© Dr. Alessandro Loiola
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Fui até à observação ver como ela estava passando e comunicar os resultados dos exames. Pouco mais de 20 anos, o braço esticado tomando soro, mal contendo as lágrimas.
- E aí, doutor? – perguntou apreensiva. Tentei quebrar o clima tenso abrindo um sorriso e dizendo “meus parabéns”. Ela ameaçou uma nova versão do choro:
- Ai, doutor não faz isso comigo não...!
- Peralá, eu não fiz nada! – interrompi. - Se o seu teste de gravidez deu positivo, garanto que a culpa não é minha. Desse jeito você vai acabar me complicando lá em casa...
Com essa, consegui fazer a mãe e o namorado darem uma risada. Ok, o namorado nem tanto. Seguiram-se mais algumas explicações sobre a natureza daquele mal-estar e liberei o projeto de família para casa. Por alegria, expectativa ou assombro, o diagnóstico de uma gravidez quase sempre causa algum espanto. Mas não deveria.
Segundo dados da ONU, nascem anualmente no Brasil cerca de 16 bebês para cada grupo de 1.000 habitantes - ou 1 novo moleque melequento a cada 12 segundos! Ainda assim, estamos abaixo da média mundial (20 nascimentos por 1.000 habitantes/ano) e bem distantes do campeão reprodutor, o Congo, com a espantosa marca de 49 nascimentos por 1.000 habitantes/ano.
Ao invés de espanto, deveríamos receber a gravidez como uma doença sexualmente transmissível bastante comum e de difícil controle. Nem mesmo a camisinha oferece proteção infalível: em um ano, para cada 100 casais que utilizam a camisinha como único método contraceptivo, 10 a 14 serão surpreendidos por uma gravidez inesperada. A jovem paciente desta crônica, além de saborear essa estatística, experimentava outras manifestações da gestação.
Ao engravidar, a mulher aumenta a utilização de gordura para produzir energia, com uma discreta perda de peso nas primeiras semanas. A produção de proteínas se intensifica, os níveis de glicose diminuem e o corpo começa a reter líquidos - adaptações hormonais fazem com que sejam acumulados mais de 7 litros de água até o final da gravidez!
Nos primeiros 3 meses, a freqüência respiratória e o trabalho do coração aumentam cerca de 40%. A produção de saliva é maior e a velocidade do trânsito intestinal diminui, melhorando a absorção de nutrientes. O crescimento do útero reduz o espaço para o estômago, provocando refluxo e azia. Na tentativa de facilitar as adaptações necessárias para o desenvolvimento do bebê, o sistema nervoso responde a tudo isso com sonolência, distúrbios do humor, diminuição da audição e alterações da gustação e do tato. Uma verdadeira viagem psicodélica.
Para lidar com o turbilhão de mudanças, passo a frente os mesmos conselhos que dei para a jovem chorosa daquela noite:
- A grávida será desafiada diariamente pela barriga. Para contornar essa limitação, mantenha o ganho de peso dentro do recomendado, faça exercícios leves de alongamento, utilize travesseiros adicionais para melhor acomodar o corpo na cama, aplique compressas mornas nas regiões doloridas e invista em massagens relaxantes (acredite: se feitas por um profissional habilitado, elas compensam o gasto).
- Durma o máximo possível. Alguns bebês parecem participar de um estudo científico que visa comprovar que mulheres podem viver vários meses sem uma única gota de sono. Como você não sabe se a sua cria virá com esse tipo de programação, comece agora mesmo o seu estoque de noites bem dormidas.
- O enjôo matinal é mais comum da 6ª até a 12ª-13ª semana de gravidez. A solução: diminua o tamanho e aumente a freqüência das refeições. Antes de sair da cama pela manhã, coma algumas torradas ou biscoitos de água e sal. Fuja de refeições pesadas e gordurosas. Se puder, adicione um pouco de gengibre à sua dieta (ele é um excelente remédio natural contra náuseas).
- O excesso de gases pode ser reduzido mastigando mais devagar e evitando refrigerantes, feijões, brócolis, couve-flor e outros vegetais folhosos.
- Finalmente, a gestação é uma experiência intensa e repercute de modo similar sobre as emoções. A raiva transforma-se em tristeza e então em alegria e então novamente em raiva em questão de minutos. Estas mudanças são mais extremas nas primeiras 12 semanas. Para enfrentar a montanha-russa fisiológica, recomenda-se que a gestante aprenda técnicas de redução do estresse, procure ajuda profissional ao menor sinal de descontrole e mantenha distância de armas de destruição em massa.
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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.
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2 comentários:
Dr: Obrigada por ter respondido minha pergunta sobre o antidepressivo,me ajudou muito obrigada,estou sofrendo deste mal ja faz um tempo, a depressao, que agora tem tbm as crises de panico,fui afastada do trabalho e estou tomando a fluoxetina e o rivotril, nao me sinto nada bem cada dia estou pior, os efeitos colaterais sao terriveis,nao sou mais a mesma pessoa, nao confio mais em mim, qdo falei pro medico que nao tava me sentindo bem ele aumentou a dosagem do remedio,por isso estou tao confusa, obrigada por iluminar minhas ideias fiquei com Deus e obrigada
Alessandro, muito boa a crônica. Lembrei daquela nossa conversa no hospital sobre ela Aprecio muito suas qualidades de humor e sua cultura.
Abraços,
L.
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