20 setembro 2011

EM BUSCA DA BÚSSOLA PERDIDA


Uma amiga desabafa: “sabe, ando passando uma fase estranha, um sentimento de como se estivesse perdida, como em um daqueles pesadelos que você não sabe onde está. Anda, anda e não sabe pra onde ir, entende? Travei. Passei a fazer tudo mecanicamente e precisei dar um tempo em um monte de coisas pra tentar voltar ao normal. Ainda não consegui. Existe algum caminho mais fácil para sair daqui?”

Me identifiquei imediatamente com o bairro dela, ali perto de Perdidos No Espaço. Na última contagem, o rapaz responsável pelo censo da região também se extraviou e não temos estatísticas confiáveis até o momento sobre a população que habita o local. Mas ela parece grande. Muito grande.

No começo dos anos 2000, quando mudei de uma pequena localidade chamada Santa Maria de Jetibá (menos de 50.000 habitantes) para a enorme região metropolitana de BH (mais de 5 milhões de viventes), nos perdemos em um passeio para conhecer a capital. Estávamos nos informando sobre o caminho de volta para casa quando meu filho - então com 6 anos de idade - perguntou:
- Pai, qual o significado dos nomes nessas placas?
- São os nomes dos bairros e as saídas que você tem que pegar para ir a cada um deles.
- Ahhhnn... Então aqui é o bairro da Savassi e ali é a saída para o Belvedere?
- Isso.

Andamos mais um pouco.
- E aqui é Lourdes e por ali a gente vai para o Barro Preto?
- É isso aí.

Andamos mais um pouco.
- Pai, olha só, tem um bairro enooorme! Na cidade inteira tem entrada para ele!
- Filho, cada bairro fica em um lugar só. Não tem como um bairro estar para todo lado. – E fiz um “tsc tsc” de desdém.
- Então porque tem tantas placas apontando para esse bairro chamado Retorno?

Crianças. O poço mais profundo da filosofia mais magnânima pelo preço de um picolé.

Todo lugar tem um Retorno. Todo lugar tem uma volta. Sempre é possível recomeçar, reconquistar, refazer, reconstruir, reviver. E foi a partir da vivência de uma criança de 6 anos que desenvolvi uma teoria bem simples, a teoria da Bússola do Crescimento Pessoal, composta por 5 diretrizes gerais de navegação que gostaria de compartilhar com você agora:

1 - Quando você acordou hoje, foram depositados 86.400 segundos em sua conta de vida. Eles são todos seus e, apesar de auto-renováveis a cada meia noite, não podem ser transferidos, doados ou vendidos. Contudo, o fato de não poder negociar com o relógio não significa que você não possa se aproveitar dele. Leve o tempo que for necessário para iniciar seu recomeço – só não leve tempo demais.

2 - Rasgue imediatamente seu bilhete de entrada para o metrô dos zumbis: dentro do possível e do impossível, desfrute e participe da paisagem que passa pela sua janela. Aprendizado sem mudança é desilusão. Mudança sem crescimento é frustração. Contemple a vista, aprenda, mude e se aprimore a cada dia.

3 - No final das contas, tudo isso de ruim e de bom é viver, e a viagem só acaba quando termina. Nunca desanime antes do fim. A única rua que leva ao seu fracasso é a Desistência e, enquanto estiver persistindo, você estará no caminho para o sucesso. Peça carona, empurre seu carro, vá a pé. Siga em frente, siga para os lados, siga para trás. Mas siga.

4 - Agir de modo independente não significa negligenciar as informações a cada esquina. Pergunte, peça ajuda. Alguns bons (e insuspeitos) amigos podem conhecer bons atalhos, bons restaurantes, boas atrações, boas oportunidades, e você tem 2 ouvidos, 2 olhos e apenas uma boca. Observe e ouça o dobro do que fala.

5 - Não tente fazer todas as coisas perfeitas. O caminho de volta pode não ser exatamente aquele que você fez na ida, mas ele existe e irá lhe proporcionar uma série de novas experiências e conhecimentos antes de lhe colocar confortavelmente em casa. Tentar percorrer sempre o mesmo caminho perfeito pode tornar o passeio monótono e paralisante. Então destrave. Pegue o primeiro ônibus que passa pelo bairro Perdidos No Espaço, vá viver a sua aventura da vida e tenha mais um dia extraordinário!

EM BUSCA DA BÚSSOLA PERDIDA

© Dr. Alessandro Loiola


Uma amiga desabafa em seu email: “sabe, ando passando uma fase estranha, um sentimento de como se estivesse perdida, como em um daqueles pesadelos que você não sabe onde está. Anda, anda e não sabe pra onde ir, entende? Travei. Passei a fazer tudo mecanicamente e precisei dar um tempo em um monte de coisas pra tentar voltar ao normal. Ainda não consegui. Existe algum caminho mais fácil para sair daqui?”

Me identifiquei imediatamente com o bairro dela, ali perto de Perdidos No Espaço. Na última contagem, o rapaz responsável pelo censo da região também se extraviou e não temos estatísticas confiáveis até o momento sobre a população que habita o local. Mas ela parece grande. Muito grande.

No começo dos anos 2000, quando mudei com esposa e casal de filhos de uma pequena localidade (33.000 habitantes) para uma enorme região metropolitana (mais de 5 milhões de viventes), nos perdemos em um passeio para conhecer a capital. Estávamos nos informando sobre o caminho de volta para casa quando o de 6 anos perguntou:
- Papai, qual o significado dos nomes nessas placas?
- São os nomes dos bairros, filho, e as saídas que você tem que pegar para ir a cada um deles.
- Ahhhnn... Então aqui é o bairro da Savassi e ali é a saída para o Belvedere?
- Isso.
Andamos mais um pouco.
- E aqui é Lourdes e por ali a gente vai para o Barro Preto?
- É isso aí.
Andamos mais um pouco.
- Pai, olha só, tem um bairro enooorme! Na cidade inteira tem entrada para ele!
- Filho, cada bairro fica em um lugar só. Não tem como um bairro estar para todo lado. – E fiz um “tsc tsc” de desdém.
- Então porque tem tantas placas apontando para esse bairro chamado Retorno?

Crianças. O poço mais profundo da filosofia mais magnânima pelo preço de um picolé.

Todo lugar tem um Retorno. Todo lugar tem uma volta. Sempre é possível recomeçar, reconquistar, refazer, reconstruir, reviver. E foi a partir da vivência de uma criança de 6 anos que desenvolvi uma teoria bem simples, a teoria da Bússola do Crescimento Pessoal, composta por 5 diretrizes gerais de navegação que gostaria de compartilhar com você agora:

- Quando você acordou hoje, foram depositados 86.400 segundos em sua conta de vida. Eles são todos seus e, apesar de auto-renováveis a cada meia noite, não podem ser transferidos, doados ou vendidos. Contudo, o fato de não poder negociar com o relógio não significa que você não possa se aproveitar dele. Leve o tempo que for necessário para iniciar seu recomeço – só não leve tempo demais.

- Rasgue imediatamente seu bilhete de entrada para o metrô dos zumbis: dentro do possível e do impossível, desfrute e participe da paisagem que passa pela sua janela. Aprendizado sem mudança é desilusão. Mudança sem crescimento é frustração. Contemple a vista, aprenda, mude e se aprimore a cada dia.

- No final das contas, tudo isso de ruim e de bom é viver, e a viagem só acaba quando termina. Nunca desanime antes do fim. A única rua que leva ao seu fracasso é a Desistência e, enquanto estiver persistindo, você estará no caminho para o sucesso. Peça carona, empurre seu carro, vá a pé. Siga em frente, siga para os lados, siga para trás. Mas siga.

- Agir de modo independente não significa negligenciar as informações a cada esquina. Pergunte, peça ajuda. Alguns bons (e insuspeitos) amigos podem conhecer bons atalhos, bons restaurantes, boas atrações, boas oportunidades, e você tem 2 ouvidos, 2 olhos e apenas uma boca. Observe e ouça o dobro do que fala.

- Não tente fazer todas as coisas perfeitas. O caminho de volta pode não ser exatamente aquele que você fez na ida, mas ele existe e irá lhe proporcionar uma série de novas experiências e conhecimentos antes de lhe colocar confortavelmente em casa. Tentar percorrer sempre o mesmo caminho perfeito pode tornar o passeio monótono e paralisante. Então destrave. Pegue o primeiro ônibus que passa pelo bairro Perdidos No Espaço, vá viver a sua aventura da vida e tenha mais um dia extraordinário!

15 setembro 2011

O PLANTÃO DA SINUSITE INFORMA

© Alessandro Loiola


Duas e pouco da manhã. O frio empurrando para a cama e a ficha de atendimento puxando para o consultório.
- Pois não.
- Doutor, estou resfriado há uns dez dias.
- Hum.
- E anteontem começou uma dor de cabeça enjoada, tipo um peso em cima dos olhos.
- Sei.
- O nariz escorrendo amarelado, sensação de secura na garganta com uma tosse que não me larga, dia e noite. E aquela febrezinha no final da tarde, sabe? - pulmões, freqüência cardíaca, pressão arterial, garganta... tudo normal. - Será que é sinusite?
- Não, é uma gravidez. E de gêmeos, um em cada trompa.
- Como?
- Sim, provavelmente uma sinusite, blá blá blá.

Já estava pegando na receita quando o sujeito soltou o tradicional: “... Mas não seria bom fazer uma radiografia?”.

Ah, os benefícios do contato com a tecnologia. Basta posicionar uma máquina e o sujeito melhora quase que instantaneamente, como se o equipamento de raios-X emitisse ondas de cura, não radiação. Ainda pensei em explicar, mas o frio e o cansaço me mandaram apenas pedir a bendita chapa – que veio alterada como previsto. E ele foi com sua sinusite para casa levando a mesma receita de antes da radiografia.

A sinusite consiste na inflamação dos seios da face, pequenas cavidades nos ossos em torno do nariz. Algumas destas cavidades estão presentes ao nascimento, outras se formam ao longo dos anos. Além de gerarem emprego para centenas de otorrinolaringologistas em todo o mundo, não são conhecidas outras grandes finalidades específicas para os seios da face.

Somado a este fato, temos os vírus das vias respiratórias tão comuns nos meses de inverno. Durante um resfriado, estes vírus causam edema na mucosa que reveste os seios da face, dificultando a eliminação da secreção ali produzida e favorecendo a proliferação de bactérias no local. Como conseqüência, de cada 100 casos de resfriado banal, 1 se transformará em um episódio de sinusite aguda.

Os principais sintomas da sinusite incluem dor entre, abaixo ou atrás dos olhos; febre, coriza, congestão nasal, tosse há mais de 7 dias e dificuldade para sentir cheiros (uma vantagem em certas profissões e casamentos).

São os sintomas que definem o diagnóstico de sinusite aguda, não os exames sofisticados e caros. Um estudo publicado pela Academia Americana de Pediatria em setembro de 2001 mostrou que o exame clínico simples feito no consultório, sem empregar qualquer recurso adicional, é capaz de acertar 90% dos diagnósticos de sinusite aguda.

Uma radiografia normal não é capaz de eliminar a possibilidade de sinusite. Além disso, 30% das pessoas normais, saudáveis e sem qualquer sintoma apresentam alterações radiográficas que simulam uma sinusite aguda.

Nem mesmo a tomografia computadorizada é digna de grandes méritos: 87% das pessoas adultas com resfriados comuns apresentam alterações tomográficas em um ou mais seios da face. Mas em 79% dos casos estas alterações desaparecem espontaneamente nas duas semanas seguintes. Deu para perceber que os exames não ajudam muito?

Por outro lado, nos casos de sinusite recorrente ou crônica, os exames sofisticados estão indicados. Por exemplo: além da tomografia computadorizada, seu médico poderá indicar uma limpeza endoscópica dos seios da face. Neste procedimento bastante confortável, um tubo munido de uma microcâmera é passado pelos vários orifícios do seu nariz enquanto o médico diz “calma, calma, não vai incomodar nada”. Lógico que não vai. Não é o nariz dele.

Uma vez definido o diagnóstico de sinusite, o tratamento padrão inclui descongestionantes e analgésicos. Se os sintomas estiverem presentes há mais de 7 dias, associa-se amoxicilina por um mínimo de 10 dias – ou até que as manifestações tenham desaparecido por pelo menos uma semana. Cerca de 10% das pessoas não respondem bem ao tratamento com antibióticos e devem ser indicadas para algumas sessões de tortura, digo, de lavagem endoscópica dos seios da face.

Para lidar melhor com seu episódio de sinusite deste inverno, faça o seguinte:

- Coma mais alho. Ele possui ingredientes ativos que oferecem um certo efeito descongestionante no curto prazo.

- Lave a cavidade nasal com soro fisiológico várias vezes ao dia e faça inalações com vapor de água. Isso ajuda a dissolver as secreções e umedecer a mucosa nasal inflamada.

- Se você não tem hábito de tomar banhos de radioativos, não pressione seu médico pedindo raios-X ao menor sinal de resfriado ou sinusite aguda não complicada. Siga as orientações dele e tenha um pouco de paciência. No final, tudo vai dar certo. Ou não.

10 setembro 2011

Reflexão para o sábado

Este trecho de um livro foi bastante útil para mim recentemente, e espero q passando a frente possa ser útil para mais alguém.

Uma ocasião estava Buda a contar uma história a um aprendiz:
- Um homem viajando chega à margem assustadora de um grande rio. Então vê que a outra margem é segura. Pensa: "Esta extensão de água é vasta e esta margem é perigosa, aquela é livre de perigo. Não há embarcação nem ponte com que eu possa atravessar. Acho que seria hom juntar troncos, ramos e folhas e fazer uma jangada com a qual, impulsionada por minhas mãos e meus pés, passe com segurança a outra margem." Então esse homem executa o que imagina e passa para a margem oposta sem perigo, onde pensa: "Esta jangada me foi muito útil e me permitiu chegar a esta margem. Seria bom carregá-la à cabeça ou às costas onde quer que eu vá".
- Que pensais, monge? Procedendo dessa forma, esse homem agiria adequadamente em relação à jangada?
- Não, Senhor!
- Qual seria o melhor a se fazer?
- Tendo atravessado para a outra margem – respondeu o aprendiz-, esse homem deveria pensar: "Esta jangada me foi de grande auxílio e graças a ela cheguei com segurança; agora seria bom que eu a abandonasse à sua sorte e seguisse o meu caminho livremente."
Pois exatamente assim são as verdades e certezas que carregamos. Elas devem ser consideradas não como um fim, mas como um meio; da mesma forma com a jangada é um meio para atravessar, mas não para se apegar.