Dos vários mitos que cercam a eterna disputa entre os gêneros, a questão de quem suporta mais a dor frequentemente é colocada sobre a mesa. "Os homens são uns molengas", elas dizem, antes de completar: "Se dependesse deles para enfrentar as dores do parto, não teríamos uma única criança nesse mundo"; "Não podem nem ver uma seringa com agulha e já desmaiam"; "Queria ver se tivesse cólica menstrual - aí sim, saberiam o que é dor", e etc.
Será que isso corresponde à realidade? As mulheres são mesmo mais resistentes à dor que os homens?
O QUE MOSTRAM AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS?
Em um estudo realizado pelo Departamento de Anestesia da Universidade de Bogotá (Anesth Analg. 2003 Nov;97(5):1464-8), os pesquisadores tentaram determinar o papel do gênero na percepção da dor. O estudo prospectivo incluiu 423 mulheres e 277 homens em situação pós-operatória imediata. Após estratificação de suas dores, aqueles com sofrimento igual ou superior a 5 em uma escala de 0 a 10 receberam 2,5 mg de morfina a cada 10 minutos até que a dor cedesse para uma pontuação igual ou inferior a 4. Após ajuste das variáveis (tipo de cirurgia realizada e idade), os cientistas descobriram que as mulheres indicavam suas dores como mais intensas que os homens, e consumiram uma quantidade 30% maior de morfina.
Em outro estudo (Pain. 2004 Dec;112(3):248-53) realizado no hospital universitário de Rikshospitalet, em Oslo, na Noruega, envolvendo homens e mulheres submetidos a procedimentos artroscópicos nos joelhos, os pesquisadores encontraram resultados similares: as mulheres se queixavam mais de dores que os homens (84 versus 57%).
Ao analisar a incidência de dor após cirurgias no tórax (Clin J Pain. 2006 Jun;22(5):491-8.), médicos do departamento de anestesia da Universidade da Pensilvânia encontraram o mesmo padrão: entre os 58 homens e as 62 mulheres avaliados, as mulheres se queixavam com muito mais frequência de dores que os homens, e utilizaram dores maiores de analgésicos.
Ao analisar a incidência de dor após cirurgias no tórax (Clin J Pain. 2006 Jun;22(5):491-8.), médicos do departamento de anestesia da Universidade da Pensilvânia encontraram o mesmo padrão: entre os 58 homens e as 62 mulheres avaliados, as mulheres se queixavam com muito mais frequência de dores que os homens, e utilizaram dores maiores de analgésicos.
Em pacientes com câncer, homens não apresentam queixas mais intensas de dor que as mulheres (J Pain Symptom Manage. 2004;28:225–232). Algumas vezes ocorre justamente o contrário: mulheres parecem suportar menos a dor oncológica que os homens (J Pain. 2008;19).
A dor Neuropática (dores que surgem quando as fibras nervosas são danificadas ou funcionam de modo anormal), além de ser bem mais comum em mulheres, elas apresentam queixas que se estendem por mais tempo que os homens (8% versus 3%).
Dores Musculoesqueléticas também são mais comuns em mulheres que em homens: em um estudo realizado em 6 continentes diferentes, envolvendo 17 países e uma amostragem de 85.052 adultos, a prevalência de dores crônicas foi maior em mulheres (45%) que em homens (31%), e as mulheres tendem a reagir à dor desenvolvendo transtornos depressivos com uma frequência maior que os homens (J Pain. 2008;3). Elas também apresentam uma limitação funcional maior à dor (J Pain. 2009 May; 10(5): 447–485.).
A Fibromialgia, esta entidade mítica que provoca dores no corpo inteiro, parece afetar 4,9% das mulheres e apenas 1,6% dos homens (J Pain. 2009 May; 10(5): 447–485). Queixas de dores de cabeça também são duas a três vezes mais comuns entre mulheres que homens (Neurology. 2004;63:427–435).
Finalmente, uma metanálise avaliando resultados de 9 estudos sobre dor experimental (dor provocada para medir o grau de tolerância) mostrou que as mulheres tem um limiar de dor menor que os homens (Pain. 1998;74:181–187).
NO FRIGIR DOS OVOS
A literatura médico-científica recente oferece incontáveis evidências para a hipótese que as mulheres NÃO SÃO (eu lamento) mais resistentes à dor. Na verdade, o que acontece é justamente o contrário: elas são MAIS sensíveis à dor que os homens.
Anatomicamente, as mulheres de nossa espécie são, sim, mais fracas e frágeis que os homens. Isso vale para a média da humanidade, e não para comparações puntuais entre um nerd obeso de meia idade e uma jovem fisiculturista de 22 anos, ok?
Todavia, a maior sensibilidade para dor não fala contra ou a favor de qualquer um dos gêneros. É simplesmente uma característica, nada mais que isso.
Mulheres são seres extraordinários dotados de qualidades maravilhosas, mas quando o assunto é aguentar firme, não reclamar e suportar a dor, bem... esse troféu vai mesmo para os Homens.
Desfeito o mito?
Um comentário:
Eu concordo.
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