Olá,
Houve uma época, há coisa de uns 10 anos, em que eu dedicava domingos inteiros (e muitas vezes outros dias da semana, até de madrugada) para operar completamente de graça pacientes do SUS. De graça mesmo, não recebia produtividade, “por fora”, nadica de nada. Acredite se quiser.
Por amizade de meu pai, pediatra, possuía um acordo de cavalheiros com Dr. Zaganelli, Diretor de um hospital público de Vitória (ES), que muito humanamente permitia que eu levasse para o hospital de sua instituição pacientes atendidos por mim no Centro de Especialidades. Me condoia atender aqueles pacientes com indicação cirúrgica e simplesmente retorná-los com o diagnóstico, porém sem uma saída. Muitos eram do interior do estado, pobres, quase miseráveis, e apenas com muito custo entendiam o que eu lhes explicava acerca da moléstia que os afligia.
A equipe de apoio era espetacular e permanentemente prestativa - que o diga o Cléber, então técnico de enfermagem, sempre um grande filósofo e hoje catedrático de respeito, que inúmeras vezes me honrou com seu auxilio no campo cirúrgico. Assim como eles, muitos, muitos outros.
Bons tempos. Mas hoje, me sinto vencido pelo SUS. Logo eu, fico pensado, que imaginava ter dois tumores no cérebro: um secretor de idéias, outro produtor de otimismo... Prefiro acreditar que os dois ainda estão lá, funcionantes. Apenas não querem mais perder seu tempo com algo tão imenso.
Imenso na burocracia, na estupidez. Inacabável na burrice. O SUS faz muito com tão poucos recursos. Mas poderia fazer mais. E poderia ser o que gostaríamos que fosse, se apenas o tratássemos (nós médicos, os governantes, gestores, cidadãos) com o valor e a inteligência apropriada.
Mas, ao invés disso, queremos financiar o SUS com migalhas e receber em troca manjares e pudins de leite condensado. Manuseamos o sistema com hipocrisia, como colher humanidade e desenvolvimento?
E se canto minha parábola, os que não me conhecem me acusam. Não os culpo. Eu deveria voltar com meus tumores àquela época, coisa de uns 10, 15 anos atrás, onde trabalhava tanto com os braços que os olhos não tinham tempo para enxergar à sua volta.
Envelhecer torna a gente mais consciente ou só mais rabugento? Qualquer que seja o caso, espero que seja uma boa leitura.
Um abraço,
Alessandro.
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A PARÁBOLA DO SISTEMA ÚNICO DE STUPIDEZ
© Dr. Alessandro Loiola
Era uma vez uma moça muito inteligente chamada Verdade. Toda vez que a Verdade chegava perto das pessoas, elas fugiam. Algumas até diziam preferi-la sempre à sua prima biscateira, a Mentira, comentavam como a Verdade era magnífica e necessária, mas ficar por perto? Não, não.
Então, certa noite, a Verdade sentou-se sozinha e desanimada na beira da calçada. E antes que algum passante mais atrevido sugerisse um programa (quem não gosta de apertar, torcer e fornicar com a Verdade?), uma senhora corcundamente idosa aproximou-se.
- Por que você está tão triste? – perguntou Dona Sabedoria.
- Ninguém gosta de mim. – chorou a Verdade.
A velha mediu a Verdade dos pés à cabeça, fez uma pausa e cravou:
- Mas também, olhe para você, veja só o seu estado...! Lastimável!
A bem da verdade, a Verdade não estava lá essas coisas. Talvez por acreditar que apenas sua luz interior fosse suficiente, ela nunca havia se preocupado muito com a parte de fora. O vestido sujo maltrapilho, o penteado dreadlock e aquele perfume estilo Moscas Ardentes do Boticário não eram realmente sedutores.
- Vamos fazer uma coisa: vou lhe apresentar uma amiga – aconselhou Dona Sabedoria. - Tenho certeza de que ela poderá lhe dar umas dicas.
E Dona Sabedoria e a Verdade foram até uma casa de massagem gerenciada por uma cafetina chamada Riqueza. A Riqueza era, por assim dizer, o bicho: por mais que ela se escondesse e esquivasse, os homens sempre estavam atrás dela – e algumas vezes por cima e por baixo também. A Riqueza sem dúvida alguma sabia das coisas.
- Eu não entendo... – questionou a Verdade, olhando com desdém para a Riqueza.- Você é fútil, volátil, passa de mão em mão sem criar laços, não cultiva respeito ou sentimentos. Afinal, o que os homens vêem em você?
- O que eles vêem em mim, querida? – disse a Riqueza, colocando o indicador com 3 cm de unha postiça vermelha no canto da boca. - O que eles não vêem em você, eu lhe digo. Mal acabada desse jeito, nem o inquilino do viaduto vai lhe dar uma cantada. Mas eu já sei o que fazer: vou lhe emprestar um vestido meu que é fatal. Tiro e queda, meu amor. Ele se chama Parábola.
E desde então, a Verdade tem conseguido se aproximar dos homens travestida de Parábola. A parábola não assusta, é engraçadinha e permite que a Verdade dê sua opinião. Entretanto, é só marcar aquela esticada no motel e tudo recomeça: ainda não existe um remédio para evitar o terror na frente da verdade nua e crua. A resposta para isso, nem mesmo a Sabedoria ou a Riqueza parecem ter.
E é com esse espírito altruísta em busca da Verdade que abrimos o champanhe para comemorar os 20 anos do SUS – ou Sistema Único de Stupidez, como costumo chamar, pedindo perdão pela transgressão da língua no último verbete, mas imprescindível para sustentar a sigla. O SUS é fruto daqueles surtos psicóticos que nossos governantes tem quando acham que vivem em um planeta com recursos ilimitados.
No papel, o SUS é belíssimo. Na prática, é de uma patetice sem tamanho. Em teoria, o SUS é um plano de saúde com cobertura em 100% do território nacional, oferecendo resgate e assistência clínico-cirúrgica em todas as especialidades 24h por dia, 7 dias na semana, além de pré-natal, puerilcultura, vacinas, tratamento oncológico e assistência odontológica sem glosas por pré-existência. Um plano assim, particular, se fosse Unimed ou Saúde Bradesco por exemplo, sairia em média a uns R$200 por cabeça, por mês. No mínimo.
Vamos fazer a contabilidade. Duzentos reais por cabeça por mês. Somos 200 milhões de brasileiros. Se o governo fosse de fato oferecer o que reza a Constituição (um plano de saúde top de linha com acesso universal), seria necessário um investimento de cerca de R$40 bilhões/mês (R$200 x 200 milhões de pessoas), ou R$480 bilhões/ano. E de quanto é o orçamento anual do SUS? R$35 bilhões/ano. Isso lá em casa dava até pra fazer uma festa, mas no universo do SUS... tsc tsc...
Se formos temperar a conversa com os desvios, os superfaturamentos, as prefeituras que instalam manilhas, compram lanche de escola e inauguram praças com verba da saúde, então é melhor nem pensar em colocar na ponta do lápis.
E se o governo fala em aumentar impostos para financiar o embuste, ops, perdão, financiar o SUS, a gritaria é geral. Melhor fazer reuniões e encontros e workshops e conferências intermináveis para saber como humanizar o inabitável, como pagar com um sorriso nos lábios e uma explicação estapafúrdia a conta que nunca fecha.
Para fazer o SUS engrenar, não precisamos de mais parábolas. Muito menos desse cordel de faz de contas. Para fazer o SUS engrenar, é preciso algo acima. É preciso muuiiito dinheiro e uma nação de homens (e mulheres) de Verdade, de preferência guiados pelas mãos da Sabedoria. Aí sim, teremos saúde. E qualidade de vida. E um país de Verdade, ao invés de futebol com carnaval para inglês ver.
Apesar dessa ser uma idéia boa e linda, acho que não vai rolar. Todo brasileiro sempre adia o encontro com a velha corcunda para passar antes no bordel da Riqueza, “pra dar aquela saideira, sacumé?”. Sei. Quem sabe depois, né? Quem sabe depois.
Eu vou estar esperando sentado na beira da calçada.
08 novembro 2009
A PARÁBOLA DO SISTEMA ÚNICO DE STUPIDEZ
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20 comentários:
Dr. Alessandro! Sem palavras! Parabéns, sobre a parábola do SUS! É isto e mais algumas coisas. O SUS não foi feito para o povo. E sim implantado por uma corja de políticos, sabedores e intelectuais. Sérgio Arouca que o diga! Infelizmente, nosso povo é ignorante, nossos futuros médicos, enfermeiros, advogados e etc...São passados a eles apenas o mínimo de informações. Continuamos sendo uma Terra de Coronéis. Pena que eles não sofrem um acidente e caem em uma Unidade, sem recursos. E não é só recurso material. É falta de conhecimento, falta de olhar clínico, falta de sabedoria. Como o senhor, já fiz muitas coisas de graça, por olhar e ver a dor nos olhos das pessoas. Este é o nosso País! Uma minoria para poucos e as migalhas para muitos. Enfermeira Beth França
Dr. Alessandro
O SUS é uma revolução sem precedentes.
A fala do filósoso-educador deve ser ouvida quando se trata de discutir processos
sociais, de longa maturação, incompatíveis com a ocorrência de eventos
discretos, bruscos, determinados, seja por manifestações de grupos de interesse,
seja por construções ideológicas, de curto prazo.
O SUS, entendido como processo social em marcha, não se iniciou em 1988,
com a consagração constitucional de seus princípios, nem deve ter um momento
definido para seu término, especialmente se esse tempo está dado por avaliações
equivocadas que apontam para o fracasso dessa proposta. Assim, o SUS nem começou
ontem e nem termina hoje.
Reformas sociais, em ambiente democrático são, por natureza, lentas e politicamente
custosas. Mudanças rápidas são típicas de regimes autoritários.
Falar de processo social implica reconhecer a complexidade de uma construção
que se dará em ambiente habitado pela diversidade das representações de
interesses e em campos sociais de diferentes hierarquias, quais sejam, o político, o
cultural e o tecnológico.
O SUS, como processo social, tem dimensão política dado que vai sendo
construído em ambiente democrático, em que se apresentam, na arena sanitária,
diferentes atores sociais portadores de projetos diversificados.
Adriana Mattos De Oliveira
Só fui conhecer o SUS agora. Antes da separação tinha o privilégio de sempre usar a FUNCEF. Pelo jeito pagava mal, mas tinha sempre algum médico que tinha convênio com ela. Poucos, mas tinha. Faz alguns dias dei de cara com o SUS. Em pleno domingo, precisei ir ao hospital. Veja só "DOMINGO PELO SUS". Mas fui. A dor era mais forte. Resumo ... fila, paciência. Observava as pessoas...tantas em pleno domingo. Acidentes, picadas, dores... Tinha uma moça que mal podia andar...ficou na cadeira de rodas e não se levantava ...coluna!!! Me chamaram... Fui atendida com muita atenção..mas...perguntei então..era um pré-formando...faltavam 6 meses prá FORMATUIRA. E o médico?Até hoje não sei seu rosto... só seu nome porque está na receita. O menino me atendeu super bem, mas o MÉDICO RESPONSÁVEL nem me viu. E receitou até injeção!!! Bom, fiquei pensando naquela moça da coluna.... Não tomei a injeção.. até o menino não entendeu o prontuário...Coitado... cheio de boa vontade e o outro já entendia que aquelas pessoas são diferentes das que desembolsam consulta particular. Esse médico tem duas caras "e dois corações?!" Bem, entendo teu texto!!! Foste vencido?!!!! Uma hora a gente cansa né?!!! Tenho um genro médico, recém formado, terminando a residencia, cheio de boa vontade...mas até quando??? O SUS acaba detonando todas as boas intenções!!! Principalmente prá quem vê isso de perto!!!! Caberá a quem modificar essa situação? Nós?!!! Sei q há médicos maravilhosos, mas enquanto isso lá no SUS.....
Beth e Graça, obrigado pelos comentários.
Drica: belíssimo texto. Tão pungente que estou pensando em imprimir em um pequeno papel e deixá-lo no bolso do jaleco.
Da próxima vez que alguém da fila quiser bater na moça que faz as fichas porque tem mais de 6h que está aguardando e ainda não foi chamado para consulta, ou quando eu pedir um remédio de urgência para uma criança que está parando de respirar e a enfermeira disser “tem não, doutor...”, vou puxar o papelzinho e ler em tom solene: “O SUS é uma revolução sem precedentes. A fala do filósoso-educador deve ser ouvida quando se trata de discutir processos...”.
Hum... acho que não vai adiantar não.
Mas ainda assim, é um belo texto.
Alessandro.
Oi tudo bem!
Vi sua publicação, gostei muito da referencia feita ao nosso Sistema Único de Saúde. Sei o que é estar vendo esse sistema com os olhos de um cidadão que vive onde existem realidades desumansa e participante das dificuldades que o nosso país está passando.
Um abraço
Neldilene G. Soares
Oi Dr. Alessandro Loiola,
Estava lendo seu artigo no YaHOO "Parábola do sistema único de ´stupidez´" e achei muito interessante a idéia que o constrói sobre o Sistema de Saúde, quanto faz a comparação de quanto gastaríamos por mês, para ter Um plano de Saúde chamado no surto psicótico dos governantes de SUS.
Está de parabéns. Continue assim contribuindo com seus artigos, tão cômicos quanto alertadores de que nós mesmos somos frutos dessa baderna.
Meu nome é Wilian, sou portador da ezquizoafetivo, e faça o terrível tratamento no SUS. Mas ainda bem que acredito nos homens de bem.
WILIAN INACIO [ML - WILLECRIS] wilianpiraju@yahoo.com.br
Olá!!!
Bom, estou aqui para mais uma vez te parabenizar pelos textos. E agradecer a oportunidade que agora tenho em ter acesso a vários textos através do Brpress. Realmente é uma delícia!!! E adorei também Sandra Maia. Fiquei perdida com tantos textos ótimos, não sabia qual lia primeiro... Pena que tenho pouco tempo ainda prá dedicar à leitura. Enquanto não dá, vou colocando em favoritos.
Mas como estava dizendo, obrigada pela oportunidade de conhecer opiniões diversas e de conhecer vocês através da leitura... é uma delícia.
Um abraço!!!
GRAÇA MENESES PEREIRA
gracamp78@hotmail.com
Boa noite Alessandro,
Desculpe-me, mas sobre sua coluna na página do yahoo da Parábola do sistema único de ´stupidez´... surto psicótico??? Vc já ouviu falar em Movimento Sanitário??? Concordo que nossos governantes e representantes, muitas vezes, não estão nem um pouco preocupados com o bem estar e a boa qualidade de vida e saúde da população brasileira, e é exatamente por isso que, enquanto trabalhadores de saúde, deveríamos defender o nosso SUS como uma conquista democrática que foi e deveria continuar sendo.
Respeitosamente e agradecida pela oportunidade de expressar meu ponto de vista,
Karen Namie Sakata
karen.namie.sakata@gmail.com
Enfermeira e Mestre pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - EERP/USP.
Boa tarde senhor Loiola,
Escrevo para expressar minha indignação com seu artigo "Parábola do sistema único de ´stupidez´" em dois pontos:
- Primeiro em relação as suas contas. Se um plano de saúde completo sai por 400 reais por cabeça na rede privada, onde o lucro é um componente do preço, esse preço não vale para rede SUS, pois os investimentos públicos em hospitais públicos com certeza empurra para baixo esse orçamento que o senhor calcula (quase o tamanho do PIB brasileiro). Assim, o terrorismo numérico é minimizado. Por favor, vamos defender o SUS e reivindicar a ampliação de invesitimentos. Contudo, sejamos coerentes.
- O segundo ponto é mais sútil e diz respeito a mentalidade racista na qual somos socializados. Na minha opinião, o racismo a brasileira transparece em seu artigo ao descrever a Verdade no seguinte trecho: "Talvez por acreditar que apenas sua luz interior fosse suficiente, ela [a Verdade] nunca havia se preocupado muito com a parte de fora. O vestido sujo maltrapilho, o penteado dreadlock e aquele perfume estilo Moscas Ardentes, do Bosticário, não eram realmente sedutores."
Caro senhor Loiola, o penteado Dreadlock é insedutor para a cultura branca, ocidental, cristã. O modelo estético importado dos países auto-proclamados como "primeiro mundo" supervaloriza os padrões de beleza a européia como os desejáveis para Brasil, um país de negros (já somos mais de 50% sabia?). Uma oposições binária, muito comum ao mundo ocidental, adora opor cabelo "bom" ao cabelo "ruim", forçando um padrão de beleza a-natural para homens e mulheres negras que se violentam ao alisarem seus cabelos no intuito de o tornarem aceitáveis pela sociedade.
Mesmo com a ideologia agindo na superestrutura, alguns desses homens e mulheres desafiam os padrões estéticos vigentes e, entre eles, estão os que optaram pelos "dreads". Podendo assumir várias formas, há quem os cultive por motivos religiosos, no caso dos rastafaris, mas também há quem os façam por motivos estéticos de afirmação identitária negra, pois os dreads são uma técnica milenar africana de cuidar do cabelo crespo. Por exemplo, quem for ao Louvre pode observar nas estátuas do antigo Egito os dreadlocks de faraós, homens ou mulheres (Coerente, pois o Egito é um país da África e a mestiçagem com os árabes ocorre em grande escala após 600 D.C.). Atualmente, a maioria das pessoas negras que optam por pentear dessa forma o seu cabelo cuida deles muito bem, mantendo-o cheiroso, limpo e brilhante como qualquer cabelo bem cuidado.
Já podemos agora chegar na justificativa mesma da minha indignação: com seu artigo, o senhor presta mais um desserviço na luta antirracista ao apontar que o uso de Dreadlocks deixa a Verdade feia por fora. Por que a feia Verdade não usa cabelos longos, loiros, finos e esvoaçantes? Já parou para pensar nisso?
Como diria Lenine: Vc já foi a Bahia seu Loiola? não? Então vá
Thiago dos Santos Molina
thiagodacuica@yahoo.com.br
Mestrando em Educação
Faculdade de Educação da USP
Thiago e Karen,
obrigado (de verdade) por enriquecerem o debate com suas opiniões.
Quero parabenizá-lo pelo excelente texto à respeito do SUS. Lamentavelmente, pouco lido e, pior, pouco entendido, pelos nossos compatriotas...Apesar das parábolas !!
Acho que a melhor saída para nós, é o portão de embarque internacional dos aeroportos ...
Sdçs,
Sandra Novis.
Prezado Dr. Alessandro,
Gostaria de parabenizá-lo pelo texto que escreveu na referida coluna. Tocar no assunto SUS de forma a ir contra a corrente é contribuir para a implementação de uma discussão mais aprofundada do mesmo, deixando de lado as tendências e criticando o sistema para que este seja melhorado.
O senhor abordou o tema de maneira leve e a apresentação da parábola foi adequada e construtiva, percebe-se que a eloquência das palestras foi claramente colocada no papel.
Entretanto, o senhor incorre em um erro crasso ao fundamentar sua discussão em um valor estipulado de R$400,00 mensais por cabeça para que se tenha um plano de saúde adequado a um individuo. O senhor se esquece que as empresas de saúde privada tem um único objetivo: lucro. Isso porque elas são "empresas" e tal como todas as outras visam lucrar com algum tipo de serviço. As empresas privadas de planos de saúde visam, portanto, lucrar com os serviços de saúde. Isso posto, o seu argumento de discussão, que é o valor que seria gasto para se ter um atendimento em saúde completa se apresenta falho.
O cálculo não deve ser feito da maneira como o senhor expôs. Os valores verdadeiros devem ser outros, considerando que o SUS não tem fins lucrativos e se manteria sem a necessidade de auferir lucros.
Gostaria e deixar claro que minha crítica se restringe unicamente ao campo do seu texto escrito e não ao seu ponto de vista defendido, que respeito e considero. Estamos em um país livre e cada um tem seu próprio pensamento. Concordando ou não com o seu ponto de vista, é inegável a presença de incongruências no raciocínio apresentado no texto. Certamente o senhor já deve ter recebido essa crítica de outros leitores que acompanham seus textos na Internet. Entretanto me vi na obrigação de escrever-lhe para lembrar-lhe sobre esse ponto que deixa o texto muito vulnerável.
Desde já agradeço sua atenção e espero que o e-mail seja, pelo menos, lido.
Grato e respeitosamente,
--
Shamyr Sulyvan de Castro
Fisioterapeuta - (Physiotherapist)
Institute for Health and Rehabilitation Sciences
Research Unit for Biopsychosocial Health
ICF Research Branch of WHO CC FIC (DIMDI)
Ludwig-Maximilians-University
Marchioninistr. 17
81377 Munich
Germany
Faculdade de Saúde Pública - (Faculty of Public Health)
Universidade de São Paulo - (University of São Paulo)
Av Dr Arnaldo 715 - CEP 01246-904 - São Paulo - Brasil
MSN: ssulyvan@hotmail.com
Skype: ssulyvan
Crefito3: 77926F
"The brain is very big place in a very small space" - Carl Sagan
Shamyr,
Eu que agradeço sua contribuição. Não acredito que estabelecer um valor de R$400,00 seja irrealista. No caso das empresas de saúde, parte deste valor é revertido em lucros. No SUS, o óbvio seria que parte deste valor seja revertido em aprimoramento das instalações, cursos de capacitação, campanhas educacionais, maior disponibilização de avanços tecnológicos para as populações de baixa renda, ampliação do número e facilitação do acesso aos serviços credenciados, etc.
Para fazer tudo isso, e ainda pagar todos os insumos e mão de obra envolvidos no processo, acredito até que um valor de R$400,00 seja pouco. E não sou apenas eu quem diz que investimos muito pouco.
Não investimos na saúde nem metade da média mundial per capta, e estes valores permanecem os mesmos há mais de 15 anos! Isso para não falar de COMO estes valores são investidos, muitas vezes sem grandes resultados do ponto de vista prático para a população (inaugurar uma praça não cura tuberculose).
O investimento per capta na saúde em países desenvolvidos é, em média, de US$800/ano – e muitos deles sequer universalizaram o acesso à saúde. Nós investimos pouco mais de US$150 / per capta / ano, em um sistema (teoricamente) de acesso universal. Para complicar as coisas, ainda temos todo um fardo de subdesenvolvimento nos ombros – que deve ser contornado com estes 150 dinheiros.
Sinceramente? Acho R$400/mês uma pechincha.
Olá Dr. Alessandro
Adorei a parabóla do SUS! Concordo com suas colocações quanto a este Sistema que realmente é maravilhoso, mas só no papel. Parabéns pela matéria! Gosto da forma como escreve seus textos, a leitura flui. Sempre que entro no yahoo dou uma passadinha pra ler seus textos.
Bom trabalho!
Katiele da Cruz Guimarães katielekaty@yahoo.com.br
Prezado Dr,
Sua matéria está boa porem não fala diretamente e com ênfase de uma questão tão ou mais importante do que o volume de aplicação de recursos de governo advindos de impostos, necessária a meu ver para colocar o SUS nos trilhos da transparência pública e da sustentabilidade orçamentária e financeira.
Na verdade, creio que precisamos rapidamente que os Governos e seus gestores públicos adotem Melhores Práticas de Gestão para o SUS pois mesmo que seu custo fosse pequeno, ainda assim, no modelo atual, ele seria um sistema deficitário, falho, e não conseguiria ser mantido a contento nos padrões que estamos acostumados a ver nos países mais desenvolvidos e que deveriam valer para o mundo todo. A grande verdade é que na essencia ele é interessante e muitos benefícios trouxe à população brasileira de baixa renda que nunca teve acesso à saúde neste país mesmo pagando caro como paga até hoje, mas o modelo de gestão instalado, é ultrapassado, permite promiscuidades de ambas as partes e incompetente pela falta de integração, planejamento e controle de informações de quem o financia. Isso, na maioria dos Estados, Municípios e no âmbito Federal, que atua como o rei do bla bla bla e da distribuição de diárias e passagens para workshops, seminários, cursos, visando melhorar e aprimorar o SUS , bla bla bla, por decreto, chega a nos dar Congestão e torna o sistema um verdadeiro saco sem fundo.. é claro.
Creia professor, um modelo tocado pela iniciativa privada brasileira, como o modelo argentino falido, também seria uma catástrofe, tão ruim quanto o atual para o pobre zé povão ou zé mané. A saída estaria na competência do modelo de gestão, no controle e no fim da impunidade para aqueles que enriquecem através da saúde dos pobres.
Um grande abraço
Paulo Roberto Ensinas
paulo_ensinas@yahoo.com.br
Olá, Dr. Alessandro,
Me chamo Juliana e acabei de ler o seu artigo e gostei muito! Sou sua colega, trabalho em uma unidade básica de saúde em Campinas-SP como clínica geral e em consultório particular como endocrinologista. Infelizmente, sou daquelas que querem acreditar e ter fé no SUS. Nasci no RJ e trabalhei por lá até meados de 2007 (término da residência), quando vim pra SP fazer mestrado.
Nos meus tempos de SUS-Rio, sua parábola se encaixa como uma luva. Não entendia como uma cidade de 6 milhões de habitantes (e arrecadação de impostos proporcional), com dinheiro para coisas como o PAN, show dos Stones de graça, cidade da música, etc, era capaz de ter hospitais onde os funcionários municipais eram tão comuns como mico leão dourado e os contratados (como eu), recém formados e sem experiência, davam plantão muitas vezes sem soro fisiológico (entre outras coisas) e ainda demoravam 4 meses para receber (quando recebiam).
Trabalhei também em posto de saúde na periferia da cidade, e tinha vontade de chorar sempre que acabava o dia. Na farmácia do posto, só tinha medicamento para HAS e DM, eram agendados cerca de 5 pacientes por hora, cheguei a atender paciente acamado no corredor do posto (porque a maca não cabia dentro do consultório: !!!), recebi de volta do pronto-socorro uma pielonefrite grave em paciente diabética após um soro com dipirona e por aí vai.
Quando vim para Campinas, já desiludida com o SUS, fiquei triste quando a única opção de emprego (a princípio) seria o serviço público. No entanto, encontrei uma realidade um pouco diferente. A política de contratação de médicos via concurso público (coisa que no RJ é lenda urbana - fiz uma pá deles e nunca fui chamada), com um salário razoável (vencimento base de cerca de 3.000 para 24h/semana enquanto no rio o vencimento base é cerca de 600,00 para 24h/semana) e com convocação rápida me fez entrar na saúde pública aqui.
[continua abaixo]
[continuação de Juliana 2/3]
A cidade, de cerca de 1 milhão de hab, é um centro que atende não só a população própria mas também a das cidades menores ao redor. Existem vários problemas na relação oferta/demanda, principalmente nas emergências e no que diz respeito aos procedimentos de maior custo e ao acesso às especialidades mais complexas, porém... Meu salário nunca atrasou, raramente faltam medicamentos na farmácia (e temos várias opções terapêuticas, inclusive com 3 tipos diferentes de analgésicos, várias classes de ATB, polivitamínico, antialérgico... Coisa que no RJ só existia na famigerada "farmácia popular"), o programa de saude da família está engatinhando mas flluindo bem (tanto que graças ao trabalho dos agentes de saúde e da vigilância epidemiológica -que funciona!-, a epidemia de dengue foi controlada e já não assusta mais a cidade), enfim, um exemplo claro de que com boa vontade e INVESTIMENTO, dá para o sonho do SUS chegar um pouco mais perto da realidade.
Trabalhar no SUS daqui me fez perder um pouco aquela mentalidade carioca que médico só ganha dinheiro se for especialista e trabalhar em consultório particular. E me sentir LIVRE das imposições dos convênios médicos, saber que posso lançar mão de (quase) todos os recursos necessários para cuidar do "Sr. João", hipertenso e com sequela de AVC, que vão desde fisioterapia até visitas domicilires para tratamento das escaras, assim como da "Dona Maria", diabética e renal crônica, que ganhou um glicosímetro da prefeitura e vem quinzenalmente no posto em consulta com a enfermeira para controle dos testes de glicemia e pressão.... Enfim, exemplos que lido no meu dia a dia e que me fazem querer acreditar que o sonho do SUS é possível!
[continua abaixo]
[continuação de Juliana 3/3]
Não estou dizendo que Campinas é o exemplo de SUS para o mundo, nós temos vários problemas (como já mencionei), mas pelo menos por aqui nós, sonhadores, temos fé que um dia vai melhorar (assim como na música do zeca pagodinho rs...). Vou imprimir seu artigo e fazer uma leitura na próxima reunião de equipe de referência do meu PSF, levantar a discussão e depois te conto.
E por favor, não perca a esperança pois você tem o poder de levar sua opinião para um número maior de pessoas... Quem sabe se todos os brasileiros de bem, como nós, nos unirmos, um dia esse sonho vira realidade? ("vai sonhando Ju"... rs...)
Abraços,
Juliana Gabriel Ribeiro de Andrade
jugabrielra@yahoo.com.br
Paulo, administrar sem dinheiro não dá. Mesmo com todas as melhores intenções e excelências de gerenciamento do mundo.
Veja o exemplo citato pela Juliana. Tudo bem, o gerenciamento fez a diferença. Mas sabe o q mais? Das 20 maiores cidades brasileiras, Campinas é a q mais investe em saúde. Acredito que quase 30% do seu orçamento.
O resultado? Um sistema de saúde mais distante da "stupidez" e mais próximo do humano.
Oi Alessandro
Lendo voce fico pensando com são próximas as perspectivas do Estado no (des)cumprimento de políticas de Saúde e Educação, guardadas as devidas proporções. Digo isto, pois quem le o pacto em Defesa do SUS ou o Plano Nacional de Educação se ve diante de sistemas perfeitos e economicamente inviáveis. Fica evindenciado uma grande disparidade entre quem escreve o texto das políticas públicas e seus executores, quase nunca convidados a compor a mesa... O que temos são grandes falhas e, não é coincidência que seja sempre direcionada a um ÚNICO público que nem precisamos apontar, bastar percorrermos longos corredores de quaisquer Instituições como hospital, presídio, escolas ... e lá estão eles... indubitavelmente pobres.
Parabéns,
Um grande abraço,
Marcilene
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