29 fevereiro 2016

SOBRE O MOMENTO ATUAL NO BRASIL


© Alessandro Loiola


Desde os Eupátridas e Demiurgos da longínqua Atenas, o estabelecimento de uma Democracia pressupõe a existência de um grupo qualquer de pessoas ciente de ter-se organizado em uma sociedade que almeja o respeito e o bem-estar mútuo. Lamentavelmente, fora do Carnaval e da Copa do Mundo de futebol, no Brasil nós não conhecemos tal apreço, não nutrimos essa percepção de estima autêntica pelo tecido social que criamos – nem mesmo em nossas Oligarquias. Então como criar uma consciência democrática coletiva quando o coletivo está tão despoticamente perdido em ganâncias individuais desde as Capitanias Hereditárias?

Depois de séculos de descobrimento, parece não haver meio termo para o patamar que a (des)governança atingiu – considerando como meio termo exatamente essa subsistência de valores distorcidos com a falta de afeto pelo Todo em detrimento de qualquer vantagem pessoal.

Para além dos padrões aceitáveis - ou mesmo desejáveis -, o Estado brasileiro transformou-se em um animal faminto que caça e mata com o objetivo exclusivo de manter vivo o animal faminto que se tornou, sem qualquer inquietação por aqueles que o criaram e sustentam. Entretanto, inicialmente, considerar a substituição da dinâmica democrática por um sistema totalitário seria assumir a ameaça de uma degeneração para um organismo totalitário maligno - dar plenos poderes é submeter-se ao risco de plenos ganhos ou perdas plenas.

Apostar todas as fichas em um Totalitarismo seria tão temeroso quanto não apostá-las - e este é o nosso dilema como país de terceiro mundo, pois o atual processo democrático tornou-se ele próprio um totalitarismo da imbecilidade, com sistemas de votação e legislação que privilegiam o assistencialismo sem jamais exigir a contrapartida da VERDADEIRA prosperidade social ou do respeito à propriedade.

O eleitor médio é um risco para a sociedade e não deveria sequer envergar o título de Cidadão. Ser chamado de Cidadão deveria ser uma conquista árdua, não um direito adquirido. Simplesmente não se pode oferecer uma cidadania em cada esquina como se ela fosse um pão francês ou um pacote de amendoim. Pessoas não deveriam ser presenteadas com a alcunha de Cidadãs ao nascimento e usar este argumento para tirar um Título de Eleitor, mas deveriam sim batalhar por isso como batalham por notas na escola, vagas em universidades, validação de diplomas, acreditação de títulos de especialista, postos de trabalho, cartas de motorista, financiamentos da casa própria.

O que quer que se ofereça como um direito granjeado sem qualquer empenho – como a cidadania, por exemplo - está muito próximo de ter o valor de nada - e de fato é este o reconhecimento que lhe é atribuído.

O sujeito bate no peito para chamar a si mesmo de Cidadão, mas qual diligência foi-lhe exigida para ostentar essa denominação além de ter nascido nestas terras? Novamente, esforço algum traduz-se em valor algum. E o que dizer de um tecido social constituído por indivíduos desse quilate? Que valor essa identidade nacional teria em si? Quase nenhum também. Pois são estas manadas insolentes sem identificação de conjunto e com valores nulos de Povo que votam e elegem os representantes da mediocridade que tão orgulhosamente ostentam, em um ciclo vicioso que fecha-se e reinicia-se perpetuamente.

Não adianta usar repelentes de urso ou elaborar alarmes contra vulcões ou construir iglus a prova de terremotos por aqui. Temos uma nação tropical miscigenada criativa peculiar e nossas saídas devem ser construídas de modo tão misto, criativo e peculiar quanto. Como algumas verdades muito duras, a solução que não queríamos termina sendo a solução que deveríamos. Mas quem ousará profanar o sagrado oráculo da liberdade a essa altura?

Nenhum comentário: