16 abril 2008

GRAN PRIX DE FÓRMULA SEXO

© Dr. Alessandro Loiola


Toca o celular. Segue uma voz feminina querendo mais informações sobre Viagra mastigável.

- ... Para uma matéria que estou escrevendo, doutor – fez questão de explicar a repórter do jornal de um estado vizinho. Pedi que ligasse mais tarde. Para emitir uma opinião embasada, precisava pesquisar melhor o assunto.

O Sildenafil, composto ativo do Viagra, foi descoberto nos anos 90 pelos laboratórios Pfizer. Inicialmente, a Pfizer estudava o papel da droga no tratamento de doenças cardíacas, mas um curioso efeito colateral fez com que as pesquisas tomassem outro rumo: durante os testes clínicos, o sildenafil mostrou ser capaz de induzir fortemente ereções penianas.

Em março de 1998, o sildenafil tornou-se o primeiro remédio aprovado nos Estados Unidos para tratamento da impotência sexual masculina. Desde então, as vendas mundiais do remédio vêm rendendo mais de 1 bilhão de dólares ao laboratório a cada ano.

Como a patente mundial da Pfizer para fabricação do citrato de sildenafil só expira em 2011 (ou seja: apenas a Pfizer está autorizada a sintetizar o composto até lá), a saída da concorrência foi modificar a estrutura do sildenafil e produzir substâncias pouco diferentes, porém com efeitos idênticos.

Adicione um carbono e dois hidrogênios à molécula do sildenafil, leve ao forno por 10 minutos e você terá a vardenafila. Com alguns hidrogênios e nitrogênios a menos, sem o molho de enxofre, cozinha-se a tadalafila. E, em pleno raiar do século XXI, estava alinhado o gride de largada para o Grand Prix de Fórmula Sexo.

Não tardou e alguns países Latindo Americanos observaram nesta corrida boas chances de lucros. No Uruguai, por exemplo, não há produção de genéricos. Para baratear os custos de alguns remédios, foi aprovada em 1998 uma Lei que permite que laboratórios locais sintetizem princípios ativos de outras companhias, desde que a empresa recolha 5% do valor das vendas à detentora da patente original. Uma forma bacana de pirataria oficializada para o bem de todos e felicidade geral da nação.

Apesar de bem mais baratos, os medicamentos uruguaios não possuem registro na ANVISA, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde responsável pelo monitoramento da qualidade de todos os remédios vendidos no Brasil. Sem esta forma de controle, os genéricos uruguaios importados irregularmente correm o risco de não conter a quantidade correta do princípio ativo, ou – pior – possuírem contaminantes potencialmente nocivos à saúde. Desde setembro de 2006, o sildenafil uruguaio tem estado na mira da ANVISA e da Policia Federal, para desespero de donos de motéis e agremiações de homens de meia idade.

Pensa que acabou aí? Pois em 2003 uma mega-indústria americana de goma de mascar conseguiu sintetizar uma forma mastigável do sildenafil. Devido aos problemas de reserva de patente, o “chiclete de viagra” deve aguardar ainda alguns anos até ser colocado no mercado. Obviamente, isto não impediu que versões similares surgissem (adivinhe onde?) no Paraguai.

E aqui chegamos finalmente ao viagra mastigável “made in Paraguai”, que vem sendo vendido com grande alarde e propaganda através da Internet e anúncios em classificados. Mas não existem estudos clínicos mostrando que estes comprimidos possuem efeito superior às apresentações de sildenafil registradas na ANVISA. Além disso, pairam sobre os genéricos paraguaios as mesmas preocupações com relação à bioequivalência e segurança dos seus primos uruguaios.

Toda essa fuzarca em torno dos medicamentos para disfunção erétil baseia-se na idéia visceral de que, se um homem é capaz de levantar, entrar e sair, ele é um sujeito másculo e realizado. Infelizmente, esta é de fato a noção limitada que a maioria dos homens tem sobre o sexo.

Incontáveis pesquisas realizadas nos últimos 30 anos mostraram que uma experiência sexual completa e verdadeiramente satisfatória – tanto do ponto de vista masculino como feminino – deve vir acompanhada de um profundo envolvimento emocional. E este nível de percepção não é vendido em caixinhas com comprimidos azuis.

Por isso, apesar dos avanços tecnológicos, os seres sensíveis que são os homens deverão continuar deslumbrando suas mulheres com ereções incríveis e comentários desanimadores, como a conversa do casal logo após aquele fantástico sexo selvagem:

- Querido, o que você prefere? Uma mulher bonita ou inteligente?
- Nem uma, nem outra, meu amor. Você sabe que eu gosto só de você!

Mais macho, impossível.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

7 comentários:

avalanche disse...

Dr Alessandro Loiola quero parabenizá-lo pela matéria é excelente. É lamentável que ainda há homens mesmo não estando acometido por impotência sexual acha que não são machos suficientes para manter a ereção sem esse tipo de medicamentos.

Anônimo disse...

Eu sofro de disfunção erétil e, como já tenho mais de 63 anos, não sinto tanta falta de atividade sexual, motivo pelo que acabei por deixar de lado os relacionamentos com este fim.
Preocupa-me, entretanto, até onde a ausência de sexo possa afetar meu dia-a-dia, seja psicológica, seja fisicamente.
Assim, gostaria de saber isso, como também saber se usar a administração de Testosterona extra poderia corrigir esta deficiência e, também, melhorar o ânimo geral, já que sinto cansaço além do que imaginaria ser normal. Obrigado!

Unknown disse...

Dr.òtima matéria, mas devo me referir á uma outra matéria sua que trata do tema sexo. è onde o Sr.relata as calorias gastas em um ato sexual. Não posso concordar com este tipo de generalização. Certamente podem existir relações quase sem movimentos, mas também existem as caricatas perfomances atléticas e, obviamente, as "normais". O gasto de calorias é com certeza bem diferente entre todas as possibilidades. A verdade é que sexo prazeiroso cansa mais (logo gasta mais calorias) que varrer o chão, por exemplo. MAS È MUITO MAIS GRATIFICANTE.

Alessandro Loiola disse...

Eduardo, vc está coberto de razão. Grato pelo comentário.

Anônimo disse...

Dr. Alessandro,parabens por seu trabalho nesta pagina!
Entrei neste grupo porque queria ler e saber de tantas mudanças que o tempo taz ao nosso organismo independente de nossa vontade. Tenho encontrado muitas respostas e hoje em especial esclarecimento sobre a andropausa que ja discuto com meu marido e ele acho que isto é mito. Esta materia veio em um momento propicio. Grata!!! Isabel

Alessandro Loiola disse...

Isabel, fico feliz em estar sendo útil de alguma forma. Um abç, A.

Unknown disse...

parabens pelo seu trabalho,achi tudo muito interesante apreendi muita coisa..vou faser muinto uso de sua pagina ,se vc me permitir é claro'é que estou fasendo tecnico em enfermagem,fizemos muinto seminaro..sempre tenho q pesquisar alguma coisa referente...haa quanto ao asunto sobre sexo,é uma pena q gasta tão pouca calorias...