09 março 2018

A MERITOCRACIA E O PEDIGREE BRASILEIRO

Durante o período de colonização dos EUA, a comunidade foi organizada antes do condado, o condado antes do Estado, e o Estado antes da União. No Brasil, tão cedo quanto em 1504, já éramos submetidos a um sistema de Capitanias Hereditárias – uma ordenação colonizadora completamente invertida à dos EUA.

Segundo Alexis-Charles-Henri Clérel, visconde de Tocqueville, diplomata, historiador e cientista político francês do século XIX, “os povos sempre se ressentem de sua origem. As circunstâncias que acompanharam seu nascimento e serviram para seu desenvolvimento influem sobre todo o resto de sua carreira”.

Para Tocqueville, “se nos fosse possível remontar até os elementos das sociedades e examinar os primeiros monumentos de sua história, descobriríamos ai a causa primeira dos preconceitos, dos hábitos, das paixões dominantes, enfim de tudo o que compõe o que se chama caráter nacional. 

Poderíamos encontrar a explicação de usos que, hoje em dia, parecem contrários aos costumes reinantes; de leis que parecem em oposição aos princípios reconhecidos; de opiniões incoerentes que aparecem aqui e ali na sociedade, como esses fragmentos de correntes rompidas que às vezes ainda vemos pender nas abobadas de um velho edifício e que não sustentam mais nada.

Assim, por meio da análise de suas origens, poderíamos explicar o destino de certos povos, "que uma força desconhecida parece arrastar para um fim que eles mesmos ignoram”, finaliza o visconde.

Tocqueville escreveu essas palavras em 1835, no maravilhoso A Democracia na América, mas o modo como elas podem ser aplicadas à nossa própria história brasileira, profetizando a atual proliferação de caracteres fracos e discursos disseminados de vitimização e auto-piedade, me causa arrepio toda vez que as leio.


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“A inferioridade de nossa natureza, incapaz de apreender com firmeza o verdadeiro e o justo, frequentemente reduz-se a optar apenas entre dois excessos”. (Tocqueville, in A Democracia da América).

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