA
Parentes são
família. Amigos também. Colegas de trabalho, idem. Afinal, familiar é tudo que
circunda sua rotina. Mas quando falo Família aqui, estou me referindo às
pessoas com quem você compartilha laços de sangue. Você não pode deixar de ser
irmão do seu irmão porque não gosta mais dele, ou deixar de ser filho dos seus
pais porque saiu de casa. Os vínculos que conectam você à sua família são
inegociáveis.
Os dois maiores
pontos de atrito na família são o hiato entre gerações e a incapacidade de
desenvolver empatia. Ambos produzem padrões de realidade bastante diversos e
este contraste frequentemente se traduz em desavenças - exatamente o cenário
ideal para aplicar o Paradigma.
Quando confrontado
com um atrito familiar, desafie-se a produzir um Consenso - este é o elemento
central aqui. Reaja como alguém que busca fazer prevalecer o equilíbrio, não
uma opinião.
Se você tem alguma
bagagem dolorosa de sua infância, não leve essas malas consigo. Otimize sua
carga. Não culpe sua família: livre-se das feridas e fique com o que ela lhe
ensinou. Seja estoico.
O PARADIGMA
DA OTIMIZAÇÃO E SUA VIDA ROMÂNTICA
Parta do princípio
que NENHUM relacionamento pode ser perfeitamente ajustado para evitar 100% dos
atritos. As diferenças biológicas e sociais entre homens e mulheres impedem
isso. Então contente-se com uma otimização de 80%.
O objetivo central
do romance é permitir a formação de um elo poderoso entre duas pessoas. Não
surpreende que o elemento principal do Paradigma da Otimização na vida amorosa
seja o Apoio. Quanto menos apoio, maior a perda de tempo e a ocorrência de
atritos.
Você - como muitas
outras pessoas - tem uma tendência para se envolver em relacionamentos de um
modo perturbadoramente cego. Seu desejo é satisfazer alguns desejos primitivos
e, quem sabe, ganhar como bônus algum carinho e afeto. Acha mesmo que sexo e
carências bastam pra formar uma conexão entre duas pessoas? Não surpreende que
as brigas e as infidelidades sejam tão comuns...
Se você e sua
mulher não se convencerem que um relacionamento é o lugar onde repousam as
raízes da família, vocês nunca degustarão plenamente a experiência de um casal.
Sua vida será uma coletânea de discussões sobre quem está certo, uma competição
eterna de egos tendo como resultado apenas desgaste, dor e sofrimento.
No convívio com sua
mulher, procure sempre um ponto de concordância. Escolha bem os compromissos
que você quer assumir e proponha acordos – se ocupe em construir pontes, não
paredes. Agir assim não é demonstrar subserviência, mas maturidade e sabedoria.
Se a contraparte tiver dificuldade em compreender essa abordagem conciliadora,
existe uma grande probabilidade de o relacionamento ser uma canoa furada.
Um relacionamento
aperfeiçoado pelo Paradigma da Otimização implica em uma regra de 80/20 na
distribuição de masculinidade e feminilidade: o homem deve ser 80% masculino e
20% feminino, ao passo que a mulher deve ser 80% feminina e apenas 20%
masculina.
O PARADIGMA
DA OTIMIZAÇÃO E SEUS AMIGOS
O principal ponto
de atrito nas amizades não está na falta de apoio ou consenso, mas no peso da
Emocionalidade. Todo mundo sofre a ilusão - pelo menos durante uma fase da vida
- de que "amigo é aquele que está
com você para o que der e vier".
Esse conceito
romântico foi plantado em você na tenra infância, onde seus amigos eram sua
válvula de escape para os problemas de casa. Você tinha seus 3 ou 4 melhores
amigos do mundo, passavam a maior parte do tempo livre juntos, jogando, brincando,
curtindo sem preocupações, e a vida era boa.
Contudo, ao entrar
na bolha da idade adulta, você foi apresentado a uma nova versão do conceito de
amizade, uma definição mais rude e talvez mais mesquinha. Depois do choque,
você é brindado com uma percepção turva de que perdeu seus amigos de antes e
também a capacidade para formar novos bons amigos de verdade.
A amizade na idade
adulta é uma forma de estabelecer aceitação social e formar vínculos para
benefício mútuo. Seu sentimentalismo não tem mais espaço nesse cenário. Ele não
conta no tabuleiro dos interesses. E quando você procura seus amigos para
utilizá-los como "muletas emocionais", você estará inevitavelmente
flertando com o atrito e o desapontamento.
Uma amizade madura
consiste em saber exatamente o que seu amigo pode lhe oferecer e o que você tem
a ofertar em troca. Isso não é mau ou cruel: isso se chama realidade. Ou você
aceita isto ou continua vivendo uma infância depois dos 30, 40 anos de idade. Conheço
um monte de gente assim, adultos cronológicos por fora e absolutamente infantis
por dentro, choramingando pelos cantos com saudade da mamadeira e daquele tempo
onde as pessoas eram boas. Uma lástima. As pessoas ainda podem ser boas, mas
elas parecerão "gente grande ruim" se você se comportar como um bebê.
A falta de pontos
de vista em comum não é necessariamente danosa e não deve ser utilizada como
uma justificativa para conduzir mal uma amizade: isso é pender a balança para o
sentimentalismo do orgulho ferido. O Paradigma da Otimização na amizade
consiste em notar objetivamente o caráter e as atitudes do outro, não suas
emoções. Por exemplo:
O fato de seu amigo
ser mais conservador que você não justifica terminar uma amizade. O fato de ele
ser preconceituoso e racista, sim.
O fato de seu amigo
não apoiar ou concordar com você o tempo todo não justifica terminar uma
amizade. O fato de ele desrespeitar você na frente de outras pessoas, sim.
O fato de seu amigo
pegar mais mulheres e você ser mais seletivo não justifica terminar uma
amizade. O fato de ele querer pegar SUA mulher, sim.
Seja um bom
avaliador de pessoas e combine isso com uma aceitação radical da natureza
essencialmente imbecil dos seres humanos, e você se sairá bem.
O PARADIGMA
DA OTIMIZAÇÃO E SEU TRABALHO
Existem basicamente
3 elementos geradores de atrito no seu trabalho e que devem ser submetidos ao
escrutínio da Otimização:
1. Seu
relacionamento com os colegas.
2. A natureza do
seu serviço.
3. Seu dinheiro.
Se você é um
empreendedor, o relacionamento com seu time de colaboradores começa no momento
da seleção: prefira pessoas que gostem de ver as coisas feitas ao invés de
debater sobre a adversidade, que sejam honestas, responsáveis, automotivadas,
ambiciosas, sociáveis, que transpirem bom senso e demonstrem a mente aberta
para críticas. Se você não é um empreendedor, otimize seu tempo procurando
conviver mais com pessoas que possuam estas características, e afaste-se
daquelas que são o oposto de cada uma delas.
A natureza de seu
serviço deve ser tal que ele não se pareça com um serviço. Não faça por
dinheiro o que você não faria de graça. Tenha prazer no que faz. Você vive em
uma era de possibilidades infinitas, o conhecimento está mais disponível hoje
que nunca. Escolha uma área que seja interessante para você, estude com afinco,
pratique muito e alcance um padrão de excelência nela.
Dentro do que for
viável, diversifique suas fontes de renda. Se o trabalho não consome todo seu
tempo, reserve uma parte dessas horas à toa para dedicar-se ao desenvolvimento
de outras habilidades - de preferência, habilidades que possam lhe pagar alguma
coisa mais tarde. Não gaste tudo que ganha: guarde 10-20% para investir em
fundos de reserva, bolsa, letras de câmbio, imóveis ou afins. Estude sobre como
aplicar seu dinheiro e evite sufoco. Se você se apertou, provavelmente isso
ocorreu por sua única culpa. Assuma a falha e aprenda.
O PARADIGMA
DA OTIMIZAÇÃO E SUA CASA
As condições do
lugar que você chama de casa afetam seu nível global de satisfação. E, quando
falo de casa, não estou me referindo apenas ao prédio que você habita, mas
também à sua rua, vizinhança, cidade, estado e país. Todas estas camadas se
unem para formar o todo onde você está imerso, experimentando sua realidade.
O habitáculo do seu
lar deve ser silencioso, tanto externa quando internamente. Ao escolher um
lugar para morar, observe a quantidade de ruído que o circunda. Os vizinhos são
agitados? O ponto de ônibus perto da janela do seu quarto brinda as manhãs com
uma sinfonia de freios mal ajustados? Sua máquina de lavar roupas é barulhenta?
Cuide para reduzir o ruído dentro de casa, assim como para arrumar a desordem.
A desordem distrai e acaba com a serenidade. Finalmente, sua casa deve ser
segura, simples, esteticamente agradável e confortável. Trabalhe nesse sentido.
Ao decidir por uma
mudança de cidade, julgue suas possibilidades segundo critérios de estabilidade
financeira, índices de criminalidade, serviços públicos, transporte, poluição e
ambiente sociocultural. Uma boa casa localizada em uma cidade caótica, suja,
barulhenta e perigosa aos poucos destrói qualquer motivação de crescimento.
O Paradigma de
Otimização pode ser utilizado em muitos outros contextos, mas sua ideia central
é sempre a mesma: reduzir atritos, direcionando sua vida para agir nas
possibilidades ao invés de reagir aos problemas. Este é um processo de evolução
contínua, baseado em tentativas, erros, pesquisas, leituras e aprendizados. O
Paradigma requer a aquisição de um certo padrão de habilidades, mas uma vez que
você dominar o raciocínio, o mundo se descortinará em um lugar de experiências
extraordinárias. Que tal tentar?
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