02 maio 2018

UM PRÉDIO QUE CAI: A REFORMA AGRÁRIA E A DESAPROPRIAÇÃO

Um prédio cai no centro da maior cidade do Hemisfério Sul e o assunto da reforma fundiária submerge do lodo. Somos o quinto país do mundo em extensão territorial, o sexto mais populoso e nono PIB do planeta. Por que não desapropriar logo os imóveis necessários e garantir teto para quem não tem teto?, perguntam as pessoas assombradas com os cadáveres soterrados pelos entulhos de 24 andares em chamas.

Vamos lá.

A primeira etapa para a desapropriação de um imóvel é a edição de um decreto do Poder Executivo, publicado no Diário Oficial, declarando a área de utilidade ou necessidade pública para fins de desapropriação. Na sequência, o representante do Poder Público encaminha uma carta convocando o proprietário do imóvel para tentativa de acordo ou entra em juízo com ação de desapropriação. Ocorrem então idas e vindas em busca de um valor satisfatório para a aquisição. Entretanto, caso o proprietário recuse a oferta do Estado, a desapropriação passa a ser judicial, ficando a cargo do Poder Judiciário determinar o valor justo pelo imóvel.

Durante todo o processo de desapropriação, não cabe discussão sobre o decreto expropriatório – ou seja, não se pode discutir a legalidade do decreto. Havendo embargos por parte do expropriado, o processo pode se desenrolar durante anos na Justiça. Obviamente, os custos do litígio e os valores pagos pela desapropriação são subvencionados pelo sujeito de sempre: o pagador de impostos.

Existem 400 milhões de hectares titulados como propriedade privada. Um dos maiores latifundiários que se tem notícia no Brasil, Falb Saraiva de Farias, alcançou a marca de 7 milhões de hectares de terra – um volume alarmante, sem dúvida alguma, porém 50 vezes menor que as extensões sob comando do Estado.

As Terras Públicas (propriedades da União) incluem áreas militares, terras indígenas e unidades de conservação e terras não destinadas, que são áreas ainda sem destino dado pelo governo. As Terras públicas não destinadas correspondem a 10% da área do Brasil (mais que as áreas de São Paulo e Minas Gerais somadas).

Se o território brasileiro consistisse apenas em suas Terras Públicas, ele teria 47% de sua área original - o equivalente a 3,9 milhões de quilômetros quadrados ou 350 milhões de hectares. Praticamente uma Índia.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a União possui prontamente disponíveis algo como 4 milhões de hectares de terra - uma área quase igual à do Estado do Rio de Janeiro -, suficientes para assentar com folga todas as 60 mil famílias atualmente cadastradas no MST.

A União é a maior proprietária de terras do país. Se o Estado pretende algum tipo de reforma agrária, que tal começar cortando na própria carne ao invés de desviar dinheiro dos impostos para comprar ainda mais terras e imóveis? A resposta é simples: ele cultiva abertamente essas pretensões porque pode. Porque a mentalidade socialista-comunista entranhada no consciente do brasileiro médio não vê coisa alguma errada com isso.

O brasileiro médio contempla esse absurdo e batiza o estupro da propriedade privada como sendo alguma forma de “justiça social”. Do alto de sua tradicional iliteralidade  e do fundo de sua visão romântica e fantasiosa do mundo real, o brasileiro médio é um comunista geneticamente programado. Nasce com mentalidade comunista e morrerá com mentalidade comunista – sem perceber a dissonância cognitiva que existe entre o Estado mínimo que ele solicita na epiderme de sua ideologia hipócrita e o Estado imenso que ele defende com as unhas e os dentes de sua alma.

Sugerir reforma agrária por meio de desapropriações – sejam elas de prédios, terras ou banheiros - é apenas mais uma manifestação dessa incongruência míope que nos condena ao subdesenvolvimento há gerações. Para felicidade da maioria cega e voluntariamente semianalfabeta, ainda temos muitos edifícios para queimar.


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