20 setembro 2011

EM BUSCA DA BÚSSOLA PERDIDA

© Dr. Alessandro Loiola


Uma amiga desabafa em seu email: “sabe, ando passando uma fase estranha, um sentimento de como se estivesse perdida, como em um daqueles pesadelos que você não sabe onde está. Anda, anda e não sabe pra onde ir, entende? Travei. Passei a fazer tudo mecanicamente e precisei dar um tempo em um monte de coisas pra tentar voltar ao normal. Ainda não consegui. Existe algum caminho mais fácil para sair daqui?”

Me identifiquei imediatamente com o bairro dela, ali perto de Perdidos No Espaço. Na última contagem, o rapaz responsável pelo censo da região também se extraviou e não temos estatísticas confiáveis até o momento sobre a população que habita o local. Mas ela parece grande. Muito grande.

No começo dos anos 2000, quando mudei com esposa e casal de filhos de uma pequena localidade (33.000 habitantes) para uma enorme região metropolitana (mais de 5 milhões de viventes), nos perdemos em um passeio para conhecer a capital. Estávamos nos informando sobre o caminho de volta para casa quando o de 6 anos perguntou:
- Papai, qual o significado dos nomes nessas placas?
- São os nomes dos bairros, filho, e as saídas que você tem que pegar para ir a cada um deles.
- Ahhhnn... Então aqui é o bairro da Savassi e ali é a saída para o Belvedere?
- Isso.
Andamos mais um pouco.
- E aqui é Lourdes e por ali a gente vai para o Barro Preto?
- É isso aí.
Andamos mais um pouco.
- Pai, olha só, tem um bairro enooorme! Na cidade inteira tem entrada para ele!
- Filho, cada bairro fica em um lugar só. Não tem como um bairro estar para todo lado. – E fiz um “tsc tsc” de desdém.
- Então porque tem tantas placas apontando para esse bairro chamado Retorno?

Crianças. O poço mais profundo da filosofia mais magnânima pelo preço de um picolé.

Todo lugar tem um Retorno. Todo lugar tem uma volta. Sempre é possível recomeçar, reconquistar, refazer, reconstruir, reviver. E foi a partir da vivência de uma criança de 6 anos que desenvolvi uma teoria bem simples, a teoria da Bússola do Crescimento Pessoal, composta por 5 diretrizes gerais de navegação que gostaria de compartilhar com você agora:

- Quando você acordou hoje, foram depositados 86.400 segundos em sua conta de vida. Eles são todos seus e, apesar de auto-renováveis a cada meia noite, não podem ser transferidos, doados ou vendidos. Contudo, o fato de não poder negociar com o relógio não significa que você não possa se aproveitar dele. Leve o tempo que for necessário para iniciar seu recomeço – só não leve tempo demais.

- Rasgue imediatamente seu bilhete de entrada para o metrô dos zumbis: dentro do possível e do impossível, desfrute e participe da paisagem que passa pela sua janela. Aprendizado sem mudança é desilusão. Mudança sem crescimento é frustração. Contemple a vista, aprenda, mude e se aprimore a cada dia.

- No final das contas, tudo isso de ruim e de bom é viver, e a viagem só acaba quando termina. Nunca desanime antes do fim. A única rua que leva ao seu fracasso é a Desistência e, enquanto estiver persistindo, você estará no caminho para o sucesso. Peça carona, empurre seu carro, vá a pé. Siga em frente, siga para os lados, siga para trás. Mas siga.

- Agir de modo independente não significa negligenciar as informações a cada esquina. Pergunte, peça ajuda. Alguns bons (e insuspeitos) amigos podem conhecer bons atalhos, bons restaurantes, boas atrações, boas oportunidades, e você tem 2 ouvidos, 2 olhos e apenas uma boca. Observe e ouça o dobro do que fala.

- Não tente fazer todas as coisas perfeitas. O caminho de volta pode não ser exatamente aquele que você fez na ida, mas ele existe e irá lhe proporcionar uma série de novas experiências e conhecimentos antes de lhe colocar confortavelmente em casa. Tentar percorrer sempre o mesmo caminho perfeito pode tornar o passeio monótono e paralisante. Então destrave. Pegue o primeiro ônibus que passa pelo bairro Perdidos No Espaço, vá viver a sua aventura da vida e tenha mais um dia extraordinário!

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