06 novembro 2011

UM BRINDE AO DIA DEPOIS DO OUTRO

© Dr. Alessandro Loiola



Por gerações a perder de vista, os incontáveis povos que já passaram pela superfície no nosso planeta-grão-de-poeira adoravam eleger datas festivas para comemorar o que quer que fosse. Isso é uma coisa tão prevalente que me atrevo a dizer que somos o produto de milênios de seleção natural de ancestrais baladeiros e festeiras.

Por exemplo: os hindus têm um tal de Festival das Cores, para celebrar a germinação das sementes e a nova colheita que virá com a primavera. Tudo muito bonito, sincronizado com as fases da Lua, os primeiros dois dias todo mundo comportado, rezas, ladainhas, adorações, coisetal. E então, no terceiro dia… “loucura, loucura, loucura!”, como diria o Sr. Luciano “o Incrível” Huck. O festival vira festival mesmo e o bicho pega.

Um pouco pra cima da Índia, os chineses não fazem por menos. A partir da metade de setembro e até por volta da primeira semana de outubro, eles comemoram o Festival do Bolo Lunar, uma tradição com mais de 3.000 anos que celebra a derrota dos invasores mongóis. E segue-se um troca-troca sem fim de pequenos bolinhos adocicados em formato de Lua cheia. Quer dizer, eles dizem que tem formado de Lua cheia. Pra mim, é formato de bolo mesmo.

Os chineses são mestres em celebrações. Quem manda? Com 1,3 bilhões de pessoas, eles têm o próprio planeta deles por lá. Tanto é que o Ano Novo Chinês é comemorado entre 15 de janeiro e 15 de fevereiro. Ouvi falar que a tradição é soltar fogos de artifício, limpar a casa, sujar a rua com pequenos pedaços de papel vermelho e fazer muita comida, especialmente os Yau Gowk, bolinhos que simbolizam prosperidade.

Bolinhos chineses novamente. Fico imaginando o que esse povo tem com bolinhos. Deve ser algum fetiche. Sei lá.

Os muçulmanos comemoram o ano novo no meio do nosso ano. O ano novo judaico, chamado Rosh Hasanah ou a “festa das trombetas” (imagine a alegria dos vizinhos...), acontece um pouco mais tarde, em setembro. Os coreanos, mais animados, comemoram 2 anos novos: um baseado no calendário ocidental e o Seol Lal, baseado no calendário lunar chinês.

A primeira notícia que se tem de comemoração do Ano Novo no dia 1º de janeiro vem dos idos do imperador Julio Cesar, em 46 a.C, mas a data seria adotada pela cristandade apenas em 1582, com a oficialização do calendário gregoriano – que nos rege até hoje.

A celebração do Ano Novo marca um evento bastante simples e pouco altruísta: como nas demais festividades de todos os povos em todos os tempos, estamos celebrando nada mais, nada menos, que nossa própria sobrevivência.

Sobrevivemos a mais um giro, você completou mais uma volta. Ainda estamos aqui. Bata no peito, grite bem alto, levante sua taça – afinal, o ano se foi e você ficou! Agora, graças ao renascimento do calendário grudado na porta da geladeira, você poderá fazer novamente todas suas velhas promessas.

Celebrar a sobrevivência, apesar de previsível, não deixa de ser louvável. Nossos ancestrais miúdos, as amebas, vivem apenas dois dias. Uma miséria. Um glóbulo vermelho do seu sangue vive no máximo 120 dias: uma hemácia nascida no verão, provavelmente irá desaparecer antes do cair da primeira folha de outono. Pouquíssimas terão a oportunidade de conhecer o barulho de uma rolha de espumante.

Mesmo quando comparados a outros mamíferos, somos uma espécie longeva: um coelho vive apenas 10 anos. Gatos e cachorros, no máximo uns 18 anos.
Gorilas e chimpanzés, cerca de duas reles décadas. Nós? Vivemos uma média de 75-80 anos. Faz sentido comemorarmos coletivamente cada um deles.

Mas eu iria além. Se estas festas de todos os dezembros marcam nossa sobrevivência ao longo do velório do ano velho e o trabalho de parto do próximo, porque não celebrar mais frequentemente a sobrevivência? Celebrar a imensa felicidade de acordar e desfrutar mais uma vez o mundo e as pessoas. Quer dizer, nem todas as pessoas, apenas algumas pessoas. Bem poucas, pra falar a verdade. Mas elas estão por aí e merecem um alô.

Será que temos essa inteligência suficiente para comemorar o cotidiano? Festejar a beleza elegante da evolução, a serenidade da sabedoria e o milagre absurdo que se esconde no simples fato de estarmos aqui, prestes a declarar o imposto de renda outra vez?

Considerando que o ano novo é a simples realização de que estamos vivos, porque não exaltar cada novo dia? Sim! Cada raiar do sol esconde um novo ano particular, uma oportunidade única para você refazer os cacos e juntar o todo. Que feliz ano novo que nada! Apesar da paganice, da receita federal e dos argentinos, desejo mesmo a você e toda sua família um Feliz Dia Depois do Outro! E outro. E outro. E outro. E sempre. Saúde!

20 setembro 2011

EM BUSCA DA BÚSSOLA PERDIDA


Uma amiga desabafa: “sabe, ando passando uma fase estranha, um sentimento de como se estivesse perdida, como em um daqueles pesadelos que você não sabe onde está. Anda, anda e não sabe pra onde ir, entende? Travei. Passei a fazer tudo mecanicamente e precisei dar um tempo em um monte de coisas pra tentar voltar ao normal. Ainda não consegui. Existe algum caminho mais fácil para sair daqui?”

Me identifiquei imediatamente com o bairro dela, ali perto de Perdidos No Espaço. Na última contagem, o rapaz responsável pelo censo da região também se extraviou e não temos estatísticas confiáveis até o momento sobre a população que habita o local. Mas ela parece grande. Muito grande.

No começo dos anos 2000, quando mudei de uma pequena localidade chamada Santa Maria de Jetibá (menos de 50.000 habitantes) para a enorme região metropolitana de BH (mais de 5 milhões de viventes), nos perdemos em um passeio para conhecer a capital. Estávamos nos informando sobre o caminho de volta para casa quando meu filho - então com 6 anos de idade - perguntou:
- Pai, qual o significado dos nomes nessas placas?
- São os nomes dos bairros e as saídas que você tem que pegar para ir a cada um deles.
- Ahhhnn... Então aqui é o bairro da Savassi e ali é a saída para o Belvedere?
- Isso.

Andamos mais um pouco.
- E aqui é Lourdes e por ali a gente vai para o Barro Preto?
- É isso aí.

Andamos mais um pouco.
- Pai, olha só, tem um bairro enooorme! Na cidade inteira tem entrada para ele!
- Filho, cada bairro fica em um lugar só. Não tem como um bairro estar para todo lado. – E fiz um “tsc tsc” de desdém.
- Então porque tem tantas placas apontando para esse bairro chamado Retorno?

Crianças. O poço mais profundo da filosofia mais magnânima pelo preço de um picolé.

Todo lugar tem um Retorno. Todo lugar tem uma volta. Sempre é possível recomeçar, reconquistar, refazer, reconstruir, reviver. E foi a partir da vivência de uma criança de 6 anos que desenvolvi uma teoria bem simples, a teoria da Bússola do Crescimento Pessoal, composta por 5 diretrizes gerais de navegação que gostaria de compartilhar com você agora:

1 - Quando você acordou hoje, foram depositados 86.400 segundos em sua conta de vida. Eles são todos seus e, apesar de auto-renováveis a cada meia noite, não podem ser transferidos, doados ou vendidos. Contudo, o fato de não poder negociar com o relógio não significa que você não possa se aproveitar dele. Leve o tempo que for necessário para iniciar seu recomeço – só não leve tempo demais.

2 - Rasgue imediatamente seu bilhete de entrada para o metrô dos zumbis: dentro do possível e do impossível, desfrute e participe da paisagem que passa pela sua janela. Aprendizado sem mudança é desilusão. Mudança sem crescimento é frustração. Contemple a vista, aprenda, mude e se aprimore a cada dia.

3 - No final das contas, tudo isso de ruim e de bom é viver, e a viagem só acaba quando termina. Nunca desanime antes do fim. A única rua que leva ao seu fracasso é a Desistência e, enquanto estiver persistindo, você estará no caminho para o sucesso. Peça carona, empurre seu carro, vá a pé. Siga em frente, siga para os lados, siga para trás. Mas siga.

4 - Agir de modo independente não significa negligenciar as informações a cada esquina. Pergunte, peça ajuda. Alguns bons (e insuspeitos) amigos podem conhecer bons atalhos, bons restaurantes, boas atrações, boas oportunidades, e você tem 2 ouvidos, 2 olhos e apenas uma boca. Observe e ouça o dobro do que fala.

5 - Não tente fazer todas as coisas perfeitas. O caminho de volta pode não ser exatamente aquele que você fez na ida, mas ele existe e irá lhe proporcionar uma série de novas experiências e conhecimentos antes de lhe colocar confortavelmente em casa. Tentar percorrer sempre o mesmo caminho perfeito pode tornar o passeio monótono e paralisante. Então destrave. Pegue o primeiro ônibus que passa pelo bairro Perdidos No Espaço, vá viver a sua aventura da vida e tenha mais um dia extraordinário!

EM BUSCA DA BÚSSOLA PERDIDA

© Dr. Alessandro Loiola


Uma amiga desabafa em seu email: “sabe, ando passando uma fase estranha, um sentimento de como se estivesse perdida, como em um daqueles pesadelos que você não sabe onde está. Anda, anda e não sabe pra onde ir, entende? Travei. Passei a fazer tudo mecanicamente e precisei dar um tempo em um monte de coisas pra tentar voltar ao normal. Ainda não consegui. Existe algum caminho mais fácil para sair daqui?”

Me identifiquei imediatamente com o bairro dela, ali perto de Perdidos No Espaço. Na última contagem, o rapaz responsável pelo censo da região também se extraviou e não temos estatísticas confiáveis até o momento sobre a população que habita o local. Mas ela parece grande. Muito grande.

No começo dos anos 2000, quando mudei com esposa e casal de filhos de uma pequena localidade (33.000 habitantes) para uma enorme região metropolitana (mais de 5 milhões de viventes), nos perdemos em um passeio para conhecer a capital. Estávamos nos informando sobre o caminho de volta para casa quando o de 6 anos perguntou:
- Papai, qual o significado dos nomes nessas placas?
- São os nomes dos bairros, filho, e as saídas que você tem que pegar para ir a cada um deles.
- Ahhhnn... Então aqui é o bairro da Savassi e ali é a saída para o Belvedere?
- Isso.
Andamos mais um pouco.
- E aqui é Lourdes e por ali a gente vai para o Barro Preto?
- É isso aí.
Andamos mais um pouco.
- Pai, olha só, tem um bairro enooorme! Na cidade inteira tem entrada para ele!
- Filho, cada bairro fica em um lugar só. Não tem como um bairro estar para todo lado. – E fiz um “tsc tsc” de desdém.
- Então porque tem tantas placas apontando para esse bairro chamado Retorno?

Crianças. O poço mais profundo da filosofia mais magnânima pelo preço de um picolé.

Todo lugar tem um Retorno. Todo lugar tem uma volta. Sempre é possível recomeçar, reconquistar, refazer, reconstruir, reviver. E foi a partir da vivência de uma criança de 6 anos que desenvolvi uma teoria bem simples, a teoria da Bússola do Crescimento Pessoal, composta por 5 diretrizes gerais de navegação que gostaria de compartilhar com você agora:

- Quando você acordou hoje, foram depositados 86.400 segundos em sua conta de vida. Eles são todos seus e, apesar de auto-renováveis a cada meia noite, não podem ser transferidos, doados ou vendidos. Contudo, o fato de não poder negociar com o relógio não significa que você não possa se aproveitar dele. Leve o tempo que for necessário para iniciar seu recomeço – só não leve tempo demais.

- Rasgue imediatamente seu bilhete de entrada para o metrô dos zumbis: dentro do possível e do impossível, desfrute e participe da paisagem que passa pela sua janela. Aprendizado sem mudança é desilusão. Mudança sem crescimento é frustração. Contemple a vista, aprenda, mude e se aprimore a cada dia.

- No final das contas, tudo isso de ruim e de bom é viver, e a viagem só acaba quando termina. Nunca desanime antes do fim. A única rua que leva ao seu fracasso é a Desistência e, enquanto estiver persistindo, você estará no caminho para o sucesso. Peça carona, empurre seu carro, vá a pé. Siga em frente, siga para os lados, siga para trás. Mas siga.

- Agir de modo independente não significa negligenciar as informações a cada esquina. Pergunte, peça ajuda. Alguns bons (e insuspeitos) amigos podem conhecer bons atalhos, bons restaurantes, boas atrações, boas oportunidades, e você tem 2 ouvidos, 2 olhos e apenas uma boca. Observe e ouça o dobro do que fala.

- Não tente fazer todas as coisas perfeitas. O caminho de volta pode não ser exatamente aquele que você fez na ida, mas ele existe e irá lhe proporcionar uma série de novas experiências e conhecimentos antes de lhe colocar confortavelmente em casa. Tentar percorrer sempre o mesmo caminho perfeito pode tornar o passeio monótono e paralisante. Então destrave. Pegue o primeiro ônibus que passa pelo bairro Perdidos No Espaço, vá viver a sua aventura da vida e tenha mais um dia extraordinário!

15 setembro 2011

O PLANTÃO DA SINUSITE INFORMA

© Alessandro Loiola


Duas e pouco da manhã. O frio empurrando para a cama e a ficha de atendimento puxando para o consultório.
- Pois não.
- Doutor, estou resfriado há uns dez dias.
- Hum.
- E anteontem começou uma dor de cabeça enjoada, tipo um peso em cima dos olhos.
- Sei.
- O nariz escorrendo amarelado, sensação de secura na garganta com uma tosse que não me larga, dia e noite. E aquela febrezinha no final da tarde, sabe? - pulmões, freqüência cardíaca, pressão arterial, garganta... tudo normal. - Será que é sinusite?
- Não, é uma gravidez. E de gêmeos, um em cada trompa.
- Como?
- Sim, provavelmente uma sinusite, blá blá blá.

Já estava pegando na receita quando o sujeito soltou o tradicional: “... Mas não seria bom fazer uma radiografia?”.

Ah, os benefícios do contato com a tecnologia. Basta posicionar uma máquina e o sujeito melhora quase que instantaneamente, como se o equipamento de raios-X emitisse ondas de cura, não radiação. Ainda pensei em explicar, mas o frio e o cansaço me mandaram apenas pedir a bendita chapa – que veio alterada como previsto. E ele foi com sua sinusite para casa levando a mesma receita de antes da radiografia.

A sinusite consiste na inflamação dos seios da face, pequenas cavidades nos ossos em torno do nariz. Algumas destas cavidades estão presentes ao nascimento, outras se formam ao longo dos anos. Além de gerarem emprego para centenas de otorrinolaringologistas em todo o mundo, não são conhecidas outras grandes finalidades específicas para os seios da face.

Somado a este fato, temos os vírus das vias respiratórias tão comuns nos meses de inverno. Durante um resfriado, estes vírus causam edema na mucosa que reveste os seios da face, dificultando a eliminação da secreção ali produzida e favorecendo a proliferação de bactérias no local. Como conseqüência, de cada 100 casos de resfriado banal, 1 se transformará em um episódio de sinusite aguda.

Os principais sintomas da sinusite incluem dor entre, abaixo ou atrás dos olhos; febre, coriza, congestão nasal, tosse há mais de 7 dias e dificuldade para sentir cheiros (uma vantagem em certas profissões e casamentos).

São os sintomas que definem o diagnóstico de sinusite aguda, não os exames sofisticados e caros. Um estudo publicado pela Academia Americana de Pediatria em setembro de 2001 mostrou que o exame clínico simples feito no consultório, sem empregar qualquer recurso adicional, é capaz de acertar 90% dos diagnósticos de sinusite aguda.

Uma radiografia normal não é capaz de eliminar a possibilidade de sinusite. Além disso, 30% das pessoas normais, saudáveis e sem qualquer sintoma apresentam alterações radiográficas que simulam uma sinusite aguda.

Nem mesmo a tomografia computadorizada é digna de grandes méritos: 87% das pessoas adultas com resfriados comuns apresentam alterações tomográficas em um ou mais seios da face. Mas em 79% dos casos estas alterações desaparecem espontaneamente nas duas semanas seguintes. Deu para perceber que os exames não ajudam muito?

Por outro lado, nos casos de sinusite recorrente ou crônica, os exames sofisticados estão indicados. Por exemplo: além da tomografia computadorizada, seu médico poderá indicar uma limpeza endoscópica dos seios da face. Neste procedimento bastante confortável, um tubo munido de uma microcâmera é passado pelos vários orifícios do seu nariz enquanto o médico diz “calma, calma, não vai incomodar nada”. Lógico que não vai. Não é o nariz dele.

Uma vez definido o diagnóstico de sinusite, o tratamento padrão inclui descongestionantes e analgésicos. Se os sintomas estiverem presentes há mais de 7 dias, associa-se amoxicilina por um mínimo de 10 dias – ou até que as manifestações tenham desaparecido por pelo menos uma semana. Cerca de 10% das pessoas não respondem bem ao tratamento com antibióticos e devem ser indicadas para algumas sessões de tortura, digo, de lavagem endoscópica dos seios da face.

Para lidar melhor com seu episódio de sinusite deste inverno, faça o seguinte:

- Coma mais alho. Ele possui ingredientes ativos que oferecem um certo efeito descongestionante no curto prazo.

- Lave a cavidade nasal com soro fisiológico várias vezes ao dia e faça inalações com vapor de água. Isso ajuda a dissolver as secreções e umedecer a mucosa nasal inflamada.

- Se você não tem hábito de tomar banhos de radioativos, não pressione seu médico pedindo raios-X ao menor sinal de resfriado ou sinusite aguda não complicada. Siga as orientações dele e tenha um pouco de paciência. No final, tudo vai dar certo. Ou não.

10 setembro 2011

Reflexão para o sábado

Este trecho de um livro foi bastante útil para mim recentemente, e espero q passando a frente possa ser útil para mais alguém.

Uma ocasião estava Buda a contar uma história a um aprendiz:
- Um homem viajando chega à margem assustadora de um grande rio. Então vê que a outra margem é segura. Pensa: "Esta extensão de água é vasta e esta margem é perigosa, aquela é livre de perigo. Não há embarcação nem ponte com que eu possa atravessar. Acho que seria hom juntar troncos, ramos e folhas e fazer uma jangada com a qual, impulsionada por minhas mãos e meus pés, passe com segurança a outra margem." Então esse homem executa o que imagina e passa para a margem oposta sem perigo, onde pensa: "Esta jangada me foi muito útil e me permitiu chegar a esta margem. Seria bom carregá-la à cabeça ou às costas onde quer que eu vá".
- Que pensais, monge? Procedendo dessa forma, esse homem agiria adequadamente em relação à jangada?
- Não, Senhor!
- Qual seria o melhor a se fazer?
- Tendo atravessado para a outra margem – respondeu o aprendiz-, esse homem deveria pensar: "Esta jangada me foi de grande auxílio e graças a ela cheguei com segurança; agora seria bom que eu a abandonasse à sua sorte e seguisse o meu caminho livremente."
Pois exatamente assim são as verdades e certezas que carregamos. Elas devem ser consideradas não como um fim, mas como um meio; da mesma forma com a jangada é um meio para atravessar, mas não para se apegar.

31 agosto 2011

AUTOMEDICAÇÃO PLACEBOTERÁPICA

© Dr. Alessandro Loiola


Em uma folga durante o plantão, peguei emprestada uma revista médica de um colega. A sensação que tenho ao folhear ciência de qualidade é quase idêntica a de uma criança à solta em uma loja de brinquedos. Com a diferença de que, ao sair da revista, não tenho que pagar uma pequena fortuna por alguns pedaços de plástico pintados com tinta não-tóxica.

Pois bem. Na revista havia uma curiosa pesquisa sobre automedicação que avaliava o potencial do efeito placebo. Para quem não sabe, os estudos clínicos sobre um determinado tratamento ou remédio são feitos comparando-se 3 grupos distintos de pacientes: 1 grupo tratado com o remédio novo, 1 grupo tratado com um remédio antigo consagrado para aquele problema, e 1 grupo tratado com remédio falso, de mentirinha, a que chamam placebo. Este remédio de mentirinha pode ser uma cápsula contendo apenas excipiente, uma injeção de soro fisiológico, o que for.

O fato é que o placebo não tem propriedade terapêutica alguma. Mas os participantes do estudo nunca sabem o que estão tomando – placebo ou remédio de fato. O placebo serve para mostrar as consequências da ausência de tratamento, permitindo comparar com maior clareza os efeitos da droga nova em relação à droga antiga. Obviamente, a utilização de placebos deve obedecer a elevados critérios éticos, como não colocar a vida do sujeito em risco (isto poderia diminuir perigosamente a população de cobaias).

O dado curioso das pesquisas que avaliam a eficácia de novos remédios é que, em não raros casos, o efeito do placebo costuma ser igual ou superior ao efeito dos remédios propriamente ditos. Por exemplo: cerca de 30% das pessoas que participam de estudos sobre analgésicos relatam melhora da dor após tomar uma única e inocente pílula de açúcar...

No estudo publicado na British Medical Journal, os cientistas modificaram o conceito de placebo da seguinte maneira: os mesmos pacientes recebiam exatamente o mesmo medicamento para controlar a dor, para ser tomado à vontade. Em um dia, dizia-se ser o medicamento “A”, um potente analgésico comprado por R$0,70; no dia seguinte, dizia-se ser o medicamento “B”, um potente e novo analgésico comprado por R$7,00.

Na verdade, os dois medicamentos eram exatamente a mesma droga, sem tirar nem por. A mesma dose, a mesma caixa, todos os dias. O efeito placebo estava na ilusão de que o comprimido B custava 10 vezes mais que o comprimido A. Como na cabeça de qualquer cidadão razoavelmente sensato um tratamento 10 vezes mais caro certamente deve surtir 10 vezes mais efeito que o outro, este foi o efeito observado no estudo. O poder de sugestão respondia pela diferença na eficácia.

Tenho muitos pacientes que se deixam levar pelos números, preços, dosagens, cores, tamanhos:
- Mas é só isso aqui? Esse comprimidinho de nada vai melhorar minha memória??
- Sim, é isso aí.
- Mas doutor, sinceramente, não vai fazer efeito... eu tomo diariamente aquele outro bem maior, amarelo, da caixa branca, sabe?
- Amarelo da caixa branca... ?
- É... hum... – estala os dedos - humm... tá na ponta da língua...
- Então cospe.
- Não, não, o nome do remédio... é... bah, esqueci o nome. Mas o fato é que ele, sim, funciona de verdade. Um comprimidão deste tamanho! – e mostra com as mãos espalmadas o que provavelmente corresponderia a uma truta adulta ou uma pequena frigideira.

Como dizem as boas revistas de outro ramo, não é o tamanho da varinha que conta, mas o efeito da mágica que ela proporciona. Afinal de contas, se tamanho fosse documento, sua carteira de identidade deveria ter pelo menos 1 metro de altura e o elefante – não o leão – seria o rei da selva. O mesmo princípio parece valer para os comprimidos.

Quanto ao placebo, ele não precisa nem mesmo ser uma pílula. O placebo pode ser uma dieta especial, um exercício, uma meta, um novo relacionamento ou um modo diferente de enxergar a vida. Qualquer coisa que mexa com seu poder de auto-sugestão, influenciando o estado de ânimo em direção à cura.

Remédios para dormir, perder peso, antibióticos, analgésicos, antiinflamatórios... a consequência não está no preço, na aparência ou nas miligramas, mas no modo como aquela droga irá reagir com seu corpo.

Para ter uma idéia mais precisa de como será essa reação e não ingerir gato por lebre, é preciso ter cuidado e estudar um pouco mais além da bula que acompanha a caixa. Para sua felicidade, existe uma raça de gente biruta que adora folhear revistas científicas nas horas de folga. Esse povo parece realmente entender alguma coisa sobre remédios. Procure sempre conversar com um deles antes de tomar o seu.

06 agosto 2011

OS 9 TIPOS PRINCIPAIS DE RELACIONAMENTOS

© Dr. Alessandro Loiola


Sou um cara nascido e criado no século passado. Então, quando retornei ao mercado de carnes da Selva de Pedra, levei algum tempo para enteder como os relacionamentos estavam funcionando.

Felizmente, depois de alguns meses revendo os parâmetros mais modernos de psicologia comportamental, percebi um certo padrão que tornou possível elaborar uma lista com os 9 Tipos Principais de Affairs - que lhe passo a seguir:

(ATENÇÃO: as categorias são intercambiáveis e, em algumas rodas, mais de um participante pode ser necessário para q vc avance até o nível seguinte)


1 – TAMO AÍ: vc não está só, nem faz questão de estar com uma companhia. Sacomekieh, Claudia? O que acontecer, tá valendo. Vc tá aí. Na selva.

2 – PEGUETE: pois justamente quando vc tava aí, vcs se encontraram numa árvore qualquer e rolou um clima. Vcs deram um pega e cada um seguiu sua trilha.

3 – FICANTE: vc gostou do pega e marcou de novo. “Onde vc vai com sua manada? Então vou passar lá com a minha e a gente tipo se encontra e tals”. Importante: nesta etapa, a emissão de sinais de fumaça que lembrem compromisso pode dar urticária.

4 – ENROLADOS: não bastou a segunda vez e vcs estão marcando sem os amigos em comum por perto. Apesar do risco de urticária, vcs dois acham q de repente uma coçadinha assim de leve não mata ninguém.

5 – ALGUÉM FIXO: tudo bem, os amigos (certamente) e os pais (talvez) do seu enrolo já sabem que você existe. Vá até a clareira mais próxima, respire sem desespero e veja se saiu alguma bolha pruriginosa nas axilas.

6 – NAMORADOS: os pais não só sabem como te mandam recado ("mamãe pediu pra dizer q mandou um abraço pra vc"). Ainda lembra o caminho até a clareira? Òtimo.

7 – NOIVOS: talvez vc esteja se perdendo na mata e isso pode ser bom – ou não. Poucas plantas irão causar alguma reação alérgica a partir de agora.

8 – CONJUGE: vc voluntariamente queimou a bússola e comeu o mapa. Nem as estrelas vão ajudar. Clareira, q clareira? Urticária? Vc precisaria de pele pra ter isso, mas ela já foi arrancada na etapa anterior.

9 – SEPARADO(A): após algum (ou muito tempo) sem se coçar e comendo apenas a farinha da tribo, vc decidiu que era hora de voltar a seguir qualquer caminho no meio da selva. Afinal, quem quer saber de mapas ou clareiras? Mas então, enquanto vc confortavelmente tava por aí depois de ter completado seu script ecológico, alguém apareceu e rolou um pega.

E segue o ciclo.

03 agosto 2011

OS HOMENS E OS FANTASMAS DOS MITOS SEXUAIS

© Alessandro Loiola



Nada de Marilyn Monroe, Cléo Pires ou Angelina Jolie. Não é sobre esses mitos sexuais que nós vamos falar. Vamos conversar um pouco sobre aquelas coisas que você sempre quis perguntar mas tinha vergonha de ouvir alguém respondendo: os famosos mitos sobre o sexo.

Como isso aqui hoje é uma crônica de machos, que venha o primeiro mito: afinal, tamanho é documento? Porque se fosse assim, o elefante seria o rei da selva e sua carteira de identidade mediria pelo menos um metro e meio de altura, certo? Nem tanto, e esta pode ser uma verdade dura para alguns de nós.

Os homens costumam fazer uma tabela de equivalência entre sua masculinidade e o tamanho do órgão copulador. Nessa tabela, o macho top de linha é aquele sujeito com uma tromba capaz de fazer qualquer mamute corar de vergonha no meio da manada.

Pura bobagem. Pesquisas revelaram que o tamanho médio do pênis varia de 6-8 cm (em repouso) a 12-16 cm (pronto para o ataque). Além disso, a vasta maioria dos casais envolvidos em relacionamentos maduros, longos e estáveis, concorda que o tamanho do pênis não importa tanto assim. É o tamanho do contra-cheque que faz a diferença.

Outro mito, bastante freqüente, também diz respeito ao pênis. Mais especificamente, à sua performance. É quase como se houvesse uma tirania do órgão sobre seu possuidor: na cama, o sujeito só vale por aquilo que traz entre as pernas. Errado novamente.

Vários livros, incluindo o best-seller “She Comes First”, de Ian Kerner, mostram que menos de 1/3 das mulheres atinge o orgasmo durante o intercurso sexual. Em comparação, mais de 80% delas é capaz de chegar ao clímax através do sexo oral. Vale o alerta: seja mais carinhoso e criativo, e tome cuidado com cafezinhos muito quentes.

Falando em mulheres, devemos um dos mitos sexuais femininos mais famosos ao médico alemão Dr. Ernst Grafenberg. Na década de 1970, os estudos do Dr. Grafenberg levaram a descoberta de um ponto erótico batizado de Ponto G. Reza o mito que este ponto, localizado logo atrás da pube, seria capaz de catalisar orgasmos femininos espetaculares. Imagino que a popularização desta teoria tenha resultado em tardes bem animadas no consultório de Ernst, mas a real existência do ponto G ainda é motivo de controvérsias.

O fato é que o sexo deve ser encarado como o processo dinâmico de encaixe de várias partes em uma unidade e vice-versa, com intenções mútuas de prazer, e não como a busca por um único ponto específico, seja ele G, H, I ou o raio que o parta. Se você tem tara por pontos, poupe o tempo dela, pegue uma folha de papel e uma caneta e vá divertir-se desenhando reticências em um canto da sala. Na manhã seguinte, marque um psicólogo.

A infinidade de zonas erógenas a serem exploradas no corpo de uma mulher poderia dar origem a vários volumes de uma enciclopédia. Ou a um novo período de grandes navegações ao redor do globo. Exatamente por isso, os homens se preocupam sobre a duração do sexo. O rala e rola tem que durar tempo suficiente para pelo menos uma voltinha no Mediterrâneo ou uma rápida incursão na Polinésia. E aí, como um tsunami desgraçando a nau, surge o fantasma da ejaculação precoce.

A ejaculação precoce afeta 20-30% dos homens em todas as faixas etárias. Todavia, é difícil determinar o que é a ejaculação precoce. Pesquisas em laboratório mostram que até mesmo indivíduos capazes de fazer o intercurso durar mais de 20 minutos acham que sofrem do problema. No final das contas, o pulo do gato está na percepção que cada um tem do próprio desempenho.

Segundo dados publicados no Journal of Sexual Medicine, em 2005, o tempo médio de uma relação sexual é de 5-7 minutos, sendo 2 minutos o parâmetro científico para diagnosticar a ejaculação precoce. Ou seja: se após 2 minutos de aquecimento dos motores o sujeito já está acenando com a bandeirada final, então ele pode estar sofrendo do distúrbio.

Felizmente, a ejaculação precoce é um problema tratável e tem uma interpretação darwinista construtiva: se cada homem deste planeta levasse mais de 1 hora para atingir o orgasmo, seríamos uma raça bem, bem menos numerosa.

As dúvidas e os mitos sobre sexo não caberiam todos em uma crônica apenas, você sabe disso. A lição que deve ficar aqui é a seguinte: o sexo não é algo que ocorre suave e naturalmente como um passeio de mãos dadas durante o entardecer em um filme da Disney. Sexo é uma viagem ao desconhecido, um curso vitalício de educação continuada. Vez ou outra você levará bomba em uma matéria. Mas desde que mantenha o interesse e a dedicação, os créditos estarão a seu favor.

13 julho 2011

O CALENDÁRIO E A PEDRA BRANCA

© Alessandro Loiola




Toca o celular. Número desconhecido. Normalmente não atendo, mas dessa vez...
- Ei, você já embarcou? – diz a voz feminina do outro lado da ligação. Apesar do barulho no saguão e do zumbido da máquina de café expresso na minha frente, a voz é familiar.
- Não, nem entrei no avião. Tô aqui esperando um capuccino.
- Onde?
- Na lanchonete do aeroporto.
- Então espera, tô chegando aí.
E ela chegou. Linda como sempre, o nervosismo discretamente preso na coleira de um sorriso bastante honesto.
- Quanto tempo, hein?
- Pois é, menina. Anos. Passaram voando. Mais um pouco e pousavam aqui.
- Vim porque precisava te pagar uma dívida: ficamos devendo um abraço um ao outro da última vez.
- Não foi por culpa minha.
- É, eu sei. Aprendi isso com você.
- O que? Que nunca é culpa minha?
- Não, bobo. A aproveitar meus abraços quando eles aparecem. Pode demorar tempo demais até conseguir colher a próxima oportunidade. Ah, e isso nos leva ao segundo motivo de estar aqui hoje. Precisava te entregar isso também. – e retirou da bolsa uma pequena pedra branca.
- Mas o quê... ?
- É uma pedra branca, ora. Lembra? Você ficou de me contar essa história...


Pois terminamos trocando mais uma meia dúzia de duas palavras, a moça do alto-falante anunciou meu vôo, paguei a dívida do abraço e embarquei de volta para São Paulo com a pedra branca no bolso. E não contei a história. Puxa vida, esqueci e terminei não contando a história. Por isso, aqui vai o conto do Calendário e a Pedra Branca. Assim, quem sabe, pago minha dívida com ela e você ganha um mimo por tabela:

Tudo começa com as duas explicações possíveis para a origem da palavra Calendário. A primeira versão, mais oficial, afirma que nos tempos antigos os meses romanos se iniciavam em cada lua nova. No primeiro dia da lua nova, chamado dia das calendas (“calendae”), um alto representante da religião vigente informava as celebrações daquele mês. Nessa época, termo “calendarium” surgiu para designar o livro de contas onde eram marcados os dias entre uma calendas e a próxima.

A segunda explicação traz uma boa dose de mito, mas é infinitamente mais poética. Diz a lenda que os romanos possuíam o hábito de marcar o intervalo entre as calendas utilizando carreiras de pedras ou pequenos seixos. Após um determinado número de seixos, era hora de pagar os impostos e executar os ritos religiosos.

Acontece que, eventualmente, no meio daquela carreira de seixos, havia uma data especial a ser celebrada. O nascimento de um filho ou o amor e a união de um casal. Datas especiais como essas deveriam ser diferenciadas dos demais seixos que marcavam a mera sucessão de dias. Essas datas mereciam uma pedra diferente. Uma pedra branca – que, por um detalhe geológico (facilidade de acesso às jazidas na região), costumavam ser de cal.

E por isso, por volta desta mesma época, Plínio, militar e historiador romano, cunhou a célebre frase “Albo lapillo notare diem”. Traduzindo: Marcar cada dia com uma pedra branca. Cada dia. Excelente, não?

Não se deve marcar um dia ou outro com uma pedra branca, mas sim TODOS os dias. Todos os dias são especiais, valiosos e insubstituíveis de uma forma ou de outra. E se você marcar todos os dias com uma pedra branca, em breve formará uma longa sequência de pedras de CAL. Um CALendário.

A verdade por trás dessa pequena parábola é profundamente modificadora. Vivemos assombrados pelo passado e demasiadamente preocupados com planos para o futuro – e nos esquecemos de colher o dia. Não temos tempo para procurar e espalhar nossas pedras brancas pelo presente. E o presente nada mais é que isto mesmo que o nome diz: um presente. Que deve ser colhido e cuidadosamente marcado como uma lembrança especial, um dia após o outro.

Quem ou o que será sua pedra branca hoje?

25 maio 2011

PEGAÇÃO EVOLUCIONISTA

© Dr. Alessandro Loiola


Após uma seqüência alienígena de plantões ininterruptos, daquele tipo que visa provar que seres humanos podem, sim, sobreviver tranqüilamente dormindo menos de 4h por semana, sentei na frente do computador em crise criativa. Sobre o que escrever?

Por sorte, ao checar a caixa de email, havia a solicitação de uma repórter para um artigo sobre... sedução. Pronto, bingo!

Este sempre foi um excelente tema. Até porque, quem nos batizou de Homo sapiens não sabia de nada. Somos Homo carenttis, isso sim. Homens e mulheres. Passamos a existência nos sentindo misteriosamente sós em um planeta com mais de 6 bilhões de indivíduos da mesma espécie.

A explicação para este perene e suave sentimento de solidão pode estar na parte da medicina que estuda o desenvolvimento dos embriões, a embriologia.

Sem querer soar freudiano, temos uma vida generosa no útero materno. Nada de fome, indigestão, calor, frio, cartão de ponto, mensalidade da escola das crianças, louças do final de semana criando um crocodilo na pia da cozinha... nada disso. Um eterno feriado em um spa 6 estrelas, onde recebemos tudo na mão.

Quer dizer, não exatamente na mão, mas na barriga, pelo cordão umbilical, depois de uma checagem rápida das malas na alfândega da placenta. Mas você captou o conceito.

Pois então, como satisfazemos nossa saudade do conforto recebido no útero materno? Fácil: utilizando uma ferramenta chamada sedução.

Você irá encontrar um monte de definições frias e calculistas para o verbo “seduzir” no dicionário, mas o que ele significa mesmo é algo muito simples. Seduzir é a arte de manipular analiticamente os outros para obter atenção. E esta atenção, como uma massa de pizza pronta para ser levada ao forno, pode se transmutar em uma amizade, um namoro, um casamento, uma promoção, uma gentileza, um lugar mais na frente da fila – o que você quiser.

Estamos a (e precisamos) seduzir o tempo todo. A sedução foi a chave de fenda que apertou os parafusos entre os óvulos e os espermatozóides de nossos pais e mães. Ela está impregnada em seu DNA, é quem mantém nosso tecido social vivo. A sedução está na base do mundo que construímos – e é absolutamente necessária.

Recentemente, tem havido um retorno da mídia para este tema. Desde o filme “Hitch – conselheiro amoroso”, com Will Smith (se não assistiu, alugue ainda hoje!) até a febre em formato de reality-show chamada VH1 – The Pickup Artist, que promete transformar bobalhões tímidos em super-Don Juans, a sedução está novamente na crista da onda.

Boa parte destes filmes, sites e revistas que pretendem ensinar a arte da conquista sedutora se apóiam em sólidos conceitos de psicologia evolucionista, que podem ser resumidos em 3 pontos universais:

1. Selecione quem você vai seduzir. Para diminuir o risco de receber um fora 0,01 segundo após abrir a boca para falar qualquer coisa, jogue sua rede através do contato olho-no-olho. Uma boa troca de olhares é o primeiro sinal de receptividade.

2. Não perca tempo: obedeça a “regra dos 3 segundos”. Já experimentou ficar parado com o carro no meio do trânsito após um sinal verde? Em 3 segundos vem uma buzinada. Na arte da sedução, vale o mesmo princípio: a troca de olhares significa que o sinal abriu? Sorria, utilize toda sua linguagem corporal e mova-se imediatamente!

3. Fuja do protocolo: mostre que você tem algo de diferente, que seus genes podem oferecer uma variedade de novas qualidades superiores à média ao seu redor.

Um bom exemplo de protocolo que dá sono: as famigeradas perguntas “você vem sempre aqui?” (Não, na verdade neste exato momento estou dormindo na minha casa...), “você trabalha com quê?” (sou um traficante internacional de órgãos e vim nesta festa me esconder da Interpol), e “acho que te conheço de algum lugar”... essa... sem comentários.

Uma tática para fugir do protocolo e adicionar pontos à sua técnica de sedução é fazer algo quase extraordinário em um encontro: peça a opinião da outra pessoa em algum assunto, trivial ou relevante.

Controle-se, não interrompa dizendo o que você acha sobre o que você mesmo acabou de perguntar – se fosse este o caso, bastaria sentar-se com seu Ego na mesa mais próxima para um longo monólogo.

Ouça a outra pessoa com interesse genuíno e engate uma conversa a partir daí. Esta é uma estratégia mágica, de sucesso quase garantido. Afinal, alguém que deseja saber a opinião de uma pessoa tão extraordinária quanto você só pode ser uma pessoa extraordinária também, certo? É assim que nós, Homo sapiens carenttis, funcionamos.

E a vida segue.

31 janeiro 2011

SAÚDE NO MERCADO

© Dr. Alessandro Loiola


Existe um ditado, oriental eu acredito, que diz que o ser humano é uma espécie estranha: passa metade da vida gastando a saúde para ganhar dinheiro, e então a outra metade gastando o dinheiro para ver se recupera a saúde. Por experiência própria nos ambulatórios da vida, posso lhe dizer que a primeira metade costuma funcionar. Agora, quanto à segunda...

O segredo do sucesso nesta vida não está no que você possui, mas por quanto tempo vai ter aquilo. Afinal de contas, o que todo mundo gostaria mesmo de fazer antes de partir dessa para outra é ficar beeeem velhinho - alguma coisa por volta dos 140 anos, segundo meus modestos cálculos. Mais do que 140 poderia ser interpretado como ganância. Cento e quarenta está de bom tamanho.

Um dos pontos básicos para ter uma caminhada tão longa está na alimentação. E uma alimentação saudável tem início com a escolha de ingredientes saudáveis: se a sua geladeira está recheada de frutas e vegetais frescos, sem dúvida alguma será mais fácil manter aquela dieta em dia e evitar as tentações hipercalóricas.

Para melhorar sua performance na seção de horti-fruti e garantir uma vida longa e produtiva, tente fazer o seguinte:

- As seções de guloseimas são planejadas para sedução. Desde as embalagens até a disposição dos produtos nas prateleiras, todas as iscas estão lá para fisgar sua gula. Se você não tem a força de vontade mais ferrenha deste mundo, um modo de não forrar a sacola de compras com barras de 5 kg de chocolate é simplesmente não aventurar-se fora da seção de frutas, verduras e legumes. Se isso for possível.

- Alimente-se antes de sair para as compras e leve sempre sua lista: corte o estímulo de compras que vem do estômago fazendo um lanche rápido antes mesmo de entrar no supermercado. E ter uma lista previamente elaborada no conforto de casa, de preferência após encher a pança com aquele café da manhã ou almoço, é o complemento ideal para evitar tropeços.

- Sempre lhe disseram que aparência não conta, o que vale é o interior. Mas não leve essa regra ao pé da letra ao escolher vegetais e frutas: prefira aqueles com aparência mais fresca, firme e jovem. Cachos de uvas e caixas de morango podem estar recheados com mofo. Escolha com calma, examine, observe, leve os legumes para tomar um capuccino e converse com eles. E compre apenas a quantidade suficiente para alguns dias ou uma semana.

- Se o supermercado possui uma padaria, aproveite para comprar pães integrais ao invés daqueles feitos apenas com farinhas refinadas.

- As frutas merecem destaque: produzidas pela natureza após milhões de anos de testes, com embalagens biodegradáveis e nutrientes cuidadosamente selecionados, as frutas devem estar no topo da sua lista. Elas possuem a quantidade ideal de calorias em um pacote que inclui vitaminas, sais minerais, antioxidantes e fitoquímicos extremamente benéficos para o seu organismo. Veja a seguir 5 bons exemplos de como as frutas podem ajudar a prolongar seus anos por aqui:

1) MANGA: originária do Sudeste da Ásia, a manga é rica em beta-caroteno, uma fonte indireta de vitamina A, capaz de melhorar a defesa e a saúde da pele, olhos, mucosas, dentes, unhas e cabelos, além de aumentar a resistência para doenças respiratórias (especialmente em crianças). As mangas também são uma excelente fonte de vitamina C, fibras, cálcio, magnésio, fósforo, potássio e empregos para a indústria de fio dental.

2) MELANCIA: pobre em caloria, constituída por 90% de água e rica em licopeno (uma substância capaz de promover a saúde do coração e reduzir o risco de tumores), a melancia também é uma boa fonte de beta-caroteno, vitamina A, B e C, ferro, cálcio e fósforo. Possui propriedades digestivas e auxilia na eliminação de substâncias tóxicas pelos rins.

3) TANGERINA: também conhecida por aí como mexerica, esta fruta cítrica de origem asiática é uma ótima fonte de vitamina A e beta-criptoxantina, capaz de ajudar a reduzir a inflamação da artrite. A tangerina também possui grandes quantidades de luteína (importante para a boa visão) e fibras (que auxiliam o processo digestivo).

4) MAMÃO: originário do sul do México, o mamão é rico em antioxidantes, folato, sais minerais, vitaminas A, B e C. A papaína, uma enzima presente em grandes quantidades no mamão, atua auxiliando na absorção de nutrientes de outros alimentos.

5) UVA: introduzida no Brasil na época da colonização portuguesa, a uva é uma das frutas mais consumidas em todo o mundo. Rica em sais minerais, vitamina B e C, a uva também possui uma elevada concentração de resveratrol, um potente antioxidante natural. Pesquisas mostram que o extrato obtido das sementes possui propriedades antialérgicas e antiinflamatórias.