by Alessandro Loiola ©
Dia
desses, fuçando o PubMed atrás de artigos sobre Resiliência, me deparei com uma
máxima da Era Vitoriana: “Nunca Se
Explique, Nunca Se Queixe”. O aforismo é creditado a Benjamin
Disraeli, aristocrata e duas vezes Primeiro Ministro Britânico no Século XIX.
Gostei
muito da filosofia. Existe uma masculinidade atrevida aí, quase ao ponto do incomodamente agressivo.
“Nunca Se Explique, Nunca Se Queixe” traduz confiança e assertividade, mas também indolência e uma dose de misantropia encapsulada - todas essas coisas que não se veem mais nos homens de hoje, em sua maioria Peter Pans aglomerados em tribos de molengas sob cânticos de autopiedade.
“Nunca Se Explique, Nunca Se Queixe” traduz confiança e assertividade, mas também indolência e uma dose de misantropia encapsulada - todas essas coisas que não se veem mais nos homens de hoje, em sua maioria Peter Pans aglomerados em tribos de molengas sob cânticos de autopiedade.
De
modo algum esses “Nuncas” têm um caráter inexorável e certamente não devem ser
aplicados a todas as situações possíveis. E, mesmo quando devemos aplicá-los,
pode ser extremamente difícil colocar-se à altura deles. Mas compreendê-los e
onde e por que aplicá-los deveria ser crucial para qualquer Homo sapiens XY aspirante ao título de
Homem.
Em
um espaço muito curto, essas seis palavras encerram um bocado de verdades. Então
comecemos a dissecção pela primeira metade:
Nunca Se Explique
O
filósofo e anarquista americano Elbert Hubbard sentenciou: “Nunca se explique:
seus amigos não precisam e seus inimigos não acreditarão”.
Fico
pensando se Hubbard teria nervos para citar os “Nuncas” enquanto o Lusitania,
torpedeado por um submarino nazista, naufragava na costa da Irlanda em 1915,
levando consigo as vidas do prezado Elbert, sua esposa e mais outras tantas
almas...
De
qualquer forma, a frase de Hubbard serviria como uma luva em outro contexto: quando
Winston Churchill era um jovem oficial da cavalaria, ele estava sempre
procurando uma maneira de chegar à frente de batalha para experimentar o
combate em primeira mão.
O
velho buldogue tinha mesmo umas manias estranhas, além de inteligência e
persistência. E foi utilizando essas duas últimas que ele conseguiu sua posição
no front em algum lugar onde hoje é o
Paquistão. No começo, Churchill foi tratado pelo staff de alta patente como apenas mais um jovem oficial bobo com boas
habilidades em polo.
Entretanto,
um dia Churchill viu sua oportunidade de brilhar. O alto comissariado estava
reunido e discutindo o texto que um jornalista correspondente de guerra,
dispensado pela força expedicionária, havia publicado ao retornar à Inglaterra.
O artigo tecia críticas ácidas sobre as atividades militares na Índia. Os oficiais
estavam enfurecidos e tramavam qual seria a melhor reação contra aquele ultraje.
Uma longa carta-resposta já havia inclusive sido escrita e seria enviada em
breve.
Durante
o debate, Winston interveio explicando que a carta deveria ser destruída o
quanto antes. E completou:
“Seria absolutamente indigno e até mesmo impróprio para
um alto oficial das Forças Armadas participar das controvérsias de um jornal,
debatendo estratégias operacionais com um correspondente dispensado de suas
atividades. Estou certo que o Governo se surpreenderia e o Comitê de Guerra se
enfureceria com isso. As Forças Armadas devem deixar sua defesa para seus
superiores ou para os políticos: não importa quão bom seja nosso argumento, o
simples fato de discutir garante à contraparte mais pertinência que lhe cabe,
ao mesmo tempo em que enfraquece nossa autoridade”.
Isso
é Hubbard puro.
Explicar-se
dá força ao outro. Se alguém lhe ofende, insulta ou questiona suas decisões por
um motivo qualquer, é natural tentar explicar seu ponto de vista, especialmente
quando a confusão ameaça manchar sua integridade. E, em alguns casos, algum
tipo de resposta é mandatório mesmo, fazer o quê... Mas antes de revidar um
“ataque”, considere este algoritmo de 4 passos:
1 - Se o Questionante
é alguém que você conhece e respeita como um igual, alguém que você considera
dentro do seu “Círculo de Honra & Confiança”, e essa pessoa disse algo
inteligente e interessante, você pode até explicar-se para fomentar um debate
proveitoso sobre o tema. Isso é Construtivo.
2 - Se o Questionante
é seu chefe ou um cliente, explicar-se pode ser a diferença entre receber o
pagamento no final do mês ou ir para o olho da rua. Isso é Sabedoria.
3 - Se o Questionante
é alguém que você gosta – um(a) namorado(a) ou amigo(a) -, e você acredita que
houve algum problema de comunicação, você pode tentar explicar-se como um
esforço para preservar o relacionamento. Isso é Ternura.
4 - ENTRETANTO, se a
parte Questionante é alguém que você pessoalmente não conhece, não respeita
como um igual e/ou alguém por quem você não nutre sentimentos, então não gaste tempo
explicando seu ponto de vista, ou porque você tomou esta ou aquela decisão.
Isso é Idiotice.
Demonstrar
preocupação sobre o que alguém de fora do seu “Círculo de Honra &
Confiança” pensa é expulsar-se a si mesmo desse Círculo.
Explicar-se
é uma tentativa de obter compreensão, mostra que você está mordido e deseja
recuperar a aprovação do outro. Todavia, quando você dá importância a uma
opinião à qual você e as pessoas à sua volta sabem que você deveria estar
cagando e andando a respeito, isso revela fraqueza da sua parte. Ao optar pela
catarse da discussão ao invés de irrelevar a situação, você demonstra incompetência
no seu autocontrole.
Ademais,
quando um imbecil obtém uma resposta sua, você está validando a importância
desse mesmo imbecil ao presenteá-lo com dois bens muito preciosos: seu Tempo e
sua Atenção.
Seguir
o “Nunca se explique” não significa jamais responder qualquer coisa ou dirimir
qualquer dúvida de qualquer pessoa que se dirija a você, mas tem a ver com limitar
suas respostas a um número restrito de pessoas relevantes.
Explicações
pormenorizadas se parecem muito com um pedido de desculpas, demonstrando que
você provavelmente não tem muita confiança em suas próprias escolhas e
princípios.
Ao
explicar e explicar e explicar, você está procurando convencer tanto o outro
quanto a si mesmo. Isso é coisa de criança, não de Homem.
Nunca Se Queixe
Apesar
de “Nunca se Explique” e “Nunca se Queixe” serem duas frases diferentes, ambas
compartilham ideias similares de Autonomia
e Responsabilidade.
Uma
vez entendido o porquê de você raramente dever explicar-se, logo em seguida cai
a ficha do porquê de você raramente dever se queixar.
Se
alguém fez ou disse algo que lhe incomoda, não se perca em longas e emocionadas
queixas sobre a infelicidade acumulada em seu umbigo. Fale pouco ou quase nada
e dê o passo seguinte na direção daquilo que irá resolver a situação.
Pessoas
que se queixam não são pessoas que realizam. No desconforto, o bom senso
recomenda que você permaneça em silêncio, sempre, escolhendo a ação focada
ao invés do lacrimejamento estático.
Muitas
vezes, a pessoa ou a situação sobre a qual estamos nos queixando possuem um
propósito que vai além dos nossos próprios desejos e necessidades. Quer um
exemplo? O colégio / faculdade.
Muitos
estudantes se queixam que tal “professor quer me ferrar desse jeito”, que a
matéria é muito difícil e que as provas são de matar. Bem, o professor tem um conjunto
de metas e, ainda que você discorde e decida abandonar a escola
por causa disso, de que adianta queixar-se que as prioridades dele não são as
mesmas que as suas?
A
Realidade não existe para corresponder às suas expectativas. O Mundo não foi
colocado aí porque você tem o “direito de ser feliz”. “Direito de ser feliz” o
caralh...! - dá pra ser mais ridículo que isso?
Esqueça
o choramingo carente pela alucinação que você habituou chamar “Seus Direitos”. A
fase de aleitamento materno terminou quando você tinha 6 meses – ou pelo menos
deveria ter terminado. Largue essa teta. Você não tem direitos.
Você
é um adulto com Forças, Vontades e Confianças – ou pelo menos deveria ser a
essa altura -, e, se as coisas não saíram como você queria, você tem duas escolhas:
- Deixe aquilo de lado e parta para a próxima tentativa, ou
- Continue ali e dê um jeito de fazer uma boa limonada com seus limões.
Mas
em hipótese alguma perca seu tempo se explicando ou se queixando.
Ou
Soma ou Some.
Ou
Age ou Sai.
Ou
Faz ou Vai Embora.
Simples
assim.
Sacou?
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Referências
/ Fontes:
- https://en.wikipedia.org/wiki/Elbert_Hubbard
- https://en.wikipedia.org/wiki/Winston_Churchill
- Christine Comaford-Lynch. Rules for Renegades: How to Make More Money, Rock Your Career, and Revel in Your Individuality. McGraw-Hill, 2007
- Greg Hickman. Never Complain, Never Explain. http://www.selfgrowth.com/articles/Hickman3.html
- Brett and Kate McKay. Never Complain; Never Explain. http://www.artofmanliness.com/2016/02/09/never-complain-never-explain/
- Alschuler KN, Kratz AL, Ehde DM. Resilience and vulnerability in individuals with chronic pain and physical disability. Rehabil Psychol. 2016 Feb;61(1):7-18. doi: 10.1037/rep0000055.
- Gao J, Barzel B, Barabási AL. Universal resilience patterns in complex networks. Nature. 2016 Feb 18;530(7590):307-12. doi: 10.1038/nature16948.
- Klika JB, Herrenkohl TI. A Review of Developmental Research on Resilience in Maltreated Children. Trauma Violence Abuse July 2013 14: 222-234.
- Leppin AL, Gionfriddo MR, Sood A, Montori VM et al. The efficacy of resilience training programs: a systematic review protocol. Systematic Reviews 2014 3:20
- Rees CS, Breen LJ, Cusack L, Hegney D. Understanding individual resilience in the workplace: the international collaboration of workforce resilience model. Front. Psychol Feb 2015 - http://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2015.00073
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