24 junho 2018

O ESQUERDISMO E O GRÁFICO DE NOLAN

O argumento que os sistemas políticos podem ser diagramados em dois eixos (um econômico, dividindo esquerda e direita; outro de liberdade pessoal, dividindo autoritarismo e libertarianismo) foi apresentado pela primeira vez pelo psicólogo Hans Eysenck no livro The Psychology of Politics (1954). A proposta de Eysenck levou a uma nova classificação político-econômica baseada em quatro quadrantes.

Em 1970, o gráfico de Eysenck foi aprimorado por Stuart Christie e Albert Meltzer no livro The Floodgates of Anarchy. Finalmente, em 1971, David Nolan publicou uma versão do diagrama em um artigo chamado The Case for a Libertarian Political Party, na edição de agosto da revista The Individualist, um periódico mensal da International Society for Individual Liberty. O diagrama se popularizou e passou a ser conhecido como Gráfico de Nolan.

Basicamente, o gráfico de Nolan divide os sistemas sócio-político-econômicos em dois eixos. O eixo horizontal refere-se ao grau de Liberdade Econômica: quanto mais liberdade econômica, mais para a Direita nos deslocamos no eixo horizontal. Quanto menos liberdade econômica, mais vamos para esquerda.

Em outros termos: quanto MENOR a presença do Estado na economia (ou seja: quanto MENOS impostos, MENOS interferências regulatórias sobre a disposição de mão de obra, MENOS gerência governamental dos meios de produção, MENOS controle público sobre a distribuição da riqueza e do que foi produzido, e MENOS restrições estatais ao livre comércio e à transferência de heranças), MAIS à DIREITA avançamos. Em resumo: no gráfico de Nolan, quanto MENOS estado, mais à DIREITA se desloca o vetor horizontal.

Por outro lado, quanto MAIOR a presença do Estado na economia (ou seja: quanto MAIS impostos, MAIS interferências regulatórias sobre a disposição de mão de obra, MAIS gerência governamental dos meios de produção, MAIS controle público sobre a distribuição da riqueza e do que foi produzido, e MAIS restrições estatais ao livre comércio e à transferência de heranças), MAIS à ESQUERDA avançamos. Em resumo: segundo o gráfico proposto por Nolan, quanto MAIS Estado, mais à ESQUERDA nos movemos no vetor horizontal.

Assim como proposto por Eysenck, o eixo vertical de Nolan relaciona-se à Liberdade Pessoal. Quanto MAIS liberdade pessoal (liberdade de expressão, de comércio e uso de drogas, ausência de serviço militar obrigatório, nenhum controle estatal sobre a vida privada), MAIS Libertário é o sistema político. Quanto MENOS liberdade pessoal (censura, guerra contra o tráfico, obrigatoriedade do serviço militar, regulamentação estatal sobre decisões que deveriam pertencer exclusivamente ao foro íntimo), MAIS Autoritário é o sistema político.

O grande, enorme, inadmissível problema com a popularização do Gráfico de Nolan foi a desonestidade de desvincular o Autoritarismo dos regimes de Esquerda. Observando superficialmente o gráfico, somos levados a acreditar que um governo de Esquerda pode ser compatível com um alto grau de Liberdades Pessoais – mas isso é uma falácia sem tamanho e nem de perto corresponde às evidências fornecidas pela realidade.

Primeiro: quanto mais para a Esquerda nos deslocamos no eixo horizontal, MAIOR deve ser o tamanho do Estado e seu controle sobre a economia. Como poderia ser possível isso ocorrer em um Estado que respeitasse 100% a liberdade pessoal? Como controlar a distribuição de mão-de-obra, por exemplo, e, simultaneamente, respeitar as decisões individuais sobre qual profissão seguir e onde trabalhar? Como um Estado de Esquerda poderia ter controle absoluto da distribuição de riqueza e, ao mesmo tempo, aquiescer com a concentração individual de renda? Como um Estado pode respeitar a Liberdade Econômica sendo ao mesmo tempo despótico sobre cada uma das escolhas pessoais que fazemos? A única maneira de o Estado ser maior – a única maneira de o Estado deslocar-se à ESQUERDA no eixo horizontal – é tornando-se cada vez mais Autoritário.

Segundo: quanto mais para a Direita nos deslocamos no eixo horizontal, MENOR deve ser o tamanho e a influência do Estado sobre a economia. Caminhando cada vez mais para a direita, MENOR é o Estado e mais libertária torna-se a sociedade. Como seria possível, à medida que DIMINUÍMOS a presença do Estado na economia, a extrema Direita ser representada por um Estado imenso? Seria como falar: quanto mais você comer os docinhos na mesa de aniversário, menos docinhos haverá na mesa. Se você finalmente devorar TODOS os docinhos, então a mesa ficará... CHEIA de docinhos! “Quanto mais diminuímos o tamanho do Estado nos deslocando à Direita do eixo econômico, chegará um momento extremo em que esta diminuição resultará em um Estado Absoluto e Autoritário”? Simplesmente não faz sentido.

A única maneira disso fazer sentido é se você observar o Gráfico de Nolan como uma tentativa maquiavélica de dissociar as ideologias de Esquerda de regimes totalitários como Comunismo, Absolutismo, Autoritarismo, Nazismo, Fascismo e outros.

Dentro das definições atualmente aceitas, Direita é MENOS Estado – e o extremo de MENOS Estado jamais será um “Estado Absoluto” que viola a soberania do indivíduo.

Esquerda é MAIS Estado. E o extremo de MAIS Estado simplesmente não tem como ser compatível, em qualquer dimensão imaginável, com um “Estado Libertário” que garante a autodeterminação.

Admitir qualquer conclusão fora disso é incongruência racional, dissonância cognitiva ou desonestidade ostensiva. Nolan estava errado. E seu erro – premeditado ou não –restaurou a convicção absurda de que o Socialismo-Comunismo pode de alguma maneira dar certo: tudo que precisamos é acertar a “dose” no eixo vertical.

Não, não existe um eixo vertical - a não ser que batizemos este eixo de Imbecilidade. Neste caso, sim, é possível admitir um eixo vertical no gráfico de Nolan, e sua extensão assume grandezas infinitas.

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