Por isso não foi surpresa quando, menos de duas décadas depois do começo do novo milênio, a sofreguidão por um vigoroso idealismo Moral - recheado de normas universais bem estabelecidas e dogmas inexpugnáveis - começou a colonizar o imaginário de muitos órfãos que perambulavam nas ruas babélicas da pós-modernidade.
Aproveitando-se desse ambiente, o Conservadorismo ressuscitou para surfar na onda da indignação popular com as atrocidades veiculadas várias vezes por dia na mídia. Seus argumentos emblemáticos apelam para a revolta coletiva contra o estado de pretensa impunidade, aplicando um discurso cativante que promete ocupar o vácuo deixado pela crise da Moralidade. Mas será que o Conservadorismo é mesmo capaz de entregar o produto que diz estar vendendo?
A defesa da legitimidade de suas intenções repousa na suposta exclusividade de seu sistema Moral. Mas tanto os Conservadores quanto seus opositores dizem portar as novas tábuas da salvação contendo a codificação para um Universalismo vanguardista. Entre tantas pessoas diferentes falando a mesma coisa, como discernir qual delas tem a capacidade de exercer a autenticidade que esperamos?
É irreal presumir que a expansão do Conservadorismo necessariamente levará a um mundo mais ético, intelectual e meritocrático – assim como é irreal presumir que a Justiça é necessariamente objetiva e apolítica. Talvez o que ocorra seja algo diametralmente oposto a isso. O Conservadorismo traz consigo o risco de agravar exatamente aquilo que afirma pretender eliminar: o poder exercido em nome de interesses próprios e desvinculado dos valores de um estado democrático. Infelizmente, no desespero de nos agarramos a uma Moralidade qualquer, estamos adotando qualquer uma que se apresente.
Enquanto continuarmos confiando na encantadora criatividade populista dos outros para arquitetar nossa salvação, o desajuste Moral seguirá sendo a norma do dia – e qualquer fantasia de mudança será apenas mais uma miragem nesse deserto de ingenuidades áridas que nos engole desde 1500.
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