26 fevereiro 2007

O BANHO

© Dr. Alessandro Loiola


Não é de surpreender que a idéia de banhar-se para manter a pele limpa esteja intimamente associada ao conceito de saúde: a pele, um casaco semi-impermeável de alta tecnologia, 5 camadas e quase 2 metros quadrados de tamanho, é a principal barreira contra os agentes nocivos presentes no meio ambiente. Mas será que banhar-se com regularidade é realmente importante para manter a pele saudável?

Esta pergunta, enviada por um leitor possivelmente sentado na frente de seu computador encardido e coberto por moscas varejeiras, valeu uma pesquisa que rendeu algumas informações interessantes sobre o Banho. Vamos a elas.

As origens do banho se estendem para muito antes da pré-história. Materiais saponificantes anteriores a 2.800 a.C. foram encontrados em cilindros escavados nas ruínas da antiga Babilônia. As inscrições indicavam que aquele material era utilizado para limpeza dos cabelos e para auxiliar a confecção de penteados. Os antigos egípcios também se banhavam bastante: os Papiros de Ebers, datados de 1.500 a.C., descrevem uma mistura de diversos sais e óleos utilizados para higiene pessoal.

Na civilização Ocidental, coube aos Romanos a difusão do hábito. Os primeiros Banhos Romanos foram construídos 300 anos antes de Cristo. No seu auge, Roma contava com mais de 13 aquedutos para manter seus habitantes sempre limpos. Contudo, com o declínio do Império, os Banhos também perderam gradativamente a popularidade.

Na Idade Média, os médicos desencorajavam o banho, afirmando que ele retirava as camadas mais protetoras da pele, aumentando o risco de doenças. Mas todo mundo sabe bem onde as excelentes idéias de higiene pessoal daquele tempo foram dar: em uma Peste que dizimou quase metade da população da Europa.

O banho se tornaria novamente um hábito no Ocidente apenas no Século XVII, quando os químicos franceses Nicholas Leblanc e Michel Eugene Chevreul aprimoraram as técnicas para fabricação de sabonetes. Mais ou menos no mesmo período, a descoberta dos Micróbios deu um impulso adicional ao conceito de higiene. Por volta de 1880, os chuveiros já eram parecidos com os nossos e o banho havia se tornado uma rotina. Como resposta, a lâmina de barbear descartável surgiria em 1895 e a escova de dente como a conhecemos, em 1938.

Mas a história do banho não termina neste mar de rosas. Da metade do Século XX para cá, alguns cientistas voltaram a questionar a sua validade. Estudos realizados na década de 1960 mostraram que uma boa chuveirada na verdade espalha as bactérias da pele no ambiente à sua volta, podendo aumentar o número de microorganismos nas camadas mais superficiais. Como conseqüência, os cirurgiões passaram a ser orientados a não tomar banho imediatamente antes de entrarem no bloco cirúrgico.

Alguns pesquisadores cascões também observaram que, mesmo após vários dias sem banho, a população bacteriana da pele permanece estável, fornecendo uma excelente desculpa para adolescentes mais preguiçosos.

A verdade é que, exceto pelo hábito de lavar as mãos, não existem muitas evidências científicas associando o banho ou a limpeza geral da pele à prevenção de infecções. O banho freqüente, afirmam vários cientistas, pode possuir vários benefícios estéticos, relaxantes e odoríficos, mas parece servir pouco do ponto de vista microbiológico.

Ainda assim, eu recomendo que você se banhe todos os dias. Se não o fizer por razões microbiológicas, faça-o baseado na premissa de combate ao estresse e descoberta do corpo. Afinal de contas, em que outra situação você se desligaria do mundo, cantando músicas do Cauby Peixoto enquanto explora os dedos dos pés? Só mesmo durante um bom, morno e relaxante banho.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hummmmmmm banho é bom demais.