17 março 2018

NÃO APRENDA A PERDOAR A SI MESMO

Nosso medo de parecermos severos e censuradores é acompanhado do desejo de parecermos compreensivos. Compreender tudo é perdoar tudo. Consequentemente, se perdoamos tudo, compreendemos tudo – e nos colocamos na posição de uma deidade misericordiosa.

Se todos devem ser perdoados, não há mérito em julgar. Se ninguém será julgado, então ninguém deve julgar – nem a si mesmo. Isso implica efetivamente em uma carta branca para fazer o que se quer: bastaria a compreensão de outrens e estaríamos instantaneamente absolvidos de nossos erros.

Por isso não é incomum hoje em dia ouvir dizer “estou aprendendo a me perdoar” (geralmente com a orientação de um terapeuta ou coaching), como se esse aprendizado fosse um trabalho duro e de grande valor para a humanidade, equivalente a descobrir a cura para o câncer ou construir uma máquina de teletransporte.

De acordo com os modos mais tradicionais de pensamento, aprender a se perdoar é aprender a agir sem escrúpulos, seguindo no próprio rumo sem se importar com as outras pessoas – basicamente, aprender a perdoar-se é um excelente caminho para transformar-se em um genuíno psicopata.

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Adaptado de Evasivas Admiráveis, de Theodore Dalrymple

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