25 março 2007

EXISTE ATALHO PARA A BOA FORMA?

© Dr. Alessandro Loiola



A maioria das pessoas que pratica exercícios regularmente o faz por 4 razões: para perder peso, para parecer mais em forma, por recomendações médicas ou para conhecer aquela gata (ou gato) na esteira ao lado. Não é raro ver todos estes motivos misturados como um shake de baunilha com ovo maltine – afinal, nada como unir o útil ao agradável, certo?

E põe agradável nisso: pesquisas mostram que adolescentes que praticam regularmente alguma forma de atividade física dormem melhor, fumam e bebem menos, possuem uma auto-estima mais elevada, e têm mais sexo que seus colegas sedentários.

Periodicamente, toda essa propaganda a favor da boa forma resulta em um dos maiores fenômenos migratórios da humanidade: nos meses mais quentes do ano, manadas de retardatários arrependidos se deslocam rumo às academias em busca de milagres no curto prazo. Quem quer mostrar aquele abdome pneumático no clube no domingo ou ficar com 3 metros de língua para fora após atravessar a piscina no clássico estilo cachorrinho sincronizado? Ninguém. Então tome academia.

Mas quanto tempo você precisa para ter uma aparência mais saudável? Existe algum atalho para isso? Muitas empresas vêm mordiscando esse mercado bilionário – o das pessoas que querem entrar em forma no intervalo de uma pipoca de microondas. Livros, vídeos, revistas, comerciais e DVDs aos montes afirmam que bastam alguns poucos minutos de exercícios leves por dia naquela tábua de ginástica ou no equipamento super sofisticado de última geração para transformar você em um mister ou miss universo.

Qualquer exercício irá lhe deixar mais em forma que exercício nenhum, isso é verdade. O grande benefício da atividade física não está na estética, mas na prevenção de doenças como hipertensão, diabetes e obesidade.

Entretanto, exercícios excessivamente leves não produzem os resultados esperados. Caminhar duas vezes por semana na companhia de tartarugas não irá reduzir seu risco para doenças cardiovasculares. Apesar da intensidade do esforço variar de acordo com a idade, o peso e o estado geral de saúde, uma caminhada de respeito deve apresentar um ritmo entre 5 e 8 Km/h, com duração de 15 a 30 minutos, pelo menos 2-3 vezes na semana.

E o sujeito que diz nunca ter tempo e joga bola no final de semana achando que vai entrar em forma? Para alguns poucos atletas domingueiros, duas horas de pelada uma vez na semana de fato resultam em redução do risco de morte por doenças cardíacas. Porém, esta redução só é observada em indivíduos sem outros fatores de risco cardíaco e quando o gasto calórico total durante a atividade física ultrapassa 1.000 calorias ! Se você fuma ou está acima do peso, por exemplo, aqueles 30 minutos dominicais de bola não irão resultar em grandes benefícios para a saúde, mas poderão aumentar seu risco para lesões ósseas e musculares.

Muitos programas de “Exercícios-Minuto” costumam pular a fase aeróbica para ganhar tempo. O sujeito vai direto para os alteres, sem uma corrida ou caminhada antes. Infelizmente, uma rotina de exercícios que não inclui uma boa quantidade de atividades aeróbicas não pode ser considerada ótima – nem mesmo boa. São os exercícios aeróbicos – e não todos aqueles pesos coloridos - que oferecem os benefícios mais significativos.

Roteiros de malhação que prometem atalhos rápidos para resultados extraordinários freqüentemente são enganosos. Infelizmente, inúmeras pessoas esmagadas pelos padrões vigentes de beleza ainda se deixam levar por esse tipo de propaganda, com resultados desastrosos.

Preste sempre atenção. No comércio da saúde, muitos querem seu dinheiro, mas poucos querem compromisso com seu bem-estar no longo prazo. Informe-se sempre e siga em frente sem afobações: a natureza que resultou no ser humano que você é, levou vários milênios para lhe produzir. Para conquistar e preservar a boa forma, basta manter o mesmo ritmo da evolução. Contínuo e sem pressa.



---
Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

10 março 2007

FITOTERÁPICOS NO JOGO DOS 7 ERROS

© Dr. Alessandro Loiola


Quando era criança, adorava revistas que traziam aqueles jogos dos 7 erros, onde você devia comparar uma figura com outra, teoricamente igual, e marcar as diferenças entre elas. Nunca soube exatamente porque eram sempre 7 erros e não 6 ou 8 ou 10, etc. Mas a lição ficou: nem sempre o que parece idêntico à primeira vista é realmente uma cópia fiel do original.

Recentemente, a onda dos medicamentos naturais – especialmente os Fitoterápicos - levantou uma série de questionamentos que lembra bastante o jogo dos 7 erros. Alguns remédios naturais dizem possuir os mesmos compostos químicos, propriedades e indicações terapêuticas de remédios industrializados, e deixam para o consumidor a tarefa de descobrir as diferenças escondidas entre uns e outros. Em muitos casos, este tipo de jogo termina minando a confiança nos remédios naturais que são verdadeiramente eficazes.

Uma pesquisa realizada em 1997 no Beth Israel Deaconess Medical Center (Boston, EUA) mostrou que 1 em cada 2 pessoas utiliza alguma forma de medicina alternativa, mas apenas 30% revelam o fato aos seus médicos. Os principais motivos da falta de comunicação incluem preconceito, vergonha e receio de ser criticado ou incompreendido.

Muitos fitoterápicos funcionam de fato e a maioria deles possui interações medicamentosas relevantes. Não comunicar o fato ao seu médico pode resultar em conseqüências que você não será capaz de resolver. Por exemplo: a camomila pode potencializar o efeito de remédios anticoagulantes. Um caso desse tipo, envolvendo alterações hemorrágicas em uma senhora de 70 anos que fazia uso regular de Warfarina (anticoagulante utilizado no tratamento de tromboses), foi descrito recentemente no prestigiado Canadian Medical Association Journal.

Além da camomila, outros alimentos e fitoterápicos também podem aumentar o risco de hemorragia em pessoas que utilizam remédios anticoagulantes. A lista inclui coenzima Q10, gengibre, alho, ginseng, ginkgo, garra do diabo e casca de salgueiro.

Outra interação que freqüentemente passa despercebida é o uso de fitoterápicos e suplementos que estimulam o sistema imunológico (p.ex.: alfafa, astrágalo, equinácea, ginseng e suplementos de zinco). Este equívoco é perigoso no caso de pessoas que sofrem de doenças de fundo auto-imune, tais como Artrite Reumatóide, Lúpus e Diabetes tipo 1, ou pacientes sob tratamento imunossupressor por algum motivo (p.ex., pessoas que receberam órgãos transplantados). Nestes casos, ervas que estimulam o sistema de defesa podem resultar em exacerbação da doença ou rejeição do órgão transplantado, com graves conseqüências.

Uma vez que a interação entre suplementos naturais e medicamentos anestésicos ainda não foi muito bem estudada, a maioria dos cirurgiões recomenda que qualquer suplemento ou fitoterápico seja suspenso pelo menos 2 semanas antes da operação.

Algumas pessoas com queixa de cansaço fácil e “baixos níveis de energia” costumam procurar o auxílio de fitoterápicos antes mesmo de uma avaliação médica. E passam semanas tomando vitaminas naturais na esperança de resolver o problema. Infelizmente, alguns destes incautos na verdade podem estar sofrendo de Anemia, Hipotireoidismo, Apnéia Obstrutiva do Sono, Mononucleose Infecciosa, Insuficiência Cardíaca Congestiva, Diabetes, Insuficiência Renal ou mesmo Depressão, e sua busca por uma solução rápida e prática estaria apenas retardando o tratamento mais adequado.

Substituir medicamentos tradicionais por similares naturais ou confiar que, se um fitoterápico foi eficaz para o seu vizinho também será para você, é um enorme risco. Em caso de dúvida, procure sempre a ajuda do seu médico de confiança. Ao contrário das figuras com 7 erros, sua saúde não merece ser tratada como um jogo.


---
Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.