20 maio 2008

COMO LIDAR COM UMA CRIANÇA PIRRACENTA?

© Dr. Alessandro Loiola


Dia desses foi comemorado o Dia Mundial Sem Carro. Quando vi a propaganda, achei que todos os automóveis seriam enviados para Netuno e só voltariam ao planeta no dia seguinte. Uma maravilha. Mas, para minha decepção, não foi nada disso. Enfim, por causa das celebrações, fui zapear na Internet e descobri que existem cerca de 500 milhões de automóveis no mundo. Para cada um destes automóveis, existe um adulto responsável, devidamente treinado e habilitado para sua condução. E então veio o estalo.

Existem 1,82 bilhões de crianças no mundo. Quase 4 crianças para cada automóvel. Responda rápido: qual você acredita ser a proporção de adultos responsáveis, devidamente treinados e habilitados para conduzir estas crianças?

Não conheço escolas ou faculdades que formem pais responsáveis. Também não existem cursos rápidos sobre como criar filhos. Isto continua sendo uma experiência individual na maioria dos casos, baseada na velhíssima fórmula de tentativa e erro.

Uma das queixas mais freqüentes dos pais despreparados é que “a criança que faz pirraça demais”. Ora, no começo da infância, tudo que o bebê quer é chamar sua atenção. Para isso, ele irá falar, chorar, bater, jogar coisas no chão e perturbar todo mundo. Ele não se importa muito se está sendo agradável ou chato, desde que você olhe para ele. Isso não tem coisa alguma a ver com pirraça.

Além disso, a pirraça ou birra não deve ser confundida com desobediência. O conceito de pirraça começa no momento em que a criança sabe a diferença entre certo e errado, mas ainda não tem maturidade suficiente para se controlar e fazer a coisa certa. Esta fase começa por volta dos 2 anos de idade. Raramente, a criança pirracenta quer um confronto. Ela quer apenas atenção e descobrir seus limites.

Por outro lado, a desobediência significa que a criança faz questão de se impor firmemente contra a sua autoridade. Nestes casos, ela quer de toda forma um confronto.

Para enfrentar uma crise de pirraça com garbo e estilo, recomendo que você faça o seguinte:

- Inicialmente, mantenha um comportamento sereno. Tente ignorar a birra, falando com a criança de modo calmo e pausado, porém firme. Procure entender e explicar a situação. Se isto não funcionar, a criança deve ser castigada.

- Quando digo “castigada” não estou falando “surrada até a morte exsanguinante”. Punir a criança com tapas e beliscões pode ser uma solução rápida, mas certamente é pouco duradoura. Além disso, você estabelece um ciclo de agressões e truculências que não leva a nada. Um excelente exemplo de castigo é proibir a criança de brincar com os coleguinhas ou de assistir ao programa preferido de TV durante uma semana.

- Se a criança não ceder, ela deve ser subordinada. Novamente, isso pode ser feito sem violência. Como? Mostre-se fora de controle, faça a criança perceber que, se é para perder a cabeça, você pode ser mais perigosa que ela. Mas nunca subordine fazendo ameaças ou gritando em público: a audiência só faz a criança aumentar o teatro. No final da subordinação, aplique um castigo.

- Se a pirraça estiver relacionada a uma situação onde não existe possibilidade de negociação (p.ex.: a criança não quer tomar banho, ou se joga no chão para não atravessar a rua, etc), pegue a criança com firmeza pelos braços, sempre dizendo o que você está fazendo e porquê. Não bata nem discuta. Quando terminar de fazer o que precisava ser feito, avalie se é ainda necessário aplicar alguma forma de castigo.

- É óbvio que para tudo existe um limite. Desde a quantidade de carros em circulação até o número de crises de pirraça que uma criança pode ter em um dia. Se a criança começar a machucar a si própria ou a outras, tiver mais de 5 crises de pirraça por dia, ou se as birras estiverem associadas a outros problemas de comportamento (p.ex.: dificuldade para se expressar, para fazer amigos, para aprender na escola, etc), é recomendável visitar o médico para uma avaliação mais específica.

E lembre-se sempre: a obediência da criança depende da sua capacidade de mostrar autoridade com inteligência. Ouça e converse com seu filho. Explique o que você acredita que ele fez de errado, escute os motivos dele e deixe-o de castigo se for preciso, mas jamais apele para surras. A violência é o argumento da ignorância. E a ignorância é o caminho mais curto para o fracasso.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura, 496 pág.) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza, 430 pág.). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

13 comentários:

Caê Guimarães disse...

Lúcido. Pertinente. Preciso. A medicina ganhou um grande médico e o jornalismo perdeu um jornalista brilhante com sua esolha profissional. Abraço meu velho amigo.

Caê Guimarães disse...

Lúcido. Pertinente. Preciso. A medicina ganhou um grande médico e o jornalismo perdeu um jornalista brilhante com sua esolha profissional. Abraço meu velho amigo.

Kátia Maranhão disse...

Entrei aqui por acaso, clicando aqui e ali! Mas não poderia deixar de expressar, que há tempos não lia tantas matérias interessantes juntas.
Foi para mim uma grande surpresa, saber que ainda existem médicos humanos.
Meus parabéns!! Principalmente por me fazer rir..tão cedo..

um grande abraço!!

Alessandro Loiola disse...

Guima e Kátia, obrigado pelo carinho. De verdade. Um abraço, A.

terezinha lemos disse...

Execelente.
Gostaria que todos os pais lessem de verdade esta crônica...e depois a imprimissem e colassem em locais de fácil visibilidade diária.Tenho certeza de que muitos problemas infantis seriam resolvidos se esses pais seguissem as orientações nela contidas.
Terezinha

terezinha lemos disse...

Execelente.
Gostaria que todos os pais lessem de verdade esta crônica...e depois a imprimissem e colassem em locais de fácil visibilidade diária.Tenho certeza de que muitos problemas infantis seriam resolvidos se esses pais seguissem as orientações nela contidas.
Terezinha

Aline Silva Dexheimer disse...

Nada mais chato que ataque de Veruca, como chamo para os meus filhos(a chata do filme A Fabrica de chocolate, não sei se já viste?)
Escrevi sobre isso, se tu quiseres dar uma olhadinha...
http://www.alinedexheimer.com.br/veruca.pdf
Violência realmente só piora as coisas, procuramos dar castigos sentados para pensar sem tv ou sem videogame...tem funcionado
Abraço,Aline

Alessandro Loiola disse...

Aline, não consegui abrir o arquivo PDF...

Emanuele disse...

olá amei esse seu eclarecimento sobre as pirraças , entrei aqui em busca de ajuda pq estou me achando uma mãe fracasada , meu filho tem 2 anos e meio ele pirraça mesmo o tempo todo , ele é inteligente e carinhoso e obedece quando quer sabe diferenciar as coisas erradas pq ja se esconde pra faze-las . geralmente tento me controlar falo 1..2..3.. ai na 4 perco a cabeça e confeço as vezes dou palmadas isso doi em mim e as vezes choro escondido e tento mudar mais ele nao me ajuda o pai e´ausente e eu sou reponsavel por ele sozinha em fim nao sei o que faço mais agradeço pelas dicas muito util abraço e parabens!

thais disse...

Tenha filhas gemeas de 4 anos. Elas sao choronas, se eu falo q nao esta na hora do lanche elas nao entendem. Elas choram pra dormir; para banhar. Nao entende qndo eu falo por exemplo. Ela quer um doce; dai eu falo depois do almoco. Elas nao entendem e ficam perturbando o tempo todo, e muito dificil o que eu faco?

Anônimo disse...

Minha filha avanca em mim nao sei o q fazer m chinga disse pra mim q qem manda e ela o q eu faco .ja bti .ja coloqei de castigo nao adiantou ficou pior agorA ELA BATI EM MIM

Angela Amaral disse...

olá meus parabéns!me surpreendi com as palestras e o modo inteligente de lidar com filhos pirracentos me ajudou muito !obrigada.

Simone Ferreira disse...

Bom dia,

Estava procurando ajuda para lidar com sobrinha de 06 anos que faz pirraça e quer até bater nas pessoas que á cerca.
Adorei a matéria!!