18 janeiro 2009

AS LEIS DO COMBATE

© Dr. Alessandro Loiola



Esta semana, atendi uma paciente típica. Jovem, sem filhos, veio queixando palpitações, insônia, dores musculares e um profundo desânimo. A fonte de tudo, segundo a querelante, era o bendito casamento. O namoro e o noivado haviam sido 99% e ela esperava que o 1% restante viesse com a troca de alianças. O que aconteceu foi exatamente o inverso, e ambos entraram em uma rotina de troca de tiros sem fim.

O que ela foi fazer no consultório? Queria alguns remédios para acabar com o estresse. Pensei em dizer “cicuta, para seu marido, um copo cheio à noite”, mas me segurei. Tratar o marido seria manter o foco nos sintomas, não na causa. E a causa não era o casamento. Eram as expectativas que tinha da vida.

Como toda mulher com menos de 30 anos e relativo sucesso no começo de sua carreira profissional, ela trazia um roteiro detalhadamente resolvido do seu futuro. Neste roteiro, o marido constava como um personagem, não como uma pessoa. Poderia-se dizer que a diferença entre ele e o boneco sobre o bolo era de apenas alguns quilos de cera. A instituição do casamento em si tinha menos importância que a geladeira frost free de última geração vazia decorando a cozinha.

Terminei liberando-a com a receita de sedativos e antidepressivos que tanto queria - ela estava a caminho de uma reunião urgente e não podia se atrasar nem mais um minuto. Uma pena. Se tivesse mais tempo, teria apresentado algumas diretrizes que todo jovem cônjuge deveria conhecer, e que eu chamo de As Sete Leis do Combate:

1. “O quartel general só vem em dois tamanhos: grande demais e pequeno demais”. Acostume-se. Ninguém chegará perfeito e acabado para suas necessidades. O príncipe encantando precisará sempre de alguma reforma. Ele deverá ser medido, esticado, cortado, remendado, adubado, podado, etc. Boa parte das pessoas que sofrem com seus relacionamentos – e com a própria vida - sofre porque não querem fazer o que sabem que têm que fazer. Ponha mãos à obra.

2. “Se tudo está bem, atenção! O inimigo invariavelmente ataca em duas situações: quando você está preparado e quando você não está preparado”. Assim também ocorrem as crises. Elas virão quando você estiver em pé de guerra, de TPM ou após uma noite inteira de choro do bebê, mas também e surpreendentemente quando o casamento estiver em um mar de rosas. Manter as antenas ligadas para o menor sinal de crise significa metade da solução do problema.

3. “Se você estiver em dúvida, atire. Se continuar em dúvida, atire até ficar sem balas. Qualquer coisa que você fizer - inclusive nada - poderá tornar você mais uma vítima do fogo inimigo”. Calma, isso não quer dizer que você terá razão absoluta todas as vezes que o bicho estiver pegando. Significa que, se você perceber que o relacionamento não está sendo uma fonte de alegria para ambos, algo deve ser feito ainda hoje. Uma boa conversa costuma ser um bom começo.

4. “Se as ordens puderem ser confundidas, elas serão”. A sensibilidade masculina estagnou logo após o Pleistoceno superior, tornando nosso córtex cerebral pouco especializado para a compreensão de indiretas. Por isso, seja clara e específica ao expor o que está lhe incomodando. Lembre-se: quando existe afeto, lágrimas femininas são a maior força hidromotriz deste mundo. O mesmo vale para algumas lingeries.

5. “O alcance de uma granada é sempre maior que a distância que você é capaz de pular”. Muito cuidado ao jogar ultimatos sobre a mesa. Pessoas são como navios: elas podem até mudar de curso, mas costumam fazer isso bem devagar. Assim, se você estiver sem paciência e pensando em explodir o relacionamento, pense duas vezes: será que você estará longe o suficiente para escapar ilesa dos estilhaços? Algumas cicatrizes emocionais podem durar tempo demais.

6. “Se o inimigo tiver muita dificuldade para entrar, provavelmente você também terá dificuldade para fugir”. Construir seu casamento apenas para sustentar um padrão de comportamento para seus pais ou para a sociedade, é como viver em uma prisão de tijolos de ouro. Faça com que sua felicidade – e a de quem você ama - seja como uma porta aberta para o mundo. Nada de falsas amarras ou grilhões de chantagens.

7. “Existe sempre um caminho, mas lembre-se: o caminho mais fácil quase sempre está minado”. Cuidado extra com as soluções práticas. Em alguns casos, elas podem estar apenas escondendo sua própria imaturidade disfarçada de conveniência, não levando a crescimento pessoal algum. Vocês não nasceram juntos e não precisam morrer juntos, mas não permita que algumas pequenas diferenças no princípio inviabilizem as infinitas possibilidades do futuro.

14 comentários:

Unknown disse...

Dr Alessandro
Sobre a minha vivência a dois eu até esqueci , completo este ano 25 anos de separação e divórcio. Já relevei as mágoas , já sublimei tantas dores e expectativas que já ... era... mesmo.
Vejo porém muita dificuldade na juventude de hoje , baseio em minha filha , amigas e agregados.
Ninguém parece feliz e o dia a dia tornou-se uma competição. Quem se cansou mais , quem trabalhou mais etc etc .. em poucos casais eu noto a cumplicidade e respeito que para mim são as molas mestras de um bom relacionamento.O mundo mudou , as mulheres lutaram pela independencia mas continuam sonhando com o principe encantado.
Haja terapia!!!
Uma ótima semana , abraços
Re

Anônimo disse...

Pessoas são como navios: elas podem até mudar de curso, mas costumam fazer isso bem devagar.
"e se afundam,vc corre o risco de submergir junto,porisso,esforce-se,pra que tanto o navio como vc,saiam ilesos,mesmo mudando o curso da viagem!!!

Princesa Polly.

Anônimo disse...

Lembre-se: quando existe afeto, lágrimas femininas são a maior força hidromotriz deste mundo. O mesmo vale para algumas lingeries.
"esta faculdade,eu frequentei,heheheh,fiz pós graduação!!!

Princesa Polly.

Anônimo disse...

Realmente, os relacionamentos afetivos hoje
estão muito fracassados, a julgar pelos casais q conheço
diria que 70% ja separaram e eu continuo aqui na luta
pra manter o meu. Não é tarefa facil não!
Adorei o seu escrito, vendo as experiencias dos
outros, podemos refletir e quem sabe, tentar corrigir
as nossas falhas. Parabéns Dr.!

Cigana.

Anônimo disse...

Lembre-se: quando existe afeto, lágrimas femininas são a maior força hidromotriz deste mundo. O mesmo vale para algumas lingeries.
-você estiver sem paciência e pensando em explodir o relacionamento, pense duas vezes: será que você estará longe o suficiente para escapar ilesa dos estilhaços? Algumas cicatrizes emocionais podem durar tempo demais.
-E, finalmente, se quiser voltar ao seu peso ideal perdendo de uma só vez 80 Kg de gordura inútil, despache seu marido ou namorado para tirar uma foto de um iaque no Tibet. Porque, olha: homem é um bicho complicado. Um bicho muito complicado.
'adorei a cronica,e estes topicos então,hehehh,muito boms!!!
este ultimo então,sabe,as vezes penso em perder todo este peso de uma vez só,mas,tem o item anterior"sera que to longe o sufiente?"
bom,adorei mesmo,obrigado por lembrar de mim!!
abraços!!!

Princesa Polly.

Anônimo disse...

Sandro,
São quarenta anos de casados, não diria que é a união perfeita, mas fazemos muita força para continuar como está. Se conviver harmonicamnete com os irmãos, é dificil, sangue do mesmo sangue, criados e educados pelos mesmos pais, e olha que de vez em quando fica dificil segurar as pontas. Agora, imagina, filhos de familias diferentes, com hábitos e religiões radicalmente opostos, ela muito mais jovem, eu bem mais velho, gênios fortes, e ambos sabendo o que deseja ...olha tem que haver muita tolerância e gostar muito, porque só assim dá certo. Abraços
Lemos

Gustavo Felicíssimo disse...

Caro Dr. Alessandro, muito obrigado pela concessão do artigo. Também adoro escrever, só que no meu caso, poesia e crítica literária. Aproveito para convidá-lo à conhecer meu blog: www.sopadepoesia.blogspot.com

Débora Kilpp disse...

Mais um artigo show de bola do Dr. Alessandro Loiola! ;)
Quem dera pudesse eu escrever assim, talvez se eu tivesse mantido os "treinos" (de elaborar redações) da época de colégio, me empolgaria mais para escrever (especialmente sobre saúde) hoje em dia!! hehe...
Um forte abraço e continue assim!
Débora.

Alessandro Loiola disse...

Débora, eu q agradeço o retorno simpático. :)
Um abção,
A.

Anônimo disse...

Caro Alessandro,

Comentei um artigo seu no meu blog Nicotina Zero, no post "Crise de abistinência".

E achei bem interessante seu blog!

abs

Gustavo

Alessandro Loiola disse...

Gustavo, eu q agradeço a visita !

Anônimo disse...

Dr Alessandro, adoro suas crônicas, me lembra o Jabour. Sempre sutis e inteligentes, porém com a incontestável verdade da fraqueza humana. Sua palavras nos conduzem/convocam mais do que a reflexão, à ação/atitude. Parabéns e sucesso.

Anônimo disse...

Excelente texto, Sandro. O relacionamento a dois nos possibilita aprendizado, mas requer tolerância e esforço no dia-a-dia. Cada casal precisa descobrir a melhor maneira para facilitar a “sobrevivência” nos maus e bons momentos, porque como você disse, a crise vem a qualquer momento. Tenho exemplos de amigos que não identificam o motivo de um desentendimento por mais simples que este seja e não chegam a nenhuma conclusão. Acabam brigando sem motivo aparente e isso vira bola d eneve. Acho que as discussões são normais e ‘podem’ ser enriquecedoras, mas viver em pé de guerra não é saudável. Desrespeitar o outro, falar alto, ser agressivo e não estar disponível para ouvir são atitudes que podem comprometer a saúde de um relacionamento. A briga ruim é aquela sem propósito e que gera mágoa ou ressentimento. Parabéns pelo texto. As dicas são muito boas se colocadas em prática. Vou repassar aos amigos, com certeza. Parabéns! Abraços. Su

LAÍS disse...

Muito interessante seu texto doutor, ainda não sou casada, mais concordo q muitas mulheres jovens em ascenção profisional consideram casamento como roupa de grife,serve apenas para fazer parte de um padrão da sociedade.começo de casamento realmente deve ser muito difícil por isso é tão importante escolher bem um parceiro,mais com paciência e amor, tudo se resolver, grande abraço.